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    Zenith e a construção do espaço subjetivo em Babbitt, de Sinclair Lewis

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    Zenith, o lexema escolhido para designar o espaço onde decorre a ação do romance Babbitt, convoca, desde logo, imagens de bem-estar e progresso que a focalização do narrador (heterodiegético) aparentemente corrobora: “THE towers of Zenith aspired above the morning mist […] They were neither citadels nor churches, but frankly and beautifully office-buildings. The whistles rolled out in greeting a chorus cheerful as the April dawn; the song of labor in a city built it seemed for giants” (Babbitt 6). Por contraste com a cidade, supostamente robusta e vibrante de energia, como se de um organismo vivo se tratasse, o protagonista, George F. Babbitt, não ostenta qualquer grandiosidade: “There was nothing of the giant in the aspect of the man who was beginning to awaken on the sleeping porch of a Dutch Colonial house in that residential district of Zenith known as Floral Heights” (6). Na verdade, do ponto de vista físico, Babbitt assemelha-se a um bebé: “His large head was pink […] His face was babyish in slumber” (6). Inúmeras referências a uma fada-criança com quem Babbitt mantém, em sonhos, uma relação afetiva, corroboram a ideia de que o protagonista é uma personagem infantilizada. Considere-se ainda que o encontro com a fada- -criança ocorre habitualmente num jardim ou outro espaço próximo da Natureza e que, para além deste aspeto, existe habitualmente uma alusão ao mar. Conjugados, estes espaços remetem para um (re) nascimento e este para o ventre materno, um estádio de dependência anterior ao (re) conhecimento da subjetividade. Babbitt é pois uma espécie de não-sujeito, facto que o torna ainda mais vulnerável aos mecanismos de controlo da comunidade/sociedade. Importa lembrar, a este propósito, que instituições comunitárias como a Igreja, um partido politico, uma associação ou clube social, o clube de futebol, etc, funcionam como um espelho doutrinário ou ideológico, onde o sujeito vê uma imagem gestaltiana de um corpo com o qual se identifica, por ser composto por sujeitos que se assemelham a si próprio, concitando-o a anularse voluntariamente, para poder participar da força que inere ao Todo, seja Deus, a Nação, ou outros grupos/ corpos colectivos. O grupo transforma-se assim numa espécie de Éden, um espaço quase transcendental, onde o sujeito sente que está em segurança (Hinshelwood 74). A construção do espaço subjetivo de Babbitt está, pois, simbiótica e indelevelmente subordinada ao espaço social de Zenith, pelo que, quando do fecho da narrativa, o leitor conclui que a Babbitt apenas lhe resta projetar sobre o seu filho Ted os desejos que um espaço social omnipotente sempre o obrigaria a sublimar: “I´ve never done a single thing I´ve wanted to in my whole life […] Well, those folks in there will try to bully you and tame you down…Tell ‘em to go to the devil! […]. Don´t be scared of the family. No, nor all of Zenith. Nor of yourself, the way I´ve been. Go ahead, old man! The world is yours!“(Babbitt 319

    A Importância da Tradição Oral em Man Made of Words, de Scott Momaday, ou a Palavra como Epifania

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    Para o sujeito euro-americano, o Mundo é feito de pares binários dicotómicos (começando, desde logo, com a oposição binária entre o Bem e o Mal), sendo que é a própria Linguagem que antecipa essas dicotomias, desencadeadas, desde logo, pela distinção, a cisão, entre significante e significado. Para o sujeito nativo-americano, por outro lado, o Mundo é feito de dialéticas, de intercessões e interdependência entre diferentes elementos que, estando todos imbuídos de sacralidade, se conjugam harmoniosamante, dando origem a um universo uno, holístico. É à luz destes pressupostos que deve entender-se a obra The Man Made of Words, de Scott Momaday. Na coletânea em apreço, a palavra é entendida como a génese, o sopro espiritual que funde significante e significado, a qual, transmitida de geração em geração, graças à preservação de uma tradição oral, dá vida a uma mundividência que permite ao sujeito ultrapassar ruturas e fragmentações, identificando-se com a Cultura e tradições do seu povo.Abstract For the Euro-American subject, the world is made up of dichotomous binary pairs (starting out with the binary opposition between Good and Evil), and it is language itself which anticipates these dichotomies, at once brought about by the distinction, the split between signifier and signified. For the Native American subject, on the other hand, the Earth relies on a dialectics, an intersectedness and interdependence between different elements, all of which are imbued with sacredness, harmoniously combining, giving rise to a unified, holistic universe. It is in the light of the aforementioned assumptions that the work The Man Made of Words, by Scott Momaday ought to be understood/viewed. In the collection at issue, the word is understood as the genesis, the spiritual breath which enables signifier and signified to merge. Thenceforward, it is handed over from generation to generation, thanks to the preservation of an oral tradition which gives birth to a worldview that allows the individual to overcome disruptions and fragmentations, and identify with the Culture and traditions of his people

    Espaços de intimidade e intimidação: do object a ao abjeto e ao retorno do sublime no romance O Visitante

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    Pressupondo que os espaços físico e social e os espaços de intimidade e interioridade das personagens principais, Celina e Artur, se intersetam e se influenciam segundo uma dinâmica de reciprocidade, iremos proceder, com base em enunciados teóricos explanados por Oziris Borges Filho, a uma topoanálise do romance O Visitante, de Osman Lins, entretecida com a aplicação sincrética de conceitos-chave do domínio da psicanálise, em ordem ao entendimento dos padrões comportamentais evidenciados pelas personagens. Assim, o interior da casa, a concha inicial, tal como a define Bachelard (Poética do Espaço: 23-24), adquire feições ora utópicas ou eutópicas, ora distópicas, consoante é apreendida pela personagem Celina, em função da gratificação do desejo (ou ausência desta) proporcionada pelos espaços de intimidade com Artur. Já para Artur, professor tal como Celina, porém casado e com família própria - ao contrário de Celina que é solteira, mora sozinha e desde a adolescência se viu privada do amor e aconchego parentais -, os espaços de intimidade são espaços dissociados de impressões de natureza seja topofílica, seja topofóbica. Desta forma, as visitas reiteradas de Artur a Celina e a sua permanência em sua casa, representam, para esta personagem, a possibilidade de projeção, no objeto, Celina, das pulsões sado-masoquistas e voyeuristas (conforme evidenciado, entre outras passagens, no momento em que Artur revela a Rosa, amiga de Celina, pormenores do seu envolvimento com a amante, com o propósito de a humilhar), inerentes a uma ferida narcísica que se alojara no seu inconsciente, fruto de uma existência alegadamente desprovida de respeito, estima e amor. Neste contexto, a consumação do ato sexual representa a profanação do corpo ascético de Celina pelo corpo perverso, abjeto de Artur, sendo que o abjeto é definido da seguinte forma por Julia Kristeva : […] o abjeto é perverso na medida em que nem desiste nem assume uma proibição, uma regra ou uma lei; antes as repudia, engana, corrompe […] mata em nome da vida e vive à mercê da morte” (Powers of Horror, 1982:15). Quanto a Celina, conforme é prenunciado no excerto que se segue à rutura entre ambos, ser-lhe-á concedida a oportunidade de se redimir da culpa que a consome devido à prática do ato sexual ilícito, do qual resultou uma gravidez e um aborto, recuperando a sua antiga fé religiosa e libertando-se do jugo voluntário, que, fruto de uma idealização fantasiosa, a colocara à mercê da vontade de Artur. Confiramos, à guisa de conclusão, a passagem em apreço: um relâmpago luziu nas telhas vãs, e através das lagrimas, um ombro e a face de Cristo resplandeceram no oratório, e a súbita e esplendente visão atravessou-lhe a alma, veloz, difusa e refratada, como um feixe de luz penetra a água tranquila. Uma dor cingiu-lhe os rins, punhal em fogo. Ela abafou um soluço maior, forte e súbito como um grito, e revolveu-se no leito. O trovão estalou e a presença do pai fez-se vivida no quarto (O Visitante: 166). Palavras-chave: Espaço. Corpo. Intimidade. Intimidação.info:eu-repo/semantics/publishedVersio

    UM JANTAR MUITO ORIGINAL: DA CICATRIZ DA HUMILHAÇÃO À DINÂMICA DA NEUROSE E DA PERVERSIDADE

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    O conto Um jantar muito original inscreve-se no domínio da literatura fantástica oitocentista, conforme dilucidado, de forma consistente, por muitos estudiosos, como sejam Maria Leonor Machado de Sousa (1978:51), Maria de Lurdes Sampaio (1994:248), ou, ainda mais recentemente, Flávio Garcia (2013:37- 49), entre outros. Uma vez que o mistério, o horror e o fantástico são aqui usados para expressar os desvios da mente perversa do protagonista, Herr Prosit, iremos enveredar por uma análise de cariz psicanalítico, por considerarmos que esta abordagem nos poderá proporcionar informação acrescida sobre as motivações do protagonista que, em nosso entendimento, funciona como arquétipo, ou espelho (se preferirmos), das restantes personagens. Neste domínio, importa discutir a natureza dos mecanismos identificatórios que, no contexto de uma sociedade “dubia, marginal” (PESSOA, 2008:13), como era a Sociedade Gastronómica de Berlim, se traduzem numa dialética sujeito-»abjeto. Esta dialética inaugura os atos de narcisismo, masoquismo, sadismo, voyeurismo, neurose e perversão protagonizados por Herr Prosit e tacitamente sancionados por toda a Sociedade que o escolheu para presidente, ou seja, para os representar. Importa notar que o conhecimento do ato hediondo do qual involuntariamente tinham participado não refreou os impulsos destrutivos dos membros da sociedade gastronómica. Muito pelo contrário. Agindo como um só corpo, os gastrónomos desferem sobre Prosit todo o ódio, violência e fúria outrora reprimidos em prol de um suposto culto pela arte, ato do qual retiram igual jouissance à que o protagonista obtivera. Averiguase assim que o inconsciente, uma vez instalado (provisória ou definitivamente) no lugar do ego, estilhaçará irreversivelmente qualquer suposto apreço pela beleza, pela arte ou pela civilização

    A Importância da Tradição Oral em Man Made of Words, de Scott Momaday, ou a Palavra como Epifania

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    Para o sujeito euro-americano, o Mundo é feito de pares binários dicotómicos (começando, desde logo, com a oposição binária entre o Bem e o Mal), sendo que é a própria Linguagem que antecipa essas dicotomias, desencadeadas, desde logo, pela distinção, a cisão, entre significante e significado. Para o sujeito nativo-americano, por outro lado, o Mundo é feito de dialéticas, de intercessões e interdependência entre diferentes elementos que, estando todos imbuídos de sacralidade, se conjugam harmoniosamante, dando origem a um universo uno, holístico. É à luz destes pressupostos que deve entender-se a obra The Man Made of Words, de Scott Momaday. Na coletânea em apreço, a palavra é entendida como a génese, o sopro espiritual que funde significante e significado, a qual, transmitida de geração em geração, graças à preservação de uma tradição oral, dá vida a uma mundividência que permite ao sujeito ultrapassar ruturas e fragmentações, identificando-se com a Cultura e tradições do seu povo

    A Importância da Tradição Oral em Man Made of Words, de Scott Momaday, ou a Palavra como Epifania

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    Para o sujeito euro-americano, o Mundo é feito de pares binários dicotómicos (começando, desde logo, com a oposição binária entre o Bem e o Mal), sendo que é a própria Linguagem que antecipa essas dicotomias, desencadeadas, desde logo, pela distinção, a cisão, entre significante e significado. Para o sujeito nativo-americano, por outro lado, o Mundo é feito de dialéticas, de intercessões e interdependência entre diferentes elementos que, estando todos imbuídos de sacralidade, se conjugam harmoniosamante, dando origem a um universo uno, holístico. É à luz destes pressupostos que deve entender-se a obra The Man Made of Words, de Scott Momaday. Na coletânea em apreço, a palavra é entendida como a génese, o sopro espiritual que funde significante e significado, a qual, transmitida de geração em geração, graças à preservação de uma tradição oral, dá vida a uma mundividência que permite ao sujeito ultrapassar ruturas e fragmentações, identificando-se com a Cultura e tradições do seu povo

    Characterisation of microbial attack on archaeological bone

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    As part of an EU funded project to investigate the factors influencing bone preservation in the archaeological record, more than 250 bones from 41 archaeological sites in five countries spanning four climatic regions were studied for diagenetic alteration. Sites were selected to cover a range of environmental conditions and archaeological contexts. Microscopic and physical (mercury intrusion porosimetry) analyses of these bones revealed that the majority (68%) had suffered microbial attack. Furthermore, significant differences were found between animal and human bone in both the state of preservation and the type of microbial attack present. These differences in preservation might result from differences in early taphonomy of the bones. © 2003 Elsevier Science Ltd. All rights reserved

    Charged-particle multiplicity fluctuations in Pb–Pb collisions at √sNN = 2.76 TeV

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    Measurements of event-by-event fluctuations of charged-particle multiplicities in Pb–Pb collisions at sNN−−−√ = 2.76 TeV using the ALICE detector at the CERN Large Hadron Collider (LHC) are presented in the pseudorapidity range |η|<0.8 and transverse momentum 0.2<pT<2.0 GeV/c. The amplitude of the fluctuations is expressed in terms of the variance normalized by the mean of the multiplicity distribution. The η and pT dependences of the fluctuations and their evolution with respect to collision centrality are investigated. The multiplicity fluctuations tend to decrease from peripheral to central collisions. The results are compared to those obtained from HIJING and AMPT Monte Carlo event generators as well as to experimental data at lower collision energies. Additionally, the measured multiplicity fluctuations are discussed in the context of the isothermal compressibility of the high-density strongly-interacting system formed in central Pb–Pb collisions

    Global polarization of Λ and ¯Λ hyperons in Pb–Pb collisions at the LHC

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    The global polarization of the Λ and Λ¯¯¯¯ hyperons is measured for Pb-Pb collisions at sNN−−−√ = 2.76 and 5.02 TeV recorded with the ALICE at the LHC. The results are reported differentially as a function of collision centrality and hyperon's transverse momentum (pT) for the range of centrality 5-50%, 0.5<pT<5 GeV/c, and rapidity |y|<0.5. The hyperon global polarization averaged for Pb-Pb collisions at sNN−−−√ = 2.76 and 5.02 TeV is found to be consistent with zero, ⟨PH⟩ (%) ≈ 0.01 ± 0.06 (stat.) ± 0.03 (syst.) in the collision centrality range 15-50%, where the largest signal is expected. The results are compatible with expectations based on an extrapolation from measurements at lower collision energies at RHIC, hydrodynamical model calculations, and empirical estimates based on collision energy dependence of directed flow, all of which predict the global polarization values at LHC energies of the order of 0.01%

    Measurement of Λ(1520) production in pp collisions at √s = 7 TeV and p–Pb collisions at √sNN = 5.02 TeV

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    The production of the Λ(1520) baryonic resonance has been measured at midrapidity in inelastic pp collisions at s√ = 7 TeV and in p-Pb collisions at sNN−−−√ = 5.02 TeV for non-single diffractive events and in multiplicity classes. The resonance is reconstructed through its hadronic decay channel Λ(1520) → pK− and the charge conjugate with the ALICE detector. The integrated yields and mean transverse momenta are calculated from the measured transverse momentum distributions in pp and p-Pb collisions. The mean transverse momenta follow mass ordering as previously observed for other hyperons in the same collision systems. A Blast-Wave function constrained by other light hadrons (π, K, K0S, p, Λ) describes the shape of the Λ(1520) transverse momentum distribution up to 3.5 GeV/c in p-Pb collisions. In the framework of this model, this observation suggests that the Λ(1520) resonance participates in the same collective radial flow as other light hadrons. The ratio of the yield of Λ(1520) to the yield of the ground state particle Λ remains constant as a function of charged-particle multiplicity, suggesting that there is no net effect of the hadronic phase in p-Pb collisions on the Λ(1520) yield
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