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    Ecologismo dos Gerais : conflitos socioambientais e comunidades tradicionais no Norte de Minas Gerais

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    Tese (doutorado)—Universidade de Brasília, Centro de Desenvolvimento Sustentável, 2013.Esta tese analisa os conflitos socioambientais envolvendo as diversas comunidades tradicionais de geraizeiros e as empresas do complexo florestal-industrial, monocultura de eucalipto, que se instala na região Norte de Minas Gerais na segunda metade do século passado. Os geraizeiros da região de Rio Pardo de Minas constituem comunidades rurais agroextrativistas-pastoris, que se estruturaram nos domínios do cerrado em contato com a caatinga. O trabalho objetiva compreender a relação entre as comunidades tradicionais e conflitos socioambientais, suas principais características e conseqüências assim como as transformações pelas quais passam estas comunidades tradicionais, posteriormente à entrada da monocultura de eucalipto em parte de suas áreas, que foram consideradas terras públicas e muitas delas arrendadas para empresas. A pesquisa participante foi o eixo condutor dos trabalhos, articulando aspectos qualitativos e quantitativos necessários à leitura e interpretação dos agentes sociais, comunidades e empresas, e da dinâmica de conflitos socioambientais na qual estão inseridos. Foram realizados três estudos consecutivos. O primeiro no alto rio Pardo, região onde se encontra a maioria dos conflitos socioambientais que envolve a monocultura de eucalipto. O segundo foi o trabalho em profundidade em três comunidades: Vereda Funda, Raiz e Santana, onde foi realizada pesquisa-ação no contexto de conflito socioambiental. Finalmente, o terceiro, foi um monitoramento dos conflitos socioambientais no Norte de Minas Gerais, identificando-se os componentes da rede dos geraizeiros e da rede do complexo industrial-florestal. Os resultados da pesquisa apontam como a participação nos conflitos produz um aprofundamento na identidade das comunidades tradicionais. O seu “modo de identificação” se faz na consciência sobre a forma diferenciada que possuem na relação com a natureza. Sinalizam, também, como as comunidades tradicionais vêm realizando, por meio da rede da qual fazem parte e a partir de sua resistência, um ecologismo popular na busca de impedir que a monocultura de eucalipto liquide com o cerrado e com seu estilo de vida. No âmbito desse ecologismo a principal estratégia consiste na reapropriação territorial, com a criação ou retomada de territórios de uso comum com base no projeto de reconversão agroextrativista e a criação de uma reserva extrativista. Ele revela que a noção de justiça ou injustiça ambiental é um componente importante que explica a realidade das comunidades tradicionais geraizeiras e de diversas comunidades do norte de Minas Gerais. Outro elemento identificado na tese é a interseção entre as questões ambientais e agrárias. ______________________________________________________________________________ ABSTRACTThis thesis analyses the socio-environmental conflicts between geraizeiros traditional communities and the companies of the forest-industrial complex, eucalyptus monoculture that was installed in northern Minas Gerais in the second half of the twentieth century. The geraizeiros from Rio Pardo de Minas area constitute agroextractivist-pastoral communities that are structured in Cerrado domain in contact with the caatinga. This work aims to understand the relationship between the traditional communities and the socio-environmental conflicts with its main characteristics and consequences like the transformations the traditional communities go through after the eucalyptus monoculture was introduced in part of their area that were considered public land and a big part of it was rented to companies. The participant research was the conductor axis of the works, articulating qualitative and quantitative aspects necessary to the reading and interpretation of the social agents, communities and companies and the dynamics of socio-environmental conflicts where they are inserted. Three consecutive studies were performed. The first one was performed in the high Rio Pardo region where the majority of the socio-environmental conflicts that involve the eucalyptus monoculture can be found. The second was a deep work performed in three communities: Vereda Funda, Raiz and Santana, where a research-action was performed in context of socio-environmental conflicts. Finally, the third study was a monitoring of the socio-environmental conflicts of northern Minas Gerais, identifying the components of the geraizeiros net and the forest-industrial complex net. The results of the research show how participating in the conflict produce deepening in the identity of traditional communities. Their way of identification is made through conscience of the different form that they possess related to nature. They also signal how the traditional communities, through a networking they partake in and starting from its existence, perform a popular ecologism trying to prevent the eucalyptus monoculture to destroy the Cerrado and their lifestyle. The main strategy consists of territorial reappropriation, with the creation or taking of territories of common use having a agroextractivist reconversion project and the creation of an extractivist reserve as a base. They reveal that the notion of environmental justice or injustice is an important component that explains the reality of geraizeiras traditional communities and other northern Minas Gerais communities. Finally, another identified element in the thesis is the intersection of the environmental and agrarian questions

    Entre consumos suntuários e comuns: a posse de objetos exóticos entre alguns habitantes do Porto (séculos XVI – XVII)

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    O estudo da documentação referente aos doadores da Misericórdia do Porto entre os séculos XVI e XVII, através dos objetos exóticos patentes nos respectivos testamentos e inven- tários – estes últimos provenientes de uma área que se estende de Macau ao Brasil –, permite discernir uma panóplia de objetos que mudaram a cultura material dos portuenses em contato com os territórios da expansão portuguesa. Um levantamento sistemático permitiu já rastrear, até o ano de 1699, 257 doadores, dos quais se apresentarão aqui apenas alguns, referentes a benfeitores que, não obstante possuírem bens móveis nesse âmbito, não são dados como tendo estado nos territórios de expansão transoceânica. Argumentar-se-á que essa circulação de objetos não foi exclusiva das elites nobiliárquicas, nem dos grandes centros urbanos, pelo que a sua difusão atingiu maiores proporções do que aquelas que a historiografia tem admitido até agora. A cidade em observação neste estudo – o Porto dos séculos XVI e XVII – estava longe de ser das maiores da Europa nesse período, quer em dimensão territorial, quer em efetivos populacionais, embora se situasse numa região de demografia pujante, que canalizou os seus excedentes desde cedo para a emigração interna e externa – o Entre Douro e Minho. Como teremos ocasião de verificar, fidalgos e nobres possuíam bens exóticos, mas estes encontravam-se também entre mercadores e até artesãos mais desafogados. Por outro lado, nem todos os objetos provenientes dos espaços da expansão transoceânica devem ser conotados com bens de luxo.The study of the sources referring to the donors of the Misericórdia of the city of Porto during the sixteenth and seventeenth centuries has revealed the presence of numerous exotic objects in their last wills and inventories. A survey has traced 257 donors until 1699, some of them having died in an area that extends from Macao to Brazil. Only a small number of cases shall be presented here, pertaining to benefactors who, in spite of owning objects of transoceanic origin, seem to have remained in mainland Portugal. It shall be argued that the circulation of objects has not been exclusive either to the elites of the nobility or to the large urban centres, their diffusion having been on a larger scale than what has been admitted until now. The city under scrutiny in this study – Porto during the sixteenth and seventeenth centuries – was not one of the bigger cities in this period, either in what respects to size or population, although it was located in an area of flourishing demography, that channelled its surplus population early on to internal and external emigration. Fidalgos and noblemen owned exotic goods, but these were to be found among merchants and even well-to-do artisans. On the other hand, not all objects originating from the areas of transoceanic expansion should be considered as luxury goods.info:eu-repo/semantics/publishedVersio

    Treatment with tocilizumab or corticosteroids for COVID-19 patients with hyperinflammatory state: a multicentre cohort study (SAM-COVID-19)

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    Objectives: The objective of this study was to estimate the association between tocilizumab or corticosteroids and the risk of intubation or death in patients with coronavirus disease 19 (COVID-19) with a hyperinflammatory state according to clinical and laboratory parameters. Methods: A cohort study was performed in 60 Spanish hospitals including 778 patients with COVID-19 and clinical and laboratory data indicative of a hyperinflammatory state. Treatment was mainly with tocilizumab, an intermediate-high dose of corticosteroids (IHDC), a pulse dose of corticosteroids (PDC), combination therapy, or no treatment. Primary outcome was intubation or death; follow-up was 21 days. Propensity score-adjusted estimations using Cox regression (logistic regression if needed) were calculated. Propensity scores were used as confounders, matching variables and for the inverse probability of treatment weights (IPTWs). Results: In all, 88, 117, 78 and 151 patients treated with tocilizumab, IHDC, PDC, and combination therapy, respectively, were compared with 344 untreated patients. The primary endpoint occurred in 10 (11.4%), 27 (23.1%), 12 (15.4%), 40 (25.6%) and 69 (21.1%), respectively. The IPTW-based hazard ratios (odds ratio for combination therapy) for the primary endpoint were 0.32 (95%CI 0.22-0.47; p < 0.001) for tocilizumab, 0.82 (0.71-1.30; p 0.82) for IHDC, 0.61 (0.43-0.86; p 0.006) for PDC, and 1.17 (0.86-1.58; p 0.30) for combination therapy. Other applications of the propensity score provided similar results, but were not significant for PDC. Tocilizumab was also associated with lower hazard of death alone in IPTW analysis (0.07; 0.02-0.17; p < 0.001). Conclusions: Tocilizumab might be useful in COVID-19 patients with a hyperinflammatory state and should be prioritized for randomized trials in this situatio

    Mortality from gastrointestinal congenital anomalies at 264 hospitals in 74 low-income, middle-income, and high-income countries: a multicentre, international, prospective cohort study

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    Summary Background Congenital anomalies are the fifth leading cause of mortality in children younger than 5 years globally. Many gastrointestinal congenital anomalies are fatal without timely access to neonatal surgical care, but few studies have been done on these conditions in low-income and middle-income countries (LMICs). We compared outcomes of the seven most common gastrointestinal congenital anomalies in low-income, middle-income, and high-income countries globally, and identified factors associated with mortality. Methods We did a multicentre, international prospective cohort study of patients younger than 16 years, presenting to hospital for the first time with oesophageal atresia, congenital diaphragmatic hernia, intestinal atresia, gastroschisis, exomphalos, anorectal malformation, and Hirschsprung’s disease. Recruitment was of consecutive patients for a minimum of 1 month between October, 2018, and April, 2019. We collected data on patient demographics, clinical status, interventions, and outcomes using the REDCap platform. Patients were followed up for 30 days after primary intervention, or 30 days after admission if they did not receive an intervention. The primary outcome was all-cause, in-hospital mortality for all conditions combined and each condition individually, stratified by country income status. We did a complete case analysis. Findings We included 3849 patients with 3975 study conditions (560 with oesophageal atresia, 448 with congenital diaphragmatic hernia, 681 with intestinal atresia, 453 with gastroschisis, 325 with exomphalos, 991 with anorectal malformation, and 517 with Hirschsprung’s disease) from 264 hospitals (89 in high-income countries, 166 in middleincome countries, and nine in low-income countries) in 74 countries. Of the 3849 patients, 2231 (58·0%) were male. Median gestational age at birth was 38 weeks (IQR 36–39) and median bodyweight at presentation was 2·8 kg (2·3–3·3). Mortality among all patients was 37 (39·8%) of 93 in low-income countries, 583 (20·4%) of 2860 in middle-income countries, and 50 (5·6%) of 896 in high-income countries (p<0·0001 between all country income groups). Gastroschisis had the greatest difference in mortality between country income strata (nine [90·0%] of ten in lowincome countries, 97 [31·9%] of 304 in middle-income countries, and two [1·4%] of 139 in high-income countries; p≤0·0001 between all country income groups). Factors significantly associated with higher mortality for all patients combined included country income status (low-income vs high-income countries, risk ratio 2·78 [95% CI 1·88–4·11], p<0·0001; middle-income vs high-income countries, 2·11 [1·59–2·79], p<0·0001), sepsis at presentation (1·20 [1·04–1·40], p=0·016), higher American Society of Anesthesiologists (ASA) score at primary intervention (ASA 4–5 vs ASA 1–2, 1·82 [1·40–2·35], p<0·0001; ASA 3 vs ASA 1–2, 1·58, [1·30–1·92], p<0·0001]), surgical safety checklist not used (1·39 [1·02–1·90], p=0·035), and ventilation or parenteral nutrition unavailable when needed (ventilation 1·96, [1·41–2·71], p=0·0001; parenteral nutrition 1·35, [1·05–1·74], p=0·018). Administration of parenteral nutrition (0·61, [0·47–0·79], p=0·0002) and use of a peripherally inserted central catheter (0·65 [0·50–0·86], p=0·0024) or percutaneous central line (0·69 [0·48–1·00], p=0·049) were associated with lower mortality. Interpretation Unacceptable differences in mortality exist for gastrointestinal congenital anomalies between lowincome, middle-income, and high-income countries. Improving access to quality neonatal surgical care in LMICs will be vital to achieve Sustainable Development Goal 3.2 of ending preventable deaths in neonates and children younger than 5 years by 2030

    Juventude geraizeira e educação do campo: uma estratégia de um ambiente politizado

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    RESUMO: O ambiente é um espaço em disputa. Atores diferentes atuam de acordo com seus interesses para colonizar a natureza a seu redor. A proposta desse texto é discutir um ambiente politizado, o ambiente indissociável das interações humanas e das correlações políticas e econômicas a partir da experiência dos jovens geraizeiros estudantes da educação do campo de Rio Pardo de Minas/MG. Apreciar as formas complexas das interações dos atores nos diversos níveis das questões ambientais coloca o poder no centro da questão como um lembrete de que as relações são desiguais, mas que não estão tácitas ou acabadas em si mesmas. O texto busca elucidar as principais tendências de abordagem do tema para assim identificar alguns apontamentos para a minimização de diferenciações sociais e suas relações de igualdade e equidade. É a partir dos espaços educacionais que esses jovens encontram lugar para se auto afirmarem, construir formas de empoderamento e contribuir para processos de construção democrática de ensino. A formação humana e a participação efetiva em espaços de discussão e construção coletivas vêm favorecendo ações de resistência frente a situações de discriminação e ocupação de espaços públicos na busca contínua de garantia de direitos humanos universais. PALAVRAS-CHAVE: Ambiente politizado, Educação do campo, Empoderamento, Juventude geraizeira.   RESUMEN: El medio ambiente es un área en disputa. Diferentes actores actúan de acuerdo a sus intereses para colonizar la naturaleza que les rodea. El propósito de este trabajo es discutir un ambiente politizado, el medio ambiente inseparables de las interacciones humanas y las correlaciones políticas y económicas de la experiencia de la enseñanza a los estudiantes jóvenes geraizeiros campo Pardo Río Minas / MG. Aprecian las formas complejas de los actores en los diferentes niveles de las cuestiones ambientales pone el poder en el centro de la cuestión como un recordatorio de que las relaciones son desiguales, pero no se implica ni terminadas en sí mismos. El texto busca elucidar las principales tendencias de aproximación al tema con el fin de identificar algunas notas para minimizar las diferencias sociales y las relaciones de igualdad y equidad. Es a partir de las oportunidades educativas que los jóvenes encuentran su camino a la auto afirman, construyen formas de empoderamiento y contribuyen a procesos de construcción de la educación democrática. El desarrollo humano y la participación efectiva en los espacios de discusión y construcción colectiva han ayudado a acciones de resistencia en situaciones de discriminación y la ocupación de los espacios públicos en la búsqueda permanente de garantía universal de los derechos humanos. PALABRAS CLAVE: Ambiente politizado, Educación rural, Empoderamiento, geraizeira juveniles.   1. Introdução As comunidades geraizeiras estudadas nesse trabalho diz respeito às comunidades tradicionais que têm seu modo de vida em regiões de cerrado e assim usufruem desse bioma como forma de reprodução, de defesa e de convívio. Nesse caso, as comunidades geraizeiras estão situadas no norte de Minas Gerais, na região que engloba o Território da Cidadania do Alto Rio Pardo. Dentro desse território, destaca-se a atuação dos jovens de Rio Pardo de Minas/MG que vem se envolvendo nas questões voltadas para suas comunidades, no movimento geraizeiro e nas lutas das comunidades tradicionais da região. A juventude está presente nos sindicatos e associações e tem se organizado em torno da Educação do Campo, movimentando a região e contribuindo para o movimento camponês local, para a formação das crianças nas escolas e para a dinamização das comunidades nas quais estão inseridos. As discussões vão além da educação, uma vez que para pensar a educação do campo é importante discutir também formas e condições de permanência do jovem no campo. Nesse sentido, a educação do campo tem servido como uma importante ferramenta para o empoderamento desse segmento que se envolve nas lutas cotidianas do campo e contribui para que as discussões dos problemas que afetam a todos tenham profundidade e amplitude de análise do contexto. Dessa forma, o ambiente politizado vai se constituindo e aos poucos, juntos vão buscando formas de minimizar as desigualdades sociais. Para melhor compreensão do papel da juventude nesse processo de construção de um ambiente politizado, foram realizadas entrevistas semiestruturadas e análise situacional do I Seminário de Juventude Geraizeira e II Seminário de Educação do Campo do Alto Rio Pardo, além de observação participante do Curso de Formação de Jovens realizado pelo Centro de Agricultura Alternativa com jovens do Norte de Minas e Sudoeste da Bahia. 2. Desigualdades sociais e universidade A origem das desigualdades sociais possui explicação no campo da filosofia na produção de Rousseau quando ele estabelece reflexões com a origem da propriedade privada. Para ele, quando o primeiro ser humano, dividiu ou cercou um espaço físico, afirmou ser sua posse e os demais que ali viviam, aceitaram esta proposição, a propriedade privada se instala. Toda a produção de insumos para a sobrevivência, todo o trabalho ali empregado passa a seguir a lógica da propriedade privada e configura-se a dicotomia público-privado, aparecendo assim alguns dilemas em torno da distribuição dos recursos. Nesta perspectiva, se estabelecem os grupos de gestores e os grupos de produtores da vida social, econômica, cultural e política. Em meio a disputas e conflitos tendo em vista o controle e o poder, desde as primeiras sociedades humanas, os indivíduos adotam formas de diferenciar e subjugar uns aos outros. Esta diferenciação vai produzindo e aumentando um quadro de desigualdades. (ROUSSEAU, 2008) Estratificação social e desigualdade social são tidas como sinônimos e se definem de várias formas, marcando a realidade brasileira de forma expressiva e se apresentando como um fenômeno durável, com várias dimensões, e transversal, que comumente passa por escalas de prestígio, espaços de interação social e posição socioeconômica, considerando a relação entre renda e educação, pautando as condições de vida de cada um. As relações e reproduções sociais tecidas na universidade e a busca incessante de uma construção democrática do espaço público é a tendência de abordagem nesse texto. A participação dos jovens geraizeiros de Rio Pardo de Minas nos espaços educacionais de educação do campo é uma perspectiva voltada para a minimização de diferenciações sociais e suas relações de igualdade e equidade. A escola ou universidade é um espaço de reprodução de relações sociais propícios para discutir as relações étnicas, a educação e a busca por dignidade e democracia. É por meio da formação humana e das participações efetivas em espaços de construção e discussão coletivas que os jovens das comunidades tradicionais geraizeiras de Rio Pardo de Minas vêm resistindo às situações de discriminação, afirmando suas identidades culturais e étnicas e se projetando na ocupação de espaços públicos, se empoderando na busca contínua de garantia de direitos humanos universais. No caso do espaço universitário, a estratificação começa com a ênfase dada à questão do status dos cursos superiores, onde a posição social se difere pelo que é atribuído à área de formação almejada, que automaticamente associa-se a visibilidade dada à rentabilidade profissional da categoria, o que reflete ainda na ampla concorrência para ingresso em alguns cursos da universidade, com uma supervalorização de alguns cursos em detrimento de outros, onde claramente se vê atribuição de prestígio e preferência. Para os jovens que saem do campo para ingressar na universidade, essas diferenças são sentidas na pele, através da discriminação, do preconceito e do menosprezo vindo de outros estudantes e até mesmo de professores universitários de outros cursos. Desde a primeira turma de Licenciatura em Educação do Campo da Universidade Federal de Minas Gerais, estudar representou também um ato de resistência. O indivíduo moderno vive a tormenta da escolha e é por isso que a todo tempo há imposições para esse indivíduo se ajustar ao contexto, extremamente complexo e com poucas oportunidades de diálogo com outras realidades. Nesse contexto percebe-se ações de imitação, de adaptação, pela conformação para se sentir integrado e de confronto interno e externo, em busca de reconhecimento, de aceitação e de empoderamento. A universidade vista como um espaço social aberto às diversas relações, principalmente no universo juvenil, nos permite lançar o olhar para a sociedade como um todo, uma vez que a universidade é um espaço que a cada dia acolhe mais segmentos e ali reproduz estilos de vida, formas de comportar, recriam condições de viver e estar, constroem e desconstroem paradigmas. Cada vez mais há pessoas em busca de espaço, de afirmação, de construção, um espaço que cotidianamente vem buscando a inclusão de novos atores. A universidade é um exemplo de espaço onde o passado, o presente e o possível não se separam. Para que a sociabilidade flua para todos os grupos, deve coexistir sem dissociar, a função, a forma e a estrutura, que juntos formam um todo e mantêm independência e autonomia relativas. A fragmentação e a disputa por espaço e poder estão centradas na exacerbação de uma racionalidade que impõe valor de troca pautado no lucro. Identificar as tendências que se pluralizam no contexto universitário é um exercício cotidiano para sair da ignorância do desconhecimento que desencadeiam responsabilidades com a história. A sociedade pode ir além do campo da reprodução, pode usar seu tempo disponível para criar, perceber e reprocessar, reconstruir, refazer ou inventar algo que o faça sentir prazer nas relações sociais diversas, assim como a arte pressupõe a imaginação e a intuição, uma busca pela utopia onde haja um espaço favorável à felicidade, conquistada através do equilíbrio entre intimidade e distância, a partir da escolha de uma posição intermediária, o espaço privilegiado de percepção. A partir de si dá-se a forma de vida, devendo ser construída de dentro para fora. 3. Juventude, educação e ambiente politizado Os jovens de Rio Pardo de Minas e região, juntamente com o sindicato dos trabalhadores e trabalhadoras rurais do município, vêm se organizando a fim de enfrentar os problemas, a crise ambiental e criar alternativas de vida e permanência da juventude no campo por meio da articulação de novas ações, propostas e estratégias de formar e discutir as questões ambientais e dinâmicas territoriais e sociais nas comunidades tradicionais. A politização do ambiente pressupõe tomada de consciência de todos os elementos que permeiam essas situações de crise e conflito. O ambiente politizado é uma abordagem que estabelece relações de poder que permeiam a interação entre a sociedade e o ambiente, por meio de atores que se envolvem diferentemente nas situações de crises ambientais. Pensar a crise ambiental associada às questões políticas e econômicas ajuda compreender que nem todos são afetados igualmente e nem mesmo os custos e benefícios das crises são distribuídos igualmente. Essa posição desigual reforça ou reduz as desigualdades já existentes e reitera a relação inseparável que há entre as propostas de desenvolvimento com as preocupações ambientais, onde as mudanças nas condições ambientais de alguma forma afeta o parâmetro político e econômico vigente. O ambiente politizado tem relação direta também com a mudança de poder. O manejo e convívio ambiental das comunidades tradicionais opõe-se ao afã da dominação capitalista que considera a natureza como recurso para a reprodução e acúmulo do capital. Este conflito de significação está na conjuntura e na ação das comunidades tradicionais que indicam, com seu modo de vida, a importância de atribuir novos sentidos ao desenvolvimento desejado, ao desenvolvimento sustentável e endógeno, capaz de conviver com a preservação ambiental. Em Rio Pardo de Minas, a organização política ganha lugar para discutir os problemas que afetam as comunidades e assim reafirmar significados e significações que surgem de sociabilidades cotidianas, de espaços de cultura, de educação e de lazer desses povos. Da organização das comunidades geraizeiras de Rio Pardo de Minas vê-se ganhos coletivos, lutas comuns com resultados positivos em defesa dos territórios e das práticas tradicionais. Em meio a essas organizações, a juventude vem se articulando, se colocando no debate das comunidades tradicionais, na defesa do território. Um dos caminhos encontrados para discutir e reivindicar melhores condições de vida no campo foi através da educação do campo. A primeira conquista reivindicada pelas comunidades tradicionais do Território da Cidadania do Alto Rio Pardo foi a implantação da Escola Família Agrícola. Outro fato importante é a constatação que de um terço dos estudantes da Licenciatura em Educação do Campo da Universidade Federal de Minas Gerais é composta por estudantes de Rio Pardo de Minas, sem contar a inserção dos jovens nas outras 3 universidades do Estado que oferecem Licenciatura em Educação do Campo (UFTM, UFV, UFVJM). Dessa forma, a juventude tem se organizado e estão dando o tom das pautas reivindicatórias para o segmento na região, que atua conectada com as discussões e propostas das associações e sindicato dos trabalhadores e trabalhadoras rurais do município. A educação do campo tem representado uma busca de construção de possibilidades voltadas para o avanço na qualidade de vida e garantia de direitos das comunidades campesinas e reconhecimento da necessidade de respeito às especificidades. Para dinamizar as discussões, a juventude de Rio Pardo de Minas que está nas Licenciaturas em Educação do Campo se reúne mensalmente para discutir assuntos comuns, logísticas dos módulos e questões locais. Dessas reuniões, o grupo já realizou dois seminários de Educação do Campo, a fim de ampliar o discurso e promover maior inserção da juventude na temática e nas questões locais das comunidades. 4. Conclusão A realidade dos jovens das comunidades tradicionais é permeada por questões locais e globais. De um lado está a globalização, do outro a reafirmação identititária. O processo de globalização impacta a identidade cultural dos povos e comunidades tradicionais, contribuindo para sua desintegração. É diante disso que a comunidade, ao pensar e agir coletivamente vai constituindo sujeitos que constroem uma politização da subjetividade, da identidade e dos processos de identificação. O que está em jogo é o deslocamento político da identidade e as relações de pertencimento e globalização. Esta realidade está em conexão com os processos desenvolvimentistas e de expansão capitalista. A comunidade se desenvolve de acordo com o grau de consciência das lideranças presentes e disponíveis a pautar coletivamente ações de transformação positiva e qualitativa para a vida das pessoas que ali vivem e compartilham dos mesmos ideais e modos de vida. A escola é um espaço de contribuição para formação identitária, um espaço importante de socialização, por isso, os espaços educacionais devem ser pensados para serem condizentes com a realidade local, voltadas para o empoderamento e construção de cidadania. O discurso do desenvolvimento que chega ao Norte de Minas encontra apoio no Estado, que serve de mediador nesse processo ao intervir comumente de forma favorável para grupos detentores de recursos financeiros e permitindo o controle ambiental. As lutas dos atores de base resultam em articulações para levar ao Estado suas reivindicações e competir com os demais atores na definição de prioridades quando se trata de questões ambientais, de questões de direitos das comunidades tradicionais e de questões referentes aos direitos da juventude do campo. Uma das estratégias pensadas para enfrentar os problemas das comunidades tem sido a inserção política partidária, com lançamento de candidaturas jovens e de representante do sindicato dos trabalhadores e trabalhadoras rurais à prefeitura da cidade. É um exercício de elucidar os usos, importância, dinâmica e funções do ambiente. Compreender o papel do poder nos conflitos ambientais do Terceiro Mundo é perceber que o poder resulta na vitória do convencimento, primeiramente. As ideias são colocadas para legitimar o triunfo dos interesses de determinado grupo sobre outros, para assimilar as propostas à ideia de bem comum. A complexidade das relações de poder nesse emaranhado de forças e ações de atores diferentes indica que não é possível fixar o controle ou resistir permanentemente. A politização do ambiente pressupõe tomada de consciência de todos os elementos que permeiam essas situações de crise e conflito. Apreciar as formas complexas das interações dos atores nos diversos níveis das questões ambientais coloca o poder no centro da questão como um lembrete de que as relações são desiguais, mas que não estão tácitas ou acabadas em si mesmas. A luta continua e a juventude geraizeira de Rio Pardo de Minas se coloca em movimento.   REFERÊNCIAS   BRITO, Isabel Cristina Alves de. Geraizeiros em movimento. In: COSTA, João Batista de Almeida; OLIVEIRA, Claudia Luz de. Cerrado, gerais, sertão: comunidades tradicionais nos sertões roseanos. São Paulo: Intermeios; Belo Horizonte: Fapemig; Montes Claros: Unimontes, 2012. BRYANT, Raymond L. e BAILEY, Sinéad. A politicised environment. In: BRYANT, Raymond L. e BAILEY, Sinéad. Thrid World political ecology. London &amp;amp; New York: Routledge, 1997. ROUSSEAU, Jean Jacques – Discurso sobre a origem e os fundamentos das desigualdades entre os homens / Jean Jacques Rousseau; [introdução de João Carlos Brum Torres]; tradução de Paulo Neves. – Porto Alegre, RS: L&amp;PM, 2008. SACHS, Wolfgang (ed.). “Introduction”. In: The development dictionary. A guide to knowledge and power. London: Zed Books, 1996. Traduzido pela editora vozes, 2000. SCALON, Celi e SANTOS, José Alcides Figueiredo. Desigualdades, classes e estratificação social. In: _______ MARTINS, Carlos Benedito. Horizonte das ciências sociais no Brasil. São Paulo: ANPOCS, 2010. TUMIN, Melvin M. Estratificação Social. São Paulo: Pioneira, 1970.

    Toxicity and Anti-Inflammatory Effects of <i>Agave sisalana</i> Extract Derived from Agroindustrial Residue

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    Background: In several countries, the leaf juice of Agave sisalana (also known as sisal) is widely used topically, especially as an antiseptic, and orally for the treatment of different pathologies. However, in Brazil, which is the largest producer of Agave sisalana, its residue, which represents the majority of its weight, has been thrown away. For this reason, the determination of the pharmacological and toxicological potentials of sisal residue and its possible therapeutic use is seen as a way to contribute to the sustainable development and social promotion of the largest producer of sisal in Brazil, the interior of Bahia State, which is among the poorest areas in the country. Given the scarcity of available scientific studies on the pharmacological and toxicological properties of sisal residue juice, this study aimed to promote the acid hydrolysis of this juice to potentiate the anti-inflammatory effect already described in the literature. Furthermore, it aimed to evaluate the toxicological profile of the hydrolyzed extract (EAH) and to determine its acute toxicity, as well as its side effects on the reproductive aspects of rats. Method: The anti-inflammatory effect of EAH was evaluated in vitro using the induction of hemolysis by hypotonic solution and in vivo in rats using the carrageenan-induced paw edema test and the xylene-induced ear edema test. The acute toxicity, resulting from a single-dose administration, was investigated for some manifestation of toxic symptoms related to motor control and consciousness in rats. At a concentration of 100 mg/kg, by repeated doses, the reproductive toxicity effects of EAH in rats were assessed. Results: In vitro anti-inflammatory activity was positive using the human red blood cell membrane stabilization method. In both in vivo tests used to assess the anti-inflammatory activity, EAH (at three doses) significantly inhibited edema when compared to the control group. At a dose of 50 mg/kg, EAH exhibited a greater effect than indomethacin, a nonsteroidal anti-inflammatory drug with known activity. In vivo toxicological studies have shown that EAH does not present toxic effects when administered orally in a single dose, up to 1000 mg/kg. Finally, EAH promoted a gonadotoxic effect and increased the embryonic mortality rate after implantation. Conclusions: It is suggested that the anti-edematogenic effect of the acid hydrolysis extract from sisal juice is due to the high concentration of steroidal sapogenins. Therefore, this extract can be considered a potential new anti-inflammatory or even an important sapogenin source for the development of steroidal glucocorticoids. However, further studies are needed to elucidate the chemical composition of sisal juice. Regarding toxicology studies, EAH did not show cytotoxic and clastogenic potentials, but it presented a powerful reproductive toxic effect in rats

    Núcleos de Ensino da Unesp: artigos 2008

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    Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq
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