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Conexões entre dois mundos: prática médica, artes de curar e os saberes locais angolanos nos textos europeus ao longo do século XVIII
As conexões entre a África e o Brasil são tema recorrente na historiografia, principalmente, aquela relacionada com as questões
sociais, econômicas, logísticas e políticas que envolviam o tráfico de escravos entre ambos os continentes. Um dos aspectos de maior
interesse para os pesquisadores da história das ciências é, nesse sentido, a questão da saúde dos povos escravizados. Neste aspecto,
a história da Medicina e dos conhecimentos médicos e farmacêuticos retratam um cenário no qual os contributos dos conhecimentos
de origem africana tem vindo a ser verificados. Neste artigo, pretendo reconhecer as práticas médicas aplicadas em território angolano
através de uma série de tratados médicos escritos por europeus que praticaram medicina em Angola, mais precisamente em Luanda,
pretendendo responder às seguintes questões: Qual é o peso do conhecimento das populações locais na formação dos tratados médicos
angolanos? Havia circulação de conhecimentos médicos entre Angola e Brasil?The connections between Africa and Brazil are a recurring theme in historiography, especially that related to social, economic,
logistical and political issues involving the slave trade between the two continents. One of the most interesting aspects for researchers
in the history of science is, in this sense, the question of the health of enslaved peoples. In this respect, the history of medicine and
medical and pharmaceutical knowledge portray a scenario in which the contributions of knowledge of African origin have been verified.
In this article, I intend to recognise the medical practices applied in Angolan territory through a series of medical treaties written
by Europeans who practised medicine in Angola, more precisely in Luanda, in order to answer the following questions: What is the
weight of the local population's knowledge in the formation of Angolan medical treaties? Was there a circulation of medical knowledge
between Angola and Brazil
A peste que veio do mar: zonas litorais, doenças e curas (séculos XVI/XXI)
: Em meados do século XV, e com o incremento das viagens marítimas europeias, os contactos entre a Europa e o resto
do mundo tornaram-se regulares. O barco tornou-se o principal responsável pelas ligações intercontinentais e pela circulação de
pessoas e animais, matérias-primas e mercadorias, conhecimento e tecnologias, doenças, agentes patogénicos e práticas de cura.
Viagens de longo curso encurtaram distâncias, aproximaram gentes e lugares, tornaram portos e cidades portuárias em espaços
privilegiados de contacto, intercâmbio e miscigenação. Na Europa, a localização e natureza híbrida destes espaços, tornava-os
propícios à entrada e propagação de doenças até então desconhecidas, exigindo dos poderes locais a criação e implementação
de medidas profiláticas e de controlo sanitário.
No século XVIII, reflectindo um processo de globalização crescente, estas preocupações extravasaram o espaço europeu. Os
territórios coloniais tornaram-se progressivamente espaços de experimentação de medidas de controlo e prevenção. O processo de
construção de conhecimento e de práticas médicas beneficiou tanto do desenvolvimento progressivo da ciência médica e prática
terapêutica europeia, quanto da incorporação de conhecimentos e práticas não europeias, possibilitada pelos contactos entre
povos geográfica e culturalmente diferentes. No Império português, as zonas ribeirinhas emergiram como espaços privilegiados
de observação e estudo da construção deste processo, tanto na vertente da identificação e conhecimento de doenças e práticas
de cura locais resultantes da interacção com as populações autóctones, quanto na da imposição de práticas biomédicas ligadas à
farmacopeia europeia. A situação peculiar destas áreas de interface, mar-terra, permitiu uma melhor percepção do modo como
diferentes saberes e práticas se mimetizaram nos diferentes espaços do Império, levando à definição de procedimentos específicos
para evitar e/ou controlar a propagação de doenças, sobretudo no caso de epidemias. O mar tornou-se assim, também, veículo
de circulação de agentes (humanos e não humanos) que, em determinadas situações, foram centrais, como no caso do programa
de erradicação de patologias, viabilizando a reflexão sobre vários aspectos da interacção humano / não humano na construção
social das doenças. Se reconhecer uma doença pode ser um processo célere, encontrar causas e tratamentos ou antídotos pode ser
moroso e dispendioso, num espaço-tempo marcado por avanços, recuos e realidades díspares que chegam mesmo a comprometer
a eficácia das soluções encontradas, como atestam os esforços e medidas para conter a actual pandemia COVID-19.
Nesta perspectiva, o presente trabalho apresenta uma reflexão sobre a relação das doenças com as áreas litorais apelando
também à reflexão sobre a própria "saúde" dos mares, rios e oceanos que não só determinaram e alimentam a sua existência,
como contribuíram para gerar novas paisagens e novas relações entre as comunidades humanas e não humanas qIn the mid-15th century, and with the increase in European sea travels, contacts between Europe and the rest of
the world became regular. Ships became primarily responsible for intercontinental connections as well as for the circulation and
transport of people and animals, raw materials and goods, knowledge and technology, diseases, pathogens, and healing practices.
Long-distance travels shortened distances, brought people and places closer together, made ports and port cities privileged spaces
of contact, exchange, and miscegenation. In Europe, the location and the hybrid nature of these spaces made them prone to entry
and spread of new diseases, requiring local governments to create and implement prophylactic and health control measures.
In the 18th century, reflecting an increasing globalization process, these concerns went far beyond the European universe. Colonial
territories have become spaces for experimentation of control and prevention measures.These procedures have been consolidated,
participating in a process of construction of medical knowledge and practices that benefited both from the development of European
medical and pharmaceutical science, as well as from the incorporation of non-European knowledge and practices, made possible
by contacts between geographically and culturally different peoples. In the Portuguese Empire, the coastal areas emerged as privileged spaces for observation and study of the building of this process. In there it was possible to regard identification and
knowledge of diseases and local healing practices, resulting from the interaction with the native populations, or regarding the
imposition of biomedical practices related to the European pharmacopoeia. The peculiar situation of these sea-land interface
areas allowed a better insight into how the interaction between different knowledge and practices was stimulated in the different
geographies of the Empire leading to define specific procedures to prevent and/or control spread of diseases, especially in the
case of epidemics. Thus the sea also become a vehicle for circulation of agents (human and non-human) that, in certain situations,
were central, as in the case of pathologies eradication program, enabling thinking about the various aspects of human/non-human
interaction in the social construction of diseases. If recognizing a disease can be a quick process, finding causes and antidotes
can be time-consuming and costly, in a space-time marked by advances, setbacks and disparate realities that even compromise
the effectiveness of the solutions found, as evidenced by efforts and measures to contain the current COVID-19 pandemic.
From this perspective, the true history of diseases in their relationship with coastal areas also calls for a discussion about the
"health" of seas, rivers, and oceans that have not only determined and nurtured their existence, but have also contributed to
generate new landscapes, and new relationships between human and non-human communities within them, and to demonstrate
the link between marine and coastal ecosystems and human populations health
zonas litorais, doenças e curas (séculos XVI/XXI)
UIDB/04666/2020
UIDP/04666/2020
UIDB/04059/2020Em meados do século XV, e com o incremento das viagens marítimas europeias, os contactos entre a Europa e o resto do mundo tornaram-se regulares. O barco tornou-se o principal responsável pelas ligações intercontinentais e pela circulação de pessoas e animais, matérias-primas e mercadorias, conhecimento e tecnologias, doenças, agentes patogénicos e práticas de cura.Viagens de longo curso encurtaram distâncias, aproximaram gentes e lugares, tornaram portos e cidades portuárias em espaços privilegiados de contacto, intercâmbio e miscigenação. Na Europa, a localização e natureza híbrida destes espaços, tornava-os propícios à entrada e propagação de doenças até então desconhecidas, exigindo dos poderes locais a criação e implementação de medidas profiláticas e de controlo sanitário.No século XVIII, reflectindo um processo de globalização crescente, estas preocupações extravasaram o espaço europeu. Os territórios coloniais tornaram-se progressivamente espaços de experimentação de medidas de controlo e prevenção. O processo de construção de conhecimento e de práticas médicas beneficiou tanto do desenvolvimento progressivo da ciência médica e prática terapêutica europeia, quanto da incorporação de conhecimentos e práticas não europeias, possibilitada pelos contactos entre povos geográfica e culturalmente diferentes. No Império português, as zonas ribeirinhas emergiram como espaços privilegiados de observação e estudo da construção deste processo, tanto na vertente da identificação e conhecimento de doenças e práticas de cura locais resultantes da interacção com as populações autóctones, quanto na da imposição de práticas biomédicas ligadas à farmacopeia europeia. A situação peculiar destas áreas de interface, mar-terra, permitiu uma melhor percepção do modo como diferentes saberes e práticas se mimetizaram nos diferentes espaços do Império, levando à definição de procedimentos específicos para evitar e/ou controlar a propagação de doenças, sobretudo no caso de epidemias. O mar tornou-se assim, também, veículo de circulação de agentes (humanos e não humanos) que, em determinadas situações, foram centrais, como no caso do programa de erradicação de patologias, viabilizando a reflexão sobre vários aspectos da interacção humano / não humano na construção social das doenças. Se reconhecer uma doença pode ser um processo célere, encontrar causas e tratamentos ou antídotos pode ser moroso e dispendioso, num espaço-tempo marcado por avanços, recuos e realidades díspares que chegam mesmo a comprometera eficácia das soluções encontradas, como atestam os esforços e medidas para conter a actual pandemia COVID-19.Nesta perspectiva, o presente trabalho apresenta uma reflexão sobre a relação das doenças com as áreas litorais apelando também à reflexão sobre a própria “saúde” dos mares, rios e oceanos que não só determinaram e alimentam a sua existência, como contribuíram para gerar novas paisagens e novas relações entre as comunidades humanas e não humanas que as integram, demonstrando a ligação entre os ecossistemas marinhos e costeiros, e a saúde das populações humanas. In the mid-15th century, and with the increase in European sea travels, contacts between Europe and the rest of the world became regular. Ships became primarily responsible for intercontinental connections as well as for the circulation and transport of people and animals, raw materials and goods, knowledge and technology, diseases, pathogens, and healing practices. Long-distance travels shortened distances, brought people and places closer together, made ports and port cities privileged spaces of contact, exchange, and miscegenation. In Europe, the location and the hybrid nature of these spaces made them prone to entry and spread of new diseases, requiring local governments to create and implement prophylactic and health control measures. In the 18th century, reflecting an increasing globalization process, these concerns went far beyond the European universe. Colonial territories have become spaces for experimentation of control and prevention measures.These procedures have been consolidated, participating in a process of construction of medical knowledge and practices that benefited both from the development of European medical and pharmaceutical science, as well as from the incorporation of non-European knowledge and practices, made possible by contacts between geographically and culturally different peoples. In the Portuguese Empire, the coastal areas emerged as privileged spaces for observation and study of the building of this process. In there it was possible to regard identification and knowledge of diseases and local healing practices, resulting from the interaction with the native populations, or regarding the imposition of biomedical practices related to the European pharmacopoeia. The peculiar situation of these sea-land interface areas allowed a better insight into how the interaction between different knowledge and practices was stimulated in the different geographies of the Empire leading to define specific procedures to prevent and/or control spread of diseases, especially in the case of epidemics. Thus the sea also become a vehicle for circulation of agents (human and non-human) that, in certain situations, were central, as in the case of pathologies eradication program, enabling thinking about the various aspects of human/non-human interaction in the social construction of diseases. If recognizing a disease can be a quick process, finding causes and antidotes can be time-consuming and costly, in a space-time marked by advances, setbacks and disparate realities that even compromise the effectiveness of the solutions found, as evidenced by efforts and measures to contain the current COVID-19 pandemic. From this perspective, the true history of diseases in their relationship with coastal areas also calls for a discussion about the “health” of seas, rivers, and oceans that have not only determined and nurtured their existence, but have also contributed to generate new landscapes, and new relationships between human and non-human communities within them, and to demonstrate the link between marine and coastal ecosystems and human populations health.publishersversionpublishe
Genome of Herbaspirillum seropedicae Strain SmR1, a Specialized Diazotrophic Endophyte of Tropical Grasses
The molecular mechanisms of plant recognition, colonization, and nutrient exchange between diazotrophic endophytes and plants are scarcely known. Herbaspirillum seropedicae is an endophytic bacterium capable of colonizing intercellular spaces of grasses such as rice and sugar cane. The genome of H. seropedicae strain SmR1 was sequenced and annotated by The Paraná State Genome Programme—GENOPAR. The genome is composed of a circular chromosome of 5,513,887 bp and contains a total of 4,804 genes. The genome sequence revealed that H. seropedicae is a highly versatile microorganism with capacity to metabolize a wide range of carbon and nitrogen sources and with possession of four distinct terminal oxidases. The genome contains a multitude of protein secretion systems, including type I, type II, type III, type V, and type VI secretion systems, and type IV pili, suggesting a high potential to interact with host plants. H. seropedicae is able to synthesize indole acetic acid as reflected by the four IAA biosynthetic pathways present. A gene coding for ACC deaminase, which may be involved in modulating the associated plant ethylene-signaling pathway, is also present. Genes for hemagglutinins/hemolysins/adhesins were found and may play a role in plant cell surface adhesion. These features may endow H. seropedicae with the ability to establish an endophytic life-style in a large number of plant species
Natureza ilustrada: processos de construção e circulação de conhecimento filosófico-natural sobre o Brasil na segunda metade do século XVIII
"O tema deste livro encontra-se sintetizado no seu título: Natureza ilustrada:
processos de construção e circulação de conhecimento filosófico-natural sobre o Brasil
na segunda metade do século XVIII. Os processos de construção de conhecimento
colonial (nas colónias e sobre as colónias) apresentam-se, assim, como o objeto de
estudo central deste trabalho, e serão situados em um universo temporal que vai
desde 1750 a 1800 e um espaço geográfico circunscrito ao Brasil colonial (...)." - in Introduçã
Breen, Benjamin. The age of intoxication: origins of the global drug trade, Philadelphia: University of Pennsylvania Press; 2019. 288 p. 35 figs. ISBN: 978-0-8122-5178-4
Benjamin BREEN, The age of intoxication: origins of the global drug trade. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 2019