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Sobre o fundo que se escapa
Inês é uma mulher jovem, insuficiente renal crónica
há vários anos, que acaba por realizar um transplante
renal. Este corre mal desde o início. Inês apresenta várias
crises de rejeição e, ao fim de cerca de cinco
meses, o rim deixa de funcionar.
Esse rim transforma-se, então, no foco de intensas
dores físicas, espécie de bicho repugnante e maléfico
que mina internamente o corpo de Inês e que tem que
ser extirpado. Os médicos desaconselham uma nova
intervenção cirúrgica. Inês sente-se impotente e deseja
morrer.
E é aqui que reatamos uma relação terapêutica, espaço
e tempo onde se toma possível vivenciar algumas
facetas dos cenários existenciais construídos por Inês,
ao longo da sua história, cenários esses onde apenas
certas encenações podem ocorrer.
E assim, entre um cenário-fundo que se escapa e
um cenário-fundo que se desvenda e reencontra, é
Inês, e a sua Fala, que brota.ABSTRACT: Inês is a young woman who has suffered from
chronic renal insufficiency for severai years. She had a
kidney transplant, with problems since the beginning.
After severai rejection crises, the kidney stops
functioning after five months.
This kidney becomes a source of intense physical
pain, a kind of repulsive and melevolous beast that
mines Inês’body from within and which must be
extirpated. Doctors, however, do not favour a new
operation. Inês feels helpless and wishes to die.
It is now that a therapy relationship is began, a
space and time where some of the existencial scenarios
developed by Inês are re-experienced, following her
story, scenarios that only allow for certain scripts.
We thus witness the appearance of Inês’voice,
from amidst these background scenarios and the ones
newly discovered.RESUME : Inês est une jeune femme présentant une insuffisance
rénale chronique depuis plusieurs années qui
vient de se faire transplanter. Dès le débout I’intervention
chirurgicale a posé des problèmes: i1 y a eu rejet
de I’organe et, au bout de cinq mois, le rein ne marche
Ce rein devient, alors, le lieu de violentes douleurs
physiques, une sorte de bête repugnante et maline qui
troue I’intérieur du corps d’Inês et qui doit être extirpe.
Les médecins ne sont pas d’accord pour une nouvelle
intervention. Et Inês se sent impuissante et veux
mourir.
C’est a ce moment que nous reprenons une relation certaines mises en scène qui peuvent être mises en
thérapeutique, espace et temps ou devient possible de
vivre quelques aspects des scénarios existenciels batis
Alors, entre des décors qui s’échappent et des
scénarios qui s’éveillent et se retrouvent, c9est Inês, et
par Inês, tout au long de son histoire, ou i1 n’y a que sa Parole, qui nait
Transplante renal: Fantasia e realidade
A autora realizou entrevistas clínicas a sete crianças/
adolescentes que tinham realizado, recentemente,
um transplante renal, com rim de cadáver.
Através da análise dessas entrevistas procurou
descrever: a) as fantasias que as crianças/adolescentes
teciam acerca do órgão inserido no seu corpo; b) o
confronto entre as expectativas face ao transplante renal
e a realidade vivida no pós-transplante.This article is a report on clinical interviews conducted
with seven children/adolescents who had recently
undergone kidney transplants.
Through the analysis of these interviews, the author
attempts to describe: a) the fantasies that the children/
ladolescents developed concerning the organ introduced
in their bodies; b) the comparison between
their expectations before the transpiant and the realities
faced afterwards.info:eu-repo/semantics/publishedVersio
A harpa silenciosa
Pretende-se, neste estudo, compreender a forma como
uma mãe (escolhida como exemplo paradigmático)
lida com a dor mental provocada pelo diagnóstico
(ocorrido durante a gravidez) de hidronefrose no seu
bebé.
Constata-se que ela manifesta, para além de particularidades
específicas do seu funcionamento mental,
dificuldade em investir o seu bebé e, sobretudo, em
pensar e verbalizar o que considera impensável: gerar
um filho doente.This study aims to understand the way in which a
mother (chosen as an example) copes with the mental
pain caused by the hydronephrosis in the baby.
It was observed that this mother, beyond the
specific traits of her mental functioning, had difficulties
investing in her baby and especially in thinking
and verbalizing what she considers unthinkable: to generate
a sick child.info:eu-repo/semantics/publishedVersio
A criança com doença crónica, os pais e a equipa terapêutica
A autora, neste texto, salienta a importância de uma
equipa terapêutica envolver, de forma atenta e activa,
os pais da criança com doença crónica. ------ ABSTRACT ------ The author emphasizes the importance of an active
and attentive involvement of parents in the treatment
of a child with a chronic disease
Visitação
A partir de uma poesia de Ruth Fainlight, a autora
evoca aspectos de uma psicoterapia com uma jovem
mulher que apresenta dificuldades de separação-individualização.ABSTRACT: Using a poem by Ruth Fainlight the author evokes
some aspects of psychotherapy of a young woman
with separation-individualization difficulties.info:eu-repo/semantics/publishedVersio
«O que é, bebé?», ou o que a Mãe diz ao Recém-nascido no Contacto Precoce
Com o presente estudo, que se insere numa investigação
mais lata sobre padrões de comunicação precoce
mãe-criança, pretende-se descrever algumas das
características da linguagem verbal que as mães dirigem
aos seus filhos, durante o contacto-precoce e da
forma como o bebé real é, nesse momento, percepcionado
e investido pela mãe.
Para tal realizou-se o registo auditivo do contacto
precoce de 30 pares de mães-bebés. Posteriormente
analisou-se o discurso materno que foi classificado em
diversas categorias relacionadas com aspectos da estrutura
sintáctica e com análise de conteúdo.
Constatou-se que as mães recorrem pouco a expressao
verbal, no primeiro contacto com os seus filhos.
Quando o fazem utilizam uma linguagem que tem características
da «fala de bebé)) e é constituída, sobretudo,
por interjeições, exclamações, frases com duas a
três palavras e palavras isoladas. O discurso emitido
centra-se em torno da realidade vivida no momento.
O bebé que a mãe descreve é um ser pequenino e
frágil, que chora e tem fome, pouco individualizado e
pouco «humano», a quem atribui essencialmente, necessidades
fisiológicas.In the present study, part of a broader research on
mother-child early communication patterns, we
describe some of the verbal language characteristics of
mothers speaking to their children in early interactions,
and we discuss the way in wich the real baby
is, at that stage, perceived and elaborated by the mother.
The early contacts of 30 pairs mother-child were
recorded. The speech of these mothers was classified
in severa1 categories according to syntax structure and
also through content analysis. ment.
In these initial contacts, mothers don’t use much
verbal language. When they do, they use «baby talk»
expressions and emit mostly exclamations and
interjections, two or three-word sentences and isolated
words. The speech is centered in the reality of the mo-
The baby described by the mother is a small and
fragile being, who cries and feels hunger, not very
individualized and not very «human», and in whom
she recognizes, essentially, psysiological needs.info:eu-repo/semantics/publishedVersio
Da criação e da morte: Peregrinação pela obra de Paul Celan
Tese de Doutoramento em Psicologia Clínica apresentada à Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, Universidade de CoimbraPaul Celan, cujo nome de nascimento era Paul Antschel-Teitler, nasce a 23 de Novembro de 1920 em Czernowítz, grande cidade da Bucovina, região recém integrada na Roménia.
Entre 1775 e 1918 a Bucovina pertencera ao Império Austro-Húngaro, que tinha desenvolvido, na região, uma política de acolhimento e de tolerância em relação aos judeus e que, simultaneamente, fomentara a implantação da língua e da cultura germânicas.
Czernowitz era uma cidade próspera, com uma vida cultural intensa e fervilhante, sendo mesmo considerada como um dos centros mais importantes da cultura judaica no leste europeu. Cerca de metade dos seus habitantes eram judeus que preservavam as suas tradições e que falavam a língua alemã.
Os pais de Paul Celan eram de origem judaica. Permaneceram sempre ligados às tradições judaicas mas símplificavam-nas. Assim, Paul recebe uma educação burguesa em que o judaísmo desempenha, sobretudo, um papel moral. E, ainda que o pai o pressionasse a uma educação judaica ortodoxa, a mãe, grande apaixonada pela língua e pela literatura alemãs, considerava estas bem mais importantes e, durante toda a sua vida, procurou que um alemão correcto fosse falado em casa, um alemão distinto do iídiche também corrente em Czernowítz.
Para além do alemão, sua língua materna, Paul Celan, durante a sua infância, aprende o hebraico e o romeno, língua oficial obrigatória.
Durante os seus tempos de liceu, a poesia atrai-o: lê Goethe, Schiller, Heine, Trakl, Hõiderlin, Rilke, Verlaine, Rimbaud, Apollinaire, Éluard, Shakespeare, Yeats... Começa a escrever poemas, que seguem a tradição melancólica da poesia romântica, e inicia os seus primeiros passos no ofício de tradutor.
Entretanto, decide prosseguir estudos na área da medicina. Em Novembro de
1938 parte para França, onde frequenta a escola de medicina de Tours. Em Junho de
1939 regressa, para férias, à sua terra natal. O início da Guerra obriga-o, contudo, a permanecer aí. Opta, então, pelo curso de Língua e Literatura Francesas na Universidade
de Czernowitz, a que se dedica com muito empenho.
Entretanto, em Setembro de 1939, depois do pacto de não agressão assinado por Hitler e Estaline, a Roménia é obrigada a ceder o norte da Bucovina à U.R.S.S. Em Junho de 1940 as tropas russas invadem Czernowitz. Sob este novo poder político, a Universidade é objecto de grandes reformas. Paul passa a estudar russo e ucraniano e contacta com a poesia de Iessenin, que começa a traduzir.
Em Junho de 1941 o pacto germano-soviético é quebrado, com a invasão da U.R.S.S. por Hitler. E, nesse mesmo mês, os alemães entram em Czernowitz, onde tentam destruir seiscentos anos de presença judaica: incendeiam a sinagoga, pilham, torturam e matam. Os judeus são destituídos dos seus direitos cívicos, obrigados a ostentar a estrela amarela e coagidos a vários trabalhos forçados. A 11 de Outubro é construído o gueto de Czernowitz. Iniciam-se deportações para campos de trabalho na
Transnistria, região que pertencia à União Soviética e que passa a ser ocupada pela Roménia. Serão muito poucos os que regressam desses campos.
Em Junho de 1942 os pais de Paul são deportados, primeiro para um campo de trabalho situado a sul, perto do rio Bug e, mais tarde, para o campo alemão de Michailowka, na Ucrânia. Nesse Outono o pai morrerá com tifo e, alguns meses mais tarde, segundo algumas testemunhas, a mãe será executada com uma bala na nuca por ser considerada inapta para o trabalho.
Aconselhado por alguns amigos, Paul oferece-se para incorporar um batalhão de cantoneiros com destino aos campos de trabalho situados na Moldávia: Rãdãzani, Fãlticeni e Tãbãresti. Espera-o um trabalho muito duro, em condições de vida miseráveis, mas, também, a possibilidade de escapar à eliminação física sistemática praticada noutros campos. E Paul escreve, escreve, talvez a única forma de resistir, de sobreviver.
Entretanto, com a aproximação do fim da Guerra, os romenos começam a desmantelar os campos de trabalho. Em Fevereiro de 1944 todos os judeus de Tãbàreçti são enviados de férias, sem data marcada para o regresso. Paul retoma a sua terra natal que, no mês de Abril, é libertada do domínio alemão pelo Exército Vermelho.
Paul consegue escapar ao recrutamento militar soviético trabalhando, como ajudante, numa clínica psiquiátrica. Mais tarde, e com a reabertura da Universidade, recomeça os estudos, dedicando-se à literatura inglesa. Datam, deste período, traduções de sonetos de Shakespeare e a leitura de Blake e de outros grandes autores da língua inglesa. Torna-se cada vez mais claro, para ele, que a poesia é o seu destino. E, aspirando a publicar um livro de poemas, reúne e dactilografa a sua produção poética.
Em Abril de 1945, Paul obtém autorização para trabalhar como leitor e tradutor (do russo para o romeno) junto de uma editora em Bucareste. Traduz Tchekov. Simonov, Turgueniev e Lermontov. As suas traduções, muito apreciadas, são assinadas com vários pseudónimos. No entanto, no romance de Lerniontov utiliza o seu verdadeiro nome, modificando apenas a ortografia segundo a grafia romena: Antschel torna-se, assím, Ancel.
Em 1947 consegue publicar vários poemas, que assina Paul Celan, anagrama de Ancel. Todesfuge (Fuga da morte) surge inicialmente em romeno, numa tradução efectuada por Petre Solomon. É, certamente, o poema de Celan mais divulgado e conhecido, que prende pela enorme tensão gerada entre a brutalidade e a violência do exposto (o quotidiano dos judeus num campo de concentração) e a musicalidade e a beleza da forma.
Em Dezembro de 1947, Paul parte clandestinamente da Roménia com destino a Viena. Aqui encontra verdadeiros amigos que o ajudam a publicar e a ler os seus poemas, em público e na rádio. No início de 1948 aparece, no número 6 da revista Der Plan, uma recolha de dezassete poemas seus, com o título Der Sand aus den Urnen (A areia das urnas). Mais tarde, em Setembro, esses poemas, e outros, serão retomados num volume autónomo, com o mesmo título, no editor vienense A. Sexl.
Em Julho de 1948 Paul abandona Viena e fixa-se em Paris e, a partir de então, não conhecerá outra cidade...
Os primeiros tempos são duros e solitários. É preciso sobreviver e Celan dá aulas particulares, traduz, arranja trabalhos diversos. Entretanto, começa a frequentar o curso de Literatura Alemã na Sorbonne.
Algum tempo depois da sua chegada a Paris, Paul contacta o poeta Yvan Goll, um judeu alsaciano. Goll, que estava gravemente doente com leucemia, confia a Celan, antes da sua morte em Fevereiro de 1950, a tradução para a língua alemã da sua poesia. Paul cumpre o prometido, mas as suas traduções nunca serão publicadas, porque a viúva de Goll se opõe, alegando que o seu trabalho tinha um cunho muito pessoal, que o afasta do texto original. Mais tarde, decide ela própria empreender a tradução da obra do marido, para o que se «inspira» no trabalho anteriormente desenvolvido por Celan.
Em 1952 Celan desloca-se à Alemanha para participar numa reunião do Grupo 47. Efectua contactos com uma editora alemã que, em Dezembro, publica o livro Papoila e memória, que abarca os poemas escritos entre 1944 e 1952, incluindo parte da obra A areia das urnas e o poema Fuga da morte.
Nesse mesmo mês Celan casa com a artista gráfica Gisèle de Lestrange, a quem dedica o seu novo livro de poemas De limiar em limiar, publicado em 1955.
Durante a década de 50, Paul Celan adopta a nacionalidade francesa, conclui a sua licenciatura e lecciona língua e literatura alemãs na École Normal Supérieure. A sua obra poética começa a ser conhecida, sobretudo na Alemanha, e vai adquirindo uma notoriedade crescente, sendo objecto de diversas críticas e resenhas. É convidado, com uma certa regularidade, para realizar leituras dos seus poemas. Em 1956 é-lhe atribuído o Prémio de literatura da Confederação da Indústria Alemã. Em 1957 recebe o Prémio literário da cidade livre e hanseática de Bremen; em 1960, o prémio Georg Buchner e, em 1964, o Grande prémio de literatura da Renânia do Norte-Westefália. No Verão de 1968 passa a integrar a comissão de redacção da revista fEphémère, sob o convite de Yves Bonnefoy, André du Bouchet, Louis-René des Forêts, Gaètan Picon e Jacques Dupín. No Outono de 1969 Celan viaja até Israel, onde reeencontra familiares e antigos amigos de Czernowitz e é calorosamente acolhido pela Associação de escritores Hebraicos. Em 1959 surge o livro Grelha de linguagem; em 1963, A rosa de ninguém, livro esse dedicado ao poeta russo Ossip Mandelstam; em 1967, Sopro, viragem e, em 1968, Sóis desfiados.
Paul Celan também se dedica intensamente à tradução. Celan verte para o alemão Cocteau, Breton, Paul Éluard, Cayrol, Baudelaire, Gérard de Nerval, Mallarmé, Artaud, Rimbaud, Valéry, Apollinaire, René Char, Michaux, Supervielle, André du Bouchet, BJock, Maíakovski, Mandelstam, Iessenin, Cioran, Fernando Pessoa, Ungaretti, John Dorme, Yeaís, Shakespeare, EmilyDicldnson, Marianne Moore...
Mas o fim dos anos 50 e os anos 60 não serão tempos fáceis... A partir de 1953 Claire Goll lança uma campanha pública de difamação de Paul Celan, em que acusa o Poeta de plágio da obra do marido. Se, inicialmente, Paul parece não se sentir muito afectado por tais calúnias, anos mais tarde elas atingi-lo-ão duramente. Paul desdobra-se na procura de apoio, quer do meio literário de língua alemã, quer no meio literário de língua francesa, mas nunca se sentirá verdadeiramente compreendido. Para o poeta essa campanha não é uma mera intriga literária mas, na verdade, uma tentativa de abolição dele próprio enquanto pessoa e enquanto autor.
A partir do Outono de 1961 atravessa períodos de grande sofrimento psicológico e, em Dezembro de 1962 surge a primeira crise de delírio. Celan é acompanhado do ponto de vista psiquiátrico e vive alguns internamentos hospitalares. Apesar de nunca deixar de trabalhar (nomeadamente, continua a escrever e a traduzir), a sua instabilidade emocional acentua-se e atravessa períodos de um sofrimento atroz.
E, talvez a 20 de Abril de 1970, Celan lança-se num mergulho definitivo no Sena, silenciando o corpo e as feridas insuportáveis de uma vida.
Ao lermos Paul Celan mergulhamos no desabamento de um Mundo, na Perda e na Destruição, no Nada. A angústia, a escuridão, o silêncio estão presentes em toda a sua Obra. O Poeta, sobrevivente do extermínio, vive e revive o tempo da Morte e, obrigado a dizer-se na língua dos seus próprios esbirros, é palavra que luta contra o emudecimento. A sua Poesia radica, assim, numa experiência extrema no limite do dízível. E se os seus primeiros poemas são mais directos, mais acessíveis, os últimos são mais obscuros, mais fechados, mais enigmáticos. Mas, apesar disso, ao longo da sua Obra, a procura do encontro com o Outro é inquestionável. O poema é, em Celan, na sua essência, dialógico; ele quer ir ao encontro de um Outro, procura-o, oferece-se-lhe. No entanto, o apelo desse Outro, vivido como irresistível, conduz a uma busca atormentada, porque entre ambos existe um abismo, uma distância infinita e a palavra não tem força de redenção.
O Tu dominante dos seus poemas é um Tu morto, Tu esse face ao qual me parece ser possível descrever dois tipos de relação:
- um Tu que, apesar de morto, esteve presente e vivo, com quem se
desenvolveram laços e com o qual, portanto, é possível reencenar Encontros, desde que
seja o Eu a caminhar para ele;
- um Tu inexoravelmente morto, que arrasta o Eu para a sideração do vazio
absoluto, para um Nada psíquico onde se encontra perdido qualquer sentido; este Tu,
gerador da morte da significação do Eu, condena-o à deriva em aflições extremas.
Desta forma, a sua escrita, ainda que portadora de alguma esperança e de alguma reparação, fecha-se no Encontro com um Outro morto, com quem Celan vive o Mesmo e não o diferente e o novo.
Na sua poesia Celan comunica-nos o seu sofrimento, o sofrimento decorrente da impossibilidade de se separar do que se teve e se perdeu e que, uma vez que foi vivido como insuficiente, não permitiu uma representação interna sólida que tornasse viável a construção da separação psíquica. Assim, o Poeta fala-nos da dificuldade de se diferenciar de um objecto retirado/ em agonia/ morto com o qual ficou emaranhado e confundido. E fala-nos também do sofrimento atroz e sem nome do Nada, do Nada/ Vazio Absoluto a partir do qual Nada é possível construir (enquanto representação interna securizante e esperançosa) e que acaba por se transformar num abismo voraz e destruidor.
A Obra de Paul Celan será uma tentativa para dar forma (através da palavra, da criação de imagens, de ritmos, de sonoridades e de silêncios) a sentimentos de aflição extrema e de grande desamparo. No seu conjunto os seus poemas serão, assim, um esboço de constituição de uma pele psíquica destinada a conter/ suportar essas vivências e, também, a procura desesperada de comunicar e de encontrar compreensã
Peregrination through Paul Celan’s work
Tese de doutoramento na área de Psicologia Clínica apresentada à Fac. de Psicologia e de Ciências da Educação de CoimbraAo lermos Paul Celan mergulhamos no desabamento de um Mundo, na Perda e na Destruição, no Nada. Mas, apesar disso, ao longo da sua Obra, a procura do Encontro com o Outro é inquestionável.
O Tu dominante nos seus poemas é um Tu morto, Tu esse face ao qual me parece ser possível descrever dois tipos de relação:
- um Tu que, apesar de morto, esteve presente e vivo, com quem se desenvolveram laços e com o qual, portanto, é possível re-encenar Encontros, desde que seja o Eu a caminhar para ele;
- um Tu inexoravelmente morto, que arrasta o Eu para a sideração do vazio absoluto, para um Nada psíquico onde se encontra perdido qualquer sentido.
Desta forma, a sua escrita, ainda que portadora de alguma esperança e de alguma reparação, fecha-se no Encontro com um Outro morto, com quem Celan vive o Mesmo.
Na sua poesia Celan comunica-nos o seu sofrimento, o sofrimento decorrente da impossibilidade de se separar do que se teve e se perdeu e que, uma vez que foi vivido como insuficiente, não permitiu uma representação interna sólida que tornasse viável a construção da separação psíquica. Assim, o Poeta fala-nos da dificuldade de se diferenciar de um objecto retirado/em agonia/morto com o qual ficou emaranhado e confundido. E fala-nos também do sofrimento atroz e sem nome do Nada, do Nada/Vazio Absoluto a partir do qual Nada é possível construir (enquanto representação interna securizante e esperançosa) e que acaba por se transformar num abismo voraz e destruidor.
A Obra de Paul Celan será uma tentativa para dar forma (através da palavra, da criação de imagens, de ritmos, de sonoridades e de silêncios) a sentimentos de aflição extrema e de grande desamparo. No seu conjunto os seus poemas serão, assim, um esboço de constituição de uma pele psíquica destinada a conter/suportar essas vivências