27 research outputs found

    Laboratório de Artes na Montanha – Graça Morais: um projeto em construção

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    A pintora portuguesa Graça Morais (n. 1948) partiu de uma pequena aldeia transmontana, o Vieiro, para o mundo e encontrando o que no mundo é comum ao Vieiro, trabalhou também o que lhe é distinto e, no que é a prorrogativa da arte e da ciência, descobriu e criou novos mundos. A sua obra, resultante de mais de 40 anos de atividade, tem a virtude de estabelecer uma relação que une o local ao global e o global ao local numa dinâmica que envolve o observador e o questiona. Partindo da obra tutelar da pintora Graça Morais, o Instituto Politécnico de Bragança criou em 2018 o Laboratório de Artes na Montanha – Graça Morais, estrutura de investigação resultante de uma parceria estratégica com a Câmara Municipal de Bragança/Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, o Instituto de História da Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, a Fundação para a Ciência e a Tecnologia, e a própria pintora. Neste breve artigo fazemos o enquadramento deste novo projeto que, unindo arte e ciência, visa potenciar a atividade formativa, promover a criação artística e dinamizar processos de documentação, investigação e disseminação de resultados, contribuindo para tornar Bragança e o território envolvente em novas referências de descentralização científica e cultural e, simultaneamente, uma plataforma de contacto com todo o mundo.The Portuguese painter Graça Morais (b. 1948) is the author of an extensive work which reflects both her origins – a small rural village in Northeast Portugal – and her experience in a cosmopolitan and constantly changing world. Her paintings not only evoke memories, but also describe contemporary events, thus intersecting the local and the global, the past and the present, in a dynamic approach that involves and questions the observer – and, through him, all humankind. Inspired by the tutelary work of the painter Graça Morais and her continuous activity over the last 40 years, the Instituto Politécnico de Bragança (Polytechnic Institute of Bragança) has recently created the Laboratório de Artes na Montanha – Graça Morais (Laboratory Arts in the Mountain – Graça Morais), a research structure that results from a strategic partnership between the Câmara Municipal de Bragança (Municipality of Bragança)/Centro de Arte Contemporânea Graça Morais (Contemporary Art Centre Graça Morais), the Instituto de História da Arte of the Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, the Portuguese Foundation for Science and Technology, and the painter herself. In this short article, we present the framework of this project which, promoting and disseminating scientific and artistic research and creation, formative activities and innovative academic training, aiming to convert Bragança and its surroundings in a decentralized hub of cultural events and, at the same time, a contact platform with the whole world

    Doença inflamatória intestinal em idade pediátrica : auto-gestão e transição para adulto

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    Trabalho Final do Curso de Mestrado Integrado em Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, 2020A Colite Ulcerosa e a Doença de Crohn são doenças crónicas, de natureza autoimune que fazem parte da Doença Inflamatória Intestinal. Pode manifestar-se em qualquer idade porém cerca de 1/4 dos diagnósticos são feitos em idade pediátrica. Nestas doenças, apesar do predomínio da sintomatologia gastrointestinal, as manifestações extraintestinais coexistem frequentemente contribuindo para o aumento da morbilidade. A meta terapêutica atual inclui a remissão endoscópica da doença e a melhoria da qualidade de vida dos doentes. Para assegurar o adequado controlo da doença são necessárias várias consultas em múltiplas especialidades, internamentos recorrentes, realização de procedimentos invasivos e ainda a necessidade do doente aderir a regimes terapêuticos complexos. Tudo isto se torna mais desafiante quando se trata de doentes em idade pediátrica, que engloba uma faixa etária ampla e suas famílias ou cuidadores. Neste contexto pretendo enfatizar a importância da Auto-Gestão ou “Self-Management” no doente pediátrico, isto é, a capacidade do doente gerir a sua própria doença, identificar e contornar barreiras que dificultem a adesão ao plano terapêutico de modo que a doença tenha um impacto mínimo no seu desenvolvimento biopsicossocial. De igual modo pretendo abordar a transição para adulto, clarificando a sua relevância e deixando algumas recomendações. Pretendo interligar estes conceitos e deixar claro a necessidade de complementar a vertente farmacológica com medidas comportamentais e organizacionais. Para tal esta revisão de literatura será baseada na mais recente evidência da literatura científica priorizando revisões sistemáticas sobre opiniões de peritos sempre que possível.Ulcerative Colitis and Crohn Disease are chronic autoimmune diseases included in the designation of Inflammatory Bowel Disease (IBD). IBD diagnosis can occur in any age group but ¼ of the diagnosis are made in pediatric age. Despite of the predominance of gastrointestinal symptoms, extraintestinal manifestations can be frequent and contribute to high morbidity. Current treatment strategies aim endoscopic remission and patient’s quality of life improvement. In order to ensure adequate disease control, patients often need several appointments in multiple specialties, recurrent hospital admissions, invasive procedures and the adhesion to highly complex therapeutic regimens. This is even more challenging in pediatrics patients as it concerns a wide age range, families or caregivers. In this context I pretend to highlight the importance of Self Management in pediatric patients that involves the capacity to manage their own illness, identify and overcome barriers that difficult adhesion to the therapeutic plan so the disease has minimal impact on their biopsychossocial development. Transition to Adult care its relevance and current recommendations will also be approached. I intend to relate the concepts and emphasize the importance of complement the pharmacological component with behavioral and organizational measures. To do so this literature review will be supported by the most recent scientific evidence and whenever possible systematic reviews will be prioritized over expert opinions

    Depressão e optimismo: uma visão do desemprego, sob o prisma da psicologia da saúde

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    Dissertação mest., Psicologia, Universidade do Algarve, 200

    Reatividade emocional e padrões afetivos : estudo das relações entre a reação não-consciente a estímulos emocionais e as variáveis afetivas

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    Tese de mestrado, Neurociências, Universidade de Lisboa, Faculdade de Medicina, 2018O nosso estudo insere-se num modelo teórico que assume que as emoções têm uma influência moduladora de estados afetivos e cognitivos, e que atuam a um nível anterior ao processamento cognitivo de informação. Esta influência moduladora exprime-se em diferentes níveis de observação desde reações emocionais imediatas pré-lógicas e pré-verbais até estados mais estáveis como o humor e a personalidade. O nosso estudo visou testar, com o paradigma de priming emocional subliminar – mascaramento backward e forward – as influências moduladoras das emoções não-conscientes no processamento de estímulos emocionalmente neutros. Associámos três estímulos-máscara emocionalmente neutros, respetivamente, a 30 estímulos de valência emocional positiva, a 30 de valência negativa, e a 30 neutros de valência. A amostra consistiu em 18 sujeitos saudáveis, que realizaram uma tarefa de escolha de agrado e de desagrado (indicadores comportamentais) para os três estímulos-máscara, e submetidos a eletroencefalografia, que permitiu extrair potenciais relacionados com eventos (indicadores eletrofisiológicos). Colocámos a hipótese de que as escolhas de preferência por um estímulo-máscara estariam associadas a respostas com maior amplitude nos seus indicadores eletrofisiológicos para a condição de priming subliminar que lhe esteve associado. Após as tarefas experimentais, os participantes preencheram escalas clínicas e da personalidade, que avaliaram, respetivamente, dificuldades de regulação emocional, alexitimia, stresse percebido, padrões de vinculação, temperamento, e dimensões emocionais da personalidade – Escala de Dificuldades de Regulação Emocional (EDRE), Toronto Alexithymia Scale (TAS-20), Escala de Stress Percebido (ESP), Escala de Vinculação do Adulto (EVA), Temperament Evaluation of Memphis, Pisa, Paris and San-Diego-Autoquestionnaire (TEMPS-A), e Affective Neuroscience Personality Scales (ANPS). A condição de estimulação subliminar negativa foi aquela que suscitou maior frequência das respostas de agrado. Enquanto a condição positiva foi a que despoletou maior frequência de respostas de desagrado. Encontrámos diferenças significativas nas formas de onda dos ERPs nas latências até aos 650 ms, tendo o priming emocional negativo, maioritariamente, despoletado amplitudes ERP superiores. Na latência mais tardia (800 – 900 ms), a amplitude ERP foi significativamente mais elevada para a condição neutra. Estes resultados comportamentais e eletrofisiológicos sugerem um efeito ativador do priming emocional negativo, orientando a atenção para os estímulos que lhe estiveram associados, e maior amplitude dos indicadores de ERPs destes processos atencionais. Num estudo exploratório, investigámos ainda, através do método de correlação (coeficiente de correlação de Pearson), as relações entre as escolhas de preferência pelos estímulos-máscara e os resultados obtidos nas escalas clínicas e da personalidade. A opção pelas variáveis afetivas estudadas, com diferentes níveis de elaboração cognitiva/verbal, resultou da consideração da sua interinfluência, com relações complexas de causalidade, no domínio do modelo teórico sistémico do afeto (Lewis, 2000a). Desta forma, colocámos a hipótese de que diferentes padrões de resultados nas escalas clínicas e da personalidade poderiam estar relacionados com diferentes respostas de agrado e de desagrado às três condições de priming emocional (positiva, negativa, e neutra). As sub-escalas Acesso limitado a estratégias de regulação emocional, Não-aceitação da resposta emocional, e Dificuldades em iniciar comportamentos orientados para objectivos da EDRE, Dificuldade em identificar sentimentos da TAS-20, Ansiedade da EVA, FEAR e SADNESS da ANPS, os temperamentos Ciclotímico, Irritável, e Ansioso da TEMPS-A, e os valores na ESP obtiveram uma correlação positiva com as escolhas de desagrado pela condição de estimulação positiva. Os valores na ESP, as sub-escalas Dificuldade em identificar sentimentos, Ansiedade, FEAR e SADNESS, e os temperamentos Ciclotímico, Irritável, e Ansioso obtiveram ainda uma correlação negativa com as escolhas de agrado pela condição de estimulação positiva. Os valores na ESP, e as sub-escalas Ansiedade e FEAR obtiveram uma correlação negativa com as escolhas de desagrado pela condição de estimulação negativa. A sub-escala Ansiedade apresentou ainda uma correlação positiva com as escolhas de agrado pela condição de estimulação negativa. Por fim, a sub-escala Confiança nos outros da EVA apresentou uma correlação negativa com as escolhas de agrado pela condição de estimulação negativa. Estes dados correlacionais, em que existiu uma predominância de respostas de desagrado pela condição positiva em dimensões referentes a afeto negativo, podem ser interpretados como sendo o reflexo de um viés atencional automático, que conduz ao afastamento não-consciente da estimulação positiva, observado nos afetos depressivos e ansiosos.Our study is part of a theoretical model that assumes that emotions have a modulating influence on affective and cognitive states, and that they act at a level prior to the cognitive processing of information. This modulating influence is expressed at different levels of observation from immediate pre-logical and pre-verbal emotional reactions to more stable states such as mood and personality. Using the paradigm of subliminal emotional priming, our study aims to test the modulating influences of non-conscious emotions in the processing of stimuli. We associated three neutral mask stimuli, respectively, with 30 positive valenced stimuli, 30 negative valenced stimuli, and 30 neutral valenced stimuli. These emotional stimuli were presented subliminally, in a backward and forward masking paradigm, to a sample of 18 healthy subjects. The effects of the subliminal priming of each of the three subliminal emotion conditions were studied through a task of preference choice, liking and disliking (behavioral indicators) for the three mask stimuli, and event related potentials (electrophysiological indicators). We hypothesized that preference choices for a mask stimulus would be associated with responses with greater amplitude in their electrophysiological indicators for the subliminal priming condition associated with it. After the experimental session, participants answered clinical and personality scales, which assessed the difficulties of emotional regulation, alexithymia, perceived stress, attachment patterns, temperament, and emotional dimensins of the personality – Dificulties os Emotion Regulation Scale (DERS), Toronto Alexithymia Scale (TAS-20), Perceived Stress Scale (PSP), Adult Attachment Scale (AAS), Temperament Evaluation of Memphis, Pisa, Paris and San-Diego-Autoquestionnaire (TEMPS-A), and the Affective Neuroscience Personality Scales (ANPS). The subliminal negative stimulation condition was the one that elicited the highest frequency of the liking responses. While the positive condition was the one that triggered the highest frequency of disliking responses. We found significant differences in waveforms of ERPs in latencies up to 650 ms, with the negative emotional priming triggering higher ERP amplitudes, in general. At the late latency 800 – 900 ms, the ERP amplitude was significantly higher for the neutral condition. These behavioral and electrophysiological results suggest an activating effect of negative emotional priming, directing the attention to the stimuli that were associated with it, and a greater amplitude of the ERP indicators of these attentional processes. In an exploratory study, we also studied, through the correlation method (Pearson correlation coefficient), the relations between the electrophysiological and behavioural data, and between the behavioural data and the results obtained in the clinical and personality scales. The choice of these affective variables, with different levels of cognitive/verbal elaboration resulted from the consideration of their interinfluence, with complex causal relations, in the domain of the systemic theoretical model of affective processes (Lewis, 2000a). In this way, we hypothesized that different patterns of results on the clinical and personality scales could be related to different responses of liking and disliking to the three experimental conditions (positive, negative, and neutral). The subscales Limited access to strategies for emotional regulation, Non-acceptance of the emotional response, and Difficulties in initiating oriented behaviour from DERS, Difficulty in identifying feelings from TAS-20, Anxiety from AAS, FEAR and SADNESS from ANPS, the Cyclothymic, Irritable, and Anxious temperaments (TEMPS-A), and the PSP values obtained a positive correlation with disliking the positive stimulation condition. The PSP values, the subscales Difficulty in identifying feelings, Anxiety, FEAR and SADNESS, and the Cyclothymic, Irritable, and Anxious temperaments obtained also a negative correlation with liking the positive stimulation condition. The values in ESP, and the subscales Anxiety and FEAR obtained a negative correlation with disliking the negative stimulation condition. The Anxiety sub-scale also showed a positive correlation with liking the negative stimulation condition. Finally, the Trust subscale from AAS showed a negative correlation with liking the negative stimulation condition. These correlational data, in which there was a predominance of the disliking responses for the positive condition, in dimensions related to negative affection, can be interpreted as a reflection of an automatic attentional bias, which leads to the non-conscious withdrawal of the positive stimulation observed in depressed and anxious dimensions

    O que queremos do estado? As limitações das abordagens atuais

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    Robert Nozick finishes Anarchy, State and Utopia with the idea of a utopia where a minimal state would allow the social organization of the most different ways of life. Even if the framework is libertarian, the individual communities could reject laissez-faire market transactions or liberal democracy. Different people have different desires and some would valorize security instead of liberty, or socialism instead of capitalism. Nozick holds that the minimal state, as a framework for utopia, is an inspiring view because it guarantees that the individuals' rights would remain inviolable, allowing them to choose freely what they want to do with their lives. Should this libertarian idea be exported to the organization of different communities? Or does a larger state have some kind of importance to preserve its members' rights? Also, is it possible to understand political liberalism without the state? This is the starting point for our reflection on the role of the state in ensuring pluralism and liberty among individuals and groups. One common assumption is that pluralism or liberalism is incompatible with “perfectionism” i.e. that the state avoiding to support any particular conception of the good life is the only or the best guarantee of liberalism. Tolerance for different ways of grasping the truth or the respect for the lights in others minds is not enough but the liberal State must be grounded in the absence of any belief or truth in both the moral and political realms. Max Weber’s sociological work long ago defined the modern state as necessarily coercive. It was defined by the monopoly of violence inside a country. Even now his definition of the state is widely shared among sociologists and political theorists. But Max Weber’s conception also carried, or went hand-in-hand with the threat of relativism, and fell victim to or was inspired by an epistemological conception that ends with equal treatment for both good and bad people. In this paper we intend to explore the connection between truth and politics and return to a more ancient alternative account of the legitimacy of coercion that goes back to Aristotle’s idea of the polis as a collective venture, and question its applicability to the modern world. Our main contention is that the polis’s purpose to provide for human excellence and not just as an arena offering political protection to free market capitalists should not be lightly discarded.Os ensaios sociológicos de Max Weber há muito definiram o Estado moderno como necessariamente coercivo. Caracteriza-se pelo monopólio da protecção armada – e portanto da violência – dentro de um território ou um país. Hoje esta definição do Estado é largamente partilhada entre sociólogos e cientistas políticos. Mas o conceito de Max Weber, relacionado com um certo relativismo, foi vítima ou inspirado por uma epistemologia que o levou a convencer-se que os propósitos do Estado não podiam ser racionalmente examinados e que os ideais, a que chamou “valores”, estão fora do alcance da ciência, quer os dos canibais quer os dos liberais. Robert Nozick chegou por um caminho muito diferente a uma conclusão análoga: o Estado legítimo (mínimo) deve ser apenas um agência de protecção da vida e propriedade que tende a ser monopolista e servir de enquadramento a muitas utopias e “valores”; a neutralidade ou indiferença do Estado é a melhor garantia do florescimento de diferentes formas de vida. Neste texto tentámos explorar os argumentos de ambos os autores e mostrar os pressupostos e narrativas em que baseiam as suas ideias. Um breve confronto com narrativas alternativas muito mais antigas da legitimidade da coerção, que remontam à antiga polis, recordou-nos que os clássicos acreditavam que o seu propósito era favorecer a excelência humana e não se limitava a constituir uma arena que oferecesse uma protecção política aos agentes do mercado. Não podemos regressar aos clássicos, nem endossar a sua visão. Mas não há razão para não examinarmos diferentes concepções do Estado moderno. De facto, o Estado raramente é neutro e cabe-nos decidir se os seus recursos devem ser canalizados para proteger o mercado ou proporcionar os meios para a busca da felicidade, ou uma mistura de ambos, ou de nenhum destes propósitos. Um obstáculo a uma análise mais profunda parece ser a presunção comummente aceite de que o pluralismo é incompatível com o “perfeccionismo”, i.e., que o descrédito ou o afastamento do Estado do favorecimento de toda e qualquer concepção da vida boa é a única, ou pelo menos a melhor, garantia do liberalismo. A melhor garantia do liberalismo, segundo alguns autores, não é a tolerância de diferentes modos de capturar a verdade ou o respeito das luzes nas mentes dos outros, mas a ausência de verdade ou de convicções tanto no domínio moral como político. Com efeito, se o Estado é essencialmente um poder protector, coercivo ou violento, talvez seja preferível que seja indiferente à educação, às artes, a investigação científica ou a todas as formas de vida boa. Queremos sugerir que tal presunção merece ser clarificada

    O que queremos do Estado? As limitações das abordagens actuais

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    os ensaios sociológicos de Max Weber há muito definiram o Estado moderno como necessariamente coercivo. Caracteriza-se pelo monopólio da protecção armada – e portanto da violência – dentro de um território ou um país. Hoje esta definição do Estado é largamente partilhada entre sociólogos e cientistas políticos. Mas o conceito de Max Weber, relacionado com um certo relativismo, foi vítima ou inspirado por uma epistemologia que o levou a convencer-se que os propósitos do Estado não podiam ser racionalmente examinados e que os ideais, a que chamou “valores”, estão fora do alcance da ciência, quer os dos canibais quer os dos liberais. Robert Nozick chegou por um caminho muito diferente a uma conclusão análoga: o Estado legítimo (mínimo) deve ser apenas um agência de protecção da vida e propriedade que tende a ser monopolista e servir de enquadramento a muitas utopias e “valores”; a neutralidade ou indiferença do Estado é a melhor garantia do florescimento de diferentes formas de vida. Neste texto tentámos explorar os argumentos de ambos os autores e mostrar os pressupostos e narrativas em que baseiam as suas ideias. Um breve confronto com narrativas alternativas muito mais antigas da legitimidade da coerção, que remontam à antiga polis, recordou-nos que os clássicos acreditavam que o seu propósito era favorecer a excelência humana e não se limitava a constituir uma arena que oferecesse uma protecção política aos agentes do mercado. Não podemos regressar aos clássicos, nem endossar a sua visão. Mas não há razão para não examinarmos diferentes concepções do Estado moderno. De facto, o Estado raramente é neutro e cabe-nos decidir se os seus recursos devem ser canalizados para proteger o mercado ou proporcionar os meios para a busca da felicidade, ou uma mistura de ambos, ou de nenhum destes propósitos. Um obstáculo a uma análise mais profunda parece ser a presunção comummente aceite de que o pluralismo é incompatível com o “perfeccionismo”, i.e., que o descrédito ou o afastamento do Estado do favorecimento de toda e qualquer concepção da vida boa é a única, ou pelo menos a melhor, garantia do liberalismo. A melhor garantia do liberalismo, segundo alguns autores, não é a tolerância de diferentes modos de capturar a verdade ou o respeito das luzes nas mentes dos outros, mas a ausência de verdade ou de convicções tanto no domínio moral como político. Com efeito, se o Estado é essencialmente um poder protector, coercivo ou violento, talvez seja preferível que seja indiferente à educação, às artes, a investigação científica ou a todas as formas de vida boa. Queremos sugerir que tal presunção merece ser clarificada.Robert Nozick finishes Anarchy, State and Utopia with the idea of a utopia where a minimal state would allow the social organization of the most different ways of life. Even if the framework is libertarian, the individual communities could reject laissez-faire market transactions or liberal democracy. Different people have different desires and some would valorize security instead of liberty, or socialism instead of capitalism. Nozick holds that the minimal state, as a framework for utopia, is an inspiring view because it guarantees that the individuals' rights would remain inviolable, allowing them to choose freely what they want to do with their lives. Should this libertarian idea be exported to the organization of different communities? Or does a larger state have some kind of importance to preserve its members' rights? Also, is it possible to understand political liberalism without the state? This is the starting point for our reflection on the role of the state in ensuring pluralism and liberty among individuals and groups. One common assumption is that pluralism or liberalism is incompatible with “perfectionism” i.e. that the state avoiding to support any particular conception of the good life is the only or the best guarantee of liberalism. Tolerance for different ways of grasping the truth or the respect for the lights in others minds is not enough but the liberal State must be grounded in the absence of any belief or truth in both the moral and political realms. Max Weber’s sociological work long ago defined the modern state as necessarily coercive. It was defined by the monopoly of violence inside a country. Even now his definition of the state is widely shared among sociologists and political theorists. But Max Weber’s conception also carried, or went hand-in-hand with the threat of relativism, and fell victim to or was inspired by an epistemological conception that ends with equal treatment for both good and bad people. In this paper, we intend to explore the connection between truth and politics and return to a more ancient alternative account of the legitimacy of coercion that goes back to Aristotle’s idea of the polis as a collective venture and questions its applicability to the modern world. Our main contention is that the polis’s purpose to provide for human excellence and not just as an arena offering political protection to free-market capitalists, should not be lightly discarded.info:eu-repo/semantics/publishedVersio

    As capitanias hereditárias no mapa de Luís Teixeira

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    By means of the known map of Luís Teixeira, we analyze the evolution of the hereditary captaincies in their first 50 years. It was found that this map, despite its historical and cartographic value, has several mistakes and inconsistencies. There are errors with regard to the border lines, donatories and historical events. From the cartographic point of view, as other maps of the time, it is quite accurate in latitude but not in longitude. With regard to the dating, task made mainly by the examination of the names of the donatories, it can be said that coexist data from different times and the best explanation for this is that the author collected the most data in 1574 and then updated some information in 1586, but not all. To examine this question, we made an analysis of the evolution of these territories, whose information are dispersed. And this propitiated rectify some knowledge; by example the fact that the Bahia captaincy, in the first years, be constituted only by the city of Salvador; and about the categorization of village or cities, that is not made in the base of the greater or lesser size or importance, but by the fact of be created by the donatory or by the crown. These mistakes may perhaps be explained by the character of the map, similar to some roteiros of the time, and show in a practical way an interesting lesson, yet known theoretically: a map, no matter how beautiful and how historical it is, it can not be considered as an accurate portrayal of the reality or as a photography of the time: as any historical document, should be read carefully and with critical sense.Partindo do conhecido mapa de Luís Teixeira, apresenta-se a evolução das capitanias hereditárias nos primeiros 50 anos. Constatou-se que esse mapa, apesar de seu valor histórico e cartográfico, possui diversos equívocos e inconsistências. Há enganos com relação às linhas divisórias, aos donatários e aos acontecimentos. Do ponto de vista cartográfico, como outros mapas da época, ele é suficientemente acurado em latitude, mas pouco em longitude. Com relação à datação, feita principalmente examinando-se os nomes dos donatários, pode-se dizer que coexistem dados de diferentes épocas, e a melhor explicação é de que o autor coletou dados numa época (1574) e depois atualizou algumas informações (1586), mas não todas. Para examinar essa questão, foi feita uma breve análise das vicissitudes desses territórios, cujas informações se encontram dispersas. Isso permitiu retificar alguns conhecimentos, como, por exemplo, o fato de a Capitania da Bahia, nos primeiros anos, ser formada unicamente pela cidade de Salvador, e que a categorização em vilas ou cidades não se dá pelo maior ou menor tamanho ou importância, mas pelo fato de serem criadas ou pelo donatário ou pela coroa. Esses enganos talvez possam ser explicados pelo caráter do mapa, comparável a alguns "roteiros" da época, e podem mostrar de forma concreta uma interessante lição já conhecida teoricamente: um mapa, por mais belo e histórico que seja, e por mais louvado que tenha sido, não pode ser considerado simploriamente como um retrato fiel da realidade, uma fotografia da época: como qualquer documento histórico, deve ser lido com cuidado e sentido crítico
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