EDITORIAL

SERSERS

Paulo Freire e Amílcar Cabral: pedagogos do anticolonialismo

Paulo Freire foi para a Guiné-Bissau em 1976. Amílcar Cabral havia sido assassinado em janeiro de 1973. O encontro de Paulo Freire com Amílcar Cabral se deu pelo estudo de seus textos, por entrevistas que realizou e pelas aprendizagens com um povo que tentava assumir seu papel como sujeito de sua história. A influência de Frantz Fanon e de Albert Memmi já se encontrava em “Pedagogia do Oprimido”; no entanto, o tema da libertação ainda se localizava na relação entre consciência e ideologia. O encontro com Amílcar Cabral, e com o povo da Guiné, levou Paulo Freire a uma revisão da proposição de que a transformação da realidade pode ocorrer através da “reforma interna” dos seres humanos. As relações do mundo do trabalho e do sistema produtivo adquiriram centralidade e, portanto, educação e trabalho passaram a se constituir em uma unidade. Outro tema no qual se expressam influências e afinidades se refere a considerar que a luta pela libertação é um fato cultural e um fator de cultura. O encontro entre esses dois pedagogos do anticolonialismo e sua apropriação crítica e criativa do marxismo à práxis, aporta contribuições para, entre tantas outras, problematizar o modismo de abordagens descoloniais meramente epistemológicas e superar os limites de abordagens que essencializam a dimensão cultural

Urban entrepreneurialism in fifa World Cup host cities: the case of Porto Alegre

The aim of the study that gave rise to this paper was to analyse the practices in place in Porto Alegre in relation to Large Urban Projects (LUPs) linked to the 2014 FIFA World Cup. An instrumental case study was performed, incorporating three units of analysis: mobility, stadiums and the waterfront, comprising 18 projects. Following the introduction, a resentation  on the methodological procedures and two theoretical sections are given: on the concepts of urban entrepreneurialism and urban marketing, and on definitions and practices of planning and their expression in cities. The case of Porto Alegre then follows. Lastly, is an analysis indicating how each project is connected to urban entrepreneurial strategies. It concludes, indicating that the fact of being a host    city was used to disseminate the image of a modern, developed and efficient city; the choice and management of projects was interconnected to economic growth, entrepreneurialism and the creation of an environment favourable for business; and the selection of LUPs led to a fragmented treatment of the territory. Under the aegis of speculation, urban planning lost relevance and the public administration renounced its position as market regulator

Haiti: março 2011

Imagens do Haiti em maro de2011

TRAJETÓRIA RECENTE E CONTRIBUIÇÕES PARA O CONHECIMENTO EM ADMINISTRAÇÃO

Editoria

From practice to theory: reflections on the organization of social movements and popular struggles

This paper argues for an explicit materialist ontology to study social movements and popular struggles that oppose and confront the capitalist social order. Taking into consideration that differences between theories or theoretical systems should be discussed at the ontological dimension, not merely at the epistemological, empirical or logic-formal, we address the differences between the conventional set of Social Movement Theories, the post-Marxist approach, and an alternative approach that dialogues with those engaged in contemporary struggles, through the ontology of social being formulated by György Lukács. These constitute the first part of this paper, which aims to present our ontological, theoretical and methodological positions. In the second part, we offer some theoretical reflection on the themes provided by the activists in their actions and debates, in dialogue with propositions from intellectuals who engaged with social movements and/or oriented their work to oppose the system of capital

Implicações do uso das formulações sobre campo de poder e ação de Bourdieu nos estudos organizacionais

Este ensaio revisa as formulações de Bourdieu, com ênfase na concepção de campo social como configuração da distribuição desigual de diferentes tipos de capital (formas de poder), como um campo de forças e de lutas construído pela ação de agentes que se enfrentam, com meios e fins diferenciados, conforme suas posições relativas em espaços de relações. A seguir se realiza uma revisão crítica da perspectiva institucionalista e de como a concepção de campo foi nela incorporada. Esta escolha se deve à constatação de que esta perspectiva é a mais influente na área da sociologia organizacional. Acredita-se que as formulações de Bourdieu podem propiciar outro olhar sobre o tema da ação social e da mudança. Neste sentido, são exploradas algumas implicações do uso das formulações de Bourdieu em estudos organizacionais.This essay reviews Bourdieu’s conceptions, emphasizing the notion of social fields as a result of unequal distribution of different types of capital (types of power), as a field of forces and struggles, according to the relative positions in a relational space. Follows a critical review of the institutional perspective and how the notion of field was incorporated. We believe that Bourdieu’s conceptions may offer another look at the issue of social action and change. In this sense, some implications of using Bourdieu’s conceptions in organizational studies are explored

From practice to theory : reflections on the organization of social movements and popular struggles

This paper argues for an explicit materialist ontology to study social movements and popular struggles that oppose and confront the capitalist social order. Taking into consideration that differences between theories or theoretical systems should be discussed at the ontological dimension, not merely at the epistemological, empirical or logic-formal, we address the differences between the conventional set of Social Movement Theories, the post-Marxist approach, and an alternative approach that dialogues with those engaged in contemporary struggles, through the ontology of social being formulated by György Lukács. These constitute the first part of this paper, which aims to present our ontological, theoretical and methodological positions. In the second part, we offer some theoretical reflection on the themes provided by the activists in their actions and debates, in dialogue with propositions from intellectuals who engaged with social movements and/or oriented their work to oppose the system of capital.Este artigo argumenta por uma ontologia materialista explícita para estudar movimentos sociais e lutas populares que se opõe e confrontam a ordem social do capital. Levando em consideração que as diferenças entre teorias ou sistemas teóricos devem ser discutidas na dimensão ontológica, não meramente na epistemológica, empírica ou lógico-formal, abordamos as diferenças entre o conjunto convencional de Teorias Sobre Movimentos Sociais, a abordagem Pós-Marxista, e uma abordagem alternativa que dialoga com aqueles engajados em lutas contemporâneas, através da ontologia do ser social formulada por György Lukács. Estas formam a primeira parte do texto, que visa apresentar nossas posições ontológicas, teóricas e metodológicas. Na segunda parte, oferecemos algumas reflexões teóricas sobre temas emergentes nas ações e debates de ativistas, em diálogo com proposições de intelectuais que se engajaram com movimentos sociais e/ou orientaram seu trabalho para se opor ao sistema do capital.Este artículo argumenta por una ontología materialista explícita para estudiar movimientos sociales y luchas populares que se oponen y confrontan el orden social del capital. Tomando en consideración que las diferencias entre teorías o sistemas teóricos deben ser discutidas en la dimensión ontológica, abordamos las diferencias entre el conjunto convencional de Teorías Sobre Movimientos Sociales, el abordaje Post-Marxista y un abordaje alternativo que dialoga con aquellos involucrados en luchas contemporáneas, por medio de la ontología del ser social formulada por György Lukács. Estas constituyen la primera parte del texto, que visa presentar nuestras posiciones ontológicas, teóricas y metodológicas. En la segunda parte, ofrecemos algunas reflexiones teóricas sobre temas que nos fueron indicados por los activistas en sus acciones y debates, en diálogo con proposiciones de intelectuales que se involucraran con movimientos sociales y/o desarrollaran su trabajo en oposición al sistema del capital

Networks and hierarchies: a study on managerial setups towards healthcare equity

Este artigo relata a normatização recentemente desenvolvida pelo governo federal para o setor saúde, como parte do projeto de reforma do aparelho de Estado, tendo como pano de fundo as concepções defendidas pelo Banco Mundial e pela Organização Mundial da Saúde. Seguem algumas reflexões críticas centradas na categoria “hierarquia”, como aquela que organiza diversos aspectos — administração pública e capacidade de governo, serviços de saúde e regionalização — que vêm instituindo o campo da atenção à saúde. Para finalizar, o artigo apresenta, como possibilidade de construção alternativa mais coerente com o princípio da eqüidade, a abordagem de redes interorganizacionais, sem deixar de considerar as dificuldades para sua adoção em um contexto social e político marcado por uma cultura de governo autoritária e centralista.This article begins with a narrative of the recent process of normalization developed by the Brazilian federal government, as part of a wider project — the State reform, influenced by concepts developed by the World Bank and the World Health Organization. It makes a few critical considerations centered on hierarchy as a theoretical category that organizes aspects such as public administration, government capability, health services, and regionalization, which are central to the institutionalization of the healthcare field. Finally, it presents, as a potential alternative construction, the interorganizational networks approach, considering the difficulties of its adoption in a social and political context marked by an authoritarian and centralist culture