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Pressupostos teóricos: resposta a Victor Millet
Como escrevi no fim da minha recensão ao livro de Victor Millet, o seu trabalho “constitui uma contribuição importante para o estudo das relações entre a canção de Walther e o romance de Gaifeiros” (56)
Afuera, afuera, Rodrigo: uma reinterpretação
No romance Afuera, afuera, Rodrigo, a infanta D. Urraca, do alto das muralhas de
Zamora, ralha com o Cid por ele participar no cerco que o rei D. Sancho lhe tinha
posto à cidade. Este romance tem sido interpretado como uma simples briga entre
ex-amantes, mas a má reputação da princesa e a utilização de palavras cujo duplo
sentido era corrente na época sugerem a possibilidade de outro significado. A
princesa é colocada numa torre deliberamente sexualizada, visto que se trata duma
“torre mocha” (sem espiral), lembra ao Cid que tinha ajudado a armá-lo “cavaleiro”,
calçando-lhe as “esporas”, e acusa-o de se ter esquecido de que ela o amava, preferindo
casar-se com Ximena Gómez. A versão de Timoneda intercala aqui dois versos que
demonstram como estas palavras incomodam o herói, o qual responde à princesa
que, se lhe parece bem, está pronto para desfazer o casamento, ou seja, para se deitar
com ela. Urraca aceita logo a proposta. Na referida versão de Timoneda, o Cid, com
grande angústia, manda aos homens do destacamento que o acompanha que se retirem
imediatamente. Embora sem ferro na ponta, a seta disparada contra ele tinha-lhe
trespassado o coração, de modo que não tinha remédio senão viver sempre “penado”.
Por outras palavras, tinha necessidade urgente de ficar sozinho com a princesa (note-se que o termo “pena” era frequentemente usada com um sentido fálico)
Planeamento urbanístico em portugal
O presente artigo debruça-se sobre o contexto actual dos processos de planeamento urbanístico em Portugal. Em primeiro lugar faz-se um enquadramento sobre a evolução da política urbanística em Portugal, desde o seu início, nos anos 30 do Século XX, até à actualidade. Faz-se posteriormente uma reflexão crítica sobre o estado dos processos de planeamento urbanístico em Portugal. Dá-se especial atenção aos problemas relacionados com a implementação dos planos e à falta de adequabilidade / compatibilidade entre as diferentes escalas do planeamento urbanístico. Neste sentido coloca-se a questão se será o momento para o reajustamento do processo urbanístico, em Portugal? Efectivamente parece ser necessário repensar o processo de planeamento, nomeadamente o de nível territorial e regional, bem como adequar as práticas de ensino do urbanismo. Como resultado desta reflexão crítica apontam-se algumas medidas de reformulação do
processo de planeamento urbanístico, com o objectivo de dar resposta aos desafios que se colocam actualmente. Salienta-se a necessidade de (1) agilizar o processo urbanístico, (2) responsabilizar os agentes envolvidos, (3) definir uma política de solos transparente, eficaz e justa, (4) adaptar a formação dos urbanistas, (5) fomentar o envolvimento dos cidadãos, (6) constituir equipas transdisciplinares.This article approaches the contemporary context of urban planning processes in Portugal. Firstly it develops a framework on the evolution of urban policy in Portugal since its inception, in the thirties from the twentieth century, until the present day. Further on, it performs a critical reflection on the state of urban planning processes in Portugal. Special attention is given to the problems related to the plans implementation and to the lack of suitability / compatibility between the different scales of urban planning. In this sense, we raise the question of whether it is the time to readjust he urban process in Portugal? It seems necessary indeed to rethink the planning process, namely on the territorial and regional level, as well as to adjust the urbanism teaching practices.
As a result of this critical reflection, some measures to reform the process of urban planning, in order to meet the challenges that they face today, are pointed out. We
emphasize the need for (1) simplify the urbanistic process, (2) responsabilize the actors involved, (3) define an efficient and fair land policy, (4) adapt the training of urban planners, (5) foster citizen involvement, (6) constitute transdisciplinary teams
Collecting Portuguese Ballads
"The Spanish began to publish extensive collections dedicated exclusively to their ballads in the middle of the sixteenth century (see Rodríguez-Moñino 1973). These collections included versions of many poems that had already become traditional, for they were being sung by common people throughout Spain. Although the Portuguese were also singing ballads at that time, nothing of the sort was done in Portugal. This lack of ancient documentation renders the modern Portuguese tradition even more significant. Without the poems that have been transmitted from generation to generation throughout the centuries, our knowledge of the ancient Portuguese tradition would be very limited indeed."--Opening paragraph
historia documentada de um siglo de historia
Este magnífico livro é uma história pormenorizada, rica, íntima e carinhosa do grande arquivo romancístico fundado por Ramón Menéndez Pidal, e da sua continuação e ampliação sob a guia de Diego Catalán, neto e herdeiro intelectual do fundador.
Ramón Menéndez Pidal (1869–1968), pai da Filologia Românica em Espanha, deixou uma vasta obra de carácter histórico, linguístico e literário que continua a ser um ponto de partida
indispensável para quem se interesse pelo estudo da Idade Média Peninsular
A morte de D. Beltrão: as origens épicas, Garrett e a tradição brasileira
Na Chanson de Roland (c. 1100), canção de gesta sobre a grande derrota da retaguarda
do exército de Carlos Magno em Roncesvales, a 15 de Agosto de 778, o imperador faz um grande pranto ao encontrar o corpo do sobrinho, Roldão. A redacção espanhola
dessa canção, Roncesvalles (séc. XIII), da qual sobrevive um fragmento de cem versos,
adiciona um novo pranto, o do duque Aymon, perante o corpo de Reinaldos, seu filho.
Isto corresponde ao romance da Morte de D. Beltrão, onde um pai parte à procura do
filho que faltava entre os cavaleiros que o imperador tinha mandado contar,encontrando-o morto. Este romance, raríssimo em Espanha e entre os Sefarditas, continua a ser muito popular em Trás-os-Montes, graças à sua utilização como cantiga da segada. Na primeira versão moderna publicada (1851), Almeida Garrett modifica muito o texto tradicional. O romance português passou ao Brasil, tendo sido recolhido por Celso de Magalhães no Maranhão. Os dois fragmentos que publicou em 1873 são copiados de Garrett, talvez pelo facto de o investigador não ter à mão o seu caderno de recolha, visto que se encontrava em Sergipe. Embora o caderno se tenha perdido, O Famanaz, poema recolhido por Antônio Lopes em 1916, também no Maranhão, comprova que o velho romance se tinha de facto tradicionalizado no Brasil, que é o único país das Américas a conservá-lo, embora com modificações que o actualizam
segundo o gosto moderno e o aclimatizam, transformando-o, assim, num poema essencialmente brasileiro
Canções da gesta, romanceiro e pressupostos teóricos: um livro sobre D. Gaifeiros
Num livro recente,Victor Millet, recorrendo a modernas teorias, propõe-se rever e actualizar velhas ideias referentes à canção de gesta germânica sobre Walther da Aquitânia e ao romance pan-ibérico de Gaifeiros e Melissenda.1 O livro
consta duma introdução teórica(11-28), estudos
da canção de Walther(31-96)e de Gaifeiros(97-207),
e dum apêndice onde se juntam e organizam todas
as versões conhecidas do romance(208-322),
concluindo com uma extensa
bibliografia(323-357) e
um “Indice de autores y obras”(361-364).
Como
o
autor
se
apoia
em
teoria,
o
livro
situa-se
na
mesma
linha,
geralmente
útil,
que
tem
analizado
o
romanceiro
desde
um
ponto
de
vista
semiótico,
socio-linguístico,
antropológico
e
feminista.2
Embora
se
trate
duma
contribuição
importante,
um
livro
complexo
e
rico
de
ideias,
é
também
um
livro
controverso,
visto
que
o
autor
se
baseia
em
postulados
bastante
frágeis,
e
ataca
de
maneira
injusta
e
desnecessária
a
melhor
crítica
anterior
- …