No romance Afuera, afuera, Rodrigo, a infanta D. Urraca, do alto das muralhas de
Zamora, ralha com o Cid por ele participar no cerco que o rei D. Sancho lhe tinha
posto à cidade. Este romance tem sido interpretado como uma simples briga entre
ex-amantes, mas a má reputação da princesa e a utilização de palavras cujo duplo
sentido era corrente na época sugerem a possibilidade de outro significado. A
princesa é colocada numa torre deliberamente sexualizada, visto que se trata duma
“torre mocha” (sem espiral), lembra ao Cid que tinha ajudado a armá-lo “cavaleiro”,
calçando-lhe as “esporas”, e acusa-o de se ter esquecido de que ela o amava, preferindo
casar-se com Ximena Gómez. A versão de Timoneda intercala aqui dois versos que
demonstram como estas palavras incomodam o herói, o qual responde à princesa
que, se lhe parece bem, está pronto para desfazer o casamento, ou seja, para se deitar
com ela. Urraca aceita logo a proposta. Na referida versão de Timoneda, o Cid, com
grande angústia, manda aos homens do destacamento que o acompanha que se retirem
imediatamente. Embora sem ferro na ponta, a seta disparada contra ele tinha-lhe
trespassado o coração, de modo que não tinha remédio senão viver sempre “penado”.
Por outras palavras, tinha necessidade urgente de ficar sozinho com a princesa (note-se que o termo “pena” era frequentemente usada com um sentido fálico)