65 research outputs found
Antes de Habermas, para além de Habermas:: uma abordagem pragmatista da democracia deliberativa
Este artigo procura defender uma abordagem pragmatista de democracia deliberativa. Inicialmente, argumenta-se que as cinco principais contribuições que os deliberacionistas atribuem a Habermas já se encontravam desenvolvidas em expoentes do pragmatismo clássico. Trata-se: (1) do desenvolvimento de uma teoria democrática baseada em uma concepção ampla de política, na participação e na tentativa de ultrapassar as perspectivas ditas realistas; (2) da construção de uma teoria democrática não agregativa, centrada em intercâmbios comunicativos; (3) da conexão entre discurso e razão, que abre caminho para a consideração simultânea de particular e universal; (4) da proposição de uma ética do discurso que capaz de lidar com a questão do pluralismo; e (5) da estruturação de uma abordagem sistêmica fundada em públicos descentrados. Na sequência, o artigo desenvolve contribuições específicas do pragmatismo, argumentando que ele pode oferecer um viés discursivo radical aos deliberacionistas
Democracia e desigualdade: as contribuições da teoria do reconhecimento
Resumo
O presente artigo busca discutir as contribuições conceituais que surgem do diálogo entre a teoria do reconhecimento e a ideia de democracia, a fim de explorar o problema das desigualdades. O texto começa com uma apresentação da teoria do reconhecimento de Axel Honneth. Em seguida, desenvolvem-se algumas das principais ideias de Dewey, de modo a evidenciar as consequências delas sobre a teoria de Honneth. Desse frutífero diálogo, nasce uma abordagem democrática da justiça que tem, pelo menos, cinco pontos fortes: (1) adota uma concepção não institucional de política; (2) parte da constatação da opressão; (3) ultrapassa a dualidade entre público e privado; (4) opera com uma visão não homogeneizadora de igualdade; e (5) quebra a cristalizada dicotomia entre indivíduo e comunidade, que alimenta a suposta oposição entre liberalismo e comunitarismo.
Palavras-chave: reconhecimento; democracia; desigualdades; Honneth; Dewey
Abstract
This article seeks to discuss the conceptual contributions that emerge from the dialogue between the theory of recognition and the idea of democracy, in order to explore the problem of inequalities. The article starts with a presentation of Axel Honneth’s theory of recognition. Next, it develops some of the core ideas of John Dewey, showing their implications on Honneth’s theory. From this fruitful dialogue, a democratic approach to justice comes out, and the paper argues that it has five main strengths: it adopts a non-institutional concept of politics; (2) it starts with the observation of oppression; (3) it overcomes the duality between public and private; (4) it develops a non-homogenizing notion of equality; and (5) it breaks the crystallized dichotomy individual/community that pervades the often presumed opposition between liberalism and communitarism.
Keywords: recognition; democracy; inequalities; Honneth; Dewe
Singularity and identity in the 2013 demonstrations
Este texto busca refletir sobre as noções de singularidade e identidade nas manifestações de 2013. Partindo do pressuposto de que esses protestos não podem ser compreendidos como movimentos sociais, o artigo examina se, e como, ativistas percebem significados articulados a perpassar suas ações. Teoricamente, o artigo rediscute concepções de identidade a atravessar a literatura sobre ação coletiva e aborda o fortalecimento paradoxal de processos individualizantes derivados de transformações sociais. Interessa ao artigo compreender a força da ideia de singularidade na tessitura contemporânea de vínculos que alicerçam confrontos políticos. Empiricamente, o texto se ancora em 20 entrevistas realizadas com manifestantes de Belo Horizonte que participaram dos protestos de junho de 2013. A ideia é observar a forma como, ao renarrar o processo, eles compreendem e mobilizam sua inserção e seus vínculos nesse processo político. •This article aims at discussing the singularity and identity in the 2013 Brazilian demonstrations. Assuming that these demonstrations should nob be considered as social movements, the article examines if, and how, activists make sense of collective meanings pervading their actions. Theoretically, the article explores the notion of collective identity in the literature about collective action and focuses on the paradoxical strengthening of individuation derived from recent social transformations. The article seeks to comprehend the strength of the idea of singularity in the contemporary construction of ties that ground contentious politics. Empirically, the article is based on 20 interviews with activists from the city of Belo Horizonte that have been engaged in the June Journeys (2013). The paper observes how these activists understand their presence and social ties in this political process though their narratives about it
In the eye of the hurricane: protagonism and uncertainty in the 2013 June Journeys
Este artigo discute a percepção que ativistas das Jornadas de Junho de 2013 têm sobre sua participação em tais protestos. Ele parte da literatura contemporânea sobre confronto político e organizações de movimentos sociais para abordar a forma singularizada como sujeitos projetam a si mesmos e a seus coletivos como protagonistas de um evento que é caótico e gigantesco. Em diálogo com os debates sobre ação conectiva e sobre o crescente questionamento de estruturas hierarquizadas de organização política, o texto explora o modo como muitos sujeitos se colocam no centro de acontecimentos que eles mesmos reconhecem os terem atropelado. A partir de 50 entrevistas realizadas em São Paulo e Belo Horizonte, aborda-se essa ambivalência paradoxal entre o ser atropelado pela história e o ser dela protagonista. Não se deseja argumentar que tal ambivalência seja fruto de um narcisismo individualista, mas que a grandiosidade disruptiva representada por Junho emerge, justamente, dessa articulação reticular de protagonismos.Este artículo discute la percepción que activistas de las Jornadas de Junio de 2013 tienen sobre su participación en tales protestas. El texto parte de la literatura contemporánea sobre confrontación política y organizaciones de movimientos sociales para abordar la forma singularizada como sujetos proyectan a sí mismos y a sus colectivos como protagonistas de un evento que es caótico y gigantesco. En diálogo con los debates sobre acción conectiva y sobre el creciente cuestionamiento de estructuras jerarquizadas de organización política, el artículo aborda el modo en que muchos sujetos se sitúan en el centro de acontecimientos que ellos mismos reconocen haberlos atropellado. A partir de 50 entrevistas realizadas en São Paulo y Belo Horizonte, se aborda esa ambivalencia paradójica entre el ser atropellado por la historia y el ser protagonista de ella. No se busca argumentar que tal ambivalencia sea fruto de un narcisismo individualista, pero que la grandiosidad disruptiva representada por las protestas de junio emerge, justamente, de esa articulación reticular de protagonismos.This article discusses the perception that activists of the 2013 June Journeys have about their participation in such protests. It starts from the contemporary literature on political confrontation and social movement organizations to approach the singular through which subjects project themselves and their groups as protagonists of an event that was chaotic and gigantic. In dialogue with the debates about connective action and the growing challenges to hierarchical structures of political organization, the text explores how many subjects place themselves at the center of events that they themselves recognize as having run them over. Based on 50 interviews conducted in São Paulo and Belo Horizonte, we address this paradoxical ambivalence between being run over by history and being its protagonist. It is not argued here that such ambivalence is the result of an individualistic narcissism, but that the hugeness represented by June emerges, precisely, from this reticular articulation of protagonists.Revista do Serviço Público - RSP, v. 70, n. 4, p. 735-754ComunicaçãoISSN Eletrônico: 2357-8017ISSN Impresso: 0034-924
Luana, Eliza e a Lei Maria da Penha: o acontecimento em discussão//Luana, Eliza and Maria da Penha law: the event under discussion
O artigo propõe-se a discutir o papel de acontecimentos na promoção de debates sobre temas de interesse público. O objetivo é compreender se, e como, discussões morais são desencadeadas por eventos que mobilizam a atenção pública, amplamente noticiados por envolverem personalidades públicas. Para explorar tais questões, analisamos dois acontecimentos relacionados à violência doméstica e a implementação da Lei Maria da Penha: (1) a agressão envolvendo o ator Dado Dolabella e a atriz Luana Piovani e (2) o desaparecimento/assassinato de Eliza Samúdio, a partir de notícias publicadas nos jornais Folha de S. Paulo e O Globo. Utilizamos a noção de individuação do acontecimento para apresentá-los e constatamos que os eventos se revelam catalisadores importantes para debates morais sobre o tema em questão
Deliberação online em consultas públicas? O caso da assembleia legislativa de Minas Gerais
Este artigo busca analisar uma consulta pública online sobre reforma política promovida em 2011 pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Embasado pela teoria deliberacionista, o estudo de 752 posts guiou-se pela discussão de seis tópicos: (1) inclusividade; (2) provimento de razões; (3) reciprocidade; (4) respeito mútuo; (5) orientação para o bem comum; e (6) articulação entre arenas. Os resultados indicam: (1) uma sobrerepresentação de participantes masculinos e oriundos da Região Metropolitana de Belo Horizonte, embora não tenha havido concentração de posts em alguns comentadores; (2) o predomínio de posts on topic e que apresentam justificativas para as posições advogadas; (3) índices muito baixos de reciprocidade entre posts e de uso de marcadores de interatividade; (4) graus muito elevados de respeito; (5) diferentes formas de ligação das justificativas a ideias de bem comum; (6) o baixo impacto decisório e a conexão com outras arenas da esfera pública, destacando-se a relação com uma matéria publicada em jornal de grande circulação. Os achados são ambivalentes para os defensores da deliberação, indicando baixa probabilidade de deliberação interna ao fórum, mas algum potencial deliberativo quando se adotam lentes mais amplas. Os cruzamentos entre variáveis sugerem que as pessoas tendem a prover mais justificativas em discussões mais controversas, embora tendam a dialogar menos nesses casos. Assim, a hipótese da preferência por conversas entre like-minded encontra respaldo nos dados analisados
Pragmatismo, marxismo e democracia: a negligenciada contribuição de Sidney Hook
Resumo
O presente artigo discute as contribuições teóricas do filósofo norte-americano Sidney Hook a fim de buscar insumos para a construção de uma teoria democrática crítica. O retorno à obra desse controverso e negligenciado intelectual público se justifica por sua tentativa de articulação, ainda nos anos 1930, de duas correntes pensadas como opostas: o marxismo e o pragmatismo. Tais correntes são a base de sua proposta de democracia, fundada no autoverno com efetivo livre consentimento. O texto está estruturado em quatro seções. Na primeira delas, apresentam-se a vida e a obra de Sidney Hook. Na segunda, exploram-se as raízes pragmatistas do autor e a forma como ele constrói suas ideias a partir deste legado. Na terceira seção, abordam-se os elementos que o autor busca no marxismo e as suas críticas aos continuadores da tradição. Por fim, exploramos as ideias políticas de Hook, com foco em sua concepção de democracia, que parece ser simultaneamente radical e conservadora.
Palavras-Chave: teoria democrática; Sidney Hook; pragmatismo, marxismo
Abstract
This article discusses American philosopher Sidney Hook's theoretical contribution, in order to generate inputs to articulate a critical democratic theory. The return to the writings of that controversial and neglected public intellectual is warranted by his attempt to combine, as early as in the 1930s, two traditions often seen as antithetical: Marxism and Pragmatism. Those traditions are the basis of his democratic theory, grounded in self-rule with effective free consent. The article is structured in four sections. The first of them presents the life and writings of Sidney Hook. The second section explores Hook's pragmatist roots. The third section discusses the elements extracted by Hook from Marxism and his critiques to the followers of that tradition. Lastly, the article explores the political ideas of Sidney Hook, focusing on his conception of democracy, which seems to be simultaneously radical and conservative.
Key words: democratic theory; Sidney Hook; pragmatism, Marxis
Protests as “Events”: The Symbolic Struggles in 2013 Demonstrations in Turkey and Brazil
ABSCTRACT Introduction: The concept of “event” offers a valuable lens to understand the discursive contestations in and around protests. Events create ruptures that disturb the logic of continuity and open up new way of thinking and talking about the past and the future. Drawing on this concept, this article analyzes the 2013 protests in Turkey and Brazil. It investigates how the causes of these protests were framed and debated in each country and how these frames shifted over time by opening up new interpretations of the past and the future. Materials and Methods: Data is generated from four Facebook pages capturing the messages posted during the first 30 days of protests in each country. In the Brazilian case, we collected the posts of: (1) Passe Livre São Paulo (301,787 likes), the group that started the wave of protests; and (2) O Gigante Acordou (155,690 likes), a collective that emerged during the protests, representing nationalist perspectives. In total, 626 posts were collected from both pages. In the Turkish case, we analyzed posts that appeared on the pages of : (1) Taksim Dayanismasi (82,479 likes), an association that played a significant role in organizing and mobilizing Gezi Park protests; and (2) Recep Tayyip Erdogan (6,957,408 likes), a pro-government and inherently anti-protest page. We coded each post inductively focusing particularly on the way they framed the causes of the protests. We then identified the number of times each frame was mentioned during the first 30 days of the protests and explored whether and how frames changed over time. Results: Our analysis reveals a significant shift in the way the causes of the protests were framed over time in both countries, yet with different implications. While in Brazil, we observe a frame transformation undermining the initial rationale of the protests, in Turkey we see a frame extension and the emergence of broader issues as the real causes of protests, such as the authoritarian nature of the regime and the restriction of democratic rights in this country. Discussion: The article offers a way of analysing protests based on a conceptual lens of event. It sheds light on the role of social media as a platform for symbolic struggles over the protests. Furthermore, the article opens up a debate about the developments of democracy in both countries. KEYWORDS: events; protests; Gezi Park; June Journeys; Facebook. Protestos como “Acontecimentos”: as lutas simbólicas nas manifestações de 2013 no Brasil e na TurquiaRESUMO Introdução: O conceito de “acontecimento” oferece uma perspectiva interessante para a compreensão de disputas discursivas nos protestos e sobre eles. Por “acontecimento”, entendemos rupturas da continuidade da experiência que alimentam disputas políticas pela reinterpretação de passados e futuros. Partindo do conceito e de sua utilidade para a leitura de disputas simbólicas, este artigo busca analisar os protestos de 2013 no Brasil e na Turquia. Investigamos como as razões a alicerçar tais protestos foram enquadradas e como esses enquadramentos mudaram ao longo do tempo, abrindo novas interpretações de passado e provendo novas possibilidades de imaginação do futuro. Materiais e Métodos: Dados foram gerados a partir de quatro páginas do Facebook, coletando mensagens postadas ao longo dos primeiros 30 dias de protestos em cada um dos países. No caso brasileiro, coletamos os posts de: (1) Passe Livre São Paulo (301.787 likes), o grupo que iniciou a onda de protestos; e (2) O Gigante Acordou (155.690 likes), um coletivo que emergiu durante os protestos, representando perspectivas nacionalistas. Ao todo, foram coletados 626 posts em ambas as páginas. No caso turco, analisaram-se posts que apareceram em: (1) Taksim Dayanismasi (82.479 likes), uma associação que teve papel significativo na organização e mobilização dos protestos do Gezi Park; e (2) Recep Tayyip Erdogan (6.957.408 likes), uma página pró-governo e essencialmente anti-protestos. Codificamos cada post indutivamente, enfocando, particularmente, o modo como eles enquadraram as causas dos protestos. Identificamos, então, a frequência de cada enquadramento nos 30 dias iniciais dos protestos e exploramos se, e como, isso se transformou ao longo do tempo. Resultados: A análise revelou a existência de viradas significativas na forma como as causas dos protestos foram enquadradas em ambos os países, mas com implicações distintas. Enquanto no Brasil, a “transformação de quadro” observada minou o foco inicial dos manifestantes, na Turquia, observa-se uma situação de “expansão do quadro”, com a tematização de questões mais amplas como causas dos protestos, como a natureza autoritária do regime e as restrições a direitos democráticos no país. Discussão: O artigo oferece uma maneira de analisar protestos com base na lente conceitual do “acontecimento”, esclarecendo o papel das mídias sociais no contexto das lutas simbólicas em torno dos protestos. Além disso, ele abre debate sobre as disputas de enquadramento a atravessar desdobramentos contemporâneos da democracia em ambos os países.PALAVRAS-CHAVE: acontecimento; protestos; Gezi Park; Jornadas de Junho; Facebook
- …