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Qualquer semelhança não é mera coincidência: uma análise do HIV/AIDS no cinema moçambicano
Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Florianópolis, 2014Ao propor como tema desta tese a análise do cinema moçambicano sobre o HIV/Aids, o intuito foi o de refletir - alicerçado na perspectiva antropológica e em diálogo com outros discursos (filosófico, literário e cinematográfico) - sobre as tessituras desta experiência narrativa em Moçambique, em torno deste assunto, buscando elencar suas especificidades, articulações e sentidos. Em termos metodológicos, vali-me da análise de algumas imagens e procurei investigar a relação entre cinema e os imaginários sociais no tocante ao HIV/Aids. Assim, considerei que a imagética moçambicana - expressa no cinema, jornais, relatórios oficiais, entrevistas, depoimentos, etc - forneceu pistas importantes para compreender as complexas relações entre sujeitos, instituições, práticas e discursos - relações essas quase sempre marcadas por diferentes clivagens (global/local) e intersecções: gênero, classe social, faixa etária, religião, entre outros. Esse cruzamento de perspectivas, à semelhança de um grande mosaico, permitiu-me entender - a partir da justaposição dos diferentes cenários - os discursos e posicionamentos encontrados. A multiplicidade de imagens e narrativas se constituiu em chaves significativas para a apreensão da problemática em questão levando-me a considerar tanto as diferentes lógicas e agenciamentos de sujeitos e instituições quanto as diversas moralidades em jogo presentes na intrincada rede de interpretação e construção de sentidos contidos nas "imagens" analisadas. Deste modo, ao problematizar cartazes das campanhas do Ministério da Saúde de Moçambique, filmes de diferentes cineastas moçambicanos bem como entrevistas e recortes de jornais, quis evidenciar os diversos regimes de verdade que fundamentam práticas e discursos que se expressam no cinema e nas narrativas que o primeiro elabora sobre temas complexos, dotados de forte dimensão político-social. A partir destas reflexões, acredito trazer uma contribuição relevante para o campo de investigação da Antropologia contemporânea na medida em que, ao estabelecer esta conexão entre imagens, imaginários e significados, busco evidenciar questões e aspectos até então pouco explorados nas abordagens convencionais, questões estas que emergem de modo privilegiado na narrativa imagética de Moçambique.Abstract: By proposing as the theme of this dissertation the analysis of the Mozambican cinema regarding HIV/Aids, the purpose was to think - based on the anthropological perspective and in dialogue with other discourses (philosophic, literary and cinematographic) - over the weaving of such narrative experience in Mozambique, about this subject matter, in an effort to survey its specificities, articulations, and meanings. In methodological terms, I analyzed some images and sought to investigate the relationship between cinema and social imageries related to HIV/Aids. Thus, I considered that the Mozambican imagetic - expressed in the cinema, newspapers, official reports, interviews, testimonies, etc. - provided important clues to understand the relations between subjects, institutions, practices and discourses - relations which are almost always marked by the different cleavages (global/local) and intersections, including gender, social class, age group, and religion. Such crossed perspectives, like a great mosaic, allowed me to comprehend - based on the overlapping of different scenarios - the discourses and standpoints I have found. The multiplicity of images and narratives are significant keys to apprehend the problem in question and led me to consider both the different logics and agencies of subjects and institutions as well the several moralities at stake present in the intricate net of interpretation and construction of meanings contained in the "images" I have analyzed. Thus, by problematizing campaign posters produced by Mozanbique´s Healh Department, films by different Mozambican movie makers as well interviews and newspaper clippings, I tried to demonstrate the several regimes of truth that are the ground of practices and discourses which are expressed by the cinema and the narratives that the former produces about complex topics, with a strong political and social dimension. Based on these reflections, I believe I was able to bring a significant contribution to the field of investigation in contemporary Anthropology as, by establishing a connection between images, imageries and meanings, I seek to highlight issues and aspects that had been little explored until now in the conventional approaches, issues that emerge in a privileged way in the imagetic narrative of Mozambique
Cinema moçambicano - imagens de guerra, imagens “sobreviventes”
A partir de uma perspectiva antropológica, o presente artigo pretende analisar a trajetória do cinema moçambicano à luz das reflexões benjaminianas. Ao tomar como base os conceitos de “guerra”, “destruição” e “ruína”, apresento o desafio de pensar a dimensão crítica das imagens cinematográficas em contextos sócio-históricos marcados por regimes políticos centralizadores. Afinal, pelos dilemas e contradições inerentes ao próprio contexto no qual emerge, seria o cinema de Moçambique uma imagem “sobrevivente”
Medida e Ordem: Elementos do Universo Cósmico e Ético-Antropológico de Heráclito
O universo humano é complexo e, em consonância com o pensamento heraclítico, só poderia ser compreendido levando-se em consideração seus diversos aspectos. É difícil, portanto, falar do âmbito propriamente humano sem levar em conta o aspecto cosmológico e sua estreita relação com o lógos universal. É importante ressaltar que, em Heráclito, a problemática do éthos não se dará de forma bem estruturada; no entanto, nada impede a tentativa de se pensar a questão ética evocando alguns elementos do pensamento do efesino, que contém já em germe aquilo que será aprofundado a partir da segunda metade do século V (com Sócrates e os sofi stas) e que será tema de discussão de sucessivas gerações de pensadores
Cartografando territórios (est)éticos-existenciais: Entre imagens, políticas e poéticas (re)existentes
In this essay, starting from a cartographic perspective and taking our respective post-doctoral research as a backdrop, we look at the work of the Turkish artist Ugur Gallenkuş and grafts from the play Outros, by the Brazilian theater group Galpão. From such aesthetic productions, we present the challenge of an ethical-political diagnosis of the present time based on what happens to us. Here, the thought of feminist, black, indigenous, queer, decolonial authors emerges as a guiding and inspiring compass for questioning the colonial, biopolitical and necropolitical devices in vogue. After all, what does contemporary art, as experimentation and process, have to tell and question us? Between presences and absences, said, unsaid and cursed, bodies, images, scenes (d)enunciate the arbitrariness and cynicism of colonial enterprises. We believe that, if the present continues to be marked by necropolitics, in which human contingents are daily and repeatedly thrown to their own devices, art emerges with a resistant ethical-aesthetic-political breath.En este ensayo, partiendo de una perspectiva cartográfica y tomando como telón de fondo nuestras respectivas investigaciones posdoctorales, analizamos la obra del artista turco Ugur Gallenkuş e injertos de la obra Outros, del grupo de teatro brasileño Galpão. Desde tales producciones estéticas, planteamos el desafío de un diagnóstico ético-político del presente a partir de lo que nos sucede. Aquí, el pensamiento de autoras feministas, negras, indígenas, queer y decoloniales emerge como una brújula orientadora e inspiradora para cuestionar los dispositivos coloniales, biopolíticos y necropolíticos en boga. Después de todo, ¿qué tiene que decirnos y cuestionarnos el arte contemporáneo, como experimentación y proceso? Entre presencias y ausencias, dichas, no dichas y malditas, cuerpos, imágenes, escenas (d)enuncian la arbitrariedad y el cinismo de las empresas coloniales. Creemos que, si el presente continúa marcado por la necropolítica, en la que los contingentes humanos son diario y repetidamente arrojados a su suerte, el arte emerge con un resistente aliento ético-estético-político.Neste ensaio, partindo da perspectiva cartográfica e tomando como pano de fundo nossas respectivas pesquisas de pós-doutorado, nos debruçamos sobre a obra do artista turco Ugur Gallenkuş e de enxertos da peça de teatro Outros, do Grupo de teatro brasileiro Galpão. A partir de tais produções estéticas, apresentamos o desafio de um diagnóstico ético-político do tempo presente a partir do que nos acontece. Aqui, o pensamento de autoras e autores feministas, negros, indígenas, queer e decoloniais emerge como bússola orientadora e inspiradora para o questionamento dos dispositivos coloniais, biopolíticos e necropolíticos em voga. Afinal, o que a arte contemporânea, enquanto experimentação e processo, tem a nos dizer e interrogar? Entre presenças e ausências, ditos, não ditos e mal-ditos, corpos, imagens, cenas (d)enunciam as arbitrariedades e cinismos dos empreendimentos coloniais. Acreditamos que, se o presente segue marcado pela necropolítica, em que contingentes humanos são cotidiana e reiteradamente lançados à própria sorte, a arte emerge com um respiro ético-estético-político resistente
Marcas necropolíticas sobre corpos dissidentes em Mato Grosso do Sul / MS
Ao nos debruçarmos sobre estatísticas recentes do/no estado de Mato Grosso do Sul nos deparamos com inúmeras violências perpetradas contra pessoas LGBT+. Para fins de análise, nos voltamos para as cifras expostas no Mapa da Violência de Gênero no Brasil e no Dossiê de Lesbocídio no Brasil, bem como de levantamentos e seus respectivos relatórios produzidos pelo Grupo Gay da Bahia, pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais e o Instituto Brasileiro Trans de Educação. Além disso, trazemos matérias veiculadas pela mídia jornalística sul-mato-grossense a fim de materializar narrativas. A partir disto, tomamos tais eventos violentos sobre corpos e identidades dissidentes como quadros de guerra necropolíticos. Assim, pudemos dar conta de que as violências contra LGBT+ possuem um caráter sistêmico cuja matriz de inteligibilidade necropolítica permite que determinados sujeitos e coletivos sejam convertidos em corpos matáveis
Feminilidades e transgressões em um corpo que gira: uma análise pós-estruturalista da produção científica acerca da Pombagira
This article results from a bibliography search conducted to analyze correlations presented at the discourse level, drawing from ethnographic studies and anthropological productions, including Pombagira, prostitution and the different forms of femininity in Umbanda. The first section of the article discusses the relation between the entity and the stereotype of the prostitute, identifications and the role that Pombagira plays in the life of women who are sex workers. The second section of the article addresses the image of the transgressive, independent woman who does not submit to men, as such image is tied to the entity, discussing how the entity confronts gender inequalities and their counter-sexual experiments, especially by means of her LGBT ‘children’. The third and last section deals with the discursive approximation between Pombagira and Exu, touching their ambiguities which blur gendered binarities. Lastly, it is considered indispensable that analyses about the entity Pombagira pay attention to countless possibilities of a duty towards minorities, thus avoiding epistemological and cisnormative suicides.Este artículo resultó de una investigación bibliográfica con el objetivo de reflexionar sobre y analizar las correlaciones presentadas en el plan discursivo, a partir de estudios etnográficos y producciones antropológicas, entre Pombagira, la prostitución y las diferentes formas del femenino en Umbanda. La primera parte del artículo analiza la relación entre la entidad y el estereotipo de prostituta, las identificaciones y el papel que juega Pombagira en la vida de las mujeres prostituidas. La segunda parte trata de la imagen de una mujer transgresora, independiente y no sumisa que está vinculada a la entidad, debatiendo cómo lidiar con las desigualdades de género y sus experiencias contrasexuales, especialmente por medio de sus ‘hijos’ LGBT. En la tercera y última parte, se discute sobre las aproximaciones discursivas entre Pombagira y Exu, abordando sus ambigüedades que difuminan las binaridades generalizadas. Finalmente, se considera esencial que los análisis sobre la entidad Pombagira sean conscientes de las numerosas posibilidades de convertirse en una minoría, evitando así los episteminicidas cisheteronormativizantes.Esse artigo é fruto de uma pesquisa bibliográfica cujo objetivo foi o de refletir e analisar as correlações apresentadas no plano discursivo, a partir de estudos etnográficos e produções antropológicas, entre a Pombagira, a prostituição e as diferentes formas de feminino na Umbanda. Na primeira parte do artigo discute-se sobre a relação da entidade com o estereótipo da prostituta, as identificações e o papel que a Pombagira desempenha na vida das mulheres que se prostituem. A segunda parte do artigo aborda a imagem de mulher transgressora, independente e não submissa aos homens que está atrelada à entidade, debatendo sobre o enfrentamento desta às desigualdades de gênero e suas experimentações contrassexuais, em especial por meio de seus “filhos” LGBTs. Na terceira e última parte, discorre-se acerca das aproximações discursivas entre a Pombagira e Exú, abordando suas ambiguidades que borram binaridades generificadas. Por fim, considera-se imprescindível que análises sobre a entidade Pombagira estejam atentas às inúmeras possibilidades de um devir-minoritário, evitando assim episteminicídios cisheteronormativizantes
“Saúde é em geral né, é ter um bom alimento pra manter em pé”: por entre sentidos e práticas (trans)viadas de/em saúde
O presente artigo, busca compreender o modo como sujeitos transexuais na busca de seus sentidos de saúde tencionam e questionam os dispositivos transexualizadores. Foi assim que, por meio de uma pesquisa de campo de viés etnográfico realizada junto a um Ambulatório Transexualizador localizado no Mato Grosso do Sul, à uma reunião entre o Fórum LGBT/MS e a Secretaria Municipal de Saúde (SESAU), e uma entrevista realizada com uma mulher trans dona de uma casa de prostituição de Campo Grande, pudemos pensar tanto os mecanismos que restringem acessos, direitos e reconhecimento quanto as estratégias dos sujeitos trans para seu questionamento e subversão. Assim, a partir das observações e diálogos estabelecidos, foi possível perceber como as experiências trans, a partir do ponto de vista do saber-poder biomédico, ainda estão inseridas numa inteligibilidade cisgênera, binária e heteropatriarcal. Ao mesmo tempo, as microresistências forjadas por esses sujeitos no interior das tecnologias cisheteronormativas dão conta das instabilidades, precariedades e limites dos dispositivos disciplinadores contemporâneos, atribuindo sentidos de saúde que não se restringem à lógica dos processos transexualizadores
Transviar Saúde(s) ou direito à autodefinição na (e para além da) saúde
This article seeks to understand how transsexual people in the search for their health meanings intend and question the transsexualizing devices. That was how, through an cartographic field research carried out at a Transexualizador Ambulatory located in Campo Grande (MS) and a meeting between the LGBT/MS Forum and the Municipal Health Secretariat (SESAU), we were able to think so much the mechanisms that restrict access, rights and recognition regarding the strategies of trans subjects for their questioning and subversion. Thus, from the observations and dialogues established, it was possible to see how the trans experiences, from the point of view of biomedical knowledge-power, are still inserted in a cisgender, binary and heteropatriarchal intelligibility. Despite this, the resistance of trans subjects and groups reveals that this device is far from having the last word on their bodies, their lives and their health.O presente artigo busca compreender o modo como pessoas travestis e transexuais, na busca de seus sentidos de saúde, tensionam e questionam os dispositivos transexualizadores. Foi assim que, por meio de uma pesquisa de campo de viés cartográfico, realizada junto a um Ambulatório Transexualizador localizado em Campo Grande (MS) e a uma reunião entre o Fórum LGBT/MS e a Secretaria Municipal de Saúde (SESAU), pudemos pensar tanto os mecanismos que restringem acessos, direitos e reconhecimento quanto as estratégias dos sujeitos trans para seu questionamento e subversão. Assim, a partir das observações e diálogos estabelecidos, foi possível perceber como as experiências trans, a partir do ponto de vista do saber-poder biomédico, ainda estão inseridas numa inteligibilidade cisgênera, binária e heteropatriarcal. Apesar disso, a resistência de sujeitos e coletivos trans é reveladora de que tal dispositivo está longe de ter a última palavra sobre seus corpos, suas vidas e sua saúde