82 research outputs found

    “E se todos fossem arqueólogos?”: experiências na Terra Indígena Wajãpi

    Get PDF
    Partindo de um interesse em pensar a relação entre arqueologia e antropologia, apresento neste artigo a experiência de uma pesquisa em que as fronteiras disciplinares são fluidas e flexíveis. O mote da minha reflexão é a prática de uma pesquisa de arqueologia com um grupo indígena do tronco tupi, os Wajãpi do Amapá. Com o desenrolar da pesquisa, ficou claro que, além dos sítios arqueológicos, havia muito para conhecer sobre o que os Wajãpi pensam a respeito dos sítios. Sem falar no que os Wajãpi conhecem sobre outras coisas que nós arqueólogos não consideramos sítios, mas que podem funcionar como sítios nos seus próprios termos. Com isso, eu me voltei a conhecer a maneira como os Wajãpi constroem narrativas sobre o passado utilizando vestígios, os traços materiais que seguem disponíveis hoje na sua terra. Ao pensar a arqueologia como uma prática de sentido, vejo esse processo de construção de relações entre os vestígios materiais e o conhecimento wajãpi como uma versão da arqueologia. Neste artigo, apresento alguns exemplos deste processo para argumentar que as aproximações disciplinares podem ser férteis e produtivas

    DE CACOS, PEDRAS MOLES E OUTRAS MARCAS: PERCURSOS DE UMA ARQUEOLOGIA NÃO-QUALIFICADA

    Get PDF
    Assuming that archeology is a way to construct narratives from the material traces from other times, I follow some propositions - in archeology and anthropology - which suggests that, despite the undeniable burden of modernist science, we can consider (and therefore practice) modes of knowledge building that does not cling to the modernist model. From the modern subject position, however, formed within scientific epistemology, I venture to think about these possibilities based on an experiment in progress with an indigenous group in the northern Amazon. Fleeing the qualitatives customarily employed for locating archaeological practices conducted along the existing populations, I arguethat this qualification is more a way of domesticating other modes of knowledge within archeology (with a capital A, as supposedly universal).Keywords: Ways of knowing, archaeological practices, dialoguesPartindo do princípio de que arqueologia é um modo de construir narrativas a partir dos vestígios materiais que apontam para outros tempos, sigo algumas proposições – na arqueologia e na antropologia – que sugerem, apesar do indiscutível fardo modernista da ciência, que é possível pensar (e, portanto, praticar) modos desta construção de conhecimento que não se atêm ao modelo modernista. A partir da posição de sujeito moderno, formada no seio da epistemologia científica, aventuro-me a refletir sobre estas possibilidades com base em uma experiência em andamento junto a um grupo indígena no norte amazônico. Fugindo dos qualitativos costumeiramente empregados para localizar práticas arqueológicas realizadas com populações atuais, argumento que esta qualificação é mais uma maneira de domesticar outros modos de conhecimentodentro da Arqueologia (com A maiúsculo, já supostamente universal).Palavras-chave: Modos de conhecer, práticas arqueológicas, diálogo

    “E se todos fossem arqueólogos?”: experiências na Terra Indígena Wajãpi

    Get PDF
    Partindo de um interesse em pensar a relação entre arqueologia e antropologia, apresento neste artigo a experiência de uma pesquisa em que as fronteiras disciplinares são fluidas e flexíveis. O mote da minha reflexão é a prática de uma pesquisa de arqueologia com um grupo indígena do tronco tupi, os Wajãpi do Amapá. Com o desenrolar da pesquisa, ficou claro que, além dos sítios arqueológicos, havia muito para conhecer sobre o que os Wajãpi pensam a respeito dos sítios. Sem falar no que os Wajãpi conhecem sobre outras coisas que nós arqueólogos não consideramos sítios, mas que podem funcionar como sítios nos seus próprios termos. Com isso, eu me voltei a conhecer a maneira como os Wajãpi constroem narrativas sobre o passado utilizando vestígios, os traços materiais que seguem disponíveis hoje na sua terra. Ao pensar a arqueologia como uma prática de sentido, vejo esse processo de construção de relações entre os vestígios materiais e o conhecimento wajãpi como uma versão da arqueologia. Neste artigo, apresento alguns exemplos deste processo para argumentar que as aproximações disciplinares podem ser férteis e produtivas.Following an interest on thinking the relatioship between archaeology and anthropology, I present here an experience from a project in which disciplinary frontiers are fluid and flexible. The motto for that is the practice of an archaeological research with a Tupian indigenous group, the Wajãpi from Amapá. As research developed, it became clear that – more than archaeological sites – there was much to know about the ideas that the Wajãpi have about these sites. Not to mention all the knowledge that the Wajãpi possess about things that we as archaeologists do not consider as archaeological evidences, although they might work as such on their on terms. Thru this research project, I sought to know the way Wajãpi people construct their explanations about the past manipulating material traces from earlier times, which are still available on their land today. Understanding archaeology as a practice of meaning, I see this process of constructing links between archaeological traces and wajãpi knowledge as a version of archaeology. In this article, I present examples of such constructions to argue that disciplinary proximity might be fertile and productive

    JUNTANDO CACOS: UMA REFLEXÃO SOBRE A CLASSIFICAÇÃO DA FASE KORIABO NO AMAPÁ

    Get PDF
    By expanding the archaeological research in Amapá, new  contexts emerged, demanding thinking on how to classify the archaeological material. The argument I make here begins with an investigation into how the Koriabo phase concept has been used in other areas of the Guyana Shield. In most cases, the term Koriabo has been widely generalized in the archeology of the region. As a result, the similarities and differences are neglected, with a strong tendency towards homogenization. However, recent excavations in French Guyana and Amapá point to different contexts of pottery deposition. In Amapá, detailed excavations over wide surfaces have offered new basis for thinking about classifications, departing from the knowledge of depositional contexts. Based on argument here developed, I suggest that it is necessary to broaden the focus in particular contexts before we turn to the general classifications, so we can to refine our data and interpretations. Keywords: Koriabo phase, archaeology of Guyanas, classifcationAo ampliar a pesquisa arqueológica no Amapá, emergiram contextos inéditos, exigindo reflexão sobre como classificar o material. A discussão que realizo aqui tem início com uma investigação sobre a forma como a fase Koriabo tem sido utilizada em outras áreas do Escudo Guianense. Os usos que têm sido feitos, na maior parte dos casos, do termo Koriabo na arqueologia da região, como busco demonstrar, têm um caráter generalizador. Como decorrência, as semelhanças são ressaltadas e as diferenças negligenciadas, com uma forte tendência à homogeneização. No entanto, escavações recentes na Guiana Francesa e no Amapá apontam para contextos diversos de deposição desta cerâmica característica. A partir daí, volto-me ao contexto no Amapá, salientando o quanto escavações amplas com informações detalhadas oferecem novas bases para refletirmos sobre as classificações, já que enriquecem nosso conhecimento sobre os contextos arqueológicos de deposição. A partir da reflexão que apresento aqui, sugiro que, no contexto da arqueologia das Guianas, é necessário ampliar o foco em contextos particulares antes de nos voltarmos às classificações generalistas, a fim de refinar dados e nossas interpretações. Palavras-chave: fase Koriabo, arqueologia das Guianas, classificação

    Niños soldado: ¿víctimas o voluntarios?

    Get PDF
    Un niño soldado es un ser humano menor de 18 años de edad que es reclutado por un ejército o un grupo armado o que simplemente participa en un conflicto bélico. No usa necesariamente uniforme o lleva un arma: puede ser reclutado y formar parte de un grupo como cocinero, cargador, guardia, espía, mensajero, guardaespaldas, esclavo sexual, “detector” de minas… En ciertos lugares, los niños son considerados adultos desde los 14 o 15 años. Una persona joven de 15 años que se une a un grupo armado puede, por tanto, considerarse como un soldado adulto de acuerdo a su propia cultura. La ley internacional en vigor establece los 15 años como edad mínima para el reclutamiento en el ejército y la participación en conflictos. Sin embargo, la Convención Internacional sobre los Derechos del Niño fija la edad de la adultez a los 18 años. Los niños son reclutados porque son más dóciles, más obedientes y se manipulan más fácilmente que los adultos. Además, son mas “económicos” ya que las inversiones necesarias para reclutar, entrenar y preparar a los niños para los conflictos son más baratas que las de los adultos. Esto, combinado con problemas de pobreza, falta de acceso a la educación o capacitación, discriminación y vulnerabilidad, provoca que los niños sean un blanco fácil para el reclutamiento en grupos armados. Los niños que son huérfanos, que viven solos o en un ambiente familiar complicado, lo ven como una solución a sus problemas, y participar en un grupo armado parece más seguro que hacer frente a sus dificultades. Además, la venganza, la identidad en una comunidad y la ideología también pueden tener influenciar. El reclutamiento de niños soldado es principalmente voluntario, debido a una combinación de los múltiples factores mencionados anteriormente. Sin embargo, el reclutamiento forzado es un proceso común y cuidadosamente planificado en el cual los niños son secuestrados y torturados. Los niños son evaluados según su altura y condición física y, para tenerlos bajo control, los reclutadores no dudan en violarlos, golpearlos, torturarlos e incluso en matar a miembros de su familia. Finalmente, con lo expuesto llegamos al siguiente debate: niños soldado: ¿víctimas o voluntarios?Instituto de Relaciones Internacionales (IRI

    A longa história indígena na costa norte do Amapá

    Get PDF
    A arqueologia na costa oriental da Guayanas (Estado brasileiro do Amapá) tem uma longa história, como os estudos de pioneiros como Emilio Goeldi, Henri Coudreau, Meggers e Evans, entre outros, nos lembram. Este lugar tem também um valor crítico para o atual debate sobre as evidências da complexidade sócio-político na pré-história da Amazônia, dada a ocorrência de locais impressionantes, como as estruturas megalíticas, e elaborada cerâmica, como as cerâmicas policrômicas Aristé. Desde a criação de uma equipe de arqueólogos no estado Amapá esta imagem ter sido alterada, com o aumento da base de dados arqueológicos disponíveis na área. Até agora, a cronologia foi estendida para o Holoceno médio, com sítios arqueológicos relacionados com grupos de caçadores-coletores; início de produção de cerâmicas locais, datando de, pelo menos, 3000 BP foram encontrados; e a proliferação de culturas cerâmicas arqueológicas foram documentados, com a co-existência de, pelo menos, 5 culturas diferentes na área desde o segundo milênio depois de Cristo. Além disso, a área apresenta estudos de casos instigantes em etno-arqueologia. A costa oriental de Guayana é um dos poucos lugares na Amazônia que mostra evidências de continuidade entre as sociedades ameríndias contemporâneos, como os Palikur e Kalina, e as ocupações pré-coloniais, proporcionando uma boa oportunidade para compreender a mudança que a colonização europeia impôs em padrões ameríndios pré-coloniais de organização sócio-política. Diante de todas as informações que já tenha sido recolhida, é óbvio que o Amapá é uma área-chave na região amazônica. Suas características geográficas singulares, um enclave entre a Amazônia, Guayana e áreas do Caribe, parece estar refletida na alta diversidade cultural na ocupação pré-histórica, onde diferentes tradições culturais convergiram e interagiram em uma região específica. Como tal, sugerimos que, depois de uma ocupação humana gradual desde pelo menos 8000 BP, ele se tornará, por volta de 1000 BP, uma arena altamente contestada, onde as diferenças regionais em estilos de cerâmica e centros cerimoniais\funerários foram usados e exacerbados para marcar fronteiras políticas e\ou sociais fronteiras. Este artigo tem como objetivo principal apresentar os atuais dados arqueológicos e o esboço de um projeto de pesquisa com foco na paisagem e uma história de longa duração dos contextos sócio-políticos ameríndios na costa oriental de Guayana, através do estabelecimento de um quadro cronológico e cultural da ocupação humana na região, desde os primeiros habitantes até o impacto da invasão europeia em grupos ameríndiosArchaeology in the Eastern coast of Guayanas (Brazilian State of Amapá) has a long history, as the studies of pioneers such as Emilio Goeldi, Henri Coudreau, Meggers and Evans, among others, remind us. This place has also a critical value for current debates on the evidences of socio-political complexity in the Amazonian pre-history, given the occurrence of impressive sites, as the megalithic structures, and elaborated pottery, as the Aristé polychromic ceramics. In spite of that, few projects in that area promoted systematic excavations, resulting in scarce information on diversity and detailed characteristics of archaeological heritage. Since the establishment of an archaeological team in the Amapá state this picture have been changed, with the increase of available archaeological database on the area. By now, the chronology have been extended to the middle Holocene, with archaeological sites related to hunter-gatherers groups; early ceramic-bearing sites, dating from, at least, 3000 BP have been found; and the proliferation of archaeological ceramic cultures have been documented, with the co-existence of, at least, 5 different cultures in the area since the second millennium after Christ. Also, the area presents challenging case-studies on ethno-archaeology. The eastern coast of Guayana is one of a few places in the Amazon that shows evidence of continuity between contemporary Amerindian societies, as the Palikur and Kaliña, and pre-colonial occupations, providing a good oportunity for understand the change that the European colonization brought on Amerindian pre-colonial patterns of socio-political organization. Given all information that has already been gathered, it´s obvious that Amapá is a key area in the Amazon region. It´s singular geographical characteristics, an enclave between the Amazon, Guayana and Caribbean areas, seems to be reflected in the high cultural diversity in the pre-historical occupation, where different cultural traditions converged and interacted in one specific region. As such, we suggest that, after a gradual human occupation since at least 8000 B.P., it will become, around 1000 B.P., a highly-contested arena, where regional differences in ceramic styles and ceremonial\funerary centers where used and exacerbated to mark political and\or social borders. This essay has the main goal to present the current archaeological data and the outline of a research project focused in the socio-political landscape and deep time histories in eastern coast of Guayana, through the establishment of a chronological and cultural framework of the human occupation in the region, from the first inhabitants until the impact of European invasion on Amerindians groups

    Note sur des structures mégalithiques en Guyane brésilienne, Amapá

    Get PDF
    Introduction L’archéologie de l’État d’Amapá a une longue histoire, qui commence à la fin du xixe siècle avec les études de Ferreira Penna (1879) et d’Emilio Goeldi (1905). Néanmoins, peu de projets de fouilles systématiques ont été menés dans cette région, d’où la rareté des informations sur la diversité et le détail des caractéristiques de l’héritage archéologique. Bien que l’on connaisse plusieurs sites dans l’ensemble de l’État et au moins trois phases archéologiques définies de façon his..

    A longa história indígena na costa norte do Amapá

    Get PDF
    A arqueologia na costa oriental da Guayanas (Estado brasileiro do Amapá) tem uma longa história, como os estudos de pioneiros como Emilio Goeldi, Henri Coudreau, Meggers e Evans, entre outros, nos lembram. Este lugar tem também um valor crítico para o atual debate sobre as evidências da complexidade sócio-político na pré-história da Amazônia, dada a ocorrência de locais impressionantes, como as estruturas megalíticas, e elaborada cerâmica, como as cerâmicas policrômicas Aristé. Desde a criação de uma equipe de arqueólogos no estado Amapá esta imagem ter sido alterada, com o aumento da base de dados arqueológicos disponíveis na área. Até agora, a cronologia foi estendida para o Holoceno médio, com sítios arqueológicos relacionados com grupos de caçadores-coletores; início de produção de cerâmicas locais, datando de, pelo menos, 3000 BP foram encontrados; e a proliferação de culturas cerâmicas arqueológicas foram documentados, com a co-existência de, pelo menos, 5 culturas diferentes na área desde o segundo milênio depois de Cristo. Além disso, a área apresenta estudos de casos instigantes em etno-arqueologia. A costa oriental de Guayana é um dos poucos lugares na Amazônia que mostra evidências de continuidade entre as sociedades ameríndias contemporâneos, como os Palikur e Kalina, e as ocupações pré-coloniais, proporcionando uma boa oportunidade para compreender a mudança que a colonização europeia impôs em padrões ameríndios pré-coloniais de organização sócio-política. Diante de todas as informações que já tenha sido recolhida, é óbvio que o Amapá é uma área-chave na região amazônica. Suas características geográficas singulares, um enclave entre a Amazônia, Guayana e áreas do Caribe, parece estar refletida na alta diversidade cultural na ocupação pré-histórica, onde diferentes tradições culturais convergiram e interagiram em uma região específica. Como tal, sugerimos que, depois de uma ocupação humana gradual desde pelo menos 8000 BP, ele se tornará, por volta de 1000 BP, uma arena altamente contestada, onde as diferenças regionais em estilos de cerâmica e centros cerimoniais\funerários foram usados e exacerbados para marcar fronteiras políticas e\ ou sociais fronteiras. Este artigo tem como objetivo principal apresentar os atuais dados arqueológicos e o esboço de um projeto de pesquisa com foco na paisagem e uma história de longa duração dos contextos sócio-políticos ameríndios na costa oriental de Guayana, através do estabelecimento de um quadro cronológico e cultural da ocupação humana na região, desde os primeiros habitantes até o impacto da invasão europeia em grupos ameríndios
    corecore