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    ORALIDADE E LETRAMENTO NA CONSTRUÇÃO DA PONTUAÇÃO

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    Neste estudo, tivemos como preocupação a busca de fatos lingüísticos possivelmente envolvidos na aquisição da pontuação. Para tanto, selecionamos ocorrências de pontuação em 45 textos produzidos em situação escolar por três sujeitos que freqüentaram a primeira série do ensino fundamental numa escola municipal de São José do Rio Preto (SP) sendo 15 textos de cada sujeito. Como principais tendências relacionadas ao emprego de sinais de pontuação nesses textos observamos: a) variação inter-sujeitos; b) variação intra-sujeitos; c) variação em função de tipo de textos; d) aumento de marcas de pontuação ao longo do ano; e) saliência do caráter gráfico da pontuação nas primeiras produções textuais; e f) percepção de uma conjunção não isomórfica de elementos de várias naturezas lingüísticas. Como hipóteses explicativas para essas tendências, destacamos diferentes modos de relação dos sujeitos com a língua e, sobretudo, sua inscrição histórica em práticas de oralidade e de letramento, sobrepostas ou salientadas no emprego dos sinais. Abstract In this article, our aim was to search for linguistic issues possibly involved in punctuation acquisition. In such a way, we extracted punctuation occurrences from 45 texts produced by three elementary school first degree students from São José do Rio Preto (SP state, Brazil) 15 texts of each student. Data indicated six main tendencies: a) intersubjects variation; b) intrasubjects variation; c) variation resulting from different types of text; d) increase of punctuation across time; e) saliency of graphic character of punctuation in the first texts; and f) perception of a non-isomorphic integration of different linguistic elements. We suggested that different kinds of subject/language relationship and facts from orality and literacy gave the main support to punctuation activity of our subjects

    Flutuação na segmentação de palavras: relações entre constituintes prosódicos e convenções ortográficas na escrita infantil

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    In this paper, we analyzed situations where (a) one vocabular structure showed in two different ways in the same text or (b) had erasures. These structures fluctuations were extracted from texts written by children that, when the registers were done, were second graders of elementary school. Concerning the results, we verified: (1) that more than one prosodic constituent showed in the basis of fluctuation of vocabulary structures; and (2) that at least one of the limits of orthographic words was maintained in fluctuation structures. These results point to the recuperation done by writers with information they have access due to their insertion in (1) oral practices and (2) literacy practices.Neste artigo, foram analisadas situações em que (a) uma mesma estrutura vocabular apresentava-se de duas diferentes maneiras em um mesmo texto ou (b) apresentava-se com rasuras. Essas flutuações de estrutura foram extraídas de textos escritos por crianças que, à época da coleta, frequentavam a segunda série do ensino fundamental. Quanto aos resultados, verificou-se que: (1) mais de um constituinte prosódico mostrouse na base das flutuações de estrutura vocabular; e (2) pelo menos um dos limites das palavras ortográficas foi mantido nas estruturas flutuantes. Esses resultados sugerem a recuperação que os escreventes fazem de informações a que têm acesso pela sua inserção em (1) práticas de oralidade e em (2) práticas de letramento

    Alguns aspectos dos estudos tradicionais sobre o ritmo e os fatos do sentido

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    Neste trabalho, discutimos duas posições dos estudos tradicionais sobre o ritmo que, a nosso ver, dificultam o estabelecimento de relações entre o ritmo e os fatos da significação lingüística. Essas duas posições podem ser caracterizadas como: (a) da incompatibilização entre ritmo e sentido; e (b) da tentativa de compatibilização entre ritmo e sentido

    Pausas na interpretação teatral: delimitação de constituintes prosódicos

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    We intend to observe the function of a linguistic resource – the pause – in theatrical interpretation. Connected to the field of speech therapy, we search for theoretical support in the Linguistics field, mainly in prosodic phonology – specifically, we highlight intonational phrase and phonological utterance, prosodic constituents –, proposing a dialogue between these fields, regarding the work with actors. In speech therapy literature, the work with actors focuses, centrally, in organic issues involved in the vocal process, such as “misuse” or “voice abuse”. To a smaller extent, we find, in this literature, researches that emphasize issues regarding interpretation and expressive resources, besides a few emphasizing the importance of linguistic resources in interpretation. Differently, in linguistics literature, the pause is approached, to a larger extent, from the phonetic perspective, related to several language levels. In this research, we analyzed audio recordings of four actors from a same theatrical group, acting the theatrical text Brutas flores, focused on these aims: (1) detect the place where pauses happen in the interpretation of a single text by four actors; (2) survey physical characteristics of length of these pauses; (3) check to what extent the length of a pause is related to the place where it happens, regarding the prosodic limits of intonational phrases (I) and phonological utterance (U). We could observe that, although the interpretation is characterized by the subjectivity of the actor, the interpretation is constructed based in the possibilities offered by the prosodic organization of the text itself, being more or less flexible.We were also able to confirm, by considering the length of VVs units containing pauses, the prosodic hierarchy proposed by Nespor & Vogel, once the length of these units in U's limits was significantly higher than the length in I's limits. Thus, our results reinforce the premise that a linguistic structure overlaps the subjectivity of the actor, i. e., the premise that the strength of linguistic structure organization acts on the possible individual operation/style.Propomos observar o funcionamento de um recurso linguístico – a pausa – na interpretação teatral. Vinculados ao campo da Fonoaudiologia, buscamos subsídios teóricos no campo da Linguística, sobretudo da Fonologia Prosódica – mais especificamente, destacamos os constituintes prosódicos frase entonacional e enunciado fonológico –, propondo, assim, um diálogo entre esses campos, no que diz respeito ao trabalho com atores.  Na literatura fonoaudiológica, o trabalho com atores volta-se, fundamentalmente, para questões orgânicas envolvidas no processo vocal, como “mau uso” ou “abuso vocal”. Em menor grau, verificam-se, nessa mesma literatura, trabalhos que destacam questões sobre interpretação e recursos expressivos, além de poucos que destacam a importância dos recursos linguísticos na interpretação. Já no que diz respeito à literatura linguística, a pausa, em maior grau, é abordada sob a perspectiva fonética, relacionada a vários planos da linguagem. Para o desenvolvimento da presente pesquisa, analisamos registros em áudio de quatro atores, de um mesmo grupo de teatro, interpretando o texto teatral Brutas flores, norteados pelos seguintes objetivos: (1) detectar o local de ocorrência de pausas na interpretação que quatro atores fazem de um mesmo texto; (2) levantar as características físicas de duração dessas pausas; (3) verificar em que medida a duração da pausa se relaciona com seu ponto de ocorrência, no que diz respeito a limites prosódicos de frases entonacionais (I) e enunciados fonológicos (U). Pudemos observar que, apesar de a interpretação se caracterizar pela subjetividade do ator, essa interpretação é construída no interior de possibilidades que a própria organização prosódica do texto oferece, sendo mais, ou menos, flexível. Pudemos, ainda, confirmar, por meio da duração de unidades VVs das quais constam pausas, a hierarquia prosódica proposta por Nespor & Vogel, uma vez que a duração dessas unidades em limites de Us se apresentou significativamente maior do que sua duração em limites de Is. Desse modo, nossos resultados reforçam a premissa de que a estrutura linguística se sobrepõe à subjetividade do ator, ou seja, a premissa de que a força da organização das estruturas linguísticas atua sobre o possível funcionamento/estilo individual. 

    Uma abordagem não-dicotomizante das questões de linguagem na doença de Parkinson: as hesitações

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    Neste artigo, fazemos uma reflexão sobre fatos de linguagem que ocorrem em sujeitos cérebro-lesados. Para tanto, retomamos o modo como a literatura biomédica tem estudado os problemas de fala na doença de Parkinson. Identificamos, nessa literatura, dissociações, por exemplo, entre linguagem e fala, entre aspectos tidos como motores e o que seriam outros aspectos da fala/linguagem. Com base na proposta de Coudry (1988; 2002) sobre a complexidade da inter-relação entre cérebro e linguagem, problematizamos essas dissociações. Com o objetivo de mostrar associações entre aspectos motores e discursivos na doença de Parkinson, analisamos hesitações na conversação entre um sujeito parkinsoniano e um sujeito pesquisador. Entendemos a hesitação como acontecimento discursivo relacionado ao processo de constituição do sujeito e ao processo de constituição do discurso. Baseados em ideias de Authier-Revuz, supomos que, como forma de heterogeneidade mostrada, a hesitação indicia a negociação do sujeito com os múltiplos outros constitutivos do discurso. Na análise, observamos que a hesitação indicia momento de mudança de posição do sujeito, bem como momento em que o outro discursivo saúde/doença poderia irromper/irrompe na cadeia discursiva. Observamos também a presença de aspectos motores, no plano articulatório da fala, na ocorrência da hesitação. Destacamos, porém, que esses aspectos de base motora se mostram submetidos a fatos discursivos, o que mostra, no aparecimento da hesitação na fala de sujeitos parkinsonianos, que as questões de linguagem nesses sujeitos mais apontam para funcionamentos integrados do que para funcionamentos específicos nas relações entre cérebro e linguagem

    Aspectos prosódicos da fala de sujeitos parkinsonianos

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    Problemas de prosódia na fala de parkinsonianos têm sido apontados nos estudos sobre parkinsonismo. Contudo, nesses estudos a prosódia é freqüentemente desvinculada dos fatores comunicativos da fala. O propósito deste artigo foi investigar fatores comunicativos relacionados a aspectos prosódicos da fala de sujeitos com doença de Parkinson. As amostras 'de fala foram extraídas de conversas espontâneas de dois sujeitos parkinsonianos, do sexo masculino. A análise mostrou que os elementos prosódicos ocorreram em diversas combinações, possibilitando a identificação de: a) atos de fala; b) alguns aspectos da organização conversacional; e c) diferentes vozes no discurso. Foram destacadas algumas implicações desses resultados para uma melhor compreensão da atividade verbal em condições patológicas, bem como para avaliação, diagnóstico e terapia de parkinsonianos

    Hesitações na fala infantil: indícios da complexidade da língua

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    O objetivo do presente estudo é identificar características do funcionamento das hesitações na produção oral de crianças com desenvolvimento típico de linguagem. O material foi extraído de gravações (individuais) em áudio de uma narrativa estruturada como uma parlenda por 26 crianças entre 5-6 anos de idade. Cinco juízes fizeram a identificação dos pontos de hesitação em cada gravação bem como das marcas com as quais as hesitações se mostraram: pausas silenciosas; repetições hesitativas; interrupções; e alongamentos hesitativos. Considerado o plano mais global da narrativa, 80,66% dos pontos de hesitação ocorreram em situações em que se combinavam mudanças: de estruturação rítmica dos versos; de posicionamento do narrador; e de tempo e modo verbais. Complementarmente, a estrutura interna dos versos em que se deram essas mudanças era construída com palavras de configuração fonológica complexa para os padrões de fala infantil. Os 19,34% restantes de pontos de hesitação ocorreram em situações mais estáveis, tanto do ponto de vista da composição global da narrativa quanto da estrutura interna de seus versos. Esses versos caracterizavam-se por: repetição de estrutura rítmica; apresentação do conflito e do desfecho da narrativa; palavras de estrutura fonológica menos complexa para o vocabulário infantil. O aspecto não-casual, não-aleatório desses pontos reforça, portanto, a visão de que as hesitações indiciam negociações do sujeito com os outros constitutivos do (seu) discurso, já que ocorreram, privilegiadamente, em pontos nos quais co-ocorrências menos esperadas da própria língua se mostraram como um outro turbulento para as crianças

    Omisiones ortográficas en la escritura de niño: relación entre posiciones silábicas y escolaridad

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    A investigação teve como objetivos verificar em que medida omissões ortográficas dependeriam (1) das diferentes posições que os grafemas ocupam na estrutura da sílaba; e (2) da relação entre essas posições e a seriação escolar. Os dados foram extraídos de 190 produções escritas de crianças do Ciclo I do Ensino Fundamental de uma escola pública do estado de São Paulo. Foram quantificadas todas as omissões ortográficas nas posições silábicas investigadas (ataque, núcleo e coda) e, depois, comparadas em função dos três anos de que se compõe esse Ciclo. Os resultados mostraram: quanto ao primeiro objetivo, predomínio das omissões em coda silábica; quanto ao segundo objetivo, variação da distribuição das omissões nas diferentes posições da sílaba em função do ano escolar. Características fonético-fonológicas da sílaba, combinadas com práticas pedagógicas que enfatizam o trabalho com a estrutura silábica consoante-vogal, permitiram explicar as tendências apontadas pelos resultados.Se investigó la dependencia de omisiones ortográficas considerando: 1) las diferentes posiciones de los grafemas en la estructura silábica; 2) la relación entre esas posiciones y el año escolar. Se extrajo datos de 190 producciones escritas por niños de Primaria-Primer Ciclo de una escuela pública en Brasil. Se cuantificó todas las omisiones ortográficas en las posiciones silábicas investigadas (ataque, núcleo y coda) y se las comparó considerando los tres años del Ciclo. Los resultados mostraron predominio de omisiones en la coda silábica, respecto del primer objetivo, y variación de la distribución de omisiones en diferentes posiciones silábicas según el año escolar, respecto del segundo. Las tendencias señaladas por los resultados pueden explicarse por la combinación entre características fonético-fonológicas de la sílaba y prácticas pedagógicas que enfatizan el trabajo con la estructura silábica consonante-vocal.The investigation aimed to verify how orthographic omissions would depend on: (1) the different positions occupied by graphemes in the syllabic structure; and (2) the relation of these positions and school grades. The data was extracted from 190 written productions made by children of the First Cycle of Primary School from a public Brazilian school. All the orthographic omissions in the analyzed syllabic positions (onset, nucleus, and coda) were quantified and, later, they were compared considering the three grades that compose the 1st cycle. The results have shown: concerning the first objective, predominance of omissions in the syllabic coda; concerning the second objective, variation of the distribution of omissions on the different syllabic position depending on the school grade. Syllable phonological and phonetic characteristics, combined to pedagogical practices that emphasize working with the consonant-vowel syllable structure, have enabled the explanation of the tendencies highlighted by the results

    Complexidade enunciativa em memórias da Emília

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    Este artigo analisa um recorte da complexidade enunciativa da narrativa Memórias da Emília (1939 [1969]). Essa análise tem como objetivo descrever em que planos dessa complexidade deslocamentos do locutor-narrador são representados no material analisado. Para tanto, como referencial teórico-metodológico, foram utilizados os estudos sobre a heterogeneidade mostrada, de Authier-Revuz (1998, 2004), e os estudos sobre o paradigma indiciário, de Ginzburg (1991). Os resultados expuseram uma complexidade enunciativa constitutiva da organização do dizer, sob a forma de uma complexa justaposição de enunciações em que o locutor, atribuído à figura de narrador, simula relações dialógicas construídas como enunciadas por diferentes interlocutores nessas relações. Essa complexidade indicia planos de enunciação que marcam uma heterogeneidade de formas de inscrição do outro no (fio do) discurso, que não se enunciam numa transparência do dizer, dada a dialogia que constitui esses planos. Essas diferentes formas sugerem, pois, que se narra por uma justaposição de planos enunciativos
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