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Autonomia, saúde mental e subjetividade no contexto assistencial brasileiro
Este estudo visa refletir teoricamente sobre formas de cuidado que priorizem o resgate da autonomia por parte de pessoas atendidas em serviços assistenciais de saúde mental no Brasil, enfatizando, sobretudo, o problemático período da alta institucional. Para tanto, faz-se uma apresentação das atuais mudanças no modelo asistencial em saúde no país e discute-se alguns principios que norteiam a Reforma Psiquiátrica brasileira, atentando para a superação de impasses históricos e para as limitações das práticas institucionais, que ainda parecem culminar em frequentes quadros de institucionalização dos usuários. Nessa discussão, o estudo da subjetividade é apresentado como alternativa teórica para compreender como esses complexos e conflitantes processos se atualizam na vivência do sujeito
Epistemologia qualitativa e método construtivo-interpretativo: contribuições para pesquisas no campo da saúde mental
Esta apresentação tem como objetivo discutir contribuições do método construtivo-interpretativo, sustentado pela Epistemologia Qualitativa proposta por González Rey, para pesquisas em instituições de atenção à saúde mental. Tal discussão será baseada nos resultados de uma pesquisa realizada ao longo de dois anos em um centro de atenção psicossocial do Distrito Federal do Brasil, que teve como participantes usuários e profissionais desse serviço. Primeiramente, destaca-se a importância da construção do cenário social da pesquisa, mediante a assunção de que o trabalho de campo não somente responde ao objetivo formulado para a pesquisa, como também é dimensão fundamental para o próprio delineamento do objeto estudado. Em segundo lugar, apresenta-se a construção da informação com base nesse referencial, discutindo a possibilidade de superar as tendências “descritivas” e “romanceadas” de fazer pesquisa, por meio da lógica configuracional de investigação. Trata-se de uma proposta cujo esteio fundamental é a emergência do pesquisador enquanto sujeito de seu processo investigativo, em um caminho sem hiatos entre campo empírico e produção teóricaResumo de trabalho submetido e aceito no XXXV Congresso Interamericano de Psicologia (2015
Institucionalização, subjetividade e desenvolvimento humano : abrindo caminhos entre educação e saúde mental
Dissertação (mestrado)—Universidade de Brasília, Faculdade de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, 2013.A atenção à saúde mental no Brasil vem passando por diversas transformações nas últimas décadas, com destaque para a implementação dos serviços substitutivos às instituições manicomiais, na esteira da reforma psiquiátrica. Mediante essas mudanças, diversos alcances voltados para uma assistência mais humanizada puderam ser conquistados. Entretanto, pela persistência de diversas dificuldades institucionais, ainda se fazem frequentes os casos atendidos marcados por uma desospitalização, mas não por um efetivo e gradual processo de desinstitucionalização da pessoa atendida. Isso culmina em um quadro recorrente de cronificação, no qual usuários permanecem atendidos por anos a fio, tendo os serviços como praticamente único espaço de socialização em suas vidas. Assim, fazem-se pertinentes estudos que se direcionem para a compreensão complexa das questões implicadas neste impasse e para a elaboração de produções teóricas que possam engendrar alternativas a esta problemática situação. Neste contexto, com base no referencial teórico da Teoria da Subjetividade, esta pesquisa teve como objetivo geral compreender as produções subjetivas associadas à institucionalização em um Centro de Atenção Psicossocial do Distrito Federal. Para tanto, foi utilizado o método construtivo-interpretativo, apoiado nos princípios da Epistemologia Qualitativa, que concebe a produção de conhecimento enquanto processo construtivo-interpretativo, singular e dialógico. Os participantes da pesquisa foram pessoas atendidas pelo serviço e que se encontravam com destacadas dificuldades no processo de reabilitação social, acarretando em tratamentos prolongados e marcados pela institucionalização. No curso da pesquisa, foi feito uso extensivo de sistemas conversacionais, a partir de diversos momentos do cotidiano institucional. De modo geral, com base nas construções interpretativas elaboradas na parte empírica, o processo de institucionalização apresentou-se estreitamente relacionado à produção das pessoas atendidas enquanto objetos de procedimentos técnicos e especializados. Trata-se de situações nas quais a assistência parece estar desvinculada da integralidade do desenvolvimento dos usuários, num quadro em que o papel educacional a ser desempenhado pela instituição é ocultado, mediante hipertrofia de sua dimensão instrumental. Nesta perspectiva, também se fez notável a intensificação deste processo mediante práticas baseadas na lógica biomédica de atenção à saúde e frente às limitações político-institucionais atualmente existentes na região. Nestes casos, o tratamento amiúde parece ser vivenciado pelos usuários como distante de suas próprias potencialidades, consistindo basicamente no comparecimento às atividades propostas e no seguimento das prescrições médicas. Pela dependência intensamente atuante nestas situações, as produções subjetivas em relação à alta institucional terminam por associá-la a uma ameaça à condição de saúde, bem como a um abandono por parte da equipe profissional. Diante deste quadro, faz-se importante a potencialização de estratégias institucionais pautadas por um cuidado para além das fronteiras do serviço, mediante articulação entre educação, saúde mental, modo de vida e desenvolvimento integral das pessoas atendidas. Nesse sentido, tornam-se possíveis relações pessoais que favoreçam a construção da cidadania, com vistas a diferentes formas de promoção social. Trata-se de uma assistência voltada para a desinstitucionalização e para uma ética do sujeito, ao enfatizar novas produções subjetivas, em detrimento da centralidade dos especialistas enquanto detentores do saber. ______________________________________________________________________________ ABSTRACTThe Brazilian mental health care has been largely transformed during the last decades, with emphasis on the implementation of alternative services to the traditional psychiatric
institutions. Through these changes, many ranges related to a more humanized care could be achieved. However, the persistence of various institutional difficulties leads to frequent cases marked by a deshospitalization, but not by an effective and gradual process of
deinstitutionalization of the users. This culminates in recurrent frames of chronification, in which users remain attended for several years, having the services as virtually the only space
of socialization in their lives. Therefore, it becomes pertinent to develop studies directed toward understanding the complex issues involved in this deadlock and toward the elaboration
of theoretical productions that may engender alternatives to this problematic situation. In this context, based on the theoretical framework of the Theory of Subjectivity, this research aimed to understand the subjective productions associated with the process of institutionalization in a Psychosocial Care Center in Federal District. For this, we used the constructive-
interpretative method supported by the principles of the Qualitative Epistemology, which conceives knowledge production as a constructive-interpretative, singular and dialogical
process. The participants were people attended by the service, who suffered from highlighted difficulties in the social rehabilitation process, resulting in a prolonged treatment, marked by
institutionalization. Throughout the research, we made extensive use of the conversational systems during various moments of the institutional routine. In general, based on the interpretative constructions elaborated in the empirical chapter, the process of
institutionalization were closely related to the production of the users as objects of technical and specialized procedures. These are situations in which assistance seems to be detached
from the integrality of the development of users, hiding the educational role to be played by the institution by the hypertrophy of its instrumental dimension. In this perspective, also
became notable the intensification of this process through political and institutional constraints that currently exist in the region and through practices based on biomedical model of health care. In these cases, treatment often seems to be experienced by the users as far
away from their own potential, consisting basically in the attendance to the proposed activities and following the medical prescriptions. By the intensely active dependency in these situations, the subjective productions in relation to institutional discharge seem to associate
this process with a threat to the health condition, as well as with an abandonment by the professional team. Given this context, it is important to enhance institutional strategies guided by a care which extends beyond the boundaries of the service, by the articulation of education,
mental health, way of life and the development of the users. In this sense, personal relationships that foster the construction of citizenship become possible, aiming different forms of social promotion. It is an assistance geared toward deinstitutionalization and toward an ethics of the subject, emphasizing new subjective productions, rather than the centrality of
experts as holders of the knowledge
Educação, saúde mental e desenvolvimento subjetivo : da patologização da vida à ética do sujeito
Tese (doutorado)—Universidade de Brasília, Faculdade de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, 2017.Este trabalho nasce das inquietações sobre desafios emergentes no processo da reforma psiquiátrica no Brasil, com destaque para o fenômeno da nova institucionalização, entendido como expressão da lógica manicomial nos serviços substitutivos de saúde mental. Para além de tecer críticas relativas às práticas que culminam nesse quadro, adota-se um posicionamento teórico, epistemológico e político propositivo, voltado para a despatologização da vida e para a superação das fragmentações dos processos humanos, com destaque para a articulação entre os campos da saúde mental, da educação e do desenvolvimento subjetivo. Nesse contexto, o objetivo central do trabalho foi elaborar um modelo teórico que apoiasse práticas educativas voltadas ao desenvolvimento subjetivo de pessoas atendidas por um Centro de Atenção Psicossocial e da equipe profissional que compõe o serviço, de modo a explicar teoricamente o transtorno mental enquanto configuração subjetiva e seus desdobramentos para um tratamento voltado para uma ética do sujeito. Os referenciais da teoria da subjetividade em uma perspectiva cultural-histórica e da epistemologia qualitativa de González Rey foram assumidos enquanto plataforma de pensamento. Tais referenciais favoreceram uma complexa articulação entre pesquisa científica e prática profissional, mediante deslocamento da ênfase nas intenções e nos delineamentos formais da política pública para enfocar a qualidade das relações humanas e das produções subjetivas que estão sempre além daquilo que é explícito nos contextos institucionais. A pesquisa envolveu um trabalho de campo ao longo de 43 meses em um Centro de Atenção Psicossocial do Distrito Federal do Brasil, conduzido a partir da metodologia construtivo-interpretativa. Nesse processo, o pesquisador participou de diversas atividades do cotidiano do serviço, o que possibilitou a criação de um vínculo com pessoas atendidas e profissionais da equipe técnica, que, gradualmente, tornaram-se participantes da pesquisa. Diferentes instrumentos de pesquisa foram utilizados, tais como dinâmicas conversacionais, reflexões autobiográficas e exercícios escritos, de modo que todos esses recursos visaram favorecer momentos dialógicos que permitissem a abordagem de temas importantes para o estudo. Os resultados da pesquisa são apresentados em três eixos temáticos: (1) Nova institucionalização e subjetividade: entraves para ir além; (2) O caso de Sebastião; (3) Educação permanente, saúde mental e ética do sujeito: o trabalho com a equipe profissional. As conclusões do estudo evidenciam que as configurações subjetivas de transtornos mentais são constituídas pela organização de sentidos subjetivos gerados a partir de diferentes processos de vida, não coincidindo necessariamente com a emergência de seus sintomas comportamentais – o que demanda um olhar que extrapole a centralidade do psicodiagnóstico e das práticas medicamentosas, característica do quadro da nova institucionalização. Nesse sentido, práticas educativas voltadas ao desenvolvimento subjetivo do outro implica relações dialógicas que provoquem o favorecimento de seu protagonismo. A ênfase no caráter gerador do outro e no favorecimento de sua singular integração ao complexo contexto da vida social, considerando sua capacidade de ação e ruptura, é o que fundamenta o cerne de um trabalho pautado por uma ética do sujeito no campo da saúde mental. Assim, uma prática emancipadora nunca está pronta por um discurso prévio à ação na qual emerge, pois se remete a condições singulares e complexas de emergência de sujeitos, que transcendem qualquer pretenso hiato entre saúde mental, educação e cultura.This study stems from the concerns regarding emerging challenges in the process of the psychiatric reform in Brazil, with emphasis on the new institutionalization phenomenon, understood as an expression of the asylum model in substitutive mental health services. In addition to criticizing practices that culminate in such phenomenon, a theoretical, epistemological and political position is adopted, aimed at depathologizing life and overcoming the fragmentation of human processes, with emphasis on the articulation between the fields of mental health, education and subjective development. The main objective of the study was to elaborate a theoretical model that supports educational practices aimed at the subjective development of people attended by a Psychosocial Care Center and of the services professional team, in order to theoretically explain mental disorders as a subjective configuration and its implications regarding a treatment aimed at an ethics of the subject. González Rey’s theory of subjectivity from a cultural-historical perspective and his qualitative epistemology were assumed as a platform of thought. These theoretical and epistemological references have favoured a complex articulation between scientific research and professional practice, by displacing the emphasis on intentions and the formal delineations of public policy to focus on the quality of human relations and subjective productions that are always beyond what is explicit in institutional contexts. The research involved field work based on the constructive-interpretative methodology during 43 months. During this process, the researcher participated in several daily activities of the service, which allowed the creation of an affective bond with service users and professionals, who gradually became participants in the research. Different research tools were used, such as conversational dynamics, autobiographical reflections and written exercises, in such a way that all these resources aimed to favour dialogic moments that allowed the approach of important topics for the study. The results of the research are presented in three thematic axes: (1) New institutionalization and subjectivity: obstacles in going beyond beyond; (2) The case of Sebastião; (3) Permanent education, mental health and ethics of the subject: the work with the professional team. The conclusions of the study indicate that subjective configurations of mental disorders are constituted by the organization of subjective senses generated from different life processes, not necessarily coinciding with the emergence of their behavioural symptoms - which demands a look that goes beyond the centrality of the psychodiagnosis and medication, characteristic of the new institutionalization phenomenon. In this sense, educational practices aimed at the subjective development of the other imply dialogic relations that provoke the favoring of his/her protagonism. The emphasis on the generative character of the other and the favoring of his/her singular integration into the complex context of social life, considering his/her capacity for action and rupture, is what sustains the core of a work based on an ethics of the subject in the field of mental health. Thus, an emancipatory practice is never ready beforehand by a discourse prior to the action in which it emerges, since it refers to singular and complex conditions of the emergence of subjects, which transcends any pretended gap between mental health, education and culture.Este trabajo surge de la preocupación por los nuevos desafíos en el proceso de reforma psiquiátrica en Brasil, haciendo énfasis en el fenómeno de la nueva institucionalización, entendida como una expresión de una lógica manicomial en los servicios sustitutivos de salud mental. Más allá de criticar las prácticas que llevan a este fenómeno, se adopta un posicionamiento teórico, epistemológico y político que enfatiza la despatologización de la vida y la superación de la fragmentación de los procesos humanos, destacando el vínculo entre los campos de la salud mental, la educación y el desarrollo subjetivo. En este contexto, el objetivo principal del trabajo fue elaborar un modelo teórico que apoya prácticas educativas centradas en el desarrollo subjetivo de personas atendidas por un Centro de Atención Psicosocial y su equipo de profesionales, y que explica teóricamente el trastorno mental como configuración subjetiva y sus desdoblamientos para un tratamiento que enfatiza una ética del sujeto. Los referenciales de la teoría de la subjetividad en una perspectiva cultural-histórica y la epistemología cualitativa de González Rey fueron asumidos como plataforma de pensamiento. Tales referenciales favorecieron una articulación compleja entre investigación científica y práctica profesional mediante el desplazamiento del énfasis en las intenciones y en los criterios formales de la política pública para centrarse en la calidad de las relaciones humanas y en las producciones subjetivas que están siempre más allá de lo que es explícito en los contextos institucionales. La investigación consistió en un trabajo de campo a lo largo de 43 meses en un centro de atención psicosocial en el Distrito Federal de Brasil, conducido bajo la perspectiva de la metodología constructivo-interpretativa. En este proceso, el investigador participó de diversas actividades diarias del servicio, lo que permitió la creación de un vínculo con personas atendidas y con profesionales del personal técnico, que, poco a poco, se convirtieron en participantes de la investigación. Se utilizaron diferentes instrumentos de investigación, como dinámicas conversacionales, reflexiones autobiográficas y ejercicios escritos. Todos los instrumentos fueron dirigidos a favorecer momentos dialógicos que permitieran el enfoque de temas importantes para el estudio. Los resultados de la investigación se presentan en tres ejes temáticos: (1) Nueva institucionalización y subjetividad: barreras para ir más allá; (2) El caso de Sebastião; (3) Educación permanente, salud mental y ética del sujeto: el trabajo con el equipo profesional. Los resultados muestran que las configuraciones subjetivas de los trastornos mentales se constituyen por la organización de sentidos subjetivos generados a partir de diferentes procesos de vida, que no coinciden necesariamente con la aparición de los síntomas comportamentales – lo que requiere una mirada que va más allá de la centralidad del psicodiagnóstico y de las prácticas medicalizantes, característica del marco de la nueva institucionalización. En este sentido, prácticas educativas centradas en el desarrollo subjetivo del otro implica relaciones dialógicas que provoquen el favorecimiento de su protagonismo. El énfasis en el carácter generador del otro y en el favorecimiento de su integración singular al complejo contexto de la vida social, teniendo en cuenta su capacidad de acción y ruptura, es el núcleo que subyace a un trabajo marcado por una ética del sujeto en el campo de la salud mental. De esta manera, una práctica emancipatoria nunca está elaborada por un discurso anterior a la acción en la que emerge, pues en realidad se remite a las condiciones singulares y complejas de emergencia de sujetos, que trascienden cualquier supuesto laguna entre salud mental, educación y cultura
O desenvolvimento humano pela ótica da teoria da subjetividade: uma proposição teórica alternativa dentro do referencial cultural-histórico
Esta apresentação tem como objetivo discutir o conceito de desenvolvimento humano, a partir das contribuições da Teoria da Subjetividade, elaborada por González Rey, dentro de uma abordagem cultural-histórica. Para tanto, primeiramente, critica-se correntes hegemônicas nesse campo, que, amiúde representam perspectivas teleológicas e moralistas sobre o ser humano. Em segundo lugar, são apresentadas algumas contribuições da psicologia soviética, bem como de correntes da psicologia crítica que inspiraram as elaborações teóricas de González Rey. Por fim, discute-se contribuições específicas da Teoria da Subjetividade para o tema, com destaque à lógica configuracional do desenvolvimento humano, enfatizando o conceito de configuração subjetiva. Esse referencial teórico propõe a articulação indissolúvel entre processos simbólicos e emocionais, o que se torna uma importante premissa no intuito de superar diversas dicotomias que ainda prevalecem nas concepções sobre desenvolvimento humano, tais como social/individual, externo/interno e consciente/inconsciente. Nesse sentido, essa integração favorece a criação de caminhos de inteligibilidade alternativos sobre complexos fenômenos humanos, permitindo a articulação teórica de campos tradicionalmente fragmentados, como a educação e a saúdeResumo de trabalho submetido e aceito no XXXV Congresso Interamericano de Psicologia (2015
Epistemologia qualitativa, posicionamento político e instituições sociais: desafios de um caminho em processo
Esta apresentação tem como objetivo discutir desafios atuais do referencial da Epistemologia Qualitativa, elaborado por González Rey, a partir de pesquisas baseadas em suas balizas nas últimas duas décadas. Para tanto, primeiramente, são apresentados os princípios dessa proposta, em articulação aos seus critérios de legitimidade. Destaca-se, nessa reflexão, o desafio de constituir um posicionamento criativo no fazer-pesquisa, mas que implique indissociavelmente consistência, rigor e abertura ontológica por parte do pesquisador. Em segundo lugar, são discutidas imprecisões cometidas por pesquisas que tem adotado o referencial da Epistemologia Qualitativa, sobretudo as tendências ao “descritivismo” e ao “romanceamento”, frequentemente associadas ao mau uso da lógica configuracional da pesquisa. Por fim, são discutidos desafios implicados no compromisso de construir uma ética do sujeito na pesquisa científica, não somente na forma de conceber os participantes implicados nos estudos sob esse referencial, mas fundamentalmente na constituição do papel do pesquisador. É nessa condição de sujeito que reside a possibilidade de forjar caminhos investigativos que não desvinculem ciência, prática profissional e política no âmbito das instituições sociaisResumo de trabalho submetido e aceito no XXXV Congresso Interamericano de Psicologia (2015
Transfobia, saúde mental e a subjetividade: um estudo de caso
A transfobia é um fenômeno recorrente em nossa cultura e sociedade e está fortemente associada a processos de violência, discriminação, exclusão e silenciamento. Desse modo, Este trabalho surge com a inquietude de se tencionar e compreender a forma com que os serviços de saúde mental estão lidando com essas complexidades humanas e de como o transtorno mental, enquanto configuração subjetiva, se desdobra a partir de um tratamento que visa a ética do sujeito e em que se expressam as mais diversas formas de produções subjetivas, sejam elas individuais ou sociais. Nesse sentido, o objetivo central do trabalho foi compreender a configuração subjetiva do transtorno mental de um indivíduo que se considere transexual e que é atendido/a por um Centro de Atenção Psicossocial do Distrito Federal. Para tanto, foi utilizado o método construtivo-interpretativo, sustentado nos fundamentos da Epistemologia Qualitativa, articulado na Teoria da Subjetividade em uma abordagem cultural-histórica de González Rey. Em termos metodológicos, esta pesquisa fundamentou-se em uma imersão em campo de seis meses em um CAPS do DF e foram realizados dez encontros individuais com a participante. Nesse processo, a pesquisadora pôde participar de uma atividade do serviço e de conversas com alguns profissionais da equipe, que, gradualmente, foram tornando possível o contato com a participante do estudo de caso. Os instrumentos utilizados na pesquisa foram diversas dinâmicas conversacionais, um exercício escrito e a apresentação de partes de filmes, seguidos por dinâmicas conversacionais logo após. Os resultados da pesquisa são apresentados em dois eixos temáticos: (1) Por que você condena alguém por não ser você?; (2) Desenvolvimento Subjetivo a partir da vivência em um CAPS. De modo geral, conclui-se que a configuração subjetiva do transtorno mental se organiza a partir de sentidos subjetivos gerados perante a complexidade da vida e seus processos singulares. Pôde-se vislumbrar os obstáculos e contrariedades que a vida muitas vezes impõe, mas, para além de pensar que necessariamente a transfobia vai em direção a existência do transtorno mental, percebe-se a singularidade e diversas formas de se organizar subjetivamente a partir de processos normatizadores e que geram sofrimento. Os serviços ofertados pelo CAPS, além das críticas relativas à sua prática, que muitas vezes, mantém a transfobia e objetificação de usuários, foram extremamente importantes no que diz respeito ao favorecimento de pessoas agentes de suas próprias vidas e ao enfatizar novas produções subjetivas no outro
O POPULAR E A ASSISTÊNCIA EM SAÚDE MENTAL: UMA INCURSÃO ETNOGRÁFICA
O objetivo deste estudo é refletir, mediante incursão etnográfica, sobre as possibilidades de permeabilidade do popular na assistência pública em saúde mental, mais especificamente, no contexto de um Centro de Atenção Psicossocial II, localizado no Distrito Federal do Brasil. Para tanto, foram acompanhadas algumas atividades cotidianas do serviço, de modo que as observações e conversas tecidas nessa aproximação foram registradas em diário de campo e, posteriormente, analisadas. As informações construídas sugerem a complexidade e algumas possibilidades existentes na relação entre o hegemônico e o popular no contexto estudado.Â
O SUBJETIVO E O OPERACIONAL NA APRENDIZAGEM EM CIÊNCIAS: UMA ARTICULAÇÃO ENTRE TIPOS DE APRENDIZAGEM E TIPOS DE CONTEÚDO
RESUMO: Este artigo teve sua gênese no parecer do artigo de Alves, Parente, Bezerra e Bezerra (2022), construído pela primeira autora deste trabalho. Seu objetivo é promover reflexões acerca da possível articulação entre os processos subjetivos e operacionais na aprendizagem em ciências. Nesse sentido, procuramos delinear uma articulação entre os tipos de aprendizagem trazidos por Mitjáns Martínez e González Rey, tendo como alicerce a Teoria da Subjetividade em uma abordagem cultural-histórica, e os tipos de conteúdo elaborados por Pozo e Crespo, tendo como base o trabalho inaugural de Alves, Parente, Bezerra e Bezerra (2022), que apresenta e relaciona essas abordagens. Mais do que um comentário crítico a respeito dessa aproximação feita pelos autores, este artigo teve como foco discutir algumas nuances dessa aproximação construída por eles, enfatizando as contribuições da Teoria da Subjetividade de González Rey
The subjective and the operational in science learning: an articulation between types of learning and types of content
Este artigo teve sua gênese no parecer do artigo de Alves, Parente, Bezerra e Bezerra (2022),
construído pela primeira autora deste trabalho. Seu objetivo é promover reflexões acerca da
possível articulação entre os processos subjetivos e operacionais na aprendizagem em ciências.
Nesse sentido, procuramos delinear uma articulação entre os tipos de aprendizagem trazidos
por Mitjáns Martínez e González Rey, tendo como alicerce a Teoria da Subjetividade em uma
abordagem cultural-histórica, e os tipos de conteúdo elaborados por Pozo e Crespo, tendo
como base o trabalho inaugural de Alves, Parente, Bezerra e Bezerra (2022), que apresenta e
relaciona essas abordagens. Mais do que um comentário crítico a respeito dessa aproximação
feita pelos autores, este artigo teve como foco discutir algumas nuances dessa aproximação
construída por eles, enfatizando as contribuições da Teoria da Subjetividade de González Rey.This paper had its genesis in the Alves, Parente, Bezerra and Bezerra (2022) paper’s review, which was elaborated by the first author of this work. Its purpose is to promote reflections about the possible articulation between subjective and operational processes in science learning. In this sense, we pursue to delineate an articulation between the types of learning introduced by Mitjáns Martínez and González Rey, based on the Theory of Subjectivity from a cultural-historical approach, and the types of content developed by Pozo and Crespo, based on the inaugural work of Alves, Parente, Bezerra and Bezerra (2022), which presents and relates these approaches. More than a critical comment on this approach made by the authors, this paper focused on discussing some nuances of this approach developed by them, emphasizing the contributions of González Rey’s Theory of Subjectivity.Este artículo tuvo su génesis en el parecer del artículo de Alves, Parente, Bezerra y Bezerra
(2022), desarrollado por la primera autora de este trabajo. Su propósito es promover algunas
reflexiones sobre la posible articulación entre los procesos subjetivos y operacionales en el
aprendizaje de ciencias. En este sentido, buscamos esbozar una articulación entre los tipos de
aprendizaje que traen Mitjáns Martínez y González Rey, a partir de la Teoría de la Subjetivi dad en un enfoque cultural-histórico, y los tipos de contenido desarrollados por Pozo y Cres po, a partir del trabajo inaugural de Alves, Parente, Bezerra y Bezerra (2022), que presenta y
relaciona estos enfoques. Más que un comentario crítico sobre este enfoque realizado por los
autores, este texto se centró en discutir algunos matices de esta aproximación construida por
ellos, enfatizando los aportes de la Teoría de la Subjetividad de González Re