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Coisas, E A Morte Que Existe Nelas. Murilo Mendes E O Trabalho Do Poeta
É constante na obra de Murilo Mendes a crítica à ideia de trabalho. Se, por um lado, tal crítica coincide com aquela de Marx à alienação do trabalhador em seu produto, por outro Murilo, de maneira criticamente irônica, acaba por conceber o trabalho do poeta como uma espécie de mímese explicitadora – ao mesmo tempo que transfiguradora – deste processo de alienação e reificação. Do mesmo modo, o poeta compartilha da crítica marxista da mercadoria, sem, no entanto, abrir mão da energia implícita na lógica vertiginosa desta, tampouco da força plástica inerente a suas fantasmagorias. Com essa poética da ambivalência, de quem não crê em simples recusa ou abstenção frente à negatividade do real, Murilo parece buscar não fugir à história e à sua verdade. Palavras-chave: Murilo Mendes; poesia; trabalho; mercadoria; sublime. It is constant in Murilo Mendes'work the criticism to the idea of labor. If on one hand such criticism coincides with that from Marx about the alienation of the worker in his product, on the other Murilo, in a critically ironic manner, ends up conceiving the poet's work as some kind of mimesis that makes explicit – while transfiguring – this alienation and reification process. The poet likewise shares the Marxist critique of the commodity without giving up either the energy implicit in the vertiginous logic of that or the plastic force inherent in its phantasmagorias. With this ambivalence's poetics of those who don't believe in simply refusing or abstaining face the negativity of the real, Murilo seems to seek not to run from the history and its truth. Keywords:Murilo Mendes; poetry; work; merchandise; sublime.32
Dante e a Pré-História da Lírica Moderna
Neste artigo, examina-se o modo como Dante construiu sua obra a partir de uma reflexão histórica e teórica sobre a lírica imediatamente anterior, seja esta, de início, aquela do trovadorismo provençal, seja, logo depois, aquela da corte siciliana de Frederico II. Dedica-se especial atenção à Vita Nova, dado que, neste texto juvenil, se definiram algumas características que seriam fundamentais não somente para a obra maior de Dante, a Commedia, mas também para larga parcela da lírica ocidental, que só foi pós-petrarquiana por ter sido, antes, pós-dantesca
Cadáveres, vagalumes, fogos-fátuos
Eduardo Sterzi reflete sobre o conceito de sobrevivência nas artes a partir da leitura das obras de Pasolini e Didi-Huberman
From voice to letter
A decisive moment in the formation of modern literary culture is that signaled by the transition from a predominantly oral poetry to a predominantly written poetry. The form of the sonnet, which emerged in thirteenth century Italy, plays a crucial role in this passage - and not by accident it is based on this form that Dante Alighieri proposes a new conception of lyric, distinguished by an intellectual seriousness that troubadourship did not know.Momento decisivo na constituição da cultura literária moderna é aquele assinalado pela transição de uma poesia predominantemente oral para uma poesia predominantemente escrita. A forma do soneto, que emergiu na Itália do século XIII, desempenha papel decisivo nesta passagem - e não por acaso Dante Alighieri partirá dela para propor, com sua obra, uma nova concepção de lírica, distinguida por uma seriedade intelectual que o trovadorismo desconhecia.16517
O drama do poeta
Apesar da retórica de tabula rasa que aparece em tantos pontos de sua obra, Oswald de Andrade construiu sua combinação de literatura e teoria a partir de uma releitura renovadora de momentos decisivos da tradição. Dante Alighieri tem aí papel fundamental. É certo que as constantes referências a Dante na obra de Oswald podem ser vistas, por um lado, como um simples jogo com a tradição. Por outro, porém, podem ser interpretadas como expressões da consciência de que, na obra de Dante, se entabulara uma partida decisiva para a configuração da literatura – e das artes em geral – dali por diante. Ou seja, algumas das questões propostas originalmente por Dante talvez continuassem a interrogar os modernistas brasileiros – como, de resto, interpelavam, à mesma época, escritores de outras paisagens, como Eliot e Mandelstam. Busca-se aqui, por meio de um exame da reproposição de figuras dantescas na peça A morta, de 1937, avaliar a relevância do autor florentino para a constituição da ideia oswaldiana de Antropofagia (repensada aqui como uma teoria da poesia)
Terra Devastada: Persistências De Uma Imagem
In this article, we study the persistence of waste land topos (a medieval topos recovered by T. S. Eliot for modernity, through his 1922 poem) in some Brazilian contemporary poets.34
Suíte Antelo
Recuperam-se, nesta suíte, dois textos concebidos originalmente como resenhas de livros de Raúl Antelo, Maria con Marcel. Duchamp en los trópicos e Tempos de Babel. Destruição e anacronismo
Da fotografia como circum-navegação da antropologia
“Eu fotografo, mas não sou fotógrafo [...]”. “Eu [...] vejo a fotografia como um modo de fugir da antropologia, de sair da antropologia, assim como vi na antropologia indígena que eu escolhi como profissão um modo de sair do Brasil.” Jamais foram simples – por mais que tenham sido constantes – as relações entre antropologia e fotografia no percurso intelectual de Eduardo Viveiros de Castro. Durante muito tempo, até recentemente, era perceptível certo desconforto do antropólogo quando convidado a discorrer sobre suas experiências fotográficas. Esse desconforto vinha talvez de não saber indicar exatamente qual o lugar que a fotografia ocupava em meio a uma prática antropológica sempre mais consolidada e reconhecida. É essa própria persistência da fotografia a despeito do desconforto que, porém, merece ser pensada. Abstract“I do take photographs, but I am not a photographer [...]”. “I [...] see photography as a way of escaping from anthropology, leaving anthropology, just as I saw in indigenous anthropology, which I chose as a profession, as a way of getting away from Brazil.” Relations between anthropology and photography—however constant—have never been straightforward in Eduardo Viveiros de Castro’s intellectual development. For a long time, indeed until quite recently, he clearly evinced discomfort or hesitancy when asked to discuss his photographic experiences—perhaps due to an inability to pinpoint photography’s role in his increasingly consolidated and recognized anthropological practice. However, it is this very persistence of his photography—despite his discomfort—that ought to be examined
Uns índios (suas falas)
Listening to indigenous speech - or, more precisely, indigenous speeches - has been, throughout the history of Brazilian literature, a decisive procedure for the configuration of the most varied poetics, from Romanticism, or even before, to the present. A fundamental characteristic of this listening (of those listenings, since they are also multiple) is the poetic - and even political - force that, in it (in them), misunderstandings, equivocations, incomprehensions and overinterpretations can acquire. A escuta da fala indígena - ou, mais exatamente, das falas indígenas - tem sido, ao longo da história da literatura brasileira, um procedimento decisivo para a configuração das mais variadas poéticas, do Romantismo, ou antes, até o presente. Característica fundamental dessa escuta (dessas escutas, já que também são múltiplas) é a força poética - e mesmo política - que, nela (nelas), podem adquirir mal-entendidos, equívocos, incompreensões, superinterpretações. Neste artigo, são examinados alguns momentos de escuta das falas indígenas por Guimarães Rosa, nos textos “Meu tio o Iauaretê”, de Estas estórias (a partir das leituras decisivas de Haroldo de Campos e Eduardo Viveiros de Castro), “Makiné”, do livro póstumo Antes das Primeiras estórias, e “Uns índios (sua fala)”, do também póstumo Ave, palavra
Dante e a lírica: entre teoria e poesia
Embora Dante Alighieri, sobretudo com o De vulgari eloquentia e a Vita Nova, tenha desempenhado papel fundamental na consolidação da ideia moderna de lírica, isto é, da ideia de uma lírica vernacular, subjetiva e autorreflexiva, não encontramos a palavra lírica em nenhum ponto de sua obra. Examinamos aqui as possíveis razões dessa ausência e refletimos sobre o que ela pode significar para a compreensão de uma história da lírica moderna que ali, em alguma medida, se inicia
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