9 research outputs found
Os objectivos estratégicos do DAESH na Europa
O DAESH é uma organização política híbrida que se reifica na violência. Responde a uma estratégia
subversiva global de longo prazo, motivada pelos princípios ideológicos do jihadismo, do qual a acção terrorista é apenas uma faceta operacional (Duarte, 2015). Tem ambições geopolíticas concretas,mas que excedem a dimensão de fronteira, actuando em várias frentes de combate. A Europa é apenas mais um dos teatros de operações do DAESH. Aqui, os objectivos da actuação são muito concretos: punir, desestabilizar, polarizar e alterar as dinâmicas políticas
O Jihadismo Global – a (in)coerência estratégica de um movimento metapolítico
O Jihadismo Global é aqui entendido como sendo uma forma violenta de acção subversiva
de um movimento mais abrangente, defi nido pela academia ocidental como Islamismo, ou
activismo Islâmico. A organização mais representativa do Jihadismo Global é a Al-Qaeda
e Movimentos Associados. Com base numa leitura temporal comparativa, tentaremos criar
um modelo de análise que ajude a demonstrar se há, ou não, um corpo estratégico no movimento
do Jihadismo Global. Caso tal se venha a verifi car, procuraremos analisar as formas
estratégicas que foi assumindo antes e depois dos acontecimentos de 11 de Setembro de
2001 e da subsequente Guerra Global ao Terrorismo.
De uma perspectiva conceptual, o objectivo principal passa por perceber as linhas estratégicas
do jihadismo, e de que forma os acontecimentos subsequentes ao 11 de Setembro de
2001 infl uenciaram o percurso dessas linhas. Este objectivo assenta em três pontos: 1) verifi
car se há, ou não, continuidade e coerência estratégica no movimento - nomeadamente na
narrativa que a fundamenta, na defi nição e circunscrição do inimigo, e na operacionalização
do uso da força na persecução dos objectivos, 2) assumindo a incoerência e descontinuidade
estratégica, procurar-se-á identifi car as causas externas e internas que levam (ou levaram) a
essa impossibilidade no campo estratégico, 3) perante este último ponto, tentar perceber de
que forma o movimento tem tentado ultrapassar essa lacuna, sobretudo no que diz respeito
às formas organizativas, doutrina de combate, e operacionalização da acção subversiva
A criatividade estratégica da Al-Qaeda
A dificuldade de ação do comando central perante as várias medidas associadas à “Guerra Global ao Terrorismo”, levou à simultânea descentralização e desterritorialização estrutural da al-Qaeda. O comando foi perdendo proeminência. Todavia, para uma efetiva consecução da vitória, a aplicação coletiva
da força jihadista deverá ser orquestrada. Quando a ação parte do comando central ainda se garante a transmissão certa da mensagem operacional e estratégica. Com a decapitação das cúpulas e o quase ruir da estrutura central, esta dinâmica tornou-se quase impossível. Ainda assim, a al-Qaeda mantém-se operacional e uma ameaça. Se a orquestração operacional depender de uma estrutura de cadeia de comando e controlo aumenta o grau de vulnerabilidade da organização. Mas a descentralização e a liberalização da jihad global dificultam a coordenação com prioridades estratégicas e impedem ações resultantes de boa aplicação de sinergias, como por exemplo, ataques em larga escala. Este artigo procura compreender de que forma é que a al-Qaeda mantem a uniformidade da ação armada jihadista, não obstante a ausência de uma estrutura que conceba uma doutrina militar
O jihadismo global : teoria à prática : contributos para o estudo da estratégia de subversão armada de um antimovimento secular
Os atentados de 11 de Setembro de 2001 trouxeram para o nosso quotidiano
assuntos, como o Jihadismo Global e a al-Qaeda, que nem sempre foram interpretados da
melhor forma. Se por um lado foram assumidos como manifestações de violência armada
de uma determinada religiosidade, por outro foram também encarados como algo
inovador e paradigmático. A estas duas condicionantes ainda acrescentamos o facto desta
violência armada ser lida também como o fruto de uma organização disfuncional,
operacionalmente controversa e estrategicamente inconstante. Ou seja, falamos de uma
violência não-instrumental, irracional, empurrada pelo fanatismo religioso e ofuscada pelo
culto do martírio.
Nesta dissertação procurámos demonstrar que, na verdade, a violência armada em
nome do Jihadismo Global não é necessariamente uma manifestação violenta do Islão.
Aliás, no que se reivindica há propósitos políticos e fórmulas seculares bem delineadas.
Além disso, há uma aplicação eficiente e instrumental da violência armada, fruto de uma
estratégia racional e de longo prazo, que visa objectivos necessários à vitória jihadista.
Porém, para manter coerência, nem sempre essa estratégia foi constante. Adaptou-se à
contingência de maneira a garantir a sobrevivência da ideologia jihadista global e da sua
versão reificante, a al-Qaeda. Identificámos as causas externas e internas que levam (ou
levaram) a essa inconstância e descontinuidade. E, analisando a componente teórica e
prática do Jihadismo Global, interpretámos a maneira como foram ultrapassadas essas
lacunas, sobretudo no que diz respeito às formas organizativas, doutrina de combate e
operacionalização da acção subversiva
Lealdades e martírio: duas vantagens operacionais no Jihadismo
Há vários conceitos de forte carga islâmica
que marcam o jihadismo. A fundamentação religiosa
para a violência ajuda a erodir críticas, legitimar
e alicerçar determinadas acções tácticas de grande
impacto estratégico, como é o caso do terrorismo.
Aludiremos apenas a três exemplos de elementos
doutrinais religiosos que, pela sua efectividade
operacional, desestabilizam estrategicamente o inimigo,
sendo cruciais na acção jihadista. Para além
do conceito de jihad, que ocupa uma parte central
na justificação da acção armada, estes conceitos
são frequentes nos discursos dos líderes jihadistas.
Compreendê-los revela-se fundamental para ler
a dimensão estrutural e operacional da al-Qaeda
(e grupos associados), bem como do Estado Islâ-
mico. Falamos então de bay’at, de al-Wala wal-
-Bara, e do conceito de shaheed/istishhâd
“Jihadismo de natureza autóctone” e “lobos solitários”: a terceira forma de al-Qaeda
À semelhança da água que pode ter três estados
(líquido, sólido e gasoso), em década e meia
a al-Qaeda reificou-se em três formas: uma central,
outra periférica e outra inspiradora. A primeira
remonta à génese da organização e pode
ser identificada numa estrutura de uma cadeia
de comando e controlo. A segunda, que se assume
depois dos ataques de 11 de Setembro de 2001,
assenta numa rede global de células e outras
organizações jihadistas, em jeito de estrutura
franchisada. Por fim, há uma terceira forma que
foi surgindo na clara impossibilidade de uma
estrutura identificada de comando e controlo.
Ganha proeminência a partir da segunda metade
da década de 2000. Pode ser reconhecida não
como uma organização, mas como um sistema
que parte de uma ideologia e que assenta numa
estrutura fluida, não verticalizada, difusa, sem
hierarquia, e que navega numa rede virtual.
Temos então uma al-Qaeda multiforme que se
adapta consoante o teatro de operações
Violência Política: do Estado à Subversão do Estado - Análise sobre um Modelo Conceptual: Political Violence: From State to State Subversion - Analysis of a Conceptual Model
This is a conceptual, anthological and descriptive article. We will refer to the problems of the theoretical forum related to the definition of violence and associate it not only with the exercise of power but with its overthrow. We expose it from a dialectical perspective. First, violence is analyzed as a form of constitution of the state; secondly as a form of state maintenance; and, lastly, as a form of state destruction. In other words, in the first two perspectives, violence is seen as an institutional element, and in the last one it is analyzed as a way to challenge that same institutional dimension. Thus we enter the field of subversion. The article refers to conceptual representations that see violence as an instrumental dimension, structured or unstructured, guaranteeing a possible political transformation or subsistence, either at the institutional or non-institutional level. Thus we speak of violence as a continuation of politics, but by other means.
Resumo
Este é um artigo conceptual, antológico e descritivo. Referir-nos-emos aos problemas do foro teórico relacionados com a definição de violência e associamo-la não só ao exercício do poder como à sua derrocada. Expomo-la aqui de uma perspectiva dialéctica. Em primeiro é analisada a vioência como forma de constituição de Estado; em segundo como forma de manutenção de Estado; e; por último, como forma de destruição de Estado. Ou seja, nas duas primeiras perspectivas a violência é vista como um elemento institucional, para na última ser analisada como forma de pôr em causa essa mesma dimensão institucional. Assim entramos no campo da subversão. O artigo refere-se a representações conceptuais que vêem na violência uma dimensão instrumental, estruturada ou não-estruturada, garante de possível transformação ou subsistência política, quer ao nível institucional ou não-institucional. Falamos assim da violência como continuação da política, mas por outros meios
Os ataques de 11 de setembro : outras leituras da violência política
The dynamics of political violence seem to be an inseparable point of concrete forms of power. And in Political Philosophy, this type of violence seems to remain inseparable from the role of the State. In very general terms, it is based, for example, on the Platonic criticism of the “tyrant”, on the Machiavellianism of the “prince” or on the Marxist criticism of domination. There is, therefore, a dialectic of political violence that places the state (or other political authority) at the center of the analysis. This type of violence thus assumes the role of a destructive or constructive praxis. In other words, the perpetrator of political violence acts for three reasons: by power, to take it or to create it. But the 9/11 attacks have redefined this framework for analysis. In addition to the instrumental dimension, the expressive character of political violence has come to be increasingly considered. Therefore, the role of political authority as the main analytical axis of this type of violence has become limited. Twenty years after the al-Qaeda bombings, political violence took on another meaning. As such, by excess, or by default, there are other models that should be considered and that place the emphasis on political violence beyond instrumentality.La dinámica de la violencia política parece ser un punto inseparable de formas concretas de poder. Y en Filosofía Política, este tipo de violencia parece seguir siendo inseparable del papel del Estado. En términos muy generales, se basa, por ejemplo, en la crítica platónica del “tirano”, en el maquiavelismo del “príncipe” o en la crítica marxista de la dominación. Existe, por tanto, una dialéctica de violencia política que sitúa al Estado (u otra autoridad política) en el centro del análisis. Este tipo de violencia asume así el papel de una praxis destructiva o constructiva. Es decir, el autor de la violencia política actúa por tres motivos: por poder, para tomarlo o para crearlo. Pero los ataques del 11 de septiembre han redefinido este marco de análisis. Además de la dimensión instrumental, el carácter expresivo de la violencia política se ha venido considerando cada vez más. Por tanto, el papel de la autoridad política como principal eje analítico de este tipo de violencia se ha vuelto limitado. Veinte años después de los atentados de al Qaeda, la violencia política adquirió otro significado. Como tal, por exceso, o por defecto, existen otros modelos que se deben tener en cuenta y que ponen el énfasis en la violencia política más allá de la instrumentalidad.As dinâmicas da violência política parecem ser um ponto indissociável de formas concretas de poder. Em termos muito genéricos assentam, por exemplo, na crítica platoniana do “tirano”, no maquiavelismo do “príncipe” ou na crítica marxista de dominação. Há, portanto, uma dialéctica da violência política que põe o Estado (ou outra autoridade política) no centro da análise. Este tipo de violência assume assim o papel de uma praxis destrutiva ou construtiva. Ou seja, o perpetrador de violência política age por três razões: pelo poder, para tomá-lo ou para criá-lo. Mas os ataques de 11 de setembro vieram redefinir este quadro de análise. A par da dimensão instrumental, o carácter expressivo da violência política passou a ser cada vez mais considerado. Por isso, o papel da autoridade política como principal eixo analítico deste tipo de violência tornou-se limitado. Vinte anos depois dos atentados da al-Qaeda, a violência política ganhou outro significado. Como tal, por excesso, ou por defeito, há outros modelos que deverão ser tidos em conta e que colocam a tónica da violência política para lá da instrumentalidade.