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Colonialidade, apropriação da terra e resistências de mulheres camponesas através da agroecologia
Neste ensaio apresento uma análise sobre as transformações provocadas pela agricultura colonial/moderna/capitalista, a partir das plantations, na vida de povos e na subordinação de mulheres. Parto da perspectiva decolonial e dos estudos feministas da ciência e da tecnologia, produzindo uma discussão sobre a separação dicotômica entre humanos e natureza, racional e irracional, homens e mulheres dentre outras. De acordo com Donna Haraway (2016), a partir do colonialismo, foram instituídos processos como o Plantationoceno, o Capitaloceno e o Antropoceno, que produziram transformações devastadoras do planeta, oriundas de formas extrativas em que a maioria das reservas da terra foram drenadas, queimadas, esgotadas, envenenadas, exterminadas e exauridas, destruindo os espaços-tempos de refúgio para as pessoas e os outros seres. A agricultura das plantations está centrada nas monoculturas e nas commodities para o comércio internacional de abastecimento dos países centrais do sistema mundo colonial moderno. Esse modelo se alicerçou na violência do trabalho escravo, marcado pela exploração de povos indígenas da América e da África. Além disso, constituiu o latifúndio, a concentração de terra e o controle do poder econômico e político nas mãos de um número reduzido de homens, brancos, europeus e cristãos. Anna Tsing (2015) define as plantations como sistemas de produção realizados por mão de obra de não proprietários e direcionados à exportação, nas quais as plantas cultivadas são exóticas e o trabalho é realizado à força por meio da escravização ou da extrema precarização. Para a autora, a empresa monocultora foi o motor da expansão europeia, da produção de riqueza e o modus operandi desse domínio. Como contraponto a esse modelo de agricultura extrativa – dos corpos, do trabalho e da biodiversidade –, discuto a agroecologia enquanto prática, movimento e ciência, que passa a conectar conhecimentos ancestrais de agri-culturas, nos quais o protagonismo de mulheres camponesas é central. A agroecologia pode apontar caminhos para compreendermos questões de gênero, ciência, tecnologia e relações entre humanos e extra-humanos
Acontecimentos e memórias da Rede Puxirão de Povos e Comunidades Tradicionais do Paraná
Neste artigo traçamos a genealogia da Rede Puxirão de Povos e Comunidades Tradicionais do Paraná, que agrega oito segmentos: indígenas, faxinalenses, quilombolas, cipozeiros, pescadores artesanais, ilhéus, detentores de ofícios tradicionais e comunidades de terreiro. A pesquisa foi realizada entre os anos de 2012 e 2015, através de observação participante das reuniões, entrevistas semiestruturadas com diversos interlocutores, além da análise de documentos (atas de reuniões, cartas finais dos encontros, fascículos das cartografias sociais etc.) ”“ que constituem o acervo de cada uma das organizações que compõem a Rede e as entidades apoiadoras. A partir das memórias e narrativas das lutas dos participantes, das formas de acionamento desse saber nas práticas e enunciações atuais dos segmentos, podemos visualizar suas formas de organização coletiva
Acontecimentos e memórias da Rede Puxirão de Povos e Comunidades Tradicionais do Paraná
Neste artigo traçamos a genealogia da Rede Puxirão de Povos e Comunidades Tradicionais do Paraná, que agrega oito segmentos: indígenas, faxinalenses, quilombolas, cipozeiros, pescadores artesanais, ilhéus, detentores de ofícios tradicionais e comunidades de terreiro. A pesquisa foi realizada entre os anos de 2012 e 2015, através de observação participante das reuniões, entrevistas semiestruturadas com diversos interlocutores, além da análise de documentos (atas de reuniões, cartas finais dos encontros, fascículos das cartografias sociais etc.) – que constituem o acervo de cada uma das organizações que compõem a Rede e as entidades apoiadoras. A partir das memórias e narrativas das lutas dos participantes, das formas de acionamento desse saber nas práticas e enunciações atuais dos segmentos, podemos visualizar suas formas de organização coletiva.This paper aims to map the genealogy of the Rede Puxirão de Povos e Comunidades Tradicionais do Paraná, a network that connects eight social groups: indigenous, faxinalenses, quilombolas, cipozeiros, artisanal fishermen, islanders, holders of traditional crafts and terreiro communities. The research was conducted between 2012 and 2015, through participant observation of meetings and semi-structured interviews with various interlocutors, as well as document analysis (minutes of meetings, final letters of meetings, fascicles of social cartography, etc.) – which constitute the collection of each of the organizations that make up the Rede and the supporting NGOs. From their memories and narratives of the participants’ struggles, the ways of activating this knowledge in the current practices and statements of the segments, it was possible to visualize their forms of struggle
A micropolítica e a segmentaridade da Rede Puxirão dos Povos e Comunidades Tradicionais do Paraná
Este artigo discute a atuação da Rede Puxirão de Povos e Comunidades Tradicionais do Paraná (que reúne faxinalenses, quilombolas, indígenas, benzedeiras, membros de religiões afro-brasileiras, cipozeiros, pescadores artesanais e ilhéus). Reunir-se coletivamente nesse espaço da Rede Puxirão requer dos agentes um exercício constante de alteridade, um movimento por meio do qual se deslocam de sua própria condição por meio da relação que estabelecem com os outros, através de uma micropolítica da percepção, da afecção, do diálogo etc. São, portanto, afetados, modificados e compostos como sujeitos individuais e coletivos. Nessa inter-relação, buscam construir um modo de reconhecimento mútuo, em que aquilo que afeta um segmento passa a ser considerado pelos demais nos encaminhamentos coletivos das lutas que realizam. Os segmentos se organizam coletivamente na Rede Puxirão, sem, contudo, se unificar, ou seja, as suas diferenças não se dissolvem na identidade do todo: ao mesmo tempo que eles se aproximam para realizar lutas conjuntas, cada segmento, e mesmo cada grupo, continua a realizar suas lutas específicas. Buscamos, desse modo, compreender como ocorre a organização política e que ações coletivas realizam e enunciam esses segmentos, em torno de demandas territoriais e de reconhecimento. Consideramos que, nas ações e nas enunciações desses grupos, há elementos importantes para pensar os movimentos sociais e a política na atualidade
Processos de resistência de mulheres camponesas: olhares pela perspectiva decolonial
Este artigo aborda as dinâmicas de organização de mulheres camponesas, observando como elas, em contextos específicos, constroem ações coletivas que produzem mudanças nas relações de poder e de opressão. A análise, orientada pela perspectiva decolonial, é um estudo de caso em uma agroindústria familiar no município de Pranchita-PR. As mulheres camponesas vivenciam situações que as diferenciam das mulheres urbanas e também dos camponeses (homens). Como parte de ambas as categorias (mulher e camponês), elas sofrem duplamente os efeitos da modernidade e da colonização. Dessa maneira, o objeto do artigo se encontra na intersecção de ambas as categorias - mulher camponesa.This article discusses the dynamics of resistance of peasant women, observing how they, in specific contexts, construct collective actions that produce changes in the relations of power and oppression. The analysis is a case study in a family agroindustry in Pranchita-PR, oriented by the decolonial perspective. We observe that women farmers experience situations that differentiate them from urban women and also from peasants (men). As part of both categories (woman and peasant) they suffer doubly the effects of modernity and colonization. In this way the object of the article lays at the intersection of both categories - peasant woman.Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educació
Processos de resistência de mulheres camponesas: olhares pela perspectiva decolonial
Este artigo aborda as dinâmicas de organização de mulheres camponesas, observando como elas, em contextos específicos, constroem ações coletivas que produzem mudanças nas relações de poder e de opressão. A análise, orientada pela perspectiva decolonial, é um estudo de caso em uma agroindústria familiar no município de Pranchita-PR. As mulheres camponesas vivenciam situações que as diferenciam das mulheres urbanas e também dos camponeses (homens). Como parte de ambas as categorias (mulher e camponês), elas sofrem duplamente os efeitos da modernidade e da colonização. Dessa maneira, o objeto do artigo se encontra na intersecção de ambas as categorias - mulher camponesa.This article discusses the dynamics of resistance of peasant women, observing how they, in specific contexts, construct collective actions that produce changes in the relations of power and oppression. The analysis is a case study in a family agroindustry in Pranchita-PR, oriented by the decolonial perspective. We observe that women farmers experience situations that differentiate them from urban women and also from peasants (men). As part of both categories (woman and peasant) they suffer doubly the effects of modernity and colonization. In this way the object of the article lays at the intersection of both categories - peasant woman.Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educació
Valor econômico do trabalho de mulheres rurais em Sistemas Agroindustriais Familiares de Base Ecológica (SAFEs)
Resumo Este artigo busca analisar as contribuições das mulheres rurais nos Sistemas Agroindustriais Familiares de Base Ecológica (SAFEs), demonstrando quantas horas as famílias agricultoras trabalham em diversas atividades, quanta renda cada atividade gera e a importância do trabalho das agricultoras. Assim, por meio do método de avaliação econômico-financeiro do valor agregado foi possível levantar as horas trabalhadas de todos(as) os(as) integrantes da família, em quatro atividades: produção primária, agroindústria, comércio e trabalho doméstico, e, depois, calcular a contribuição financeira individual para a composição da renda familiar. A pesquisa foi aplicada em 12 SAFEs, nos anos de 2020 e 2021, na região Sudoeste do Paraná. Os resultados mostram que, além de desempenharem um papel central no processamento de alimentos, trabalhando cerca de 75% das horas na agroindustrialização, as mulheres participam ativamente da produção primária, na construção de mercados alimentares e da gestão dos SAFEs. Mais ainda, geram, em média, 28 mil reais/ano com o trabalho doméstico não remunerado, sendo 95% das horas trabalhadas por elas. Dessa forma, a pesquisa mostrou que a inclusão produtiva das mulheres não diminuiu sua carga de trabalho em atividades reprodutivas, ocasionando dupla jornada. Mesmo assim, elas buscam maiores níveis de autonomia, independência financeira e ocupam espaços públicos, antes reservados aos homens
Movimentos de Emigração de Mulheres Rurais em Itapejara d’Oeste/PR: enfrentando relações de poder patriarcais
This article analyzes the relations of power, of knowledge and of being that, since colonialism, have constituted hierarchies around gender classifications. Our culture labels as non-civilized and non-human those who do not fit the hegemonic model; this label is used to understand the role of women in rural contexts. In rural areas, modern women seek to break with established relations of power, seeking greater independence and access to public leadership. Given these questions, it is worth asking: what are the factors that empower rural women? It is observed that education and non-agricultural income alternatives make it possible to break their invisibility in rural establishments. For the construction of the analysis, the statistical data are presented from a sample of 95 cases of the rural population of Itapejara d'Oeste / PR. The initial survey was carried out in 2005 and later updated in 2010 and 2015. Econometric tools, based on the limited dependent variable model (LDVM) were used. The results indicated the occurrence of a greater emigration of women related to higher education, as well as a decrease of this emigration when women started to have greater access to non-agricultural income in rural areas. Both forms of access to public space have given rural women greater independence and probably helped to break out of their invisibility.Este artículo analiza las relaciones de poder, saber y ser que, desde el colonialismo, han constituido jerarquías en torno a las clasificaciones de género. Nuestra cultura etiqueta como no civilizada y no humana a aquella(o)s que no se encuadran en el modelo hegemónico, esta etiqueta se utiliza para comprender el rol de las mujeres en el medio rural. En las zonas rurales, las mujeres modernas intentan romper las relaciones de poder establecidas, buscan más independencia y tener acceso al liderazgo público. Ante a estas cuestiones, cabe preguntarse: ¿Cuáles son los factores que empoderan a las mujeres? Se observa que la escolaridad y las alternativas de renta no agrícolas les permiten traspasar su invisibilidad en los establecimientos rurales. Para la construcción del análisis se presentan los datos estadísticos de una muestra de 95 casos de la población rural de Itapejara d'Oeste / PR, cuya investigación inicial fue realizada en 2005 y actualizada en 2010 y 2015, en este análisis, se utilizó herramientas econométricas basadas en el modelo de variable dependiente limitada (MVLD). Los resultados indicaron la ocurrencia de una mayor emigración de mujeres relacionada a más alta escolaridad, así como una reducción en esta emigración cuando las mujeres comenzaron a tener más acceso a ingresos no agrícolas en el medio rural. Ambas formas de acceso al espacio público han dado a las mujeres rurales una mayor independencia y probablemente les han ayudado a salir de su invisibilidad.Este artigo analisa as relações de poder, saber e ser que, desde o colonialismo, constituíram hierarquias em torno das classificações de gênero. Nossa cultura rotula como não civilizada e não humana aquelas(es) que não se enquadram no modelo hegemônico, esse rótulo é usado para entender o papel da mulher no meio rural. Nas áreas rurais, as mulheres modernas buscam romper com as relações de poder estabelecidas, procuram maior independência e acesso à liderança pública. Diante dessas questões, vale a pena perguntar: quais são os fatores que empoderam as mulheres rurais? Observa-se que a escolaridade e as alternativas de renda não agrícola possibilitam quebrar sua invisibilidade nos estabelecimentos rurais. Para a construção da análise, são apresentados os dados estatísticos de uma amostra de 95 casos da população rural de Itapejara d'Oeste/PR, cujo levantamento inicial foi realizado em 2005 e posteriormente atualizado em 2010 e 2015, nesta análise, utilizou-se de ferramentas econométricas, com base no modelo de variável limitada dependente (MVLD). Os resultados indicaram a ocorrência de uma maior emigração de mulheres relacionadas à maior escolaridade, bem como uma redução dessa emigração quando as mulheres passaram a ter maior acesso a rendimentos não agrícolas no meio rural. Ambas as formas de acesso ao espaço público deram às mulheres rurais maior independência e provavelmente ajudaram a sair de sua invisibilidade
Colonialismo, plantation e Antropoceno: o controle sobre corpos e territórios
Neste ensaio, apresentamos uma análise sobre as transformações provocadas nas agriculturas do Holoceno pela plantation. A partir do colonialismo, foram instituídos processos que produziram alterações devastadoras no planeta, destruindo espaços-tempos de refúgios para pessoas e outros seres, o que ocasionou o Antropoceno – período que remete às mutações geológicas decorrentes da ação humana. Como contraponto a esse modelo extrativista de corpos e territórios, discutiremos a agroecologia enquanto correlação de práticas, movimentos sociais e ciências que conectam modos de existência e conhecimentos ancestrais dos povos da terra, criando possibilidades de ressurgências multiespécies frente às catástrofes.In this essay, we present an analysis of the transformations caused in Holocene agriculture by plantation. Since colonialism, processes were instituted that produced devastating changes on the planet, destroying space-times of refuges for people and other beings, which caused the Anthropocene – a period that refers to geological mutations resulting from human action. As opposed to this extractive model of bodies and territories, we will discuss agroecology as a correlation of practices, social movements and sciences, that connect modes of existence and ancestral knowledge of the peoples of the earth, creating possibilities for multispecies resurgence in the face of catastrophes
INTERSECCIONALIDADE DE GÊNERO, RAÇA E CLASSE: uma análise da Educação Superior no Brasil
O objetivo deste artigo é analisar como a racionalidade moderna/colonial impôs relações hierárquicas e interseccionais de gênero, raça e classe que estruturaram a Educação Superior (ES) brasileira. A partir da perspectiva decolonial o ponto de partida é examinar a passagem da colonização para a colonialidade e as consequências produzidas pelas opressões, exclusões e encobrimentos de inúmeros grupos e sujeitos. Além disso, busca-se identificar, nesse processo, focos e movimentos de resistência. A partir de uma pesquisa qualitativa/exploratória, discute-se a colonialidade no campo acadêmico, bem como a ocupação deste espaço, a partir de um olhar histórico, mostrando o avanço da presença de mulheres, de negros e negras e de classes sociais da base da pirâmide econômica. Conclui-se que, mudanças significativas ocorreram no espaço acadêmico, especialmente ao longo do século XX, com a ampliação na ocupação do espaço acadêmico por esses grupos, entretanto, ainda se observa a insistente permanência da segregação de lugares ocupados pelos sujeitos segundo as áreas disciplinares.INTERSECTIONALITY OF GENDER, RACE AND CLASS: an analysis of Higher Education in BrazilAbstractThe objective of this paper is to analyse how modern/colonial rationality imposed hierarchical and intersectional relations of gender, race and class that structured Brazilian Higher Education (ES). From a decolonial perspective, the starting point is to examine the transition from colonization to coloniality and the consequences produced by the oppressions, exclusions and concealments of countless groups and subjects. In addition, it seeks to identify, in this process, resistance outbreaks and movements. From a qualitative / exploratory research, coloniality in the academic field is discussed, as well as the occupation of this space, from a historical perspective, showing the advance of the presence of women, black people and social classes from the base of the economic pyramid. It is concluded that, significant changes occurred in the academic space, especially during the 20th century, with the expansion of occupation of the academic space by these groups, however, there is still an insistent permanence of the segregation of positions occupied by the subjects according to the disciplinary areas.Keywords: Higher Education. Coloniality. Decolonial. Intersectionality. INTERSECCIONALIDAD DE GÉNERO, RAZA Y CLASE: un análisis de la Educación Superior en BrasilResumenEl propósito de este artículo es analizar cómo la racionalidad moderna/colonial impuso relaciones jerárquicas e interseccionales de género, raza y clase que estructuraron la Educación Superior Brasileña (ES). Desde la perspectiva decolonial, el punto de partida es examinar la transición de la colonización a la colonialidad y las consecuencias producidas por las opresiones, exclusiones y encubrimientos de innumerables grupos y sujetos. Además, busca identificar, en este proceso, focos y movimientos de resistencia. Desde una investigación cualitativa / exploratoria, se discute la colonialidad en el campo académico, así como la ocupación de este espacio, desde una perspectiva histórica, que muestra el avance de la presencia de mujeres, negros y clases sociales desde la base de la pirámide económica. Se concluye que se produjeron cambios significativos en el espacio académico, especialmente durante el siglo XX, con la expansión en la ocupación del espacio académico por parte de estos grupos, sin embargo, todavía existe una persistente permanencia de la segregación de los lugares ocupados por los sujetos de acuerdo con las áreas disciplinarias.Palabras clave: Educación Superior. Colonialidad. Decolonialidad. Interseccionalidad