43 research outputs found

    O corpo da língua: notas sobre a erótica literária brasileira

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    Este texto, sob o título “Desbocada e debochada: a língua erótica brasileira”, foi publicado originalmente na revista Olympio – Literatura e arte, v. 1, Belo Horizonte: Gráfica Formato, maio de 2018, pp. 81-85 e depois reproduzido na Revista Coletiva Fundaj, v. 26, p. s/n-s/n, 2019

    O decoro de uma cortesã

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    Entre as mudanças que abalaram a paisagem sensível europeia no final do século XIX, uma das mais inquietantes diz respeito à fabulação literária sobre a prostituta. O imaginário em torno do amor venal se modificou em paralelo ao gosto de um público cada vez menos identificado com as virtudes das heroínas românticas. Tais transformações repercutiram na literatura brasileira de modo particular. Afinal, no final dos Oitocentos, o país estava longe de partilhar a sociabilidade que dava base a essas mudanças na França, e os velhos valores patriarcais, católicos e escravocratas resistiam às equações mais modernas entre forma literária, erotismo e moralidade. É a partir desse quadro que se interpreta o conto “Singular ocorrência” (1883) de Machado de Assis, talvez o primeiro texto a demarcar uma mudança no modo de representar a personagem. Na história supostamente banal do relacionamento entre um homem poderoso e uma “Maria de tal”, interroga-se a performance da protagonista, cuja “discreta teatralidade” faz eco aos atributos das exuberantes cortesãs europeias.Among the changes that rocked the sensitive landscape of late-19th century Europe, one of the most disquieting concerned the literary fabulation of the prostitute. The general view on venal love accompanied the changing taste of a public that identified less and less with the virtues of romantic heroines. These transformations resonated in Brazilian literature in a very particular way. After all, in the 1800s, the country was far from sharing the sociability that had provided the bedrock for these changes in France, and the old patriarchal, Catholic and slave-owning values were holding firm against the more modern equations between literary form, eroticism and morality. It is against this backdrop that the present paper interprets Machado de Assis’ 1883 short story “Singular ocorrência” (A Singular Event), perhaps the first literary text in Brazil to register a change in the way the prostitute was represented. In this apparently banal story of a relationship between a powerful man and a strumpet, what calls attention is the protagonist’s performance, whose “discreet theatricality” echoes the attributes of the exuberant European courtesans

    Mário de Andrade e os arquivos da preguiça

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    Uma primeira versão deste ensaio foi publicada sob o título “Entre la machine et la paresse: le paradoxe de Macunaíma” em Besse, M. Graciette (org), Le futurisme et les Avant-gardes au Portugal et au Brésil. Université Paris-Sorbonne, Université Saint-Denis, Université Paris Nanterre, Institut Camões. Argenteuil: Éd. Convivium Lusophone, 2011, p.167-180, e reproduzida em Moraes, E.R. (2011) “Entre a máquina e a preguiça: o paradoxo de Macunaíma”, Navegações 3 (2) https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/navegacoes/article/view/843

    O corpo da língua: notas sobre a erótica literária brasileira

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    Este texto, sob o título “Desbocada e debochada: a língua erótica brasileira”, foi publicado originalmente na revista Olympio – Literatura e arte, v. 1, Belo Horizonte: Gráfica Formato, maio de 2018, pp. 81-85 e depois reproduzido na Revista Coletiva Fundaj, v. 26, p. s/n-s/n, 2019

    A leitura na alcova

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    O DECORO DE UMA PROSTITUTA

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    Entre as mudanças que abalaram a paisagem sensível europeia no final do século XIX, uma das mais inquietantes diz respeito à fabulação literária sobre a prostituta. O imaginário em torno do amor venal se modificou em paralelo ao gosto de um público cada vez menos identificado com as virtudes das heroínas românticas. No Segundo Império, a capital francesa viu surgir um novo tipo de oferta sexual que atendia as demandas do apetite burguês para o consumo e o prazer: circulando à vontade pelas ruas parisienses, a prostituta moderna era reconhecida, antes de tudo, por sua espetacular teatralidade. Tais transformações repercutiram na literatura brasileira de modo particular. Afinal, no final de Oitocentos, o país estava longe de partilhar a sociabilidade que dava base a essas mudanças na França, e os velhos valores patriarcais, católicos e escravocratas resistiam às equações mais modernas entre forma literária, erotismo e moralidade. É a partir desse quadro que se interpreta o conto “Singular ocorrência” (1883) de Machado de Assis, talvez o primeiro texto brasileiro a demarcar uma mudança no modo de representar a personagem. Na história supostamente banal do relacionamento entre um homem poderoso e uma “Maria de tal”, interroga-se a performance da protagonista, cuja “discreta teatralidade” faz eco aos atributos das cortesãs europeias

    Francesas nos trópicos: a prostituta como tópica literária

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    No Brasil, a fabulação literária em torno da prostituta recorre com particular frequência às referências francesas. Da cortesã trágica, que aclimata a heroína de Dumas à passagem tropical oitocentista, ao primado da “francesa”, que inaugura o perfil da meretriz moderna nas letras do país, essas referências passam por deslocamentos significativos.In Brazil, the literary fabulation around the prostitute recurs with particular frequency to French references. From the tragic courtesan, that acclimates the Du- mas’s heroine to the 1900’s tropical landscape, to the primacy of the “Frenchwoman,” who inaugurates the modern prostitute profile in the country’s writing, those referenc- es pass by meaningful displacements

    Beatriz Sarlo, Modernidade periférica

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    Resenha de Modernidade Periférica de Beatriz Sarlo. Buenos Aires 1920 e 1930. Tradução Júlio Pimentel. São Paulo: Cosac & Naify, 2010

    Malditos nos trópicos

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    Apresentação

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    Em 2022, a Semana de Arte Moderna completa o seu centenário. Na conferência “O movimento modernista”, Mário de Andrade defende que “a Semana de Arte Moderna dava um primeiro golpe na pureza do nosso ‘aristocracismo espiritual’”. Com efeito, o modernismo, enquanto projeto estético-ideológico, conforme assinala João Luiz Lafetá, constituiu-se como uma revolta contra o que até então era considerado a inteligência artística nacional e, ao mesmo tempo, marcou uma ruptura decisiva com o passado literário. Nessa direção, em 1928, Oswald de Andrade assina o “Manifesto Antropófago”, texto filosófico-literário em que propõe a estética antropofágica como provocação e procedimento para as experimentações modernistas.  O espírito destruidor promove a pesquisa de novas formas literárias e a consolidação de uma consciência criadora coletiva, como ilustram as célebres revistas modernistas que registram a pulsão incessante do grupo. Essa pesquisa tornou-se um importante instrumento de fomento da libertação do idioma literário em prol da construção de uma língua brasileira, do diálogo profícuo com as vanguardas europeias, da incorporação do espírito popular e do elemento folclórico pertinentes à tradição indígena e negra, da concepção de um olhar mais crítico em relação aos problemas sociais, políticos e econômicos do Brasil. Na poesia, há um predomínio do verso livre, de soluções formais mais simples e coloquiais, dos temas do cotidiano e do anedótico, além de uma dicção, por vezes, parodística ou chistosa. No campo da prosa, instala-se também uma revolução estético-formal a partir do trânsito de gêneros, de estilos e de registros verbais, além de um olhar menos planificado e idealizado em relação às questões humanas. Entre elas ganhou particular relevo o erotismo, já que os modernistas abriram caminho e assentaram uma lírica sensual e debochada, atenta a uma escritura do sexo e da nudez dos corpos. Tais contribuições e desdobramentos foram assimilados criativamente por diversos escritores da literatura brasileira a partir da segunda metade do século XX.Vários são os exemplos. Não seria descabido dizer que o erotismo da  poesia de Murilo Mendes, por justapor imagens cristãs e surrealistas, inspira em certa medida a religiosidade profanada em Adélia Prado ou Roberto Piva com o seu lirismo místico, alucinante e pornográfico. Caberia ainda nessa série a lírica carnal do paraense Max Martins ou a sexualização da natureza de sua conterrânea Olga Savary. Já na década de 1970, sob o exercício do que se convencionou chamar de poesia marginal, o imperativo libertário do Tropicalismo surge enquanto necessidade de revolucionar o corpo e os valores estabelecidos, como dá testemunho a devassidão podólatra de Glauco Mattoso ou o Eros confidente e alumbrado da literatura íntima de Ana Cristina Cesar. No domínio da prosa de ficção, é forçoso citar Caio Fernando Abreu e o seu eros outsider e homoerótico, além da voluptuosa violência urbana de Rubem Fonseca, de Dalton Trevisan e de Sérgio Sant’Anna. Uma retomada oswaldiana ocorre na verve irreverente das produções literárias de Hilda Hilst e de Reinaldo Moraes, que escancaram o registro obsceno e as formas mais rebaixadas da cultura, enfrentando os moralismos vigentes. Posto isso, o presente dossiê recebe artigos inéditos que venham abordar as contribuições, os desdobramentos ou as implosões da agenda modernista na segunda metade do século XX, tendo como eixos críticos possíveis, entre outros: A redescoberta de novas corporeidades já insinuadas durante o modernismo;As múltiplas nomeações do corpo erótico e os seus procedimentos alusivos;A incorporação do Eros feminino, do homoerotismo e das performances do transvestimento;O emprego de uma gramática debochada e de termos obscenos;A renovação dos elementos da ficção e da poesia (o narrador, a personagem, a voz poética, entre outros);Releituras ou atualizações do cânone modernista brasileiro a partir de abordagens comparativistas, com base em afinidades ou em diferenças;História da Literatura Brasileira sob a perspectiva da censura, dos tabus, da imoralidade e da liberação sexual
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