29 research outputs found
Casas, espaços públicos e parques - o caso entre os macacos-prego e a cidade em Maringá
Humanos e animais e mesmo os artefatos tecnológicos são, simultaneamente, mediadores, produtos e produtores dos espaços que compartilham. Apesar de toda diversidade sociocultural, não existem ocupações humanas nas quais animais, objetos e espaços estejam ausentes. Alguns desses fatores podem ser desconsiderados a partir de estratégias metodológicas, mas a proposta aqui é justamente pensá-los como dimensões indissociadas de um mesmo fenômeno. O objetivo desse texto é explorar e contribuir com as discussões que propõem estratégias de reflexões sobre as relações entre humanos e macacos-prego em contextos socioculturais distintos e urbanos. Nesse caso, serão apresentados resultados obtidos principalmente a partir de fontes jornalísticas que enfocaram a presença de macacos-prego no município de Maringá - PR, com o intuito de avaliar o potencial analítico da incorporação de perspectivas que considerem a análise das relações entre animais, humanos e espaços na constituição da diversidade das paisagens.Palavras-chave: Relações humanos-primatas. Parques. Paisagens. Macacos-prego.Humans, non-humans and landscapes: homes, the public space and the parks - the case of capuchin monkeys in Maringá CityAbstractHumans, animals and even the technological artifacts are, simultaneously, mediators and products of spaces that they share. Despite all the sociocultural diversity, there no human occupations in which animals are absent. Thus, while the Cartesian model of animal-machine relation suggests the reifying or, at least, the restriction of animal condition to its functionality or utility for humans; the relational or synthetic models suggest possibilities that diverge from the contrast presented by certain modern dualisms. The goal of this article is to provide a space for discussion about the relations between humans and Capuchin monkeys in urban areas of Maringá city, A medium-sized city of Northwest Paraná, Brazil. Despite their human habitants be proud of living in a city known as the “Green City”, there are many levels of conflict with wild animals that live in some parks. Monkeys that live in these parks establish different types of relations with humans inside and outside their home places depending on each context, but conflicts are common when the monkeys don’t obey the human frontiers.Keywords: Human-animal relations. Human-animal conflicts. Medium sized city
Think with the virus: Anthropology in pandemic times
V tomto příspěvku je čtenáři předloženo k úvaze to, že k projasnění analýz důvodů vzniku pandemie nákazy Covid-19 lze využít recentní antropologická zkoumání komplexních interakcí mezi lidmi a zvířaty. Tyto vztahy jsou intimní a nepředvídatelné; mezi entitami, jejichž cíle a způsoby existence nejsou vždy přesně identifikovatelné. Předložena je též představa, že nahlížení těchto vztahů z „more-than-human“ pohledu doplňuje ideu, že my lidé s určitými živočišnými druhy vytváříme specifické mezidruhové vztahy založené na našich odlišnostech. Tyto vztahy jsou navíc konfigurovány metaforicky, což nám umožňuje vnímat mnohočetné a složité způsoby, jakými žijeme své životy v souvislosti s přirozenou a přírodní povahou všeho, co nás obklopuje. Nabízí se, že právě takové události jako je vznik a rozšíření SARS-CoV-2 dávají možnost k reflexi nad těmito mezidruhovými vztahy zvláště vědcům zabývajícím se interdisciplinárním výzkumem zvířecí říše, tzv. Animal Studies. Zásadní je uvědomit si, že úzce vymezené studium jen těch aspektů, které jsou považovány za zvířecí, je silně limitující a je potřeba rozšířit záběr i do sféry studia a také hledání odpovědí na důsledky našeho jednání vůči non-humánním entitám. Náprava vztahů mezi lidmi a jejich non-humánními protějšky je nahlížena v kontextu přežití a toho, co je k přežití potřebné a dostupné. Tyto souvislosti zohledňují přístup a využití dostupných zdrojů a jejich nerovnoměrné distribuci ve světě. S antropologickou perspektivou je pak možné se ptát, jak současně řešit otázky moci a marginality v kontextu kapitalismu a globalizace, nahlížet lidi a zvířata jako vzájemně se doprovázející druhy a využít výhody poznání žitého světa viděného.This essay proposes that analyses of the pandemic caused by Covid-19 can be clarified by reflections from the field of anthropology over recent decades regarding the plural effects of the interaction between human and non-human animals. These human–nonhuman relationships are intimate and unpredictable; between entities whose agency and modes of existence are not always precisely identifiable. Our contention is that ‘more than human’ perspective, as a relational marker, expresses a counterpoint defined by interspecific alterities that we humans establish with certain animal species. Furthermore, these relationships are configured as a ‘category-metaphor’ enabling us to perceive the multiple and complex ways in which we compose our lives in relation to the ‘nature’ of everything around us. We argue that events such as the appearance of SARS-CoV-2 have a reflective potential that can draw the attention of those who do Animal Studies to these relations. We highlight the limiting effects of a narrowly defined (‘absolutely animal’) disciplinary rhetoric, when instead we need to formulate meaningful responses to the consequences of our relationships with other beings. We address the valorization of relations between humans and non-humans in their vital contexts; that is, what is necessary and available to survive. They consider the access and utilization of available resources, and how they are unequal around the world. Our anthropological perspective asks what it means to simultaneously address issues of power and marginality in the face of capitalism and globalization, to consider humans and non-humans as companion species, and to take the benefits offered by anthropology learned from the lived world, without separating it from politics and history
Sobre alguns aspectos das relações entre humanos e não humanos: Ética, Cultura e Ciência
As relações estabelecidas entre humanos e outros animais em diferentes culturas são plurais e sugerem um amplo leque de possibilidades que são geralmente híbridas e multifacetadas. Atividades econômicas, culinária, exploração de recursos ambientais, saúde, doença e morte, mitologia e religião, socialização, produção de conhecimento, lazer, técnicas e inspiração para a arte são fenômenos que podem ser mediados por tais relações. Deleuze e Guattari sugerem que tais relações são fortemente influenciadas por outras relações entre homem e mulher, homem e criança e do humano com os outros elementos do macro e do micro universo. Essa reflexão visa explorar alguns aspectos de tais relações no plano do conhecimento acadêmico, especificamente as interfaces entre as ciências sociais e as biociências, bem como suas repercussões em nossa sociedade através dos mecanismos de divulgação científica e da sensibilização de certos setores sociais acerca dos direitos dos animais. O ponto de partida específico da análise são os estudos sobre comportamento de grandes símios, em particular, os chimpanzés e o uso, por parte dos pesquisadores de termos tais como “tradição”, “cultura”, “cultura material” e outros para caracterizar seus comportamentos. A análise enfatizará a perspectiva evolucionista que sustenta metodologicamente o estabelecimento de parâmetros comparativos entre humanos e grandes símios. Isso porque se trata de considerar a dimensão não exclusivamente física da herança genética no cotejamento das relações entre humanos e não humanos. Nesse sentido, pretende-se revisitar as fronteiras clássicas que determinam a distinção entre animais humanos e não-humanos, ou seja, cultura, consciência, sociabilidade, poder, capacidade simbólica e cognitiva etc, a fim de revê-las e reavaliar o que nos distingue dos outros animais a partir de uma perspectiva antropológica que considere as descobertas e os debates das biociências.
Como compor com um vírus!? Reflexões sobre os animal studies no tempo das pandemias
O que os animal studies teriam a nos ensinar sobre as catástrofes sanitárias de nossa geração? Este ensaio propõe que análises da pandemia provocada pela Covid-19 podem ser estimuladas pelas reflexões que a antropologia tem realizado ao longo das últimas décadas a respeito dos efeitos plurais do convívio entre animais humanos e não humanos. Relações tão íntimas e, por vezes, tão imprevisíveis com conjuntos de seres cuja agência e modos de existência nem sempre conseguimos identificar com precisão. A provocação é a de que a animalidade, enquanto um marcador relacional, não expressa somente o contraponto definido por alteridades interespecíficas que estabelecemos com certos animais diferentes de nós, mas configura-se como uma “categoria-metáfora” que nos habilita a perceber os múltiplos e complexos modos pelos quais compomos nossas vidas em relação à “natureza” de tudo aquilo que nos cerca.What does animal studies have to teach us about the health catastrophes of our generation? This essay proposes that analyzes of the pandemic caused by COVID-19 can be stimulated by the reflections that anthropology has carried out over the last decades regarding the plural effects of the interaction between human and non-human animals. Relationships so intimate and, at times, so unpredictable with sets of entities whose agency and modes of existence are not always able to identify precisely. The provocation is that animality, as a relational marker, not only expresses the counterpoint defined by interspecific alterities that we establish with certain animals different from us, but is configured as a “category-metaphor” that enables us to perceive the multiple and complex ways in which we compose our lives in relation to the “nature” of everything around us
Ethnographies about humans and non-humans: limits and possibilities
The text is an analysis about the limits and possibilities of using the ethnographic method in researches with emphasis in chimpanzee behavior. To do this, we present some considerations about ideas of “culture” used in primatology and then we compare those with current conceptions of culture used in sociocultural anthropology. Next, we analyze the context of research in which the primatologists affirm the existence of “chimpanzee cultures”, the relations of objectivity, subjectivity and anthropomorphism in primatological research with emphasis in behavior. Last, we evaluate the propositions based on the viability of knowledge production about collec- tivities constituted by humans and non-human animals considering the per- spectives of sociocultural anthropology and primatology and emphasizing ethnography and ethnoprimatology.O texto é uma análise sobre os limites e as possibilidades do uso do método etnográfico nas pesquisas com ênfase em comportamento de chimpanzés. Para fazer isso, nós primeiro apresentamos algumas considerações sobre a ideia de “cultura” usada na primatologia e então fizemos comparações entre essas primeiras e as concepções contemporâneas de cultura usadas na antropologia sociocultural. A seguir, analisamos os contextos de pesquisa nos quais os primatólogos afirmam a existência de “culturas de chimpanzés”, as relações de objetividade, de subjetividade e de antropomorfismo na pesquisa primatológicas com ênfase em comportamento. Por fim, nós avaliamos as proposições baseadas na viabilidade da produção de conhecimento sobre os coletivos formados por humanos e animais não humanos considerando as perspectivas da antropologia sociocultural e da primatologia e enfatizando a etnografia e a etnoprimatologia
Primatology, non-human cultures, and new kinds of otherness
The relations between humans and non-human primates resemble the ethnocentric reaction of one human culture in relation to others, and include an estrangement marked by attraction and rejection, identification and differentiation. Art, science and myths are the vivid and updated expression of these phenomena. Since the 1960's primatology stands out in that scenario for contributing significantly to the revision of the definitions about the behavior of primates and, consequently, for the redefinition of human beings, and for making the controversial proposal of the existence of non-human animal "cultures". Then, the close connection between humans and non-human primates seems relentless and irreversible - and raises the question on whether or not these processes engender a new kind of otherness deriving from a non-human other that is full of meaning. This would include, for example, the reformulation of the representations and categories of classification, as well as deepening the debate about the rights of non-human animals. When the challenge is taken up in situations of anthropological research that address the relationships between human beings and the other primates, the ethnographic register that describes the relations between human beings and other primates will be an equally sharp empirical, perceptual and theoretical construction. Given the peculiar type of relationship established between human beings and other primates, implemented in a frontier universe of uncomfortable similarities and differences, they constituted a hybrid collective where interactions are possible but we do not know exactly how complex or how depth they are.De modo semelhante aos rompantes etnocêntricos de uma cultura humana frente a outras, as relações entre humanos e primatas não humanos incluem um estranhamento pontuado por atração e repulsa, identificação e diferença. Ciência, arte e mitologia são a expressão viva e atualizada disso. Desde 1960, a primatologia destaca-se nesse cenário por contribuir significativamente na revisão das definições sobre o comportamento dos primatas e, consequentemente, na redefinição do humano ao apresentar a polêmica proposição de existência de "culturas" entre animais não humanos. Assim, a aproximação entre humanos e primatas não humanos parece inexorável e irreversível. Isso implica, por exemplo, em cogitar se esse processo engendra, ou não, a constituição de novas alteridades a partir de um novo outro (não humano), carregado de significados. Isso incluiria, por exemplo, a reformulação de representações e de categorias de classificação, bem como o aprofundamento do debate sobre os direitos dos animais não humanos. Ao dirigir tal tipo de desafio a situações de pesquisa antropológica deve-se ter aguda consciência de que o registro etnográfico das relações entre humanos e os outros primatas será uma construção empírica, perceptual e teórica. Dado o tipo particular de relação estabelecida entre humanos e outros primatas, pautada em um universo fronteiriço de incômodas semelhanças e diferenças, constituem-se aí coletivos híbridos em que o alcance e a profundidade das interações possíveis ainda são desconhecidos