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Televisão e democracia em Cabo Verde: entre a expectativa da cidadania e as investidas políticas
Apesar do fim do monopólio da televisão estatal em Cabo Verde estar previsto desde
1992, foi apenas no final de 2006 que esta ideia política se materializou.A abertura
da televisão à iniciativa privada foi sendo sistematicamente adida pelas autoridades
e foi a forte pressão da das empresas interessadas em entrar no mercado e da
sociedade civil que tornou este desenvolvimento inevitável. Neste artigo, procura
explicar-se um conjunto de factores que contribuiram para esta decisão política e
examina-se as principais dinâmicas do sistema mediático cabo-verdiano e respectivas
conexões com o sistema social mais amplo. Este texto aborda o aparecimento da
primeira estação privada oficial que, à margem das determinações legais, recebeu
uma licença provisória até à abertura do concurso no qual participou e examina as
conexões que os projectos televisivos concorrentes têm com os principais partidos
políticos, numa tentativa de iluminar a (re)organização das forças em presença e de
reflectir sobre a fragilidade da liberdade de imprensa num país em consolidação
democrática
Visões do mundo e da nação: jovens cabo-verdianos face à história
Nesta artigo apresentamos os resultados preliminares de uma investigação empírica sobre identidade e representações da história que decorreu em Cabo Verde. Esta investigação foi realizada no âmbito de um projecto internacional que integra vários países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). Este projecto tem como objectivo identificar as representações da história construídas pelos jovens dos países 'lusófonos' e o papel da identidade social na ancoragem dessas representações.
Os resultados destes estudos serão usados para ilustrar a conceptualização das representações sociais como uma modalidade de conhecimento, socialmente elaborada e compartilhada, cujos processos de formação, manutenção e mudança só podem ser
entendidos tendo em conta os processos comunicativos, mediáticos e informais, a partir
dos quais os indivíduos constroem a sua visão do mundo.
Iremos examinar as representações de jovens cabo-verdianos sobre a história da humanidade, em geral, e sobre a história de Cabo Verde, em particular. Investigaremos
ainda o papel da identidade social e as emoções associadas às personalidades e aos
acontecimentos considerados mais marcantes na história da humanidade e na história da
nação cabo-verdiana
O mapa político e a liberdade de imprensa na Guiné-Bissau
O panorama mediático da Guiné-Bissau está marcado pela história do nascimento do
país. Depois de cinco séculos de colonização portuguesa, os guineenses passaram a
gerir os destinos da nação. No campo dos meios de comunicação social, a história da
Guiné-Bissau conta que o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde
(PAIGC) foi o primeiro actor social guineense a usar de voz impressa própria, com
intuitos propagandísticos e independentistas. Os jornais escassearam, mercê da falta
de meios humanos e materiais do país. Por outro lado, a propaganda pró-colonialista
fazia-se nas rádios, sobretudo, mas também em jornais que dedicavam mais espaço à
metrópole do que à Guiné-Bissau. No entanto, ao longo da década de 1960 surgiram
órgãos de orientação independentista, como a rádio de Amílcar Cabral, Libertação.
Nô Pintcha foi o primeiro jornal guineense da era pós-colonial. O percurso do sector
dos media, depois da independência, está marcado pelas diversas dificuldades com que
lida, até hoje, a Guiné-Bissau. As carências de meios técnicos e humanos e a instabilidade
política impedem a proliferação de uma indústria mediática
Os media em Cabo Verde: percurso histórico e novas tendências
Com este artigo, propomo-nos fazer um mapeamento do campo dos media em Cabo Verde, dando a conhecer, levemente, o seu percurso histórico, desde a introdução da imprensa no arquipélago até às novas tendências registadas entre o final de 2006 e início do ano 2007, com o licenciamento de mais quatro canais de televisão em sinal aberto. Isto, depois da entrada em funcionamento do serviço ZAP TV, televisão por assinatura da Cabo Verde Telecom, e da preparação do terreno para a introdução no mercado de um novo serviço de televisão por cabo, desta feita, preparado pelos chineses da CVXTV, que prometeram democratizar o serviço da TV Cabo, uma vez que os preços praticados pela Cabo Verde Telecom não estão ao alcance da grande maioria dos cabo-verdianos
Comunicação global e cultura local. Indicadores Simbólicos sobre os Rabelados de Cabo Verde
A globalização constitui um grande desafio às culturas nacionais dos países com menos recursos e pouca capacidade para recorrer aos aparatos propagandísticos para fazer marketing dos seus produtos culturais no mercado internacional. Desta feita, alguns estados promovem políticas de valorização da produção nacional, no sentido de fazer face à invasão das produções culturais à escala industrial. Neste aspecto, Cabo Verde enfrenta um conjunto de desafios: para além de ser um país com fraca aposta nas indústrias culturais, tem uma grande comunidade residente no exterior, que importa um conjunto de traços culturais dos países de acolhimento. Porém, deparamos com uma comunidade – Rabelados da Ilha de Santiago – que procura manter um estilo de vida completamente oposto às marcas culturais da modernidade, imposta pelo triunfo do capitalismo que, com ele, trouxe a globalização da economia, da cultura e dos hábitos de vida
JORNALISMO SENTADO, CONSTRUÇÃO DEMOCRÁTICA E POLÍTICAS DE COMUNICAÇÃO EM CABO VERDE
Resumo A construção democrática é um processo longo, que conta com o contributo da comunicação social. Em Cabo Verde, a abertura formal do regime deu-se em 1990. Em Janeiro de 1991, realizou-se as primeiras eleições legislativas democráticas. O trabalho dos media é muito importante na construção democrática, pelo que as democracias modernas exigem opinião pública formada, liberdade de imprensa, respeito pela diferença e autonomia de pensamento. Quanto a Cabo Verde, importa realçar que os jornalistas nem sempre souberam encaixar-se no processo de construção da democracia. Em vez de jornalismo isento, órgãos independentes e profissionais livres, encontramos órgãos de comunicação social a lutar entre si, reencarnando os combates político-partidários
Políticas de comunicação e liberdade de imprensa: análise da situação Cabo-Verdiana entre 1991 e 2009
Tese de doutoramento em Ciências da Comunicação (área de especialização em Sociologia da Informação)Depois de 1991, as políticas de comunicação desenvolvidas em Cabo Verde estiveram assentes numa
contrariedade entre os planos do discurso e os planos da acção: se a nível discursivo, a liberdade de
imprensa foi encarada como o pilar das opções do regime, a nível das práticas da governação um
conjunto de acções e inacções dificultaram a implementação de um ambiente de liberdade no seio dos
profissionais da comunicação social. Desde logo, o processo de transição de regime empurrou os
jornalistas e os actores políticos no poder para uma situação de colisão eminente, resultando numa
acumulação de processos judiciais contra os profissionais da comunicação social; também, o
monopólio público do sector da televisão, para além de provocar a desregulação do sector – com as
autarquias a instalarem antenas parabólicas para satisfazer a população com conteúdos de canais
internacionais –, dificultou o pluralismo de opinião, já que sobre a estação pública recaem críticas
constantes que apontam para a intervenção dos governos na sua actuação; ainda, regista-se, entre
1991 e 2009, uma política de desinvestimento dos sucessivos governos no sector mediático,
relegando-o para um plano secundário das opções de governação. Se, nos primeiros anos da
democracia pluralista, houve um aumento significativo do investimento no sector da comunicação
social, cedo verificou-se uma quebra do investimento, que não deu espaço aos media estatais para
crescerem e contribuírem efectivamente na solidificação do sistema democrático.
Na correlação das políticas de comunicação com a liberdade de imprensa, resultam duas fases no
percurso de Cabo Verde: a) fase de insatisfação generalizada (sobretudo na década de 90), em que, a
par da fraca qualidade dos produtos mediáticos disponibilizados aos cidadãos, os jornalistas e a classe
política entraram em rota de colisão; a classe jornalística dividiu-se, passando a haver os considerados
‘jornalistas próximos do PAICV’ e ‘jornalistas próximos do MpD’ (devemos levar em consideração que o
MpD e o PAICV são os dois únicos partidos políticos virtualmente ilegíveis na arena política caboverdiana).
Assim, a conivência entre os profissionais da comunicação social e os actores políticos fez
com que alguns jornalistas passassem a ser apelidados de ‘comissários políticos’; b) fase de satisfação
conveniente ou precária: instalou-se depois dos períodos mais conturbados da transição política,
sobretudo a partir do início do novo milénio, com a substituição do partido no poder e uma mudança
de atitude dos governantes em relação às actividades da comunicação social. A mudança de regime
levou a uma redefinição do posicionamento dos jornalistas face aos partidos políticos, passando a
haver profissionais que trabalham mais alinhados com o governo e profissionais que trabalham mais
alinhados com a oposição. Esta situação resultou de uma má concepção de democracia instalada em Cabo Verde em que os partidos políticos figuram como as únicas entidades que gozam efectivamente
de uma liberdade de actuação. Associado aos partidos políticos, encontramos uma concentração de
poderes: o poder político (através do escrutínio público), o poder económico (grande parte dos
empresários cabo-verdianos nasceram no seio dos partidos políticos que estiveram no governo, o que
faz com que haja uma certa politização da vida económica do país), o poder cultural (a maior parte dos
intelectuais está associada aos partidos políticos que, quando estão no governo, subsidiam os seus
projectos e a sua aspiração de realização pessoal e profissional) e o poder de influência social (quase
todos os órgãos de comunicação social nacionais estão conotados com os partidos políticos e a fraca
liquidez do mercado publicitário faz com que não haja empresas auto-sustentáveis no sector
mediático). Todos esses condicionalismos sociológicos acabam por dificultar a implementação de um
ambiente de liberdade no seio da comunicação social cabo-verdiana. Apesar de, hodiernamente não
haver uma insatisfação generalizada como na década de 90, a aparente normalidade que se regista na
relação entre a classe política e os jornalistas é assegurada por uma informação que evita provocar
incómodo nos partidos aos quais os órgãos de comunicação social se encontram associados ou com
os quais são conotados. Desta forma, a auto-censura torna-se num mecanismo inibidor da liberdade de
imprensa. Assim, encontra-se um jornalismo que, por um lado, procura ser incisivo para o partido
encarado como oposição e, por outro lado, é cómodo, domesticado e amorfo para o partido ao qual o
órgão de comunicação social em causa se encontra vinculado. Neste caso, não sobram condições para
falar-se na isenção das práticas jornalísticas, nem no rigor das mensagens que são difundidas no seio
da sociedade.
Notamos que as políticas de comunicação adoptadas em Cabo Verde, depois de 1991, não
provocaram uma revolução nas práticas jornalísticas. Se antes, os jornalistas eram considerados de
‘comissários políticos’ por se entender que estavam vinculados ao Partido Único, depois da abertura de
regime registou-se uma divisão da classe jornalística entre os dois partidos políticos com mais
expressão na sociedade cabo-verdiana. Assim, a concepção jurídica da liberdade de imprensa revestiuse
de uma formalidade que não encontrou correspondência nas práticas do dia-a-dia dos jornalistas e,
desta forma, perdura uma distância entre a concepção jurídico-formal e a concepção jurídico-material
da liberdade de imprensa. Muito caminho preciso de ser feito nesta matéria para que a comunicação
social possa vir a ser a voz da sociedade.Dispôs di 1991, disenvolvimentu di pulíticas di cumunicaçón na Cabo Verde tem basiadu na um
contrariedadi entre planus di discursu e planus di acçón: si a nível di discursu, liberdadi di imprensa foi
encaradu comu pilar pa quês opçôns de rigimi, a nível di práticas di governaçón nu podi odja ma um
conjuntu di acçóns i omissóns dificulta implementaçón di um ambienti di liberdadi na seiu di
profissionâis de comunicaçón sucial. Antis di tudu, prucessu di transiçón di rigimi npurra jornalistas i
pulíticus qui staba na puder pa um situaçón di confrontu, qui cába pa risulta num conjuntu di
prucessus judiciais contra profissionâis di cumunicaçón sucial; també, para além di desregulaçón di
sector – undi qui cambras municipais instala antenas parabólicas p’és satisfazi populaçón cu
conteúdus di canais internacionais – munopólio di stadu na sector di televisón dificulta pluralismu di
opinión pamodi staçón di televisón di stadu ta recebi muntis críticas qui ta crê fla ma governu ta
influencia sês actividadis; també, entri 1991 e 2009, nu ta atcha um pulítica di disinvestimentu di tudu
governus na sector di comunicaçón, qui ta caba pa fica n’um planu secundário dentu di opçôns di
governaçón. Si na primerus anus di democracia pluralista houvi um aumentu significativu di
investimentu na sector di comunicaçón social, rápidamenti investimentu entra em queda, di forma qui
ca da spaçu pa meius di cumunicaçón di stadu crisci e contribui ifectivamenti pa solidifica sistema
dimocráticu.
Na relaçón entre pulíticas di cumunicaçón i liberdadi di imprena, nu ta atcha dós fasis na percursu di
Cabo Verde: a) fasi di insatisfaçón generalizada (sobretudo na década di 90), undi qui, para’lém di
fracu qualidadi di produtus mediáticus qui cidadóns recebi, jornalistas cu pulíticus entra em conflitu;
classi di jornalistas dividi i passa ta tem ‘jornalistas próximus di PAICV’ i ‘jornalistas próximus di MpD’
(ca nu squeci ma MpD i PAICV é quês dós partidus qui tem más chanci di venci ileiçón na Cabo Verde).
D’ês manera, cumplicidadi di jornalistas cu pulíticus fazi com que alguns jornalistas passa ta tchomadu
di ‘cumissáriu pulíticu’; b) fasi di satisfaçón convinienti ó precária: foi instaladu dispôs di quel períudu
más conturbadu di transiçón pulítica, sobretudu a partir di cumeçu d’ês nóvu miléniu, cu substituiçón
di partidu na puder i mudança di atitudis di governantis em relaçón a actividadis di cumunicaçón
sucial. Mudança di rigimi pruvoca um nóvu pusicionamentu di jornalistas peranti partidus pulíticus i
passa ta tem jornalistas qui ta trabadja más na linha di guvernu i jornalistas qui ta trabadja más na
linha di oposiçón. Quel situaçón li é resultadu di um mau concepçón di dimocracia instaladu na Cabo
Verde, undi qui partidus pulíticus é praticamenti qu’ês únicus qui tem liberdadi plena di actuaçón. Associadu a partidus pulíticus, nu ta atcha um concentraçón di puderes: puder pulíticu (alcançadu
através di ileiçón), puder ecunómicu (grandi parti di empresárius cabu-verdianus naci na seiu di
partidus políticus qui stevi na guvernu, u qui ta leba um certu politizaçón di vida ecunómicu di país);
puder cultural (grandi parti di intelectual sta ligadu a partidus pulíticus qui, horas qui bai pa guvernu, ta
patrocin’ás s’ês prujectus e permit’ís rializa pessoal e profissionalmenti) i puder di influencia sucial
(quasi tudu órgôns di cumunicaçón sucial di país sta ligadu a partidu i falta di liquidez na mercadu di
publicidadi ta fazi com que empresas mediáticus ca ser auto-suficientis). Tudu ês condicionalismus
suciológicus ta caba pa dificulta implementaçón di um ambienti di liberdadi na seiu di cumunicaçón
sucial na Cabo Verde. Apesar di hoji ca ta verifica um situaçón di insatisfaçón generalizada moda na
década di 90, quel aparenti normalidadi qui sta regista na relaçón entri classi pulítica i jornalistas é
assiguradu pa um informaçón qui ta ivita pruvoca incómodu na partidus qui qu’ês órgôns di
comunicaçón sucial ta conotadu cual. D’ês manera, auto-censura ta torna num mecanismu qui ta
dificulta implementaçón di liberdadi di imprensa. Ntón, nu ta encontra um jornalismu qui, pur um ladu,
ta procura ser inérgicu cu oposiçón i, pur otu ladu, é cómudu, domesticadu i amorfu pa partidu qui
quel órgôn di cucomunicaçón sucial ta conotadu cual. N’ês casu, ca ta sobra condiçóns pa fala na
isençón di práticas di jornalismu, nem na rigor di mensagens qui ta divulgadu na seiu di sociedadi.
Nu ta nota ma políticas di cumunicaçón adoptadu na Cabo Verde, dispôs di 1991, ca pruvoca um
grandi rivoluçón na práticas di jornalismu. Si antis jornalistas era consideradu di ‘cumissáriu pulíticu’
pamodi ta atchada m’ês staba ligadu a Partidu Únicu, dispôs di abertura di rigimi classi di jornalistas
dividi entri quês dós partidus pulíticus cu más spressón na sociedadi cabu-verdiana. D’ês manera,
concepçón jurídica di liberdadi di imprensa ta obedeci formalidadi mas ca ta corrispondi cu práticas di
dia-a-dia di jornalistas. Assi, ta verifica um distancia entri concepçón jurídico-formal i concepçón
jurídico-material di liberdadi di imprensa. Munti caminhu inda sta pa ser percorridu n’ês matéria pa qui
cumunicaçón sucial podi ser verdadeiramenti voz di sociedadi.Desde 1991, las políticas de comunicación en Cabo Verde se han basado en una contradicción patente
entre el plano del discurso y el plano de la acción: si, en el nivel discursivo, la libertad de prensa se ha
considerado como uno de los pilares del régimen, en nivel de las prácticas gubernamentales, la
creación de un ambiente de libertad entre los profesionales de los medios de comunicación se vio
dificultada por una serie de acciones y omisiones. Desde su inicio, el proceso de transición del
régimen empujó a los periodistas y actores políticos en el poder a una situación de pugna inminente, lo
que se tradujo en una acumulación de procesos judiciales contra los profesionales de los medios de
comunicación. A su vez, el monopolio público sobre el sector de la televisión, además de provocar una
desregulación (los gobiernos de ámbito local comenzaron a instalar antenas parabólicas para satisfacer
a la población con los contenidos de canales internacionales), dificultó el pluralismo de opinión, al
recaer continuamente sobre los canales públicos sospechas de intromisión gubernamental. Además, se
observa, entre 1991 y 2009, una política de reducción de la inversión de los sucesivos gobiernos en el
sector de los medios de comunicación, quedando estos relegados a un segundo plano de las políticas
gubernamentales. A pesar de que durante los primeros años de la democracia pluralista se registró un
aumento significativo de la inversión en el sector de los medios de comunicación, rápidamente se
comenzó a notar un descenso de la inversión que no permitió que los medios de comunicación
estatales creciesen y contribuyesen a solidificar el sistema democrático.
Al estudiar la correlación entre políticas de comunicación y libertad de prensa, se observan dos fases
en este período de la historia de Cabo Verde: a) Fase de insatisfacción generalizada (sobre todo en los
años 90), durante la cual, además de la escasa calidad de los productos mediáticos puestos a
disposición de los ciudadanos, los periodistas y la clase política comienzan a chocar frontalmente; la
clase periodística se divide, entre los “periodistas próximos al PAICV” y los próximos al MpD (debemos
tener en cuenta que el MpD y el PAICV son los dos únicos partidos con posibilidades reales de
gobernar en Cabo Verde. De esta manera, debido a la connivencia entre los profesionales del
periodismo y los actores políticos, algunos periodistas comenzaron a ser calificados de “comisarios
políticos”; b) Fase de satisfacción conformista o precaria, que se instaló después de los períodos más
conturbados de la transición política, sobre todo a partir del inicio del nuevo milenio, con el reemplazo
del partido en el poder y un cambio en la actitud de los gobernantes en relación a los medios de
comunicación. El cambio de régimen tiene como resultado una redefinición del posicionamiento de los periodistas frente a los partidos políticos, pues los profesionales comienzan a tomar mayor partido por
el gobierno o por la oposición. Esta situación es el resultado de una mala concepción de la democracia
en Cabo Verde, donde los partidos políticos figuran como las únicas entidades que realmente gozan de
libertad de actuación. Encontramos una gran concentración de poderes en la esfera de acción de los
partidos políticos: el poder político (por medio del escrutinio público), el poder económico (gran parte
de los empresarios caboverdianos nacieron en el seno de los partidos políticos que estuvieron en el
gobierno, lo que provoca una cierta politización de la vida económica en el país), el poder cultural (los
intelectuales están mayoritariamente en la esfera de alguno de los partidos políticos que, al gobernar,
subvenciona sus proyectos y sus aspiraciones de realización personal y profesional) y el poder de
influencia social (casi todos los medios de comunicación nacionales muestran parcialidad en relación a
los partidos políticos, y debido a la escasa liquidez del mercado publicitario, no hay empresas
sostenibles en el sector mediático. En conjunto, todos estos condicionantes sociológicos dificultan el
desarrollo de un ambiente de libertad en el seno de los medios de comunicación caboverdianos. A
pesar de que, hoy en día, no se constata una insatisfacción generalizada, como en los años 90 del siglo
pasado, la aparente normalidad de las relaciones entre clase política y periodistas está garantizada por
una información que evita provocar el malestar en los partidos con los que los medios de comunicación
están asociados o cuyas tendencias defienden. De esta forma, la autocensura se convierte en un
mecanismo inhibidor de la libertad de prensa. Así, encontramos un periodismo que, por una parte,
pretende ser crítico con el partido considerado como oposición, mientras que se muestra conformista,
domesticado y acrítico con el partido político al que se encuentra vinculado.
Observamos que la políticas de comunicación adoptadas en Cabo Verde, desde el 1991, no provocaron
una revolución en las prácticas periodísticas. Si, en el pasado, los periodistas eran considerados
“comisarios políticos”, al entenderse que estaban asociados al Partido Único, desde el inicio de la
apertura del régimen se observó una división de la clase periodística entre los dos partidos políticos con
mayor presencia en la sociedad caboverdiana. Así, la concepción jurídica de la libertad de prensa se
dotó de una formalidad que no se corresponde con la práctica diaria de los periodistas y, de esta forma,
persiste una distancia entre la concepción jurídico-formal y la concepción jurídico-material de la libertad
de prensa. Hay mucho camino por recorrer en este sentido, hasta que los medios de comunicación
caboverdianos puedan ser considerados voz de su sociedad.Depois de 1991, as políticas de comunicaçom desenvolvidas em Cabo Verde estivêrom assentes numa
marcante contradiçom entre o plano do discurso e o plano da acçom: se, a nível discursivo, a liberdade
de imprensa foi encarada como um pilar das opçons do regime, a nível das práticas da governaçom um
conjunto de acçons e inacçons dificultou a implementaçom de um ambiente de liberdade no seio dos
profissionais da comunicaçom social. Desde logo, o processo de transiçom de regime empurrou os
jornalistas e os actores políticos no poder para uma situaçom de colisom eminente, resultando numa
acumulaçom de processos judiciais contra os profissionais da comunicaçom social. Também o
monopólio público do sector da televisom, para além de provocar a desregulaçom do sector – com os
concelhos a instalarem antenas parabólicas para satisfazerem a populaçom com conteúdos de canais
internacionais –, dificultou o pluralismo de opiniom, já que sobre a estaçom pública recaem críticas
constantes que apontam para a intervençom dos governos na sua actuaçom. Além disso, regista-se,
entre 1991 e 2009, uma política de desinvestimento dos sucessivos governos no sector mediático,
relegando-o para um plano secundário das opçons de governaçom. Se, nos primeiros anos da
democracia pluralista, houve um aumento significativo do investimento no sector da comunicaçom
social, cedo se verificou uma quebra do investimento que nom deu espaço aos media estatais para
crescerem e contribuírem efectivamente para a solidificaçom do sistema democrático.
Na correlaçom das políticas de comunicaçom com a liberdade de imprensa, distinguem-se duas fases
neste período da história de Cabo Verde: a) fase de insatisfaçom generalizada (sobretudo na década de
90), em que, a par da fraca qualidade dos produtos mediáticos disponibilizados aos cidadaos, os
jornalistas e a classe política entraram em rota de colisom; a classe jornalística dividiu-se, passando a
haver os considerados ‘jornalistas próximos do PAICV’ e ‘jornalistas próximos do MpD’ (devemos ter em
consideraçom que o MpD e o PAICV som os dous únicos partidos políticos virtualmente ilegíveis na
arena política cabo-verdiana); assim, a conivência entre os profissionais da comunicaçom social e os
actores políticos fijo que alguns jornalistas passassem a ser apelidados de ‘comissários políticos’; b)
fase de satisfaçom conveniente ou precária, que se instalou depois dos períodos mais conturbados da
transiçom política, sobretudo a partir do início do novo milénio, com a substituiçom do partido no poder
e uma mudança na atitude dos governantes em relaçom às actividades da comunicaçom social. A
mudança de regime levou a uma redefiniçom do posicionamento dos jornalistas face aos partidos
políticos, passando a haver profissionais que trabalham mais alinhados com o governo e profissionais que trabalham mais alinhados com a oposiçom. Esta situaçom resultou de uma má concepçom de
democracia instalada em Cabo Verde, em que os partidos políticos figuram como as únicas entidades
que gozam efectivamente de liberdade de actuaçom. Associada aos partidos políticos, encontramos
uma concentraçom de poderes: o poder político (através do escrutínio público), o poder económico
(grande parte dos empresários cabo-verdianos nascérom no seio dos partidos políticos que estivêrom
no governo, o que fai que haja uma certa politizaçom da vida económica do país), o poder cultural (a
maior parte dos intelectuais está associada aos partidos políticos que, quando estám no governo,
subsidiam os seus projectos e a sua aspiraçom de realizaçom pessoal e profissional) e o poder de
influência social (quase todos os órgãos de comunicaçom social nacionais estám conotados com os
partidos políticos, e a fraca liquidez do mercado publicitário faz que nom haja empresas autosustentáveis
no sector mediático). Todos esses condicionalismos sociológicos acabam por dificultar a
concretizaçom de um ambiente de liberdade no seio da comunicaçom social cabo-verdiana. Apesar de,
hoje em dia, nom haver uma insatisfaçom generalizada como na década de 90, a aparente
normalidade que se regista na relaçom entre a classe política e os jornalistas é assegurada por uma
informaçom que evita provocar incómodo nos partidos a que os órgãos de comunicaçom social se
encontram associados ou com os quais som conotados. Desta forma, a auto-censura torna-se num
mecanismo inibidor da liberdade de imprensa. Assim, encontra-se um jornalismo que, por um lado,
procura ser incisivo para o partido encarado como oposiçom e, por outro lado, é cómodo, domesticado
e amorfo para o partido a que o órgao de comunicaçom social em causa se encontra vinculado. Neste
caso, não sobram condiçons para se falar em isençom das práticas jornalísticas, nem no rigor das
mensagens que som difundidas no seio da sociedade.
Notamos que as políticas de comunicaçom adoptadas em Cabo Verde, depois de 1991, nom
provocárom uma revoluçom nas práticas jornalísticas. Se, antes, os jornalistas eram
Televisão e democracia em Cabo Verde: Entre a expectativa da cidadania e as investidas políticas
Apesar do fim do monopólio da televisão estatal em Cabo Verde estar previsto desde 1992, foi apenas no final de 2006 que esta ideia política se materializou.A abertura da televisão à iniciativa privada foi sendo sistematicamente adida pelas autoridades e foi a forte pressão da das empresas interessadas em entrar no mercado e da sociedade civil que tornou este desenvolvimento inevitável. Neste artigo, procura explicar-se um conjunto de factores que contribuiram para esta decisão política e examina-se as principais dinâmicas do sistema mediático cabo-verdiano e respectivas conexões com o sistema social mais amplo. Este texto aborda o aparecimento da primeira estação privada oficial que, à margem das determinações legais, recebeu uma licença provisória até à abertura do concurso no qual participou e examina as conexões que os projectos televisivos concorrentes têm com os principais partidos políticos, numa tentativa de iluminar a (re)organização das forças em presença e de reflectir sobre a fragilidade da liberdade de imprensa num país em consolidação democrática
Nós e laços
[Excerto] Embora definitivamente vinculada ao ciberespaço, graças ao modo articulado como funciona a internet, a palavra rede será também muito oportuna para definir o projeto de construção de uma comunidade cultural e científica lusófona. Se a rede pode ser o que aprisiona ou captura, no universo vocabular da atividade da pesca, por exemplo, ou o que separa e circunscreve, quando vista como sinónimo de vedação, no universo das comunicações significa acima de tudo ligação. Entendida neste sentido como uma espécie de malha, de entrelaçado, de pontos de conexão, a rede é, então, o conceito que nos convém para falar das geografias que, apesar de dispersas no mapa mundial, se interconectam pela expressão de uma língua comum e por vínculos históricos de ordem política e cultural. É precisamente na alusão à metáfora da rede que, ao introduzir o livro Lusofonia e
interculturalidade – promessa e travessia, Moisés de Lemos Martins contraria a ideia de centralidade portuguesa e a suspeita de uma “visão neocolonial na relação entre os povos” que têm o Português como idioma oficial. Diz o investigador que a lusofonia “tem a virtude do heterogéneo e a sedução
de uma rede tecida de fios de muitas cores e texturas, uma rede capaz de resistir à redução do diverso a uma unidade artificial” (Martins, 2015, p. 10). [...]info:eu-repo/semantics/publishedVersio