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“Deus criou, de acordo com suas espécies, os monstros marinhos e todas as criaturas vivas que se movem nas águas”: a centralidade do monstruoso no imaginário marítimo medieval
The reflection we propose to carry out here is guided by a fundamental issue: the centrality of the figure of the monster in medieval maritime imagination and the important role of the monstrous in structuring that imagination. In medieval man’s worldview, fantasy and reality, truth and the implausible had no boundaries. Everything was interconnected in a mental process resulting in the entire receiving public avidly “drinking in” information about strange and exotic things originating from places beyond the boundaries of what was known, i.e., beyond the Order and safety ensured by Christian authority. Because it is immense, unstable and above all unknown, the ocean is par excellence one of these places. And for this reason, it is also perceived as being widely inhabited by monstrous beings. Although in the late medieval period, metamorphosed by increasingly frequent experiences of the high seas and especially by a number of religious solutions which, by sacralising the ocean, enabled people to face it as well as the risk of contact with the excessive and portentous beings that inhabited it, the mental state of apprehension and fear caused by sea monsters remained until at least the last decades of modernity.A reflexão que aqui propomos desenvolver é orientada por uma problemática fundamental: a centralidade da figura do monstro no imaginário marítimo medieval e o importante papel desempenhado pelo monstruoso na estruturação do mesmo. Na mundividência do homem medievo, fantasia e realidade, verdadeiro e inverosímil, não conhecem fronteiras. Tudo se interliga num processo mental, que tem por consequência o público receptor, todo ele, “beber” avidamente as informações respeitantes ao estranho e exótico proveniente dos espaços situados para lá das fronteiras conhecidas, isto é, para lá da Ordem e segurança garantidas pela autoridade cristã. Porque imenso, instável e sobretudo desconhecido, o oceano é por excelência um destes espaços. E também por essa razão é percepcionado como largamente habitado por seres monstruosos. Ainda que, nos derradeiros séculos medievais, metamorfoseado pela experiência cada vez mais frequente do mar alto e, especialmente, por todo um conjunto de soluções de carácter religioso que, sacralizando o oceano, permitem enfrentá-lo bem como ao risco de contacto com os seres excessivos e portentosos que nele habitam, o estado mental de receio e medo provocado pelo monstruoso marinho mantém-se até, pelo menos, aos decénios finais da modernidade
Frontier, Identity Constructions and Environment. Water as an Essential Condition for Viewing the Muslim Other in the Journey to the Iberian Peninsula by the Physician Hieronymus Münzer (1494-1495)
Between 1494 and 1495, the German physician Hieronymus Münzer travelled to the Iberian Peninsula, which resulted in an extensive written testimony traditionally known as Itinerarium. The main focus of this northern traveller's observations is not the human element, as several authors have already pointed out. In fact, he focuses his attention especially on the economic element (products, goods, trade, etc.) and, by association, the territories and places where this element takes place. However, he also unquestionably develops evaluative perspectives of the Iberian human landscape, in its most diverse expressions. We sought to reflect precisely upon one of the components of the human sphere the northern traveller contacted – the Muslims –, with special consideration for the resulting identity constructions and alterity exercises, which, in our perspective, are often closely associated with the central issue of water and, consequently, with the territories/places visited and the intrinsic frontiers. We looked for the answer to, what we consider, a paramount and truly original question: to what extent does water assume a "centrality" in this northern European doctor's view of the Other, specifically the Muslim, in the context of direct observation and first-hand experience.Entre 1494 e 1495, o médico alemão Hieronymus Münzer protagonizou uma viagem rumo à Península Ibérica, da qual resultou um extenso testemunho escrito tradicionalmente conhecido por Itinerarium. O principal foco do olhar deste viajante setentrional não é, efectivamente, o elemento humano, como já diversos autores salientaram. De facto, ele concentra a sua atenção muito especialmente no elemento económico (produtos, mercadorias, comércio, etc.) e, por indexação, nos territórios e lugares onde esse elemento acontece. Todavia, podemos igualmente considerar como inquestionável que desenvolve olhares avaliadores sobre a paisagem humana ibérica, nas suas mais diversas expressões. Pretende-se, nas páginas que se seguem, reflectir precisamente sobre uma das componentes do horizonte humano que o viajante setentrional contactou – os muçulmanos –, com especial consideração para as construções identitárias e os exercícios de alteridade daí resultantes, os quais, em nossa perspectiva, não raras vezes apresentam-se em íntima associação com a questão nuclear da água e, consequentemente, com os territórios/lugares visitados e as fronteiras intrínsecas. Procura-se, pois, a resposta para uma interrogação que consideramos primordial e deveras original: até que ponto se verifica no testemunho deste médico do Norte da Europa uma “centralidade” da água no olhar desenvolvido sobre o Outro, neste caso específico, o muçulmano, em contexto de observação directa e experiência em primeira mão
Depois de Vós. D. Jaime de Bragança na Privança d’el-Rei D. Manuel I
During the restoration and strengthening of the House of Braganza, in Portugal,
promoted by Manuel I between 1496 and 1521, a unique relationship of patronage
blossomed between Jaime (1479–1532), IV duke of Braganza, and his uncle, King Manuel.
An understanding of the broad reach of this relationship is essential to grasp an important
element in Manuel’s government. Also, the nature of the bonds established through this
confidence relationship clearly shows how government and the relating political process —
that is, the public sphere — were ultimately organised by criteria other than rationality.
They also follow emotional guidelines which mostly relate with the private domain,
including the network of solidarity between family members.Durante el periodo de rehabilitación y consolidación de la Casa de Braganza,
promovido por D. Manuel I de Portugal, a partir de 1496 hasta el final de su reinado en
1521, asistimos al establecimiento y desarrollo de una relación de favor singular entre D.
Jaime (1479-1532), 4º duque de Braganza, y el Monarca, su tío. Conocer el alcance de esta
relación, creemos, es determinante para comprender gran parte de la dinámica del gobierno
manuelino. Por otro lado, la naturaleza de los lazos establecidos en esta privanza
demuestran cómo el gobierno y el proceso político adyacente, es decir, el espacio público,
están organizados no sólo en función de elementos racionales, sino también a partir de
preceptos emocionales, procedentes de un foro privado y de la solidaridad de las relaciones
intra-familiares
The importance of mobility and circulation in the reformist dimension of Gomes Eanes (1419-1439)
UIDB/00749/2020
UIDP/00749/2020
DL 57/2016/CP1453/CT0015The present text intends to reflect critically on the action of a Portuguese monk whose reforming program took such a wide scale, that allowed to establish a genuine dialogue between Italy and Portugal – that is, between the Crown and the papacy, between the religious and the secular – in the Quattrocento. An action that ultimately contributed significantly to integrating Portugal into the more general framework of the reform movements that had been going through Christianity since the second half of the 15th century. The idea to be analyze is, therefore, that the contribution of Gomes Eanes – the famous Abbot of Florence – to the Reform of the Church in the Quattrocento was effectively marked by a transnational dimension, then sustained by a necessary network of solidarities and influence. The basis for our study was the carteggio (correspondence) of Gomes Eanes, a vast and rich letter collection that spans two voluminous codices: the Badia 4 (Biblioteca Nazionale Centrale di Firenze, Conventi Soppressi da ordinare) and the Ashburnham 1792 (Biblioteca Laurenziana).publishersversionpublishe
Medieval Travels and the Ensuing Texts as Mirrors of a Society, a Culture, and a World View
UIDB/00749/2020 UIDP/00749/2020publishersversionpublishe
Peregrinatio ad Terram Sanctam : the Mediterranean geography of Christian wonders in the Book of the Infante Pedro of Portugal
O Livro do Infante D. Pedro de Portugal, de Gomez de Santisteban, constitui um paradigma do estabelecimento de uma geografia de maravilhas Cristãs no universo dos relatos de viagens medievais ibéricas, e, mais especificamente, de viagens imaginárias. Falamos de uma geografia de desejos e do onírico, ou seja, da Esperança, aquela que, herdada da Antiguidade clássica, em grande parte preenchia os anseios do Cristão medieval (e especialmente num período medieval tardio). De facto, é inequívoca a sua contribuição para fixar na mentalidade (e no imaginário) colectiva(/os) do período medieval tardio um conjunto de lugares de mirabilia Cristã localizados na área de influência do Mar Mediterrâneo como espaços de memória a serem retidos pela cultura da Cristandade Ocidental. É nossa intenção refletir especificamente sobre a componente Mediterrânica desta geografia, ou seja, examinar a pertinência e o valor histórico-cultural da primeira parte da narrativa, correspondente à peregrinação do infante D. Pedro e respetivo séquito à Terra Santa. Procuram-se respostas para questões como, qual a lógica central do elemento maravilhoso relativo à área de influência do Mediterrâneo? A que anseios e angústias responde? E qual é o papel do prodígio na estruturação desta primeira componente do texto?The Book of the Infante Pedro of Portugal by Gomez of Santisteban constitutes a paradigm of the establishment of a Mediterranean geography of Christian wonders in the universe of Iberian medieval travel accounts, and more specifically of imaginary travels. We speak of a geography of desires and of the oneiric, that is of Hope, that which, inherited from classical antiquity, largely fulfilled the longings of the medieval (and especially late medieval) Christian. Indeed, there is no doubt about its contribution to fixing, in the late medieval collective mentality (and imaginary), a set of places of Christian mirabilia located in the area of influence of the Mediterranean Sea as spaces of memory to be retained by the culture of Western Christianity. It is our intention to reflect specifically on the Mediterranean component of this geography, that is to examine the relevance and the historical and cultural value of the first part of the narrative, corresponding to the pilgrimage of the Infante D. Pedro and his entourage to the Holy Land. Answers are sought to questions such as: what is the central logic of the marvelous element relating to the area of influence of the Mediterranean? To what anxieties and anguish does it respond? And what is the prodigy's role in structuring this first component of the text
How the image of the German community in Portuguese territory changed between the 15th and 16th centuries
UID/HIS/00749/2019
DL 57/2016/CP1453/CT0015
SFRH/BPD/97963/2013This text aims to reflect on the factors that contributed to the changes in the image of the Germans residing in Portuguese territory between the 15th and the 16th centuries. In order to do this, it is necessary to define the way in which the members of this community were represented in both periods; in other words, before and after the emergence of Lutheran ideas. In essence, based on the premise that there was in fact a change of image, the aim is to answer three main questions. What is the true extent of the causes of that change? What manifestations did the mutation in question actually take? And lastly, what was the impact of this change on the image of Germany that prevailed in the coeval Portuguese kingdom?publishersversionpublishe
A vivência do Carnaval em Roma na aurora da Modernidade ou a felicidade profana como condição para a felicidade do sagrado
O presente texto visa observar de forma crítica a vivência do Carnaval na capital da Cristandade no despertar de Quinhentos e o modo como essa mesma vivência acaba por impor a felicidade profana como conditio sine qua non para o acesso à felicidade do sagrado. Tudo tendo por pano de fundo uma optimizada promoção e gestão do entrudo em termos de agenda político-governativa pela corte pontifícia.info:eu-repo/semantics/publishedVersio
Nas margens da diplomacia portuguesa quinhentista: o singular testemunho de Roma por um criado de D. Jaime, 4º duque de Bragança (1510-1517)
In the early sixteenth century, the political relations between the various European monarchies and the consequent diplomatic practices were under a process of deep transformation that culminated in the birth of modern diplomacy, expressed in its finished form in the figure of the permanent ambassador. This process emerged and took effect in the Italian peninsula, very specifically in Rome. This represents the content of the report entitled Tratado que hum criado do duque de braguança escreueo pera sua senhoria dalgumas notauees cousas que vio hindo pera Roma. E de suas grandezas E Jndulgençias, E grandes aconteçimentos que laa socçederam em espaço de sete años que hi esteue. Written by an anonymous Portuguese nobleman, servant of the 4th Duke of Bragança, D. Jaime, who lived in Italy between 1510 and 1517, this document reveals how at the dawn of the sixteenth century the mirabili urbe still maintained a founding centrality, imposing itself not just as the spiritual headquarters of the Christian world but also as a cosmopolitan city, the Renaissance cultural icon and the major center of political power where coeval potencies disputed hegemony over the Old Continent.No início do século XVI, as relações políticas entre as diversas monarquias europeias e a consequente prática diplomática vivem um processo de profunda transformação que culmina com o nascimento da diplomacia moderna, expressa na sua forma acabada na figura do embaixador permanente. Tal processo configura-se e materializa-se no espaço da Península Itálica, muito especificamente em Roma. Disso dá conta o relato intitulado Tratado que hum criado do duque de braguança escreueo pera sua senhoria dalgumas notauees cousas que vio hindo pera Roma. E de suas grandezas E Jndulgençias, E grandes aconteçimentos que laa socçederam em espaço de sete años que hi esteue. Da autoria de um anónimo fidalgo português, criado do 4º duque de Bragança, D. Jaime, que habitou em Itália entre 1510 e 1517, este documento revela como no dealbar do século XVI a mirabili urbe ainda mantém uma centralidade fundadora, impondo-se não apenas como sede espiritual do mundo cristão, mas também como cidade cosmopolita, ícone cultural do Renascimento e grande centro de poder político onde as potências coevas disputavam a hegemonia sobre o Velho Continente
Entre o céu e o inferno: um olhar inédito sobre as embaixadas de obediência enviadas por D. Manuel I ao papa no início de Quinhentos
Plenas de significado histórico e antropológico, as embaixadas de obediência enviadas por D. Manuel ao papa no dealbar de Quinhentos constituem um precioso testemunho quer do quotidiano na Cidade Eterna, quer dos meandros políticos da cúria nesta época de viragem onde tudo parece acontecer em solo itálico.
Um viajante português que se deslocou a Roma em 1510, e onde ficou durante sete anos, constrói um retrato tão expressivo quanto incisivo destes marcantes momentos diplomáticos, em particular enquanto sinónimo de festa, símbolo de poder e veículo privilegiado de propaganda ideológica.
Estudar as embaixadas portuguesas à cúria pontifícia na transição do século XV para o século XVI pela voz de tal protagonista representa, na essência, mergulhar no próprio coração do imaginário do Renascimento.info:eu-repo/semantics/publishedVersio
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