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DESENVOLVENDO UMA TERCEIRA CULTURA NAS ESCOLAS: HABITUS SOCIOLÓGICO, ESTRANHAMENTO E DESNATURALIZAÇÃO DE PRECONCEITOS
A relativa ausência de uma tradição na produção de conhecimento sociológico nas escolas, associada à pouca formação dos/professores alocados para a disciplina de sociologia, tem gerado a necessidade de uma reflexão coletiva acerca dos objetivos, conteúdos e metodologias adequados àquele nível de ensino, assim como da formação docente. O presente artigo sugere que o objetivo último de capacitar os/as estudantes para o exercício da cidadania proposto pela Lei de Diretrizes e Bases de 1996 só pode ser alcançado mediante um processo de estranhamento e desnaturalização dos preconceitos da vida cotidiana, conforme enfatizado pelas Orientações Curriculares Nacionais. Tal processo envolve um movimento triplo. Primeiro, a aproximação dos conteúdos sociológicos com a realidade das escolas, promovida, sobretudo, pela autoformação. Esta aproximação faz com que os/as estudantes tomem consciência dos preconceitos, no sentido Gadameriano do termo, que informam suas ações e representações da realidade. Segundo, a introdução de um horizonte sociológico relativos a temas, conceitos e teorias que possibilitem o estranhamento daqueles preconceitos. Por fim, o desenvolvimento de determinadas habilidades e disposições das ciências sociais que caracterizam aquilo que Bernard Lahire define como um habitus sociológico e que, em última instância, levaria ao desenvolvimento de uma terceira cultura, entre a literária e a científica, nas escolas
Por uma sociologia polifônica: introduzindo vozes femininas no cânone sociológico
Recent controversies surrounding the sociological canon have foregrounded the need to think about the process of erasing and silencing ‘non-Western’ and female contributions to the discipline. By emphasizing the androcentrism of the sociological canon, our goal is to contribute to the construction of a less biased and limited sociology through the inclusion of female voices previously excluded from its official history. We start by briefly describing the conditions that enabled this exclusion, taking the Chicago women sociologists as an example, along with the emergence of a particular conception of theory and research associated with the formation of the classical canon. Next, by questioning the use of terms such as ‘founders,’ ‘classics’ and ‘canon,’ we maintain that the existence of a canon, classical or otherwise, plays a central role in the identity of the discipline and of social theory itself. Finally, in order to productively include the contributions of sociology’s women pioneers, we propose substituting the literary metaphor of the canon with a musical one: a type of polyphony that emphasizes the contrast between different voices and simultaneously establishes how they can be combined in a common tradition that makes dialogue possible.Controversias recientes acerca del canon sociológico han puesto de manifiesto la necesidad de pensar el proceso de borrado y silenciamiento de las aportaciones “no occidentales” y femeninas a la disciplina. Al enfatizar la dimensión androcéntrica del canon sociológico, nuestro objetivo es contribuir a la construcción de una sociología menos sesgada y limitada a partir de la inclusión de voces femeninas excluidas de la historia oficial de la disciplina. Inicialmente, hacemos una breve descripción de las condiciones que permitieron excluir esas voces, tomando como ejemplo a las sociólogas de Chicago, posibilitando el surgimiento de una particular concepción de la teoría y la investigación asociada a la formación del canon clásico. Luego, al enfatizar el uso de términos como “fundadores”, “clásicos” y “canon”, argumentamos que la existencia de un canon, sea clásico u otro, juega un rol central en la identidad de la disciplina y de la propia teoría social. Finalmente, para incluir productivamente los aportes de las pioneras de la sociología, proponemos sustituir la metáfora literaria del canon por una metáfora musical: una especie de polifonía que enfatiza el contraste entre diferentes voces y, al mismo tiempo, establece cómo esas pueden combinarse en una tradición común que hace posible el diálogo.Controvérsias recentes em torno do cânone sociológico têm pontuado a necessidade de se pensar o processo de apagamento e silenciamento de contribuições “não-ocidentais” e femininas à disciplina. Ao enfatizar a dimensão androcêntrica do cânone sociológico, nosso objetivo é contribuir para a construção de uma sociologia menos viesada e limitada a partir da inclusão de vozes femininas excluídas da história oficial da disciplina. Inicialmente, efetuamos uma breve descrição das condições que possibilitaram a exclusão daquelas vozes, tomando como exemplo as sociólogas de Chicago, e a emergência de uma concepção particular de teoria e de pesquisa associada à formação do cânone clássico. Em seguida, ao tensionarmos o uso de termos como “fundadores”, “clássicos” e “cânone”, defendemos que a existência de um cânone, clássico ou não, desempenha papel central para a identidade da disciplina e da própria teoria social. Por fim, de forma a incluir de maneira produtiva as contribuições das pioneiras da sociologia, propomos substituir a metáfora literária do cânone por uma metáfora musical: um tipo de polifonia que enfatiza o contraste entre diferentes vozes e, ao mesmo tempo, estabelece como elas podem ser combinadas numa tradição comum que torna o diálogo possível
Uma hermenêutica das conversações interiores: a noção de sujeito em Margaret Archer e em Hans-George Gadamer
O presente trabalho consiste em uma reflexão sobre a ontolo- gia do sujeito implícita à teoria da agência de Margaret Archer. Com base nas vertentes mais individualistas do pragmatismo, Archer apropria-se da noção de conversações interiores a fim de destacar o caráter reflexivo e privado do self, revelando uma concepção de sujeito hiperreflexivo e autocentrado. A herme- nêutica de Gadamer é apresentada como uma alternativa a esta ontologia. Argumento que sua teoria da interpretação repousa sobre uma concepção dialógica de sujeito cujas conversações interiores sublinham a centralidade das práticas na construção da subjetividade. Ao estabelecer que a (auto)compreensão de- pende de um encontro com a diferença e a alteridade, Gadamer, ao mesmo tempo que nega a autotransparência e o fechamento do sujeito, abre a possibilidade de (auto)consciência e reflexi- vidade na agência humana
Critical realism: a research program for the Social Sciences
Cet article cherche à montrer le réalisme critique comme une démarche philosophique qui souligne quelques thèmes importants pour la réflexion sociologique: la relation entre philosophie et sociologie; la notion de cause; le problème du naturalisme; la relation entre concepts, modèles et réalité; la relation entre agence et structure etc. En outre, il cherche à établir que le réalisme critique, une fois posée la non dissolution entre les dimensions ontologique et épistémologique de la connaissance, peut représenter une alternative possible aux impasses du conventionalisme et du scepticisme présentes dans les approches positivistes et pragmatistes
Breve Metametodologia das Ciências Sociais
The aim of this paper is to show that methodological issues, understood as the critical reflection of all research stages, have been central to the social sciences since their institutionalization. In order to show this, I undertake a brief analysis of the institutionalization process of sociology based on the work of the so-called “founding fathers”. I argue that their methodological positions are indissociably linked to ontological, epistemological and theoretical issues marked by an implicit debate between cientism and humanism, with emphasis on a positivist conception of science. The latter becomes hegemonic following the internationalization process of sociology during the Post-War period. In the 1960’s, positivist cientism is challenged, allowing for the inclusion of alternative conceptions of science and of humanistically oriented traditions such as presented by pragmatism, phenomenology, the philosophy of language etc. The critique, from the 1980’s onwards, of those elements of modern philosophy which represent the very foundations of scientific production end up by expanding methodological concerns in order to include issues such as the meaning, aplications and other elements relating to scientific practice and culture.O propósito deste artigo é demonstrar que as questões metodológicas, entendidas no sentido da reflexão crítica de todas as etapas envolvidas no processo de pesquisa, estão no cerne das ciências sociais desde sua institucionalização. A fim de demonstrar isso, discorro brevemente sobre o processo de institucionalização da sociologia a partir da obra dos chamados “pais fundadores”. Argumento que as suas posições metodológicas estão indissociavelmente ligadas a questões ontológicas, epistemológicas e teóricas marcadas por um debate implícito entre cientificismo e humanismo, com ênfase em uma concepção positivista de ciência. Esta concepção torna-se hegemônica com a internacionalização da sociologia no Pós-Guerra. Na década de 1960, o cientificismo positivista é questionado, abrindo espaço para concepções alternativas de ciência e de tradições de caráter mais humanístico, conforme representado pelo pragmatismo, pela fenomenologia, pela filosofia da linguagem, dentre outros. A crítica aos elementos da filosofia moderna que fundamentam a produção científica, nos 80’, terminam por expandir as reflexões metodológicas no sentido da inclusão de questões relativas aos significados, aplicações e outros elementos relativos à cultura e à prática científica
Por uma sociologia polifônica: introduzindo vozes femininas no cânone sociológico
Recent controversies surrounding the sociological canon have foregrounded the need to think about the process of erasing and silencing ‘non-Western’ and female contributions to the discipline. By emphasizing the androcentrism of the sociological canon, our goal is to contribute to the construction of a less biased and limited sociology through the inclusion of female voices previously excluded from its official history. We start by briefly describing the conditions that enabled this exclusion, taking the Chicago women sociologists as an example, along with the emergence of a particular conception of theory and research associated with the formation of the classical canon. Next, by questioning the use of terms such as ‘founders,’ ‘classics’ and ‘canon,’ we maintain that the existence of a canon, classical or otherwise, plays a central role in the identity of the discipline and of social theory itself. Finally, in order to productively include the contributions of sociology’s women pioneers, we propose substituting the literary metaphor of the canon with a musical one: a type of polyphony that emphasizes the contrast between different voices and simultaneously establishes how they can be combined in a common tradition that makes dialogue possible.Controversias recientes acerca del canon sociológico han puesto de manifiesto la necesidad de pensar el proceso de borrado y silenciamiento de las aportaciones “no occidentales” y femeninas a la disciplina. Al enfatizar la dimensión androcéntrica del canon sociológico, nuestro objetivo es contribuir a la construcción de una sociología menos sesgada y limitada a partir de la inclusión de voces femeninas excluidas de la historia oficial de la disciplina. Inicialmente, hacemos una breve descripción de las condiciones que permitieron excluir esas voces, tomando como ejemplo a las sociólogas de Chicago, posibilitando el surgimiento de una particular concepción de la teoría y la investigación asociada a la formación del canon clásico. Luego, al enfatizar el uso de términos como “fundadores”, “clásicos” y “canon”, argumentamos que la existencia de un canon, sea clásico u otro, juega un rol central en la identidad de la disciplina y de la propia teoría social. Finalmente, para incluir productivamente los aportes de las pioneras de la sociología, proponemos sustituir la metáfora literaria del canon por una metáfora musical: una especie de polifonía que enfatiza el contraste entre diferentes voces y, al mismo tiempo, establece cómo esas pueden combinarse en una tradición común que hace posible el diálogo.Controvérsias recentes em torno do cânone sociológico têm pontuado a necessidade de se pensar o processo de apagamento e silenciamento de contribuições “não-ocidentais” e femininas à disciplina. Ao enfatizar a dimensão androcêntrica do cânone sociológico, nosso objetivo é contribuir para a construção de uma sociologia menos viesada e limitada a partir da inclusão de vozes femininas excluídas da história oficial da disciplina. Inicialmente, efetuamos uma breve descrição das condições que possibilitaram a exclusão daquelas vozes, tomando como exemplo as sociólogas de Chicago, e a emergência de uma concepção particular de teoria e de pesquisa associada à formação do cânone clássico. Em seguida, ao tensionarmos o uso de termos como “fundadores”, “clássicos” e “cânone”, defendemos que a existência de um cânone, clássico ou não, desempenha papel central para a identidade da disciplina e da própria teoria social. Por fim, de forma a incluir de maneira produtiva as contribuições das pioneiras da sociologia, propomos substituir a metáfora literária do cânone por uma metáfora musical: um tipo de polifonia que enfatiza o contraste entre diferentes vozes e, ao mesmo tempo, estabelece como elas podem ser combinadas numa tradição comum que torna o diálogo possível