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Variação pronominal em obras infantis de Monteiro Lobato: motivações socioestilísticas
A partir de uma perspectiva teórica de interface entre gramaticalização e variação, o objetivo deste trabalho é analisar as formas pronominais de expressão da 1ª pessoa do plural (nós/a gente) e outros pronomes correlacionados, em duas obras infantis de Monteiro Lobato publicadas na década de 1930, examinadas comparativamente, atentando principalmente para o papel de fatores externos. Os resultados mostram que a variação pronominal, decorrente da gramaticalização de a gente, acontece não só na fala de diferentes personagens, como também na fala de uma mesma personagem e no escopo de um mesmo enunciado, motivada por fatores que dizem respeito ao contexto sócio-histórico, à biografia do autor e a características de cada obra. Enfatiza-se a importância de estudos variacionistas buscarem, além de padrões sociolinguísticos gerais, também especificidades que podem contribuir para um melhor entendimento da dinâmica funcional da língua, considerando-se, no caso em tela, a pertinência de se tomar cada obra em seu contexto como uma amostra distinta. 
Um olhar foucaultiano sobre a loucura e a família: análise de práticas discursivas que constituem o discurso anti-manicomial
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão. Programa de Pós-Graduação em Linguística.Neste trabalho, discuto a maneira pela qual 'loucura' e 'família' são produzidas arqueológica e genealogicamente pelo discurso anti-manicomial. Tal discurso é constituído por quatro práticas discursivas, que são consideradas no decorrer da dissertação: a psicanálise, a teoria da hereditariedade, a neurociência e a terapia sistêmica. A partir de um olhar foucaultiano, analiso essas práticas no que diz respeito à maneira pela qual elas recortam/produzem # politicamente # a loucura e a família como objetos de saber. Para a realização da análise utilizo as seguintes ferramentas, oferecidas por Foucault: noção de poder; noção de procedimentos para configuração de saber; e também um pequeno histórico acerca do nascimento do asilo e do discurso anti-manicomial para contextualizar esse discurso e os saberes que o constituem. Por fim, realço a discussão política e arqueológica que atravessou a realização desse trabalho
Por uma perspectiva social dialógica da linguagem: repensando a noção de indivíduo
Tese (doutorado) - Universidade federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão. Programa de Pós-Graduação em Linguística.Esta tese trata da relação entre indivíduo, sociedade e linguagem, com o objetivo de discutir e propor algumas bases epistemológicas (éticas e políticas) para uma perspectiva social dialógica da linguagem. Para tanto, são descritas e analisadas duas abordagens sociais da linguagem, uma de natureza filosófica, representada por Bakhtin, e outra de natureza empírica, representada por Labov, as quais são previamente contextualizadas a partir de três séries históricas - o subjetivismo idealista (Humboldt), o objetivismo abstrato (neogramáticos, Saussure e Meillet) e a perspectiva ideológica (Marx e Iakubinskii). Em Bakhtin e Labov, rastreio o tratamento dispensado ao indivíduo, bem como a relação que os dois teóricos estabelecem entre o indivíduo, a sociedade e a linguagem. Também exponho alguns escritos filosóficos de Arendt, Foucault e de Giddens, para contrapor as reflexões de Bakhtin e Labov ao pensamento desses teóricos. Por fim, faço um balanço das explanações analíticas desenvolvidas na tese, apontando aspectos que julgo pertinentes e relevantes, e que devem ser considerados como basilares em uma teoria social dialógica da linguagem, tais como: uma definição de linguagem que envolva a questão da identidade e das práticas sociais, sendo aquela vista como heterogênea e "relativamente estável"; uma concepção dialética de língua (ela reflete e produz o mundo e as identidades); uma visão de sujeitos reflexivos, políticos e eticamente responsáveis, que se constituem na relação com a alteridade e que desempenham seus papéis - fazendo uso da linguagem - enquanto inscritos em contextos sociais de interação; a existência da relação forte entre a questão da identidade e variação/mudança lingüística; a consideração de que mudanças sociais (e lingüísticas) podem ser iniciadas nas margens (grupos ou linguagens marginalizadas); um modelo de pesquisa em que ambos o pesquisador e o seu objeto de pesquisa se implicam mutuamente, um gerando efeitos sobre o outro; um compromisso político do pesquisador com suas teorias e pesquisa, uma vez que elas promovem ações no mundo; e o entendimento de que a relação dialógica com o objeto de estudo pode produzir mudanças constantes no processo de pesquisa
Sobre ser humana : delicadezas cortantes e vigilância de gênero
Caminhar e coletar flores é o início de um processo de pesquisa em artes visuais que parte do cotidiano para investigar questões sobre vigilância de gênero. Objetos ditos como femininos que são encontrados no espaço da casa são a matéria para criar proposições poéticas que transitam entre diferentes linguagens. Ao discutir sobre o espaço da caminhada sem rumo por uma perspectiva de gênero, o trabalho abre reflexões sobre as possibilidades de mulheres realizarem a deriva situacionista. Seja através de anotações, listas ou palavras encontradas em livros, pesquiso o espaço da palavra na minha poética através da criação de instruções
POTENCIAL ANALÍTICO DOS GÊNEROS DO DISCURSO PARA OS ESTUDOS VARIACIONISTAS
In different ways, variationist studies have resorted to Bakhtin Circle’s Writings, particularly the notion of discourse genres. This text aims to reflect on why discourse genres are relevant to variationist studies, especially for third wave studies, whose central issue is the notion of style. Through bibliographic research, we examine part of the literature of the third wave of variation (ECKERT, 2012, 2016, 2018; KIESLING, 2013; COUPLAND, 2007) and part of the literature of the Bakhtinian approach (BAKHTIN, 2011, 2014; MEDVIÉDEV, 2012; VOLOCHÍNOV, 2013), focusing on the notion of style, to (i) indicate some touch points between these approaches and to (ii) articulate them, in some other points, in order to contribute to the production of knowledge about the objective proposed here. The results of this reflection indicate that discourse genres are relevant to the interests of third wave studies because (i) linguistic style is a property of discourse genres; and (ii) an understanding of style requires an understanding of the constitution (social and formal) of the genres, with categories of analysis that interest to the third variationist wave being indicated in them.Por diferentes vias, estudos variacionistas têm recorrido aos Escritos do Círculo de Bakhtin, particularmente à noção de gêneros do discurso. Este texto objetiva refletir sobre por que os gêneros do discurso são relevantes para os estudos variacionistas, especialmente para os de terceira onda, que têm como questão central a noção de estilo. Por meio de pesquisa bibliográfica, examinam-se parte da literatura da terceira onda variacionista (ECKERT, 2012, 2016, 2018; KIESLING, 2013; COUPLAND, 2007) e parte da literatura da abordagem bakhtiniana (BAKHTIN, 2011, 2014; MEDVIÉDEV, 2012; VOLOCHÍNOV, 2013) com foco na noção de estilo, para (i) indicar alguns pontos de contato entre essas abordagens e (ii) articulá-las, em alguns outros pontos, com vistas a contribuir com a produção de conhecimento em torno do objetivo aqui proposto. Os resultados dessa reflexão indicam que os gêneros do discurso são relevantes para os interesses dos estudos de terceira onda porque (i) o estilo linguístico é uma propriedade dos gêneros do discurso; e (ii) uma compreensão do estilo requer uma compreensão da constituição (social e formal) dos gêneros, estando neles indiciadas categorias de análise que são caras à terceira onda variacionista. 
A multifuncionalidade do item "capaz" na fala gaúcha: uma abordagem baseada no uso
Sob uma perspectiva teórica funcionalista que busca identificar padrões de uso linguístico que se originam e se estabelecem nas situações comunicativas, o presente estudo investiga a multifuncionalidade do item linguístico “capaz”, numa amostra sincrônica atual de fala de informantes gaúchos, captando uma trajetória de mudança semântico-pragmática (associada a valores de modalidade) e categorial (adjetivo > marcador discursivo) que pode ser interpretada como uma instância de gramaticalização. A partir da análise de contextos dialogais, foram identificados: i) valores no âmbito da modalidade epistêmica (possibilidade, probabilidade, dúvida e certeza), derivados de um significado-fonte (habilidade) associado à modalidade orientada para o agente; e ii) outras expressões de subjetividade como surpresa, ironia, alegria. O controle da frequência permitiu esboçar padrões de uso do item: “capaz” é mais recorrente em contextos de certeza (em respostas negativas e afirmativas) e de dúvida/ surpresa, aparecendo predominantemente como item sintaticamente autônomo, na função de marcador discursivo. Verificou-se que a natureza da informação dada pelo interlocutor (pergunta, opinião, fato/notícia), bem como aspectos prosódicos que envolvem o item são determinantes para a interpretação do significado de “capaz”
(Inter)subjetivização de marcadores discursivos de base verbal: instâncias de gramaticalização
Este artigo objetiva apresentar, numa perspectiva pancrônica, uma descrição da multifuncionalidade dos marcadores discursivos olha e vê em amostras de escrita e de fala catarinense. A análise é sustentada por uma abordagem funcionalista da gramaticalização, com ênfase na mudança semântico-pragmática e categorial dos itens, considerando a questão da (inter)subjetividade e (inter)subjetivização e sua relação com as funções da linguagem no processo de mudança. As ocorrências examinadas evidenciam que (i) das práticas comunicativas emergem polissemias pragmáticas, que sinalizam, em graus variáveis, o envolvimento do falante com o ouvinte, bem como um incremento de significados vinculados à atitude do falante a respeito do que é dito, além de tímida função dos itens no âmbito textual; (ii) os diferentes contextos de atuação discursiva de olha e vê são atestados a partir de frequências de uso que apontam tanto para situações de variação como para contextos de restrição de uso; (iii) há indícios de gramaticalização desses marcadores discursivos, estando olha num processo mais adiantado do que vê
RECONFIGURAÇÃO DA SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA E REPERCUSSÕES PARA O ENSINO: QUESTÕES ESTILÍSTICAS E IDENTITÁRIAS | RECONFIGURATION OF VARIATIONIST SOCIOLINGUISTICS AND REPERCUSSIONS FOR TEACHING: STYLISTIC AND IDENTITY ISSUES
Resumo: O objetivo deste texto é discutir questões estilísticas e identitárias associadas a indivíduos e/ou a grupos sociais ou regionais e que vão além de uma visão polarizada de prestígio/estigma, de padrão/não padrão ou de formal/informal. A discussão se dá no escopo da Sociolinguística Educacional, a partir de reflexões à luz de avanços na área da Sociolinguística Variacionista, considerando as três ondas delineadas por Eckert (2012), e de orientações constantes em documentos oficiais (PCN e BNCC) acerca do tratamento da variação. Enfatiza-se a necessidade de reforço e ampliação da “bagagem” do professor, especialmente na formação de docentes nos cursos de Letras e de Pedagogia e sugerem-se algumas atividades de ensino, envolvendo aspectos estilísticos e construção de identidade. Abstract: The aim of this text is to discuss stylistic and identity issues associated with individuals and/or social or regional groups, beyond a polarized vision of prestige/stigma, standard/non-standard or formal/informal register. The discussion takes place within the scope of Educational Sociolinguistics, based on reflections in light of advances in the area of Variationist Sociolinguistics, considering the three waves delineated by Eckert (2012), and guidelines in official documents (PCN and BNCC) about the treatment of variation. Emphasis is given to the need to reinforce and expand the teacher's "baggage", especially in the training of teachers in the Letras and Pedagogy courses and suggest some teaching activities, involving stylistic aspects and identity construction. Keywords: Educational sociolinguistics; Stylistic variation; Identity.
A terceira onda variacionista - continuidade ou descontinuidade de fases?
The systematization of the studies of variationist sociolinguistics in three waves (ECKERT, 2012), or phases, organizes in a way the work that has been carried out in the area since the 1960s. Refining this systematization, this article aims to discuss the epistemological (and therefore theoretical-methodological) (in)adequacy of the approximation between the waves based on favorable and unfavorable arguments to the idea of continuity/ complementarity between the phases. This investigation has an interpretative nature, constitutes a bibliographic research and examines Eckert (2000; 2008; 2012; 2016a; 2016b; 2018), Labov (2001, 2010), Eckert and Rickford (2001), Coupland (2001; 2007, 2014); Camacho (2013; 2015) Bell (2001; 2014; 2016), Eckert and Labov (2017), Hernández-Campoy (2019; 2020), among other authors. The reflections point to the possibility of two different interpretations about the relatioship established between the different variationist phases: on the one hand, one interpretation is that there is an epistemological continuum between the three phases, so that its assumptions would be integrated in the third wave, leading to a robust theory of variation; on the other hand, another interpretation is that there is no epistemological continuum between the three phases, since the first phase would harmonize with procedures of a structural approach and the third phase would harmonize with procedures of an antropological-discursive approach, leading to a robust theory of variation by the aspects that are constitutive to its (and not by an integration of assumptions of the three phases). In view of the discussion carried out, we highlight that is relevant for the area to consider this controversial metatheoretical point. A sistematização dos estudos da sociolinguística variacionista em três ondas (ECKERT, 2012), ou fases, organiza, de certo modo, os trabalhos que vêm sendo realizados na área desde a década de 1960. Refinando essa sistematização, este artigo objetiva discutir a (in)adequação epistemológica (e teórico-metodológica, por conseguinte) da aproximação entre as ondas com base em argumentos favoráveis e desfavoráveis à ideia de continuidade/complementariedade entre as fases. De cunho interpretativista, esta investigação constitui-se como pesquisa bibliográfica e examina Eckert (2000; 2008; 2012; 2016a; 2016b; 2018), Labov (2001, 2010), Eckert e Rickford (2001), Coupland (2001; 2007, 2014); Camacho (2013; 2015) Bell (2001; 2014; 2016), Eckert e Labov (2017), Hernández-Campoy (2019; 2020), dentre outros autores. As reflexões apontam para a possibilidade de duas diferentes interpretações sobre a relação que se estabele entre as diferentes fases variacionistas: por um lado, a de que há um continuum epistemológico entre as três fases, de modo que seus preceitos se encontrariam integrados, na terceira onda, ensejando uma teoria de variação robusta; por outro lado, a de que “não” há um continuum epistemológico entre as três fases, uma vez que a primeira fase se harmonizaria com procedimentos de uma abordagem estrutural e a terceira fase, com procedimentos de uma abordagem antropológico-discursiva, ensejando, essa última, uma teoria de variação robusta pelos aspectos que lhe são constitutivos (e não por uma integração de preceitos das três fases). Diante da discussão desenvolvida, destacamos a relevância de a área se debruçar sobre esse controverso ponto metateórico