15 research outputs found

    Território, Língua e Literatura Oral na Amazônia

    Get PDF
    Resumo: Na Amazônia, durante muitos séculos, os povos indígenas demarcaram seus respectivos territórios, tendo como um dos critérios, as línguas que eram ali faladas, portadoras de narrativas orais, de conhecimentos e de memória. A chegada do europeu acabou por validar tal critério. Durante todo o período colonial, as línguas europeias avançaram de forma muito lenta, demarcando elas também o seu território. Ao longo desse período, a Língua Geral se expandiu e só começou a declinar na segunda metade do século XIX, justamente quando vários tupinólogos se dedicaram a estudar sua função social, sua importância e a literatura oral que ela veiculava, fascinados pelas narrativas indígenas. Um deles foi o Conde Ermanno Stradelli (1852-1926), que viveu 43 anos na região, elaborou um dicionário Nheengatu-Português e Português-Nheengatu, coletou e publicou narrativas míticas e inúmeros textos em jornais e revistas especializadas da Itália e do Brasil. O Nheengatu, conhecido também como Língua Geral Amazônica (LGA), foi declarado, em 2002, língua coofi cial do município de São Gabriel da Cachoeira (AM). Pretendemos discutir aqui as políticas que contribuíram para o destino dessa e de centenas de línguas amazônicas, bem como refl etir sobre a literatura oral coletada por Stradelli, destacando o seu valor como portadora de etnoconhecimentos, como lugar de memória e como patrimônio imaterial. Nenhuma língua primitiva do mundo, nem mesmo o sânscrito, ocupou tão grande extensão geográfi ca como o tupi e seus dialetos; com efeito, desde o Amapá até ao Rio da Prata [...] desde o Cabo de São Roque até ao Javari, [...] estão, nos nomes dos lugares, das plantas, dos rios e das tribos indígenas [...] os imperecedores vestígios dessa língua (COUTO DE MAGALH�ES, 1876a). Palavras-chave: Território. Língua. Literatura oral. Amazônia

    CURADORIAS COMPARTILHADAS EM EXPOSIÇÕES INDÍGENAS: O CASO DE “DJA GUATA PORÔ NO MUSEU DE ARTE DO RIO

    Get PDF
    O artigo tem por objetivo discutir a curadoria compartilhada de indígenas na construção da exposição “Dja Guata Porã: Rio de Janeiro Indígena”, realizada no Museu de Arte do Rio (MAR) entre os meses de maio de 2017 a março de 2018. Seus autores participaram da exposição na qualidade de pesquisador e curador, respectivamente, acompanhando os processos aqui narrados, as reuniões e os encontros da equipe, formada por técnicos do MAR e convidados externos, entre os quais representantes qualificados de diferentes etnias, que vivenciaram as diferentes etapas de construção da exposição. Puderam assim observar como se articularam as relações interculturais estabelecidas no processo de elaboração da referida mostra e as interlocuções diretas com os indígenas, situando-as aqui de forma sucinta no contexto das propostas sobre as estruturas do trabalho museológico da denominada “Nova Museologia”

    Direito linguístico é pressuposto para a garantia dos direitos humanos: entrevista com José Ribamar Bessa Freire

    Get PDF
    Interview with José Ribamar Bessa Freire.Entrevista com o José Ribamar Bessa Freire, doutor em letras pela UERJ, professor de Pós-Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNI-Rio), autor de "Rio Babel: a história das línguas na Amazônia" (2004) e organizador e autor de diversos artigos, livros e capítulos de livros

    Berta Gleizer Ribeiro e as artes das vidas amazônicas

    Get PDF
    O presente artigo homenageia Berta Ribeiro, próximo do centenário de seu nascimento, em 2024. O texto não apresenta uma análise aprofundada de sua contribuição para a etnologia de diferentes povos indígenas brasileiros em face das limitações impostas por um artigo de periódico. Constitui, antes, uma celebração de Berta Ribeiro e de sua obra que contribuíram para a consolidação da antropologia brasileira e da América-Latina. As reflexões que seguem enfocam as abordagens às quais a antropóloga dedicou especial atenção, como as que se conectam aos estudos de objetos de uso cotidiano, às estéticas amazônicas, à mitologia de povos indígenas do Alto Rio Negro e, ainda, às questões ecológicas. O trabalho de Berta Ribeiro propicia fecundas conexões e diálogos com a antropologia contemporânea, oferecendo reflexões e práticas inspiradoras que nos alcançam no presente.Cet article rend hommage à Berta Ribeiro, à l’approche du centenaire de sa naissance, en 2024. Le texte ne présente pas une analyse approfondie de sa contribution à l’ethnologie des peuples amérindiens du Brésil, compte tenu des limites imposées par un article de journal. Il constitue plutôt une célébration de Berta Ribeiro et de son travail qui a contribué à la consolidation de l’anthropologie brésilienne et latino-américaine. Les réflexions qui suivent portent sur les approches auxquelles cette anthropologue a porté une attention particulière, comme celles liées à l’étude des objets du quotidien, à l’esthétique amazonienne, à la mythologie des Amérindiens du haut Rio Negro, mais aussi aux enjeux écologiques. Par ses réflexions et des pratiques qui constituent encore aujourd’hui une source d’inspiration, le travail de Berta Ribeiro offre des connexions et des dialogues fructueux avec l’anthropologie contemporaine.This article honors Berta Ribeiro, close to the centenary of her birth, in 2024. The text does not present an in-depth analysis of her contribution to the ethnology of different Brazilian indigenous peoples, given the limitations imposed by a journal article. Rather, it constitutes a celebration of Berta Ribeiro and her work, which contributed to the consolidation of Brazilian and Latin American anthropology. The reflections that follow focus on the approaches to which the anthropologist paid special attention, such as those connected to the study of everyday objects, to Amazonian aesthetics, to the mythology of the indigenous peoples of the upper Rio Negro, and also to ecological issues. Berta Ribeiro’s work provides fruitful connections and dialogues with contemporary anthropology, offering inspiring reflections and practices that reach us in the present

    Patrimoine en réseau : les cendres, la braise et les droits des Amérindiens au Brésil

    No full text
    Ce chapitre traite de l’utilisation des technologies numériques par les populations amérindiennes de différentes ethnies au Brésil. Il tentera de mettre en lumière l’impact des technologies de l’information et de la communication numérique sur la consolidation du patrimoine et sur l’identité amérindienne. Il s’agira de se pencher particulièrement sur le travail d’une mémoire créative construite de façon procédurale et collaborative, en contraste avec l’idée communément admise selon laquelle la mémoire serait constituée uniquement du passé. En effet, pour les Guarani, le passé ne se trouve pas avant, mais dans le présent. L’utilisation des technologies numériques par les Amérindiens provenant de différentes ethnies au Brésil s’inscrit dans un contexte de tension entre la tradition et l’innovation, ce qui engendre des conséquences sociopolitiques et culturelles, en particulier dans le domaine de l’identité et de la mémoire. Le patrimoine en réseau, préservé à l’aide des technologies de l’information et de la communication numérique, implique des sujets actifs et engagés à leur propre préservation et à leurs propres processus. En effet, lorsqu’ils reconstruisent leur patrimoine, ils reconstruisent aussi leurs modes de subjectivité. Ils établissent ainsi une écriture d’eux-mêmes inséparable de l’écriture du monde. L’émergence de « microlibertés » amérindiennes, à travers leur entrée dans le territoire numérique, exerce une pression sur la culture de masse qui se veut universelle et qui perçoit l’« Indien » à partir d’une notion romantique, généralisatrice et associée à l’idée de retard intellectuel, économique et culturel. Ces pressions sont capables de provoquer une « déterritorialisation de la majorité », selon le concept de Deleuze. En effet, au même moment où l’expérience technosociale favorise la construction identitaire des Amérindiens, elle entraîne également une déterritorialisation de la notion générique d’« Indien ». Nous présenterons ici une étude de cas sur le blog Índios online (Indiens en ligne), qui illustre l’utilisation des technologies numériques par les Amérindiens. Selon l’hypothèse présentée ici, ce blog favoriserait une reconnaissance des récits amérindiens, bien qu’ils ne composent pas l’histoire officielle de la nation. Il la fait toutefois émerger et quitter son état d’« effacement » de la mémoire collective. Chaque post présente la subjectivité de son auteur et son identité amérindienne. En effet, il s’agit d’un média où la figure de l’auteur est indispensable à sa construction. Ainsi, Internet se présente comme un instrument puissant en faveur des droits amérindiens. Le blog interethnique Índios online montre que le patrimoine en réseau est davantage une pratique sociale vivante qui doit être préservée qu’un héritage intouchable qui doit être transmis

    Indians in Court: protagonism and indigenous diplomacy in the 19th century

    No full text
    PROTAGONISMO E DIPLOMACIA INDÍGENA NO SÉCULO XIX Resumo: a cidade do Rio de Janeiro no século XIX era o mais importante centro político e econômico do Brasil, configurando-se em um palco de mediações por excelência. Nesse texto, abordaremos o uso da diplomacia por chefes/representantes indígenas como arma em lutas por garantia de direitos, particularmente suas terras, a partir das negociações dos índios Coroado habitantes do aldeamento de Valença (RJ). Palavras-chave: Índios no Rio de Janeiro. Diplomacia Indígena. Conflitos de Terras. Protagonismo. Resistência. Abstract: the city of Rio de Janeiro in the 19th century was Brazil's most important polical and economic center, set as a stage for mediation par excellence. In this text, we will approach the use of diplomacy by indigenous representatives/chiefs as a weapon in struggles for guarantees of rights, particularly their lands, from the negotiations of the Coroado indians, inhabitants of the Valencia settlement (RJ). Keywords: Indians in Rio de Janeiro. Indian diplomacy. Land conflicts. Protagonism. Resistance
    corecore