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Genealogia do pessimismo
No Livro VII da República Platão constrói a Alegoria da caverna como um dispositivo para comunicar, de modo simples e acessível, a sua visão do mundo desde o ponto de vista metafísico e epistemológico; no Livro VI, com a Analogia do sol (Rep. VI 504c et seq.), ele oferece as ferramentas necessárias para navegar o vasto arsenal conceptual que subjaz à memorável narrativa literária. No seguinte artigo nos propomos a realizar uma leitura conjunta do Livro VI e VII da República, com o objetivo de tornar explícito o pano de fundo pessimista que permeia a seção central do diálogo e o modo no qual esse subsolo se contrapõe à intencionalidade utópica que permeia o resto do texto. Diremos que o contraponto entre utopia e pessimismo não constitui um paradoxo nem uma contradição, mas uma chave de leitura útil, necessária e até urgente, para penetrar no significado cabal do pensamento platônico tal como ele se apresenta nesta obra de madurez. Concluiremos, por fim, que se bem é justo apresentar Platão como o fundador da tradição da utopia ocidental, isto só é aceitável se, ao mesmo tempo, se o apresenta como um dos mais antigos pessimistas e, enquanto tal, como o primeiro crítico da utopia
Utopia e pessimismo na República de Platão
Orientador: Lucas AngioniTese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências HumanasResumo: Este trabalho se insere na polêmica a respeito do caráter utópico da República de Platão. A tese é que só é legítimo considerar a República a utopia fundadora da literatura ocidental, se a obra for considerada, ao mesmo tempo, a primeira crítica da utopia da literatura ocidental. Diremos que os diversos paradigmas ali expostos são contestados por gestos dramáticos e teorias filosóficas abertamente pessimistas, e que este é o cerne da crítica em questão. No primeiro capítulo, nos concentraremos no gesto dramático em que a zombaria e o ridículo são utilizados como meios para impedir certas posições ingênuas e otimistas de Sócrates em relação à motivação humana. Veremos aqui um pessimismo implícito. No segundo capítulo, observaremos como Sócrates, ao mesmo tempo que constrói os diversos paradigmas, desenvolve, paralelamente, teorias propriamente filosóficas de conteúdo pessimista denso e explícito. Tentaremos extrair esse conteúdo colocando especial ênfase na teoria da alma tripartida e na alegoria da caverna, com o intuito de mostrar como nelas se desdobra uma visão (i) da interioridade humana em que o conflito interno entre as partes da alma é inevitável e, conseqüentemente, o estado psíquico ótimo, inatingível e (ii) do conhecimento, no qual a compreensão e comunicação da ideia do Bem escapa à inteligência humana, mesmo para as almas mais bem dotadas e educadas. Diremos que, por esses motivos, o ideal do filósofo, isto é, o ideal do dlmínio de si com base na razão esclarecida, é de consecução duvidosa e improvável, tornando assim duvidosa e improvável a figura do rei-filósofo e, portanto, também da Kallipolis sob sua regência. No terceiro capítulo, nos concentraremos no fenômeno do pessimismo, procurando expor suas raízes e percorrer a literatura secundária que o situa em relação ao pensamento platônico, em especial o da República. Concluiremos que, longe de constituir um paradoxo ou uma contradição, a República, neste contexto específico, apresenta-se como um exercício sem pretensões conclusivas mas intencionalmente aberto, cuja mensagem reside antes em uma recomendação metodológica relativa à procura da melhor vida possível—mas não em uma norma definitiva ou uma proposta igualmente consolidada para o seu empreendimento. Platão embarca na construção do ideal, mas convida simultaneamente a uma crítica desse ideal a partir da consideração exaustiva e filosófica das condições da experiência, apresentadas em toda a sua adversidade, bem como a uma ação positiva sobre tal experiência em direção ao ideal, não no sentido da sua realização final e absoluta, que se assume, no interior da própria obra e nas antípodas dos escritos utópicos tradicionais, impossível e até indesejável, mas em um sentido vinculado à resiliência, centrado na redução de danos e orientado a um progresso limitado, embora possívelAbstract: This work addresses the controversial issue of the utopian nature of Plato's Republic. My thesis is that it is legitimate to consider the Republic as the founding utopia in the history of Western literature only if it is considered, at the same time, as the first critique of utopia in Western literature. I suggest that the Republic's several paradigms are counteracted by pessimistic dramatic gestures and philosophical theories, and that this is the core of the criticism at stake. In the first chapter I concentrate on the dramatic use of mockery and ridicule as strategies to stop and refrain certain naive and optimistic positions advanced or insinuated by Socrates concerning human motivation. We will see, here, an implicit pessimism. In the second chapter I observe how Socrates, while constructing positions of a more refined optimism, expounds—in parallel way— properly philosophical theories with a dense and explicit pessimistic content. I try to highlight this content with special emphasis on the Theory of the tripartite soul and the Allegory of the cave, in order to show two main points. First, the Theory of the tripartite soul suggests a vision of human interiority in which the internal conflict between the parts of the soul is inevitable and, consequently, the optimal psychic state is unattainable. Second, the Allegory of the cave suggests a vision of human reason in which the knowledge and communication of the idea of the Good escapes human intelligence, even for the best endowed and educated souls. I suggest that, for these reasons, the ideal of the philosopher, i.e., the ideal of self-control based on reason, is of doubtful and improbable attainment, and, consequently, the same applies both to the ideal of the philosopher-king and to the Kallipolis under his regency. In the third chapter, I concentrate on the phenomenon of pessimism, trying to expound its philosophical roots with attention to the secondary literature that examines it in the broader context of Plato’s thought, especially the Republic. I conclude that, far from constituting a paradox or a contradiction, the Republic is, in this specific context, an exercise in no way conclusive, but intentionally open. Its main message lies rather in a methodological recommendation relative to the search for a better life than in a definitive prescription or an equally consolidated path for its realization. Plato embarks on the construction of the ideal, but invites the reader to perform a serious critique of that very ideal based on an exhaustive and philosophical consideration of the limitations of experience, presented in all their adversity. Plato also invites the reader to engage in a positive action in relation to the ideal, not in the sense of its final and absolute realization—which is assumed, within the work itself and in the antipodes of traditional utopian writing, impossible and even undesirable—, but in a sense linked to resilience, focused on minimizing harm and heading towards a limited, but still possible progressDoutoradoFilosofiaDoutora em Filosofia2013/26800-3FAPES
Belleza eidética. Lo clásico y lo moderno en el platonismo de Joaquín Torres García.
La influencia del pensamiento de Platón en los escritos de Joaquín Torres García es, al presente, tan conocida como poco entendida. El abordaje crítico de esta relación en el plano de lo plástico es apenas identificable dentro del marco historiográfico. La incidencia de la idea platónica en las contradicciones epocales, particularmente en la relación de este artista con muchos movimientos de la vanguardia europea, empieza a ser materia tratada solo en las últimas décadas. Estos tres aspectos serán la mate-ria del siguiente artículo, cuyo fin es profundizar en el platonismo torresgarciano desde el punto de vista teórico y práctico y ahondar en la complejidad propia de un tiempo de cambios en la historia del arte como lo fue la primera mitad del siglo XX.The influence of Plato¿s thought in Joaquin Torres Garcia¿s writings is, nowadays, as well-known as it is little-understood. A critical approach to the artistic element of this relationship is barely identifiable within the scope of historiography. The incidence of Platonic idealism in the epochal contradictions, particularly in associating Torres with certain movements of the European avant-garde, begun to be studied in recent decades only. These three aspects will be the subject of the following article, whose purpose is to think about Torresgarcian Platonism from both a theoretical and a practical point of view and to delve into the complexity of a period of great changes in art history: the first half of the XX century.Universidad Pablo de Olavid
Structure and dynamics of the psyche in the platonic philosophy of The Republic
Orientador: Lucas AngioniDissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências HumanasResumo: O objetivo do presente trabalho é expor criticamente os traços principais da doutrina da alma tripartida tal como Platão os apresenta em República. Para isto se estudarão: (i) o Princípio de Partição e os "casos" que o filósofo trás para defender o caráter composto da psique; (ii) a concepção de "parte" da alma e a natureza de cada uma das mesmas e (iii) os modos nos quais as partes se vinculam entre si no interior da psique. Procurar-se-á por em relação a psicologia assim desenhada com a filosofia moral e a concepção da felicidade expostas no mesmo diálogo. Neste contexto, se prestará especial atenção a certos fatores que parecem impedir a realização da unidade interna do sujeito, e, com ela, a consecução da felicidade e o exercício da ação verdadeiramente moral. Entre tais fatores se tratarão, em particular, as "falhas" plausíveis de afetar a cada uma das partes e o fenômeno do conflito psíquico (stasis). Perguntar-se-á se estes fatores constituem, respectivamente, condições imodificáveis e iniludíveis. Na proximidade de uma resposta afirmativa se vislumbrará, por fim, um "espírito pessimista" subjacente à psicologia platônica de República e, a partir dela, ao âmbito moral e eudeimonológicoAbstract: In the following dissertation we intend to offer a critical account on the theory of the tripartite soul as Plato presents it in the Republic. In order to accomplish this, we will study: (i) the Principle of Partition and the "cases" that the philosopher brings to defend the composite character of the soul, (ii) the concept of "part" of the soul and the nature of each one of the three that Plato distinguishes, and (iii) the possible relationships between such parts within the soul. We intend, as well, to relate the psychology thus designed with the moral philosophy and the theory about happiness exposed in the dialogue. In this context, we will pay particular attention to certain facts that seem to prevent the individual from achieving internal unity - unity required both for happiness and for truly moral action; among these, we will concentrate particularly on the "flaws" that appear to affect each part and on the phenomenon of psychic conflict (stasis). We will ask whether these two factors are, respectively, unavoidable and unchangeable conditions for the soul. Finally, once close to an affirmative answer, we will glimpse a "pessimistic spirit" behind the psychology of Plato's Republic and, consequently, behind the moral and eudeimonologic sphereMestradoFilosofiaMestra em Filosofi
Mujica As An Icon.
Jose "Pepe" Mujica established in Uruguay, between 2010 and 2015, a political era of long and complicated maturation, giving this small country of three million inhabitants an unprecedented international projection and, at the same time, becoming himself a symbol. Being a philosophical and a mediatic figure also, this peculiar and extremely paradoxical character has just concluded a government in which he seemed to have fulfilled his own destiny, and at the same time that of the whole Nation. Controversial both in his political measures and in his private way of life, "Pepe", as his fellows call him, has combined in his unusual person the reality of the countrymen, so typical of our emergent continent, and an exercise of citizenship which we will probably not be able to find again easily. In the following article we intend to offer a critical review of his life and deeds, with the intention of understanding the reasons that turned him into the contemporary icon he has become.49310
Mujica como icono = Mujica as an Icon
Mujica as an Icon. José “Pepe” Mujica established in Uruguay, between 2010 and 2015, a political era of long and complicated maturation, giving this small country of three million inhabitants an unprecedented international projection and, at the same time, becoming himself a symbol. Being a philosophical and a mediatic figure also, this peculiar and extremely paradoxical character has just concluded a government in which he seemed to have fulfilled his own destiny, and at the same time that of the whole Nation. Controversial both in his political measures and in his private way of life, “Pepe”, as his fellows call him, has combined in his unusual person the reality of the countrymen, so typical of our emergent continent, and an exercise of citizenship which we will probably not be able to find again easily. In the following article we intend to offer a critical review of his life and deeds, with the intention of understanding the reasons that turned him into the contemporary icon he has become