37 research outputs found

    Entre o texto e a vida: uma leitura sobre as políticas de educação especial

    Get PDF
    À margem da agenda política do Estado, a educação especial tradicionalmente se organizou como atendimento educacional especializado substitutivo ao ensino comum, em classes e escolas especiais. Nas últimas décadas, o Brasil, em consonância com movimentos internacionais, estabeleceu uma série de leis, políticas e programas para combater as desigualdades e a exclusão escolar. Nesse movimento, sujeitos com transtornos globais do desenvolvimento (TGD), tradicionalmente apartados dos processos de escolarização, são recebidos nas salas de aula e no velho pátio da escola. Quais racionalidades sustentam as formas de nomear e identificar esses alunos? Como compreender as relações entre os diagnósticos, as políticas e a inscrição das (im)possibilidades escolares? Em que medida as políticas inclusivas de educação especial desconstroem sentidos que relacionam os TGD à ineducabilidade, ou, ainda, a diferença à anormalidade e à inferioridade? O presente ensaio discute a implementação das diretrizes inclusivas considerando o texto político e seus efeitos no contexto da prática. A hermenêutica filosófica oferece os tempos e os focos da leitura. O argumento é tecido com e a partir das falas de um aluno e de professores, em diferentes campos de pesquisa. Do texto à vida, o incremento das matrículas; a proliferação dos sentidos sobre esses alunos e as possibilidades escolares; a atualização de antigos impasses perante o novo, o diferente. Se, no âmbito dos princípios, são reconhecidas a igualdade e as diferenças, na concretude das escolas ainda persiste a noção do diferente como desigual. Da inclusão ao pertencimento, aposta-se no diálogo como valoração da alteridade e condição de pertença.On the sidelines of the State political agenda, special education has traditionally been organized as the specialized educational catering that substitutes regular teaching in special classes and schools. In the last decades, Brazil, in tune with international movements, has established a series of laws, policies and programs to tackle inequalities and social exclusion. In such movement, subjects with global learning difficulties (GLD), traditionally excluded from schooling processes, are accepted in the classroom, and in the old school yard. What rationalities give support to the forms of naming and identifying who are these pupils? How do we understand the relation between the diagnostics, the policies, and the inscription of the school (im) possibilities? To what extent inclusive policies of special education deconstruct the meanings that associate GLDs with ineducability or, still, difference with abnormality and inferiority? This essay discusses the implementation of guidelines of inclusion considering the political text and its effects on the context of the practice. Philosophical hermeneutics offers the times and focus for this reading. The argument is woven with and from the speeches of a pupil and of teachers in different fields of research. From text to life, the increase in enrolments; the proliferation of the meanings about these pupils and the school possibilities; the re-enactment of old impasses faced with the new, the different. Although within the sphere of principles equality and differences are both recognized, in the concrete life in schools the notion of the different as unequal still endures. From inclusion to belonging, we put our hopes here in the dialogue as valuation of alterity and requirement of belonging

    Don Quixote e a transgressão do saber

    No full text
    A partir de algumas passagens do texto de Cervantes Don Quixote de La Mancha, o autor propõe reflexões sobre a questão da realidade, da verdade, do saber e de sua transgressão. Don Quixote morre em paz após ter deixado a incerteza da realidade, visitado a loucura da certeza, e, finalmente, ter-se resignado ao fato de que qualquer abordagem da realidade é sempre uma construção que tem, também, a função de um mito fundador. Para aprofundar o debate sobre a questão, o autor utiliza algumas referências da física quântica a fim de fazer um diálogo transdisciplinar entre esta disciplina e a psicanálise para mostrar que tanto para uma, quanto para a outra, a realidade é sempre uma construção. O autor sustenta que, justamente por ser uma construção, a verdade será constantemente destituída para ceder lugar a outra que, por sua vez, será também destituída. Cervantes pertence à tradição intelectual de Erasmo de Roterdam, e seu Don Quixote deambula pelo universo de Erasmo no qual qualquer verdade é suspeita, e tudo banha na incerteza. Don Quixote de La Mancha é o resultado do encontro da sabedoria de Roterdam com a loucura de La Mancha. Ao ultrapassar o “sabido”, Don Quixote transgride uma verdade até então tida por sagrada e como garantia de um saber e, por conseguinte, de um possível controle sobre o mundo. A transgressão produz momentos de virada sem que exista, evidentemente, uma transgressão ultima, o que equivaleria a recriar o mito de um conhecimento absoluto. Segundo a autor, falta à prática teórica-clínica atual o movimento transgressivo necessário para deixarmos o abrigo das verdades construídas. Palavras-chave: mito; verdade; loucura, saber; transgressão

    Freud traído

    No full text
    This paper stimulates a discussion on an increasingly frequent form of betrayal, which consists of attributing to Freud a number of concepts and theoretical positions, which are not present in his work. The author denounces these distortions of Freud’s thought, which began with the translation of his work, and continues when one says, for example, "the subject in Freud", "the concept of phallus in Freud", "the structure of narcissism" and so forth. Although it is admissible to read Freud using the new lens brought by Lacan’s contributions that have arisen from other schools of thinking, we are not authorized to attribute to Freud things that he never said. The author also maintains that we cannot talk about structuralism in Freudian theory for, at least, two reasons. First, such Freud’s thought can only be fully appraised from the "Evolution Theory" viewpoint, from which Freud derived his main theoretical standpoints. Finally, the author discusses the consequences of such betrayal in clinical work, in the understanding of psychic suffering and in the definition of normality.Este trabalho traz para o debate as conseqüências de uma forma de traição, cada vez mais freqüente, que consiste em atribuir a Freud certos conceitos e posições teóricas que não estão, em absoluto, em sua obra. O autor denuncia as deformações do pensamento freudiano, que começaram pela tradução de sua obra e que continuam quando se fala, por exemplo, de "o sujeito em Freud", "o conceito de falo em Freud", "a estrutura do narcisismo" e outras tantas. Embora se possa, a partir das importantes contribuições que Lacan trouxe de outras áreas do conhecimento, ler Freud com novas lentes, isto não nos autoriza a atribuir a Freud coisas que ele não disse. O autor sustenta que não se pode falar de estruturalismo na teoria freudiana por, basicamente, dois motivos: primeiro, que esta teoria surge nos anos sessenta, logo, bem depois de Freud; segundo, que o pensamento freudiano só pode ser devidamente apreciado a partir da teoria da evolução de Darwin, de onde Freud tira seus principais conceitos. Finalmente, o autor discute os desdobramentos de uma tal postura no manejo da clínica, na direção do tratamento, no entendimento do sofrimento psíquico e na noção de normalidade

    Reflexões sobre a sexualidade masculina

    No full text
    According to the hypothesis of the text all elaboration on female sexuality would be a way used by men for not having to deal with the construction of their own sexuality and, moreover, to keep the dominant androcentric discourse. To sustain his hypothesis, the author makes a historical digression to show how the discourses on female sexuality has been treated over the centuries and hence the place of women in social relations, and the issue of female pleasure. He also discusses how women's movement, those that claim sexual diversity, the new family organizations, as well as recent works on gender, have led psychoanalysts to reconsider some of its concepts and think of new forms of subjectivity not dominated by phallocentrism.A hipótese do texto é que toda a elaboração sobre a sexualidade feminina seria um recurso utilizado pelos homens para não terem que enfrentar a construção de sua própria sexualidade e, mais ainda, para manter o discurso androcêntrico dominante. Para sustentar sua hipótese, o autor faz uma pequena digressão histórica para mostrar como os discursos sobre a sexualidade feminina têm sido tratados ao longo dos séculos e, consequentemente, o lugar da mulher nas relações sociais e a questão do prazer feminino. Discute-se também como os movimentos femininos, os que reivindicam as diversidades sexuais, as novas organizações familiares, assim como os recentes trabalhos sobre gênero, têm levado os psicanalistas a rever alguns de seus conceitos e pensar em novas formas de subjetivação não dominadas pelo falocentrismo

    Reflexões sobre a economia psíquica das adicções

    No full text
    Partindo da hipótese segundo à qual a adicção possui uma trajetória pulsional, o texto propõe refletir sobre algumas passagens desta trajetória, cujo resultado teria levado à chamada “conduta adictiva”. O texto lança algumas hipóteses sobre as organizações psíquicas nas adicções em geral, e não apenas nas toxicomanias. A adicção ao outro, como possibilidade de sobrevivência psíquica, às drogas, às teorias... A partir da clínica, o autor propõe que as adicções são tentativas de tamponar a falha básica. A atividade compulsiva observada nas adicções denuncia o fracasso de tal empreitada. Como outros profissionais, o autor observa a existência de um narcisismo frágil nas organizações psíquicas dos sujeitos que apresentam condutas adictivas. Segundo o autor, esta fragilidade narcísica sugere que no período pré-edípico a criança em desenvolvimento não construiu imagos parentais e suportes identificatórios que acolhessem o seu desamparo de forma a dirigir tanto suas moções pulsionais agressivas quanto as afetivas.Starting from the hypothesis according to which addiction has a drive trajectory, the text proposes some reflections on this trajectory, the result of which would have slapped the so-called “addictive behavior”. The text throws some assumptions on the psychic organizations of addictions in general, not just on drug addictions. Addiction to another being, to drugs, to theories, and so forth maybe a possibility of psychic survival. Based on clinical experience, the author proposes that addictions are attempts to plug the basic fault. The compulsive activity observed in addictions denounces the failure of this venture. Like other professionals, the author notes the existence of a fragile narcissistic psychic organization in individuals who have addictive behaviors. According to the author, this suggests that narcissistic vulnerability in the pre-oedipal development of the child failed to build parental identificatory imagos to comfort his/her helplessness and to direct both his/her aggressive drive impulses and the affective ones

    Laço social: uma ilusão frente ao desamparo

    No full text
    Based on the interface “cultural development versus constitutive dynamic conflicts of the I”, the author presents the hypothesis according to which the analysis of some Freudian texts, suggests that social bond, a creation of Eros, is one amongst the many “solutions” human being uses to face helplessness. Such a solution is, though, an illusion, in the Freudian sense of the word: a belief motivated by the wish fulfillment, whose force originates in one of the most pressing wishes of the humanity: the necessity of protection through love. The text discusses the major elements that led Freud, between 1905 and 1913, to propose three phases of mankind evolution - the animistic, religious and the scientific one -, whose arguments he found in his clinical work. Before World War I, Freud based his hypothesis on Darwin’s Lamarck’s works, and believed in a progress of civilization. During the War, however, his idea of progress is radically put in question, and it reveals to be an utopia. Freud is obliged to admit that the civilized nations are capable of great horrors. That is to say, the return to barbarity is always a possibility whenever human being narcissism is threatened and he or she must face its helplessness. In such a situation is it civilization as a whole, as well as social bonds, that the risk of disappearing.O autor parte da interface desenvolvimento cultural versus conflitos dinâmicos constitutivos do Eu para apresentar a hipótese segundo a qual a leitura dos textos freudianos sugere que o laço social, criação de Eros, é uma dentre as várias “soluções” que o ser humano utiliza frente ao desamparo. Tal solução se mostra uma ilusão, no sentido freudiano do termo: uma crença motivada pela realização de um desejo, cuja força origina-se em um dos mais prementes desejos da humanidade: a necessidade de proteção através do amor. O texto discute os principais elementos que permitem a Freud, entre 1905 e 1913, estabelecer as três fases da evolução do pensamento da humanidade - a animista, a religiosa e a científica -, cujas provas ele encontra na clínica. Antes da Primeira Guerra Mundial, Freud baseava-se em Darwin e em Lamarck, e acreditava em um progresso da civilização. Com a Guerra, entretanto, a ideia de progresso é radicalmente questionada, revelando-se ser uma utopia, e Freud é obrigado a admitir que as nações mais civilizadas são capazes dos maiores horrores. Ou seja, o retorno à barbárie é uma possibilidade sempre presente quando o ser humano se vê ameaçado em seu narcisismo, e deve enfrentar o seu estado do desamparo. Neste tipo de situação é toda a civilização, todo laço social, que corre o risco de desaparecer

    Editorial

    No full text

    Perversões e suas versões

    No full text
    This paper is an attempt to elaborate some questions brought upon after the author’s participation on the XII International Forum of Psychoanalysis organized by the Círculo Psicanalítico de Minas Gerais in August 2004 in Belo Horizonte, Brazil. This text discusses the difficulties of finding a commonsense amongst the many psychoanalytical schools of thoughts, concerning both the theoretical and clinic aspects of perversion. After presenting a summary of Freud’s controversial positions on perver-sion, the author works with the hypothesis according to which the way a given psychoanalytical school deals with perversion is in close relationship with the way this same school conceptualizes the “individual” (subject). Finally, the author discusses the consequences of such differences in Psychoanalysis as a whole.Traduz a tentativa de elaborar algumas questões suscitadas no XIII Fórum Internacional de Psicanálise, organizado pelo Círculo Psicanalítico de Minas Gerais. São reflexões do autor sobre a dificuldade de consenso entre as correntes psicanalíticas no que diz respeito à concepção teórica e ao manejo clínico da perversão. Após apresentar, resumidamente, a concepção freudiana da perversão, o autor trabalha com a hipótese de que as posições teórico-clínicas de uma corrente psicanalítica, sobretudo no que diz respeito à perversão, são tributárias de como esta mesma corrente entende noção de sujeito. Finalmente, o autor faz algumas considerações sobre as conseqüências, para a psicanálise, destas diferenças teóricas

    A nova ordem repressiva

    No full text
    According to the author, some form of control according to the discourse of the social-historical moment we are going through has always marked humanity. This text discusses some contemporaneous instruments of control and repression. If religion has dictated the social norms for centuries, in modernity religious truths have been substituted by scientific statements that believed in historical linearity and conceived the world in a determinist way, based on the capacity of science on giving answers. Post-modernity has radically questioned the certitudes of modernity, which made appear new mechanisms of control. For the author, the necessity of the human being to create representations and devices to support and to nominate his/her inherent anguish leads him/her to submit himself/herself to a large variety of repressive discourses. Current scientific discourse, alongside with the many expressions of the “politically correct”, became an ideological instrument that express the search for normalization and standardization of behaviors, which generates a new repressive order. Concerning psychic health, the diagnosis manuals, supported by the pharmacological industries, transformed behaviors, individualities and diversities into pathologies and, at the same time, singularities into abnormalities. Which is the social commitment of psychologists in this debate?Segundo o autor, a humanidade sempre foi marcada por alguma forma de controle de acordo com o discurso do momento sociohistórico que atravessa: esse texto discute alguns instrumentos de controle e repressão da contemporaneidade. Se, por séculos, foi a religião que ditou as normas sociais, na modernidade, as verdades religiosas foram substituídas por enunciados científicos que sugeriam uma linearidade histórica e propunham uma compreensão determinista do mundo, baseada na capacidade da ciência em dar respostas. As certezas da modernidade foram radicalmente questionadas na pósmodernidade, fazendo surgir outros mecanismos de controle. Para o autor, a necessidade do ser humano de criar representações e dispositivos para suportar e nomear a angústia inerente ao desamparo que lhe é próprio o leva a submeter-se aos mais variados discursos repressivos. O discurso científico atual vem sendo transformado em instrumento ideológico que, com as inúmeras expressões do politicamente correto, traduzem uma busca de normatização e de padronização de comportamentos, gerando uma nova ordem repressiva. No que diz respeito à saúde psíquica, os manuais de diagnóstico, financiados pela indústria farmacêutica, transformam comportamentos, individualidades e diversidades em patologias: as singularidades tornam-se anormalidades. Qual é o compromisso social dos psicólogos nesse debate?Según el autor, la humanidad siempre fue marcada por alguna forma de control de acuerdo con el discurso del momento socio-histórico que atraviesa: ese texto discute algunos instrumentos de control y represión de la contemporaneidad. Si, durante siglos, fue la religión quien dictó las normas sociales, en la modernidad, las verdades religiosas han sido substituidas por enunciados científicos que sugerían una linealidad histórica y proponían una comprensión determinista del mundo, basada en la capacidad de la ciencia en dar respuestas. Las certezas de la modernidad fueron radicalmente cuestionadas en la posmodernidad, haciendo surgir otros mecanismos de control. Para el autor, la necesidad del ser humano de crear representaciones y dispositivos para soportar y nombrar la angustia inherente al desamparo que le es propio lo lleva a someterse a los más variados discursos represivos. El discurso científico actual viene siendo transformado en instrumento ideológico que, con las innumerables expresiones de lo políticamente correcto, traducen una busca de normatización y de padronización de comportamientos, generando un nuevo orden represivo. En lo que dice respecto a la salud psíquica, los manuales de diagnóstico, financiados por la industria farmacéutica, transforman comportamientos, individualidades y diversidades en patologías: las singularidades se tornan anormalidades. ¿Cuál es el compromiso social de los psicólogos en ese debate

    A morte da clínica?

    No full text
    corecore