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    Duas lições de cartografia fantástica

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    As trajetórias de Murilo Mendes e Jorge de Lima cruzaram-se em vários pontos desde que, nos anos trinta, publicaram juntos o livro de poemas Tempo e eternidade. Na mesma ocasião, ambos participaram da Comissão de Literatura Infantil do Ministério da Educação. Esta atividade secundária pode servir de ponto de referência para o exame da obra de ambos de modo a considerá-los “intérpretes do Brasil” particularmente argutos. A participação dos poetas nessa comissão revela, de um lado, o interesse público de suas realizações e, de outro lado, indica o tema da infância como uma das chaves de sua imaginação poética. É preciso ressaltar que esses dois poetas nunca aceitaram as orientações autoritárias da modernização nacionalista característica daquele período. O olhar infantil serviu-lhes para que inventassem imagens poéticas contrárias aos estereótipos da formação nacionalista. Desde seus trabalhos de juventude até os momentos mais ousados de sua poesia adulta, os dois artistas conseguiram produzir em sua arte um efeito cada vez mais potente de modo a oferecer imagens consistentes e desejáveis da nação

    Favela e floresta – escritas de periferias brasileiras

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    Nas últimas décadas, escritas das margens da sociedade moderna organizada e do cânone literário erudito começaram a circular entre os leitores, apresentando novos escritores desconhecidos até então. Este artigo comenta algumas narrativas coletadas na floresta tropical por índios que falam tanto sua língua nativa quanto português. Em paralelo, estuda estórias construídas na periferia das grandes cidades cujo tema é o modo de vida nas favelas. O fundo mítico destas vem principalmente da cultura ioruba herdada por muitos afrodescendentes. A leitura comparativa de tal seleção de textos traz argumentos para discutir conceitos e valores ocidentais, como antropocentrismo, preconceitos machistas e premissas centrais do racionalismo moderno. Outros aspectos observados são as marcas da tradição oral no estilo narrativo e a presença de personagens fantásticas como meio de explicar fenômenos naturais. Alguns textos buscaram publicação apenas para preservar saberes arcaicos, outros construíram-se com o intuito de produzir efeito artístico. Esses últimos usam o português como se fosse uma língua estrangeira misteriosa

    Arquivos literários — a vanguarda ativando os meios de conservação

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    In the wake of reflections on the centenary of the Week of Modern Art, some of the main archive institutions of Brazilian literature are observed and the outstanding role of the leaders of the 1922 movement is pointed out. Considering that the notion of historical and artistic heritage as well as the management of preserved documents result from actions of material and intellectual modernization of societies, a route was traced through IEB-USP, AMLB-FCRB, CEDAE-UNICAMP and AEM-CEL-UFMG. The opening moment of these institutions corresponded to the reception of modernist collections, having had the indispensable support of the heirs of the Week's legacy. This panoramic visit to the history of preservation of literary collections aims to contribute to the critical review of recent memory as a reinforcement of the articulation between the tasks of conserving, transforming and inventing.Na esteira das reflexões sobre o centenário da Semana de Arte Moderna, observam-se algumas das principais instituições de guarda de arquivos da literatura brasileira e aponta-se, na iniciativa de sistematizar a conservação de documentos literários, o papel destacado dos líderes do movimento de 1922. Considerando que a noção de patrimônio histórico e artístico tanto quanto a gestão dos bens preservados resultam de ações de modernização material e intelectual das sociedades, traçou-se um percurso pelo IEB-USP, AMLB-FCRB, CEDAE-UNICAMP e AEM-CEL-UFMG[1], cujo momento de abertura correspondeu à recepção de acervos de modernistas, tendo contado com o apoio indispensável dos herdeiros do legado da Semana. Esta visita panorâmica à história da preservação de acervos literários, realizada predominantemente em universidades públicas, tem o propósito de contribuir para a revisão crítica da memória recente como reforço à articulação entre as tarefas de conservar, transformar e inventar.   [1] Essas siglas, indicadoras de instituições de guarda e conservação de arquivos literários, serão referidas, na introdução do artigo, aos nomes, por extenso, das respectivas instituições. Entre as mesmas, apenas o AMLB integra uma fundação do governo federal ligada ao Ministério da Cultura, as demais fazem parte de universidades públicas

    MENDES, Nancy Maria. Apesar do tempo

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    INTEMPESTIVIDADE E PERSPECTIVISMO - EXERCÍCIOS DE RELEITURA DE OSWALD E MURILO MENDES

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    Para enfrentar seus impasses de hoje, a crítica da arte e do pensamento tem revisitado as escritas mais radicais da modernidade. Aposta-se em direções contrárias: por um lado, desconstruir tanto a epistemologiada compartimentação especializada do saber quanto o revolucionarismo utópico-progressista, exigidos pela racionalidade ocidentalizante; por outro lado, identificar momentos anacrônicos – isto é, de descompasso com as expectativas da primeira metade do século XX – capazes de inaugurar linhas de fuga inesperadas. Pretende-se, com tal aposta, a identificação e discussão de fragmentos iluminadores na trajetória dos modernistas brasileiros Oswald de Andrade e Murilo Mendes. Escolheram-se, como textos para exame, da obra de Oswald, a tese “A crise da filosofia messiânica” (1950) e a série de artigos “A marcha das utopias” (1953) e, da obra de Murilo, Poliedro e “Carta geográfica” (ambos escritos nos meados dos anos 60)

    MACHADO, NARRADOR-CRÍTICO

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    Quando um autor é homenageado no topo do cânone, é interessante revisar seus métodos de construção da obra investigando não sua obra prima mas crônicas e contos da juventude, textos publicados na imprensa e nunca incluídos em livros. Machado de Assis colaborou regularmente nos jornais e os editores de revistas femininas freqüentemente exigiam estórias sedutoras. Assim ele escreveu muitos enredos para o Jornal das Famílias que lhe serviram de laboratório literário. Tenta-se mostrar, aqui, que, mesmo nesses exercícios apressados, a escrita machadiana dobrava a fantasia em reflexão. A sua era uma prosa especulativa, ávida de questionar o poder comunicativo do discurso revelando sua margem impossível de decifração. Os comentários semanais leves e engraçados e as estórias para entretenimento, abandonadas nas coleções de jornais velhos, constituem um legado que não se descarta, pois permanece como dádiva e desafio para os leitores de hoje
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