9 research outputs found

    EDITORIAL

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    A temática do suicídio chama cada vez mais a atenção de pesquisadores, de estudiosos e da população em geral, e se coloca em lugar de destaque neste editorial da revista Expressão Católica Saúde. Não por acaso o tema vem sendo debatido atualmente. Dados do Ministério da Saúde mostram que, entre os anos de 2007 e 2016, ocorreu, no Brasil, um aumento de 16,8% na taxa de mortalidade por suicídio, e que, atualmente, o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idades entre 15 e 29 anos. A necessidade de falar sobre a prevenção ao suicídio é premente. Nos dias atuais, esse fenômeno constitui assunto de saúde pública e faz parte das atividades de todo profissional de saúde, mas nem sempre foi assim. Em torno do suicídio sempre existiu certo tabu, e se observou que, durante muito tempo, as pessoas preferiram ignorar a dimensão do problema. Tal dificuldade pode ser compreendida, pois lidar com o fenômeno do suicídio implica aprender a lidar, entre tantos outros aspectos, com a ideia de finitude humana, com a morte, com o desespero humano ante as impossibilidades e imprevisibilidades do cotidiano, e com a falta de esperança e fé na vida (Fukumitsu, 2014). Somente na década de 90 o suicídio foi considerado, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), um problema de saúde pública, e foram criados planos nacionais para sua prevenção. Dentre os principais itens contidos nos planos nacionais de prevenção ao suicídio, podemos destacar: conscientização da população, divulgação responsável pela mídia, redução do acesso a meios letais, programas em escolas, detecção e tratamento de transtornos mentais, entre outros. Assim, o Brasil assumiu o compromisso de reduzir em 10%, até 2020, o número de mortes por suicídio (Botega, 2015). Em setembro de 2014, a OMS publicou um dos mais relevantes relatórios já produzidos sobre a prevenção do suicídio: Preventing suicide- a global imperative. Este faz um resumo sobre o panorama desse grave problema, revelando números assustadores, e explica porque o suicídio é considerado caso de saúde pública no Brasil e no mundo. Entre alguns achados estão estimativas que 804 mil pessoas tenham se suicidado no mundo em 2012. São 2.220 casos realizados por dia, um a cada 40 segundos. O comportamento suicida é um fenômeno complexo, envolvendo vários fatores, como pessoais, sociais, psicológicos, culturais e ambientais. O suicídio ocupa 1,4 % de todas as mortes no mundo e ocorre em maior frequência tanto em idosos acima de 70 anos, como em jovens entre 15 e 29 anos, sendo, no Brasil, a segunda causa de mortes, perdendo apenas para acidentes de trânsito. Ressalta-se, ainda, que há mais suicídios entre homens do que entre mulheres, e a maior parte dos suicídios (75%) ocorre em países onde predominam economias de renda baixa ou média (Trigueiro, 2015). Diante da complexidade dos dados, e por ter uma dimensão multifatorial envolvida nos fatores causais (precipitantes) e nos fatores de risco (predisponentes), necessita-se dos profissionais envolvidos na prevenção do comportamento suicida e na sua posvenção a articulação com saberes e práticas oriundos de várias áreas do conhecimento. O manejo com os indivíduos que pensam no suicídio requer, além de um trabalho interdisciplinar, respeito, disponibilidade e tolerância. No que compete aos profissionais de saúde, e em particular aos profissionais de Psicologia, chama-se atenção à prevenção que ocorre para que as mortes sejam minimizadas, uma vez que o conhecimento dos fatores de risco (predisponentes) tornará possível o levantamento e o conhecimento dos fatores de proteção que viabilizarão uma prevenção mais efetiva (Fukumitsu, 2014). Um dos grandes avanços que se tem tido em relação às políticas de prevenção é a diminuição do tabu acerca do assunto e uma mudança de concepção envolvendo o tema. O maior acesso às informações faz com que os profissionais de saúde compreendam que falar sobre suicídio não é uma ação incentivadora, e sim uma ação interventiva para alguém que está num nível de sofrimento tão intenso que vislumbra, na ação suicida, uma saída a tamanho sofrimento. Sidman (2003) propõe que a ação suicida seja uma resposta de fuga e esquiva de situações aversivas, o que corrobora a necessidade de uma compreensão multifatorial do fenômeno e a imprescindibilidade de se conhecer aspectos individuais, sociais e culturais dos sujeitos que manifestem a ideação ou tenham o comportamento suicida. Apesar dos grandes avanços por parte da saúde pública ainda há muitos mitos em relação ao suicídio que prejudicam a sua prevenção. Dentre os mais comuns está o de que o sujeito que deseja se matar não exterioriza sua vontade. A maioria das pessoas que tiraram suas vidas anunciaram a sua intenção previamente. Outro equívoco é sobre a ideia de que não há nada a se fazer se alguém deseja se matar, pois se observa que a ajuda apropriada e apoio emocional podem reduzir o risco de suicídio. Aponta-se como compreensão inadequada também à noção de que quem tenta mais de uma vez se matar não quer realmente que isso ocorra. Entretanto, quem já tentou uma vez entra no grupo de maior risco ao suicídio. Falar sobre suicídio não encoraja ao ato, pelo contrário, falar sobre uma ideação e compartilhar medos e sentimentos pode fazer a diferença em favor da vida (Trigueiro, 2015). Diante deste quadro, faz-se necessário discutir sobre alguns grupos de risco que, segundo Botega (2015, p. 86), seria: “um conjunto de pessoas que por apresentarem determinados atributos, ou por terem sido expostos a circunstâncias específicas (fatores de risco), passam a ter maior probabilidade de desenvolver uma doença ou condição clínica”. Como fatores de risco, podemos citar a influência da genética, de elementos da história pessoal e familiar, de fatores sociais e sócio-econômicos, de acontecimentos estressantes e da presença de algum transtorno mental associado. Além dos aspectos preventivos ao suicídio, não se pode deixar de desenvolver programas de posvenção. Shneidman (1985) desenvolveu esse termo para representar todas as atividades que ocorrem pós suicídio, para minimizar o impacto das consequências da morte por esse fenômeno. Segundo Bertolote ( 2012, p. 120) , “Cada morte por suicídio afeta diretamente em média, de cinco a dez pessoas, entre familiares, amigos, colegas de trabalho ou de escola e outras pessoas próximas, que se autointitulam “sobreviventes ao suicídio”.”. Dito de outra forma, “enquanto o programa de prevenção visa à redução dos suicídios, a posvenção preocupa-se com o cuidado com os sobreviventes, no que diz respeito ao pós-suicídio de um ente querido” (Fukumitsu, 2013, p. 58). Dessa forma, os sobreviventes do suicídio têm uma maior chance de desenvolver sentimentos de culpa pela morte de entes queridos do que aqueles que perdem familiares por morte natural. Em função disso, há uma recomendação da OMS de que sejam criados grupos de ajuda mútua de sobreviventes de suicídio (Bertolote, 2012). Assim como as pessoas próximas ao sujeito que comete suicídio são afetadas, os profissionais de saúde também apresentam sentimentos como choque, tristeza, raiva e ansiedade de separação. Isso pode implicar demora na recuperação do sentimento de capacidade profissional e, algumas vezes, na esquiva de assumir novos pacientes com risco de suicídio. O processo de luto que vem associado ao suicídio costuma ser mais difícil e mais doloroso, tanto para familiares e amigos, como para profissionais de saúde, tomando como exemplo o psicólogo. Essa recuperação requer tempo, e o processo pode ser facilitado por psicoterapia, discussões clínicas, conversas com colegas e supervisão (Botega, 2015). Reafirma-se ,assim, a complexidade do tema e se aponta para a necessidade de que mais estudos e pesquisas ocorram com o intuito de fornecer reflexões mais aprofundadas sobre o suicídio, sobre os fatores de risco e de proteção, numa tentativa de desmistificar o fenômeno e proporcionar instrumentalização aos profissionais da saúde envolvidos para atuarem na prevenção e posvenção do suicídio

    Análise de prescrições comportamentais da lei cicloviária referente a mobilidade urbana sustentável de Fortaleza

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    Planejar a mobilidade urbana de um município é essencial para o desenvolvimento de práticas culturais sustentáveis, pois o trânsito não planejado de veículos pode contribuir para a poluição atmosférica, o agravamento da saúde da população, o engarrafamento nas cidades e o aumento de acidentes. Desse modo, são necessárias políticas públicas que minimizem as consequências ambientais advindas desse contexto. A cidade de Fortaleza se tornou referência em mobilidade urbana sustentável no Brasil, sendo a cidade modelo do Sistema Cicloviário. Para compreender melhor esse modelo, este artigo analisa as contingências e metacontingências presentes na Lei 10.303/2014 do Município de Fortaleza, que institui a Política de Transporte Cicloviário da cidade. Foram identificadas contingências completas e incompletas na lei referentes tanto aos comportamentos dos governantes quanto dos ciclistas. Observou-se que a Lei que institui a PTC é um importante instrumento para mudança de práticas culturais sustentáveis referentes à mobilidade urbana, e que de fato permite a criação de um contexto favorável ao uso de bicicleta. Entretanto, constatou-se que alguns artigos não explicitam precisamente os termos que constituem a contingência, pois foi observado que, para compor uma única contingência, teve que se buscar artigos em diferentes seções e partes da mesma Lei. Também identificou-se a ausência de consequências e ações que regulem o comportamento dos governantes. Palavras-chave: Bicicleta; Leis; Análise do Comportamento; Mobilidade Urbana; Sustentabilidade

    Processos educativos com adolescentes: reflexões sobre a educação familiar e a pedagogia do ócio

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    As relações familiares na adolescência são influenciadas não apenas pelas transformações do adolescente e pelos modelos de educação adotados na relação pais e filhos, mas também pelas interações, expectativas e tarefas que a família é confrontada, durante esse período. Este estudo descreve os modelos de educação adotados por pais e mães de filhos adolescentes e a relação entre estes e a percepção de liberdade e de autonomia dos membros da família. O estudo teve por objetivo apresentar a relação entre a pedagogia do ócio e os modelos de educação adotados por famílias com filhos adolescentes. A metodologia utilizada foi quantitativa e qualitativa. Participaram deste estudo 177 sujeitos, sendo que apenas 6 participaram da etapa qualitativa. Os sujeitos da pesquisa foram pais, mães e filhos adolescentes entre 12 e 16 anos de um mesmo núcleo familiar que foram convocados, de forma aleatória, para participar da pesquisa. Os dados quantitativos foram colhidos através de questionário e analisados através do SPSS e os dados qualitativos foram colhidos através de entrevista e analisados com base na análise de conteúdo proposta por Bardin. Percebemos que os adolescentes parecem reivindicar cada vez mais momentos de ócio, autonomia e liberdade para a execução de atividades consideradas por eles satisfatórias. Em suma, práticas educativas orientadas pela pedagogia do ócio possibilitam: vivências realizadas livremente pelo indivíduo em um tempo com significado subjetivo e que não sejam marcadas por estilos educativos muito restritivos, nem hiperpermissivos

    Processos educativos com adolescentes: reflexões sobre a educação familiar e a pedagogia do ócio

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    As relações familiares na adolescência são influenciadas não apenas pelas transformações do adolescente e pelos modelos de educação adotados na relação pais e filhos, mas também pelas interações, expectativas e tarefas que a família é confrontada, durante esse período. Este estudo descreve os modelos de educação adotados por pais e mães de filhos adolescentes e a relação entre estes e a percepção de liberdade e de autonomia dos membros da família. O estudo teve por objetivo apresentar a relação entre a pedagogia do ócio e os modelos de educação adotados por famílias com filhos adolescentes. A metodologia utilizada foi quantitativa e qualitativa. Participaram deste estudo 177 sujeitos, sendo que apenas 6 participaram da etapa qualitativa. Os sujeitos da pesquisa foram pais, mães e filhos adolescentes entre 12 e 16 anos de um mesmo núcleo familiar que foram convocados, de forma aleatória, para participar da pesquisa. Os dados quantitativos foram colhidos através de questionário e analisados através do SPSS e os dados qualitativos foram colhidos através de entrevista e analisados com base na análise de conteúdo proposta por Bardin. Percebemos que os adolescentes parecem reivindicar cada vez mais momentos de ócio, autonomia e liberdade para a execução de atividades consideradas por eles satisfatórias. Em suma, práticas educativas orientadas pela pedagogia do ócio possibilitam: vivências realizadas livremente pelo indivíduo em um tempo com significado subjetivo e que não sejam marcadas por estilos educativos muito restritivos, nem hiperpermissivos

    DESENVOLVIMENTO DO TREINO DE HABILIDADES SOCIAIS E SUA CONTRIBUIÇÃO COM CRIANÇAS VÍTIMAS DE ABUSO SEXUAL

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    Historicamente, o abuso sexual é uma violência que sempre existiu, porém, ainda hoje, é a violência que gera a maior incomodidade social, quando se tratando do público infantil, a violência se torna ainda mais grave. Este trabalho tem como objetivo a compreensão das Habilidades Sociais (HS) e como o treino dessas habilidades podem contribuir para uma melhor interação social desses indivíduos que podem ter sofrido uma perda dessas habilidades mediante o abuso sexual. Percebeu-se, através das leituras feitas, que as crianças vítimas de abuso sexual tentam, a todo momento, se esquivar de situações como: briga dos pais e familiares, separação dos pais e com isso, se tornam passivas e obedientes diante dos abusadores. Porém, elas crescem sem discriminar o que é certo e errado, fazendo com que não tenham parâmetro do que é ou não abusivo. Conclui-se que o fortalecimento dos vínculos sociais dessa criança é de suma importância, tanto para um desenvolvimento saudável, como para que ela não pense que, ao chegar na casa de apoio, essa medida se torne uma punição e que se desenvolva nela uma crença no qual ela se torne a responsável pelo abuso

    Implicações do isolamento social da COVID-19 em famílias com crianças e adolescentes com Autismo

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    Autistic Spectrum Disorder (ASD) is a health condition whose care often requires multidisciplinary care and a well-established daily routine. Thus, social distance and isolation, changes and uncertainties associated with the COVID-19 pandemic affected the routines of children with ASD and their families. This research aimed to analyze the implications of social isolation resulting from the pandemic in families with children and adolescents with ASD. This is an analytical and cross-sectional study carried out from June to July 2020. The questionnaire with 31 questions was applied using the “Google form” tool, being answered by 90 parents of children and adolescents with ASD residing in the State of Ceará. The results showed that the main implications of isolation for these families can be grouped into three axes: family and therapeutic routine; behavioral aspects and associated conditions; and family relationships. The existence of significant changes in the family routine is highlighted, aggravating behavioral aspects and associated conditions. On the other hand, this period culminated in the strengthening of the family bond in some cases. The study reinforces the importance of public policies that establish parental support and training, without this culminating in a mere transfer of responsibility. A family unit guided by respect and acceptance, with emotionally and psychologically strengthened mothers, fathers and caregivers is an important factor in the development of people with ASD at any time, becoming crucial in periods with restricted social interaction, such as the pandemic period.Objetivo: Analisar as implicações do isolamento social decorrente da pandemia em famílias com crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista. Método: Trata-se de um estudo analítico, quantitativo e transversal realizado de junho a julho de 2020. O questionário com 31 questões foi aplicado utilizando-se a ferramenta “Google formulário”, sendo respondido por 90 pais ou mães de crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista residentes no Estado do Ceará. Resultados: Demonstrou-se que as principais implicações do isolamento sobre essas famílias podem ser agrupadas em três eixos: rotina familiar e terapêutica; aspectos comportamentais e condições associadas; e relações familiares. Destaca-se a existência de mudanças significativas na rotina familiar deste público, agravando aspectos comportamentais e condições associadas. Por outro lado, o período de isolamento social culminou no fortalecimento do vínculo familiar em alguns casos. Conclusão: O estudo reforça a importância de políticas públicas que instituem apoio e capacitação parental, sem que isso culmine em mera transferência de responsabilidade. Uma unidade familiar norteada pelo respeito e acolhimento, com mães e pais emocionalmente fortalecidos é fator importante para a estimulação e o desenvolvimento de pessoas com Transtorno do Espectro Autista. As evidências podem favorecer e inspirar estratégias de estimulação e integração de crianças e adolescentes autistas e suas famílias, saindo dos espaços tradicionais para outras alternativas criativas identificadas durante a pandemia.
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