56 research outputs found
Cytotec and abortion : the police, the vendors and women
Este artigo analisa o comércio ilegal do
medicamento abortivo misoprostol no Brasil, com
base no estudo de dez casos que alcançaram o Ministério
Público do Distrito Federal e Territórios
entre 2004 e 2010. Os dados foram assim organizados:
1. história das mulheres; 2. perfil dos vendedores;
3. casos de morte materna. Os resultados mostram
que: 1. mulheres jovens, em relacionamento
afetivo, fazem uso doméstico do misoprostol sozinhas
ou com auxílio dos vendedores. Das sete mulheres
indiciadas, três foram denunciadas ao chegar
ao hospital público para finalização do aborto;
2. os vendedores são funcionários de farmácias e
referências locais para o comércio do misoprostol.
Eles informam as mulheres sobre uso do medicamento
e prevenção de infecções, mas se recusam a
socorrê-las em caso de emergência. Os traficantes
atuam pela internet e possuem um estoque mais
amplo de medicamentos; 3. houve duas mortes
maternas por métodos invasivos combinados ao
misoprostol. As principais causas de óbito são a
demora em buscar auxílio médico por medo de
denúncia policial e o uso combinado do misoprostol
com métodos de alto risco. _________________________________________________________________________________ ABSTRACTThis paper analyzes the illegal trade in
misoprostol, the medication predominantly used
for abortion in Brazil. The study analyzed ten
cases that came to the attention of the Public Prosecution
Service for the Federal District between
2004 and 2010. The cases were organized into
three categories: 1. women’s stories; 2. profile of
the vendors; 3. maternal mortality cases. The research
was reviewed by an ethics committee. The
main outcomes were: 1. young women in steady
relationships use misoprostol in the home or with
the assistance of drug vendors. Of the seven women
indicted, three were reported on arrival at the
public hospital to finalize abortion; 2. the drug
vendors work at the community drugstore and
are local agents for the sale of misoprostol. They
instruct women on how to use the drug and how
to prevent infections, but refuse to provide them
with care in case of emergency. Traffickers operate
via the internet and have a larger inventory
of drugs; 3. there were two cases of maternal mortality
due to the combination of high risk methods,
such as a vaginal probe and misoprostol. The
main causes for maternal mortality are the delay
in seeking medical care, as the women fear criminal
prosecution, and the combined use of misoprostol
with high risk methods
Legal abortion services in Brazil : a national study
O artigo descreve os resultados de um estudo com métodos mistos nos serviços de aborto legal no país. Foram avaliados 68 serviços, em duas etapas. Na primeira, censitária, um questionário eletrônico com perguntas sobre organização dos serviços de aborto legal foi enviado a todas as instituições. A segunda, amostral e presencial, foi realizada em 5 serviços de referência, um para cada região do país, com aplicação de formulário para coletar dados das mulheres e do aborto nos arquivos de prontuários, além de 82 entrevistas
com profissionais de saúde. Dos serviços, 37 informaram que realizam aborto legal e em 7 estados não estavam ativos. Boletim de ocorrência, laudo pericial e alvará judicial foram solicitados por 14%, 8% e 8% dos serviços, respectivamente. As mulheres que abortaram tinham predominantemente entre 15-29 anos, e eram solteiras e católicas. O aborto foi por estupro, até 14 semanas, com emprego da aspiração manual intrauterina. Para os profissionais, as principais dificuldades no funcionamento dos serviços são a pequena disponibilidade
de médicos para o aborto e a capacitação escassa da equipe. Os dados mostram que ainda há distanciamento entre a previsão legal e a realidade dos serviços. A implementação de novos serviços e o fortalecimento dos
existentes são ações necessárias.This article presents the results of a mixed methods study of 68 legal abortion services in Brazil. The services were analyzed in two stages. The first stage was a census, in which all the institutions were sent an electronic questionnaire about the organization of the legal abortion services. The second stage was conducted in a sample of 5 reference services, one for each region of the country. In this stage, a form was used to collect data about the women and the abortions in the medical records, and 82 interviews with health professionals were
conducted. Thirty-seven of the services informed they performed legal abortions, and the services were inactive in 7 states. Police reports, forensic reports, and court orders were required by 14%, 8% and 8% of the services, respectively. Women who underwent abortions were predominantly aged 15-29, single and Catholic. Most abortions were performed until 14 weeks in the case of rape-related pregnancy, by means of manual vacuum aspiration. According to the health professionals, the main difficulties faced in the services are the low availability of physicians to perform abortions and the insufficient training of the staff. The data reveal a discrepancy between the legal provision and the reality of the services. The implementation of more services and the strengthening of the existing services available are necessary
National abortion survey 2016
Apresentamos os resultados da Pesquisa Nacional de Aborto de 2016 (PNA 2016) e os comparamos aos da PNA 2010 quanto ao perfil das mulheres e a magnitude do aborto. A pesquisa se baseou em um levantamento domiciliar que combina técnica de urna e entrevistas face-a-face com mulheres de 18 a 39 anos, com amostra representativa do Brasil urbano. Os resultados indicam que o aborto é um fenômeno frequente e persistente entre as mulheres de todas as classes sociais, grupos raciais, níveis educacionais e religiões: em 2016, quase 1 em cada 5 mulheres, aos 40 anos já realizou, pelo menos, um aborto. Em 2015, foram, aproximadamente, 416 mil mulheres. Há, no entanto, heterogeneidade dentro dos grupos sociais, com maior frequência do aborto entre mulheres de menor escolaridade, pretas, pardas e indígenas, vivendo nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Como já mostrado pela PNA 2010, metade das mulheres utilizou medicamentos para abortar, e quase a metade das mulheres precisou ficar internada para finalizar o aborto.We present the results of the Brazilian National Abortion Survey of 2016 (2016 PNA) and compare them to those obtained in the 2010 PNA as per the profile of women and the magnitude of abortion. The PNA is based on a random sample that combines ballot-box questionnaires with face-to-face interviews with women ages 18 to 39 in urban areas of Brazil. The results show that abortion is a common and persistent occurrence among women of all social classes, racial groups, educational levels, and religions: in 2016, almost 1 in every 5 women had undergone at least one abortion by the age of 40. In 2015, approximately 416,000 women had an abortion. There is, however, heterogeneity among the social groups, with abortions being more frequent among women of lower educational levels, women who are Black, Brown and Indigenous, and women living in the North, Northeastern and Mid-western regions of the country. In line with the 2010 PNA, half of all women took medicine to abort and almost half of them were hospitalized to complete the abortion
PROFISSIONAIS DE SAÚDE DA ATENÇÃO PRIMÁRIA E VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: REVISÃO SISTEMÁTICA
Objetivo: descrever as evidências sobre as potencialidades e limitações de profissionais de saúde da Atenção Primária à Saúde na violência de gênero contra a mulher. Método: revisão sistemática de métodos mistos. Foram selecionados nove artigos após a aplicação dos critérios de inclusão/exclusão e avaliação da qualidade. Resultados: os estudos demonstraram que a visão das profissionais sobre violência contra a mulher é limitada. O pouco conhecimento sobre o tema e serviços de atendimento à vítima foi considerado barreira na identificação e no manejo dos casos. O treinamento e o conhecimento sobre violência e o vínculo entre paciente-profissional foram apontados como potencialidades para prevenção, reconhecimento e assistência às mulheres na Atenção Primária. Conclusão: profissionais de saúde na Atenção Primária necessitam de qualificação e maior sensibilização para conhecer os múltiplos aspectos que envolvem a violência contra a mulher.Descritores: Violência contra a Mulher. Atenção Primária à Saúde. Serviços de Saúde. Profissionais de Saúde
The teaching of sexuality in undergraduate medical education: the perception of students from Piauí
We conducted a descriptive and cross-sectional study with 242 medical undergraduates at two public universities and two private colleges in Teresina, Piauí. A semi-structured questionnaire to understand how human sexuality was taught in medical courses was applied. The questionnaire response rate was 86.3%. The teaching of sexuality was identified by 95.2% of students at some time during the course. Gynecology was the discipline that discussed sexuality the most (91.9%), followed by Psychiatry (55.3%), Medical Psychology (30.6%) and Urology (24.1%). Sexuality was cited as a specific topic in only 8.4% of the reports, but it was reported in classes about other topics such as cancer (70.9%), abortion (67.5%), STD and HIV/AIDS (67%). In class, the teacher emphasized sexual dysfunctions (84.1%), with less emphasis on homosexuality (50%) and sexual and reproductive rights (40.6%). Students indicated that there were positive influences of sexual education in undergraduate study (96.1%). There was great emphasis on the discussion of biological aspects and diseases associated with sexuality, with less emphasis on the social construction of the theme and sexual orientation.Realizou-se estudo descritivo e transversal com 242 alunos matriculados no internato em medicina de duas universidades públicas e duas faculdades privadas em Teresina, Piauí. Foi aplicado questionário semiestruturado para conhecer como a sexualidade humana foi ensinada nos cursos médicos. A taxa de resposta ao questionário foi de 86,3%. O ensino da sexualidade foi identificado por 95,2% dos alunos em algum momento do curso. As disciplinas que mais falaram sobre o assunto foram: ginecologia (91,9%), psiquiatria (55,3%), psicologia médica (30,6%) e urologia (24,1%). A sexualidade foi tema de aula em apenas 8,4% dos relatos, mas foi comentada em outras aulas, como: câncer (70,9%), aborto (67,5%), DST e HIV/Aids (67%). Quando o docente falou sobre sexualidade, enfatizou as disfunções sexuais (84,1%), com menor evidência para homossexualidade (50%) e direitos sexuais e reprodutivos (40,6%). Os alunos apontaram influências positivas do ensino da sexualidade na graduação (96,1%). Esses dados indicam que a sexualidade foi ofertada com destaque para a discussão de aspectos biológicos e de doenças associadas à sexualidade, com menor ênfase na construção social do tema e orientação sexual.Universidade Estadual do PiauíUniversidade Federal de São Paulo (UNIFESP)UNIFESPSciEL
Histories of induced abortion among adolescents from Teresina in the State of Piauí, Brazil
Este artigo analisa os métodos, os percursos
e as redes de apoio utilizados por adolescentes
para o aborto clandestino. O estudo, transversal
e descritivo, entrevistou 30 adolescentes internadas
após a curetagem uterina por aborto em
dois hospitais públicos de Teresina, de junho a novembro
de 2011. O consentimento livre e esclarecido
foi oral e as entrevistas foram gravadas após a
confirmação do aborto induzido. Majoritariamente,
as adolescentes tinham entre 14 e 17 anos, eram
solteiras, urbanas, moravam com os pais, tinham
baixa escolaridade e registravam idade gestacional
de 12 semanas. O Cytotec foi usado isoladamente
por 28 (94%) adolescentes – de 3 a 6 comprimidos,
vaginal e/ou oralmente, que procuraram o hospital
após sangramento vaginal e/ou cólicas intensas.
Elas compraram o Cytotec sozinhas (43%, 13)
ou com ajuda de amigo ou companheiro (40%,
12), em farmácias comuns. O medicamento foi
vendido pelo proprietário (45%, 13) ou pelo balconista
(55%, 16), que deu as orientações de uso.
O apoio para as adolescentes irem ao hospital foi
dado pela mãe (40%, 12) ou por amiga (30%, 9).
Houve 3 (10%) complicações graves, resultando
em internação de até 20 dias. O estudo demonstra
a predominância do Cytotec como método abortivo
entre adolescentes. _________________________________________________________________________________ ABSTRACTThis paper analyses the methods, techniques
and support networks taken by adolescents
to perform illegal abortions. It is a descriptive and
cross-sectional study involving interviews with
30 adolescents who had been hospitalized for uterine
curettage in two public hospitals in Teresina
between June and November 2011. Informed consent
was given orally, and the interviews were
recorded after the confirmation of the induced
abortion. The adolescents were between 14 and
17 years old, single, and predominantly lived with
their parents in urban areas, had little schooling
and recorded a gestational age of 12 weeks. Between
3 and 6 tablets of Cytotec were taken orally
and/or vaginally by 28 (94%) adolescents, and
they were rushed to the hospital due to severe
cramping, vaginal bleeding or both. They either
bought Cytotec alone (43%, 13), or with the help
of a friend or partner (40%, 12). Cytotec was sold
to them in ordinary pharmacies, by the owner
(45%, 13) or clerk (55%, 55), who provided instructions
for use. They went to the hospital with
their mother (40%, 12) or a girl friend (30%, 9).
Three (10%) adolescents developed serious complications.
The study revealed that Cytotec is the
main method used to perform illegal abortions
among adolescents
La verdad de la violación en los servicios de aborto legal en Brasil
Este artigo analisa como se constrói a verdade do estupro para que a mulher que se apresenta como vítima
tenha acesso ao aborto legal no Brasil. Foram entrevistados 82 profissionais de saúde de cinco serviços de
referência para aborto legal, um de cada região do país, entre médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem,
assistentes sociais e psicólogos. As entrevistas buscaram compreender procedimentos e práticas a que
a mulher é submetida para ter acesso ao aborto legal. Apesar de particularidades na organização e no funcionamento dos serviços, identificamos um regime compartilhado de suspeição à narrativa da mulher que
se expressa por práticas periciais de inquérito em torno do acontecimento da violência e da subjetividade da
vítima. A verdade do estupro para o aborto legal não se resume à narrativa íntima e com presunção de veracidade, mas é uma construção moral e discursiva produzida pela submissão da mulher aos regimes periciais dos serviços.This paper analyzes how the truth of the rape is constructed in order to authorize a woman victim of rape to
have a legal abortion. We have interviewed 82 health care professionals (physicians, nurses and technicians,
social workers and psychologists) at five reference facilities for legal abortion in Brazil. The interviews aimed
to understand the procedures and practices imposed on a woman in order to be allowed to have the legal
abortion. In spite of the particularities of each facility, we have identified a shared regime of suspicion of the
woman’s narrative, which investigates the fact of the violence and the victim’s subjectivity. The truth of the
rape for the legal abortion is not a woman’s narrative with a status of veracity, but it is a moral and discursive
construction shaped by the victims’ submission to the forensic regimes of the services.Este artículo analiza cómo se construye la verdad de la violación sexual para que la mujer que se presenta
como víctima de violación tenga acceso al aborto legal en Brasil. Fueron entrevistados 82 profesionales de
salud de cinco servicios de referencia para el aborto legal, uno de cada región del país, entre médicos, enfermeros,
técnicos en enfermería, trabajadores sociales y psicólogos. Las entrevistas buscaban comprender
los procedimientos y prácticas a que la mujer se somete para tener acceso al aborto legal. A pesar de las
particularidades en la organización y funcionamiento de los servicios, identificamos un régimen compartido
de sospecha a la narrativa de la mujer que se expresa por prácticas periciales de investigación en torno al
acontecimiento de la violencia y de la subjetividad de la víctima. La verdad de la violación sexual para el aborto
legal no se resume a la narrativa íntima y presunción de veracidad, sino es una construcción moral y discursiva
producida por la sumisión de la mujer a los regímenes periciales de los servicios
A verdade do estupro nos serviços de aborto legal no Brasil
Este artículo analiza cómo se construye la verdad de la violación sexual para que la mujer que se presenta
como víctima de violación tenga acceso al aborto legal en Brasil. Fueron entrevistados 82 profesionales de
salud de cinco servicios de referencia para el aborto legal, uno de cada región del país, entre médicos, enfermeros,
técnicos en enfermería, trabajadores sociales y psicólogos. Las entrevistas buscaban comprender
los procedimientos y prácticas a que la mujer se somete para tener acceso al aborto legal. A pesar de las
particularidades en la organización y funcionamiento de los servicios, identificamos un régimen compartido
de sospecha a la narrativa de la mujer que se expresa por prácticas periciales de investigación en torno al
acontecimiento de la violencia y de la subjetividad de la víctima. La verdad de la violación sexual para el aborto
legal no se resume a la narrativa íntima y presunción de veracidad, sino es una construcción moral y discursiva
producida por la sumisión de la mujer a los regímenes periciales de los servicios.http://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_bioetica/article/viewFile/917/104
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