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A variação pronominal de segunda pessoa: contribuições da sociolinguística para o ensino de língua portuguesa
A tradição gramatical registra tu e vós como pronomes pessoais do caso reto. No português brasileiro falado, contudo, há a variação tu/você e a substituição de vós por vocês. Neste artigo, sabendo do distanciamento existente entre o funcionamento da língua em uso e o ensino escolar de Língua Portuguesa, apresentaremos a visão de gramáticos tradicionais e livros didáticos para, em seguida, refletir, com base na perspectiva teórica da Sociolinguística Variacionista (LABOV, 2008), como esse fenômeno variável pode ser abordado na educação básica, de modo que contemple as diversas variedades linguísticas
Nós e a gente em quatro amostras do Português Brasileiro: revisitando a escala da saliência fônica
Sob a perspectiva da Sociolinguística Variacionista, analisamos três construções com a primeira pessoa plural: padrão antigo – nós com -mos (nós moramos); não padrão – nós sem -mos (nós mora); padrão emergente – a gente sem -mos (a gente morou/a gente mora). Os dados analisados são de quatro amostras do português brasileiro – Santa Leopoldina-ES, Baixada Cuiabana -MT, Goiás e Vitória-ES – e foram analisados em oposições binárias e ternárias, por programas estatísticos da série Varbrul. Os resultados indicam que a restrição mais importante é o grau de facilidade da percepção da diferença entre formas com e sem o morfema -mos, conhecida como saliência fônica: quanto maior a saliência fônica, mais a possibilidade de usar a forma com -mos. Uma vez que as formas do pretérito tendem a ocupar altos níveis de saliência, há distribuição parcialmente sobreposta entre tempo e saliência. Para a terceira pessoa plural, pesquisas anteriores mostram que a saliência é um preditor melhor do que tempo. Para a primeira pessoa plural, a distribuição sobreposta tende a conduzir, em alguns contextos estruturais e sociais, a uma reanálise de tal forma que o morfema -mos é usado preferencialmente para marcar pretérito perfeito. Isto resolve a ambiguidade entre presente e pretérito nos casos padrão de nós com -mos (nós moramos, preferencialmente pretérito) e não padrão nós sem -mos (nós mora, presente). Como parte de um fl uxo de padronização, a construção nominal a gente, do substantivo latino singular gens gentis ‘tribo’, é inserida no sistema pronominal como primeira pessoa do plural. Isto cria um padrão emergente, a gente sem -mos. Estas questões nos levaram a (1) propor uma hierarquia da saliência levemente modifi cada, denominada de hierarquia da proeminência, (2) discutir análises binárias e ternárias e (3) concluir que processos diacrônicos de séculos passados emergem da análise sincrônica de dados hoje disponíveis
OBJETO DIRETO ANAFÓRICO DE TERCEIRA PESSOA: NORMA PADRÃO X NORMA DA COMUNIDADE
No presente trabalho, com base no trabalho de Poplack (2014) e em três pesquisas norteadas pela Teoria da Variação e Mudança Linguística (LABOV, 2008 [1972]), discutimos a implementação de uma norma distinta da norma padrão numa comunidade de fala, observando, para isso, quais variantes ocupam o espaço deixado pelo clítico acusativo, em desuso no português brasileiro (OMENA, 1978; DUARTE, 1986). Buscamos, também, compreender como a chamada norma da comunidade tem influenciado a escrita de textos de histórias em quadrinhos e de jornais. Para isso, comparamos três trabalhos: (1) de BERBERT (2015), baseado na fala de Vitória dos anos 2000; (2) de ZANELLATO (2017), constituído de dados de histórias em quadrinhos dos anos de 1970 e 2010; e (3) de CONCEIÇÃO (2016a), formado por textos de jornais de fins do século XIX a 1970. Nos três corpora é constatada a diminuição do clítico acusativo: está praticamente desaparecido da fala, apresenta drástica diminuição nas histórias em quadrinhos, – de 52,5% em 1970 para 12,1%, em 2000 e, também, nos jornais, passando de 50,8% no fim do século XIX a 11,8% em 1970. Ademais, o pronome lexical, registrado na fala, e ausente nos jornais, é também observado nas histórias em quadrinhos, passando de nenhuma ocorrência em 1970 para 13% do total dos dados nos anos 2000. Parece-nos que o uso da variante prescrita é mais saliente do que o das demais variantes, sendo, conforme afirmado por Poplack (2014), muito alto para o falante o custo de desviar-se da norma da comunidade e adotar a norma prescrita, pois não há modelo desse uso na comunidade. Destarte, a tendência de substituir o clítico acusativo pelo pronome lexical, categoria vazia ou sintagma nominal anafórico, não se restringe à fala, passando a ocorrer, também, na escrita
Projeto PortVix: a fala de Vitória/ES em cena
Os objetivos centrais do presente artigo são (1) apresentar à comunidade científica o projeto PortVix, que trata da fala da cidade de Vitória, capital do Espírito Santo; (2) sintetizar os trabalhos desenvolvidos e em desenvolvimento, com base nos dados deste projeto; e (3) tecer considerações sobre o alinhamento da fala de Vitória ao cenário nacional e sobre traços que a caracterizam. A Teoria da Variação e de Mudança Linguística norteia a organização da amostra e, de forma geral, a análise de diversos fenômenos variáveis, a saber, alternância entre futuro do pretérito e pretérito imperfeito; a expressão variável do futuro do presente; usos do gerúndio; variação sintática das orações adverbiais finais; alternância nós/a gente; a expressão do objeto direto anafórico; concordância nominal; concordância verbal; expressão gramatical do imperativo; alternância indicativo/subjuntivo; alternância você/cê/ocê; ausência/presença de artigo diante de antropônimos e de possessivos. Observações do senso comum e resultados das análises permitem evidenciar que, ao lado de aspectos que alinham a fala de Vitória-ES ao cenário nacional, corroborando a generalidade de diversos fenômenos, há outros aspectos que permitem inferir a caracterização da fala capixaba face aos três estados com os quais o Espírito Santo estabelece fronteiras: Rio de Janeiro, Bahia e, especialmente, Minas Gerais
A EXPRESSÃO DO SUJEITO PRONOMINAL NA FALA DE UMA UNIVERSITÁRIA CAPIXABA: UMA ANÁLISE BASEADA NO ESTILO
No presente estudo, por meio de uma análise baseada no estilo, observamos uma variável abaixo do nível da consciência social, a variação da expressão do sujeito pronominal, em diferentes situações comunicativas de uma jovem universitária: assembleia geral estudantil da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), reunião de uma força política estudantil no campus de Goiabeiras, reunião de uma força política estudantil no campus de Alegre e uma conversa informal entre amigos. Utilizamos como base deste estudo os apontamentos de Bell (1984) acerca da variação estilística; os estudos de Paredes Silva (1988, 2007) e de Duarte (1993, 1995, 2003), sobre a variação da expressão do sujeito pronominal; os estudos de Labov (2008 [1972], 2001), referentes à variação e mudança linguística; e de Guy Zilles (2007), sobre o pacote de programas Varbrul. Verificamos que a variável estilo é relevante para o uso do sujeito pronominal explícito: quanto maior intimidade e interação entre a falante e a audiência, maior presença de sujeitos explícitos. Assim, em uma conversa informal entre amigos, o uso de sujeitos explícitos foi de 89,7%, ao passo que, na assembleia geral de estudantes da Ufes, foi de 55,0%
A NEGAÇÃO NO PORTUGUÊS FALADO EM VITÓRIA/ES
A negação sentencial é um fenômeno linguístico comum a todas as línguas do mundo e cada uma delas apresenta estratégias próprias para sua realização. No português brasileiro (PB), há três estratégias de negação: 1) negação pré-verbal (Não+SV); 2) a dupla negação (Não+SV+Não) e 3) a negação pós-verbal (SV+Não). Com base num corpus composto por dezoito entrevistas extraídas da amostra PortVix (Português Falado na Cidade de Vitória), que tem por parâmetros sociais o gênero/sexo do falante, sua faixa etária e seu nível de escolaridade (YACOVENCO et al., 2012), na proposta de Schwenter (2005) sobre as restrições discursivo-pragmáticas da negação no PB e à luz da Sociolinguística Variacionista, analisamos a variação das três estruturas de negação com o intuito de entender quais fatores influenciam os usos das formas negativas e verificar os contextos dessa variação, visando ampliar a compreensão das restrições para a escolha das variantes e situar, a partir desse fenômeno, a variedade capixaba no cenário do PB
Nós and a gente in Brazilian Portuguese: agreement and disagreement
Discutimos neste artigo o encaixamento linguístico da variação e mudança dos pronomes nós e a gente no português brasileiro. Analisamos as construções nós com o morfema plural –mos (nós moramos/nós morávamos), concordância plural; nós sem o morfema de plural –mos (nós mora/nós morou/nós morava), não concordância; a gente sem o morfema plural –mos (a gente mora/a gente morou/ /a gente morava), concordância singular. Análises conjuntas destas construções permitem entender dinâmicas sociolinguísticas da implementação de a gente no sistema pronominal do português brasileiro. Ancorados na Teoria da Variação e Mudança (Weinreich, Labov & Herzog 1968) e nas propostas de Naro, Görski & Fernandes (1999), remodeladas por Naro et al (2016) e Scherre et al (2014), reanalisamos 774 dados da fala da Baixada Cuiabana (Estado do Mato Grosso, Centro-Oeste), variedade com traços característicos nítidos, e 1517 dados da fala de Vitória (capital do Espírito Santo, Sudeste), variedade sem traços característicos nítidos. Verificamos que a Baixada Cuiabana favorece nós e Vitória expande a gente. Ambas privilegiam nós com –mos no pretérito perfeito. A Baixada Cuiabana usa mais nós sem –mos no imperfeito e no presente de forma igual à do pretérito. Para evitar nós sem –mos, Vitória usa mais a gente sem –mos no imperfeito e no presente. Mais usos de nós falamos, a gente falava e a gente fala seguem fluxos de mais concordância em áreas urbanas (Naro & Scherre 2014). Os fatos observados revelam variação linguística ordenada e apontam resolução intuitiva de conflitos sociolinguísticos associados à concordância verbal variável.In this paper we discuss the linguistic embedding of variation and change in the 1st person plural pronouns nós and a gente, both used for ‘we’ in Brazilian Portuguese. We analyze nós with plural morpheme -mos; nós without plural morpheme -mos; a gente without plural morpheme -mos. Joint analysis of these constructions permits insight into the sociolinguistic dynamics of the entry and implementation of a gente in the pronominal system. Basing ourselves on the Theory of Variation and Change and the proposals of Naro/ Gӧrski/ Fernandes (1999), Naro et al. (2017), and Scherre et al. (2014), we analyze data from the speech of Baixada Cuiabana and Vitória. Baixada Cuiabana exhibits a characteristic way of speaking, whereas speakers from Vitória do not exhibit special or defining speech characteristics. We find that Baixada Cuiabana favors nós, while Vitória prefers a gente. Both areas favor nós with -mos in the preterit. Baixada Cuiabana uses more nós without -mos in the imperfect and in the present with the same form as the preterit. In order to avoid nós without -mos, Vitória uses a gente without -mos more frequently in the imperfect and the present. Greater use of nós falamos ‘we spoke’, a gente falava ‘we used to speak’ and a gente fala ‘we speak’ fits in with the general tendency toward increased use of concord in urban areas (Naro/Scherre 2013). Our results reveal robust ordered linguistic heterogeneity and clarify the path followed by the speech community in minimizing sociolinguistic conflict in variable subject/verb agreement
A alternância tu e você: cartas capixabas
Com base na Sociolinguística Variacionista (LABOV, 2008 [1972]), o presente trabalho analisa a variação das formas pronominais tu e você, na posição de sujeito, em cartas capixabas do início do século XX. Para o tratamento quantitativo dos dados, utilizamos o programa GoldVarb X (SANKOFF; TAGLIAMONTE; SMITH 2005), que forneceu a frequência global de cada variante, bem como a significância estatística dos fatores sobre o uso dos pronomes de segunda pessoa do singular. Os resultados depreendidos da análise de 226 dados mostram: (1) alto índice de tu, (2) mudança de tratamento clara conforme o interlocutor, (3) favorecimento do tu como forma nula e nos tópicos de maior proximidade
VARIAÇÃO E MUDANÇA NA FALA E NA ESCRITA: CAMINHOS E FRONTEIRAS
Resumo: Este texto discute a contribuição da pesquisa variacionista de base laboviana para o entendimento da entrada de fenômenos variáveis na escrita brasileira em diversos gêneros discursivos. Nosso principal ponto é evidenciar que entram na escrita, em especial na escrita da mídia, variações linguísticas que não são estigmatizadas pela comunidade de fala mais ampla, ou aspectos variáveis mais encaixados linguisticamente, imperceptíveis do ponto de vista da marcação social. Com base nas evidências apresentadas, argumentamos que, diferentemente do senso comum, não é o registro da tradição gramatical que regula estas questões. Para tanto, apresentamos uma síntese e uma hierarquização de fenômenos linguísticos variáveis que entram na escrita padronizada. Os fenômenos abordados são (1) o futuro perifrástico, (2) a expressão gramatical do imperativo, (3) a expressão gramatical do objeto direto anafórico, (4) o uso de a gente na sua manifestação pronominal e (5) a concordância verbal de terceira pessoa do plural. Desta forma, consideramos que os resultados das pesquisas variacionistas podem contribuir, mais uma vez, para evidenciar que são as interações sociais, e não a tradição gramatical, que determinam, em primeiro plano, as dinâmicas linguísticas.Palavras-chave: Variação e Mudança Linguística. Fala e Escrita. Estigma. Encaixamento Linguístico
The style variation in different reading situations: Capixaba variety
<p></p><p>Abstract The style, along with linguistic and social resources, integrates the study of sociolinguistic variation. Based on W. Labov perspective, who mainly focused on the attention that the speaker pays to his/her own speech when he analysed stylistic variation, this research aims to observe possible stylistic differences between sentence reading (type “Digo palavra baixinho”) and text reading (type children's tale). The parameters analysed for such purposes are the frequencies of the first an second formants (F1 and F2) of stressed and pre-stressed vowels, the duration of those vowels (Dur) and their spectral emphasis (SE). The result confirmed that different styles promote different reactions in readers: the decontextualized sentences reading produced a more monitored speach than the text reading.</p><p></p