35 research outputs found

    Inveja do gado

    Get PDF
    Projetos de criação animal vem sendo defendidos como uma das formas de solucionar problemas como a carência alimentar e a falta de alternativas econômicas nas aldeias indígenas na Amazônia. Contudo, o exemplo dos Karitiana ”“ povo de língua Tupi-Arikém no sudoeste da Amazônia brasileira ”“ aqui discutido aponta para as múltiplas razões que podem estar envolvidas no desejo que vários grupos indígenas manifestam por ter gado bovino e projetos de criação animal. Argumento que é, sobretudo, a vontade de ser ‘fazendeiro’ que comanda a intenção de constituir rebanhos e, assim sendo, os bois acabam por não ser utilizados para a alimentação humana

    As galinhas incontáveis. Tupis, europeus e aves domésticas na conquista no Brasil

    Get PDF
    As galinhas incontáveis. Tupis, europeus e aves domésticas na conquista no Brasil. Este artigo reflete sobre as relações entre os grupos Tupi no litoral da América portuguesa e as galinhas domésticas introduzidas nos primeiros contatos. Utilizando os registros, produzidos pelos cronistas coloniais, da presença destas aves em aldeias Tupi nos séculos xvi e xvii, e cotejando estas informações com o conhecimento acumulado tanto sobre os Tupi coloniais como sobre populações Tupi contemporâneas, espera elucidar algumas questões relativas à posição das galinhas domésticas nestas cosmologias, bem como discutir um complexo de relações que conectava aldeias indígenas e núcleos coloniais nos dois primeiros séculos da conquista. Sugere-se que as galinhas correspondem a uma categoria intermediária de animal, situada entre os animais domésticos (pets) e os animais familiarizados (wild pets). Discute-se, ainda, a possibilidade de que esta característica das aves domésticas introduzidas tenha criado uma rede de trocas destinadas ao abastecimento dos estabelecimentos coloniais e dos viajantes na América portuguesa.Les poules innombrables: Tupi, Européens et oiseaux domestiques pendant la Conquête du Brésil. Cet article propose une réflexion sur les relations entre les groupes tupi du littoral de l’Amérique portugaise et les poules domestiques introduites lors des premiers contacts. En s’appuyant sur les registres coloniaux, concernant la présence de ces oiseaux dans les villages tupi aux xvie et xviie siècles, puis en comparant ces informations avec la connaissance accumulée sur les Tupi coloniaux et sur les Tupi contemporains, nous allons proposer quelques réponses aux questions relatives à la position des poules dans les cosmologies tupi. Nous aborderons également les relations entre hameaux indigènes et hameaux coloniaux pendant les premiers siècles de la conquête. Les poules seront considérées comme une catégorie intermédiaire d’animaux, entre animaux domestiques (pets) et animaux apprivoisés (wild pets). On pose l’hypothèse que ces oiseaux domestiques ainsi définis constituent le moteur d’un réseau d’échanges ayant pour objectif l’approvisionnement des établissements coloniaux et des voyageurs dans l’Amérique portugaise.Unlimited chickens: Tupians, Europeans and domestic fowl in the conquest of Brazil. This article explores the interaction between the Tupi-speaking indigenous peoples in coastal Portuguese America and the domestic chicken introduced in the first years of the conquest. Several notes produced by colonial observers during the 16th and 17th centuries mentioned chicken living in Tupi villages. These reports, allied to the historical, ethnographic and ethnological knowledge accumulated on the colonial Tupians and other contemporary Tupi-speaking groups, would help us elucidate some questions about the cosmological meanings of domestic chickens among Tupians, as well as discuss a complex network which connected native and colonial villages in the first 200 years of the conquest. I suggest that chicken were an intermediary animal category situated between domesticated animals (pets) and tamed animals (wild pets). I also argue that this characteristic of domestic fowl introduced by Europeans was a trigger for an exchange network that provisioned the first colonial villages and travelers in Portuguese America with food supplies

    Inveja do gado: o fazendeiro como figura de poder e desejo entre os Karitiana

    Get PDF
    Projetos de criação animal vem sendo defendidos como uma das formas de solucionar problemas como a carência alimentar e a falta de alternativas econômicas nas aldeias indígenas na Amazônia. Contudo, o exemplo dos Karitiana – povo de língua Tupi-Arikém no sudoeste da Amazônia brasileira – aqui discutido aponta para as múltiplas razões que podem estar envolvidas no desejo que vários grupos indígenas manifestam por ter gado bovino e projetos de criação animal. Argumento que é, sobretudo, a vontade de ser ‘fazendeiro’ que comanda a intenção de constituir rebanhos e, assim sendo, os bois acabam por não ser utilizados para a alimentação humana.Animal husbandry projects have been proposed as a way to solve food shortage and lack of economic alternatives in indigenous villages in the Amazon. This paper, however, discusses the case of the Karitana, a Tupi-Arikém speaking people in southwestern Brazilian Amazonia. This example points to multiple reasons that may be involved in the Amerindian’s desire for cattle and husbandry projects. I argue that it is above all the desire to be a ‘rancher’ (as landholder and a cattleman) that motivates the desire for owning herds, and thus cattle are in the end not used as a resource for human nourishment

    Circuitos de Sangue: corpo, pessoa e sociabilidade entre os Karitiana

    Get PDF
    Abordo a noção de pessoa entre os Karitiana, com base nas concepções indígenas do sangue e de outros fluidos corporais; procuro articular a construção do corpo, da pessoa e da sociabilidade com base na análise do sangue como matéria e metáfora destes processos. Uma linguagem anatomofisiológica comanda as concepções do contato, a construção da história e das relações com os brancos

    As flechas perigosas: notas sobre uma perspectiva indígena da circulação mercantil de artefatos

    Get PDF
    Com base em estudos recentes que apontam para as qualidades agentivas e subjetivas de certos artefatos nas cosmologias indígenas da Amazônia, este artigo busca discutir algumas questões colocadas pela circulação desses objetos personalizados/agentivizados em contextos não indígenas, notadamente no mercado de artes e artesanatos indígenas. Aqui, explora-se a questão dos arcos e flechas dos índios Karitiana (Tupi-Arikém, Rondônia), artefatos perigosos e imprevisíveis, cuja circulação fora das aldeias demanda algumas precauções, como a redução de seu tamanho e o uso de materiais diferenciados em sua confecção. Pretende-se, assim, oferecer algumas notas acerca de uma perspectiva indígena (Karitiana) dos objetos que circulam em redes de troca e de comércio não indígenas

    Inveja do gado: o fazendeiro como figura de poder e desejo entre os Karitiana

    Get PDF
    Projetos de criação animal vem sendo defendidos como uma das formas de solucionar problemas como a carência alimentar e a falta de alternativas econômicas nas aldeias indígenas na Amazônia. Contudo, o exemplo dos Karitiana ”“ povo de língua Tupi-Arikém no sudoeste da Amazônia brasileira ”“ aqui discutido aponta para as múltiplas razões que podem estar envolvidas no desejo que vários grupos indígenas manifestam por ter gado bovino e projetos de criação animal. Argumento que é, sobretudo, a vontade de ser ‘fazendeiro’ que comanda a intenção de constituir rebanhos e, assim sendo, os bois acabam por não ser utilizados para a alimentação humana

    Como se faz um cachorro caçador entre os karitiana (Rondônia)

    No full text
    Os Karitiana (Rondônia) apreciam muito caçar e têm a carne de caça como seu alimento predileto. Várias técnicas de caça são conhecidas, entre elas o uso de cães especialmente treinados para perseguir e matar presas. Há um conjunto de técnicas empregadas para se “fazer” um bom cachorro caçador – e o verbo “fazer”, aqui, evidencia a qualidade artefactual dos animais para os Karitiana, tanto daqueles animais “do mato”, feitos em tempos míticos, como dos animais “de criação” domésticos, feitos na ação humana. Todos os seres parecem ser “feitos” no sentido de serem montados ou construídos, e “feitos” no sentido de fazer desenvolver ou crescer. Tal duplo movimento – bem expresso no duplo sentido do verbo “criar” em português – pode ser encontrado na feitura de bons cachorros caçadores, nos quais estes processos encontram, ainda, um terceiro fator, que é sumarizado pela noção Karitiana de “jeito” (que traduzimos como “modo de ser/estar no mundo”), e que fala das aptidões demonstradas por cada animal na atividade venatória e na maestria das técnicas e práticas de caçar. Com efeito, há cães melhores e cães que “não prestam” para a caça, e tal consideração parece estar diretamente vinculada a avaliações individuais de cada animal, e às escolhas realizadas pelos próprios cachorros quanto a se engajarem na faina de procurar e “matar caça” na companhia dos homens Karitiana. Este trabalho busca, assim, descrever etnograficamente este conjunto de relações entre caçadores humanos e caninos, no seu processo contínuo e delicado de se fazerem predadores de sucesso

    Os Tupí em Rondônia: diversidade, estado do conhecimento e propostas de investigação

    Get PDF
    A região do alto rio Madeira e seus formadores – que corresponde ao estado de Rondônia e às áreas vizinhas do noroeste do Mato Grosso, sul do Amazonas e oriente boliviano – apresenta uma notável diversidade de populações indígenas falantes de línguas de várias famílias do tronco Tupí (Tupí-Guaraní, Arikém, Ramaráma, Puruborá, Mondé, Mundurukú, Tuparí e Mawé). Esta riqueza foi apontada por vários autores que refletiram sobre essa região, tendo-a visitado ou não. As advertências destes pesquisadores, contudo, não garantiram uma continuidade no interesse pela etnologia indígena na bacia do alto Madeira, e não resultaram em uma produção consistente e integrada que buscasse desvendar as dinâmicas atuais e históricas dessa diversidade. Em resumo: nosso conhecimento das culturas Tupí em Rondônia e adjacências é pobre, disperso e pouco sistematizado. É tarefa necessária que a etnologia indígena dos Tupí na bacia do alto Madeira tome um rumo coeso, abrindo espaços de interlocução e integrando seus achados, com vistas a incrementar a produção antropológica e histórica acerca dessas populações e a refinar nosso conhecimento sobre cada uma de suas culturas, além dos cenários interétnicos e das trajetórias históricas locais, regionais e mesmo suprarregionais. Este artigo tem como objetivo mapear a produção etnológica sobre os grupos Tupí na região aqui definida como “Grande Rondônia”, e apontar algumas possibilidades e estratégias de pesquisa que poderão vir a incrementar o conhecimento sobre a riquíssima diversidade social, cultural e linguística da região
    corecore