86 research outputs found

    Hilda Hilst: A ficcção em busca de Deus

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    O ponto de partida deste ensaio é a idéia de que, na ficção de Hilda Hilst, apesar da variedade e da inquietação estilística que a caracterizam, acha -se preservado um núcleo central de preocupações que se reitera de livro para livro. Tal centro pode ser localizado no que se chamou aqui de uma busca de Deus colocado para além de todo alcance. A divindade, presente a cada passo, é pressentida como uma ausência, como uma distância que repõe o tempo inteiro a necessidade de buscar. É em relação a ela que se posicionam os homens, as coisas e o contato dos homens com as coisas e com o mundo. Assim, a certa altura, se o discurso se converte em fracasso, em desolação e multiplicação de ruínas, que não escondem seus fragmentos, a busca, ao mesmo tempo, revela-se como profunda indagação pelo sentido dessa ausência no pensamento e no modo de ser do homem atual

    Violencia, Imagen y Lenguaje en la Poesía de Alberto da Cunha Melo

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    Algunas manifestaciones de la poesía brasileña contemporánea están profundamente marcadas por imágenes de violencia física y psicológica. El objetivo del presente trabajo es investigar esa temática, abordándola desde indicaciones presentes en la obra de Alberto da Cunha Melo (1942-2007). Al manifestarse la violencia como una constante en su producción, buscaremos comprender de qué forma las imágenes que crea este autor expresan las temáticas de la opresión y de la sujeción del otro. Nos encontramos, en general,con un imaginario que revela que tales aspectos aparecen como elementos constituyentes de las relaciones sociales y son ejercidos tanto en el plano de lo subjetivo como de lo simbólico. La serie de poemas de rasgos narrativos titulada Yacala describe, con un lenguaje contenido e incisivo, el proceso de destrucción de un individuo por fuerzas naturales (la enfermedad que lo consume internamente) y sociales (el proceso de marginación al que él, debido a sus orígenes y a su trayectoria vital, es brutalmente sometido). A la vez, nos enfrenta al drama de un sujeto que se resiste a la destrucción, pero que, en cualquier momento, puede sucumbir a ella

    O deixar ser de Affonso Manta

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    A poética de Affonso Manta tem sido reconhecida como uma das mais expressivas da poesia baiana dos nossos dias. Oscilando entre as temáticas do cotidiano e do sonho, refletem-se nela algumas das principais linhas de força da lírica moderna. Neste ensaio, é apresentado um estudo que busca investigar o modo como, ao abrir-se para certa indeterminação que surge do encontro entre as formas do imediato e as projeções da imaginação, tal poética se dá como um projeto de deixar ser, que traz a palavra para a intimidade ontológica das coisas

    Good-bye to literary criticism

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    The intention to assign literary criticism a proper status –scientific or not – has deeply marked the critical ideals of the20th century. In this essay the implications of such standpointare discussed, as well as the possibilities (or impossibilities) ofgrounding them on sound epistemological bases. At the sametime, we propose the idea that criticism is inexorablycontaminated by its object in the action of dealing with it,thus becoming a form of “fiction” itself, whose statutes can notbe searched outside literature, in methodologies that intendto be exempt of that contamination.A pretensão de dar à crítica literária um estatuto próprio –científico ou não – marcou profundamente o ideário crítico doséculo XX. Neste ensaio discutem-se as implicações detal atitude, bem como as possibilidades (ou impossibilidades)de fundamentá-la sobre bases epistemológicas seguras. Aomesmo tempo, aventa-se a idéia de que a crítica, ao se envolvercom o seu objeto, se contamina inexoravelmente por ele,tornando-se uma espécie de “ficção” ela também, cujosestatutos não podem ser buscados fora da literatura, emmetodologias que se querem isentas dessa contaminação

    Notas para um conceito de imaginário em Maurice Blanchot

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    Este trabalho se constitui numa apresentação dos conceitos de imagem e de imaginário, propostos por Maurice Blanchot nas reflexões que desenvolve em seu livro O espaço literário. A imagem é, ao mesmo tempo, morte da coisa e apropriação no movimento da perda, presença do ser e ausência no simulacro. Esse modo de abordá-la abre caminho para compreendermos a literatura como posse do mundo em sua totalidade, configurada como perda e dispersão no imaginário

    Rastros do simbolismo: herança e fardo

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    A modernidade tem sido marcada pela construção de teorias que unificam e interrogam o sentido da realidade. No âmbito da literatura, uma das mais famosas e influentes é a teoria das correspondências, elaborada por Charles Baudelaire na segunda metade do século XIX. A teoria das correspondências é, sobretudo, uma teoria da unidade, que tende a compreender o real – por misterioso e vasto que ele seja – como um todo onde todas as partes se correspondem por analogia. Este ensaio é uma interrogação dirigida ao Simbolismo, a partir desses dados, procurando inquirir nos seus rastros uma herança que, se ao mesmo tempo inaugura o novo na tradição moderna, se tem constituído para essa tradição numa espécie de fardo que ainda não foi superado

    TEMPO E MEMÓRIA NA POESIA DE ALBERTO DA COSTA E SILVA

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    Neste ensaio, faz-se um estudo da poesia de Alberto da Costa e Silva, sob a perspectiva das coordenadas do tempo e da memória que nela se configuram. Partindo da idéia de conhecer o tempo por meio da reminiscência e da rememoração, o poeta caminha para uma descoberta do tempo compreendido como fluxo e desaparecimento. Nestes, o tempo que se revela não é o tempo que desapareceu ou ou o tempo que finalmente soçobrou no nada da imagem. Revela-se, antes, como tempo concretizado, tempo que busca, pelos sortilégios da poesia e do canto, como que se materializar na palavra, num empreendimento difícil que coopta as forças do ritmo e da imagem para a sua realização

    SÉRGIO MONTEIRO ZAN E A VERTIGEM DA LINGUAGEM

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    Starting from the notion of the permanence of literary works in time, this article brings a survey on Sérgio Monteiro Zan’s poetry, presented in his book As horas sonâmbulas: sonetos extemporâneos, published in 2001. The intention here is to investigate some of its lines of force and some elements of its language. A declared heiress of the 19th century Symbolism, this poetry chooses its language in the space of some specific practices (of form, vocabulary, syntax, images), experiencing in this choice the possibility of a cleavage between the poetical language and the average language, full and master of itself at the same time, but emptied in its relations with the current language. Such element – called ‘vertiginous’ – leads us to a reflection on the ways of the poetry nowadays and its relations with past and tradition.Partindo da noção de permanência das obras literárias no tempo, este artigo traz uma abordagem da poesia de Sérgio Monteiro Zan, apresentada em seu livro As horas sonâmbulas: sonetos extemporâneos, de 2001, com o intuito de perquirir algumas de suas linhas de força e alguns elementos de sua linguagem. Herdeira declarada das realizações do chamado “Simbolismo” de fins do século XIX, tal poesia elege a sua linguagem no espaço de algumas práticas específicas (de forma, vocabulário, sintaxe, imagens), experimentando, na escolha, a possibilidade de uma clivagem que dá à linguagem poética um idioma próprio, ao mesmo tempo pleno e senhor de si, mas esvaziado em suas relações com a linguagem corrente. Esse elemento – que chamamos de vertiginoso – leva a uma reflexão sobre os caminhos da poesia em nossos dias e em suas relações com o passado e a tradição

    CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESPAÇO EM NARRATIVAS DE GRACILIANO RAMOS

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    Compreender e esclarecer as relações entre literatura e sociedade tem sido, desde há tempos, um dos principais esforços da crítica literária, no decorrer da sua história. Na tentativa de formular esse aspecto das obras, interroga-se a sua dimensão social, postulando-se que não se trata apenas de um produto social, conforme supunha a perspectiva tradicional da abordagem, mas uma resposta a ele. Constituem-se, antes, num modo de representação do social, configurado em linguagem, num diálogo com o plano social. No presente estudo, a relação entre literatura e sociedade é vista sob a perspectiva das representações do espaço presentes no romance moderno. Toma-se como referência as narrativas de Graciliano Ramos, com ênfase sobre os romances São Bernardo, Angústia e Vidas Secas. Aqui, a abordagem do espaço narrativo – percebido como dimensão constitutiva da obra e do seu modo de representar a realidade – leva em conta os aspectos da vivência e da experiência configurados no seu interior, apontando para o caráter imaginativo, figuracional e civilizador de que se revestem. Faz-se, pois, uma breve aproximação com os escritos de Norbet Elias. Esses estudos lançam nova luz sobre a compreensão das relações entre literatura e sociedade, numa perspectiva que se distancia parcialmente das abordagens canônicas

    O que diz a literatura?

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    In this essay, the issue of the relationship between literature, world and expression of thought is discussed. Starting from the notion that literature, due to its special character, “betrays”, to a certain point, the objective possibility of expressing ideas and concepts (without denying that possibility), we propose the idea that the language of art portrays a different characteristic, which may be theorized on basis of the concept of icon elaborated by Charles Sanders Peirce. Without being, at the same time – according to the formulations of this author – symbolic and indicative, such language is open to ambiguity and may, thus, express a plus of sense that is not necessarily conveyed in its formulation or in what is said objectively in it.Neste artigo, discute-se o problema da relação entre literatura, mundo e expressão do pensamento. Partindo da noção de que a literatura, pelo seu caráter próprio, “trai”, de certo modo, a possibilidade objetiva de expressar ideias e conceitos (sem no entanto negar essa possibilidade), propõe-se a ideia de que a linguagem da arte se reveste de uma característica outra, que pode ser teorizada a partir do conceito de ícone elaborado por Charles Sanders Peirce. Sem deixar de ser, ao mesmo tempo – conforme as formulações desse autor –, simbólica e indicativa, tal linguagem se abre para a ambiguidade, podendo assim expressar um plus de sentido que não está, necessariamente, contido em sua formulação ou no que é dito objetivamente
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