26 research outputs found

    “E se todos fossem arqueólogos?”: experiências na Terra Indígena Wajãpi

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    Partindo de um interesse em pensar a relação entre arqueologia e antropologia, apresento neste artigo a experiência de uma pesquisa em que as fronteiras disciplinares são fluidas e flexíveis. O mote da minha reflexão é a prática de uma pesquisa de arqueologia com um grupo indígena do tronco tupi, os Wajãpi do Amapá. Com o desenrolar da pesquisa, ficou claro que, além dos sítios arqueológicos, havia muito para conhecer sobre o que os Wajãpi pensam a respeito dos sítios. Sem falar no que os Wajãpi conhecem sobre outras coisas que nós arqueólogos não consideramos sítios, mas que podem funcionar como sítios nos seus próprios termos. Com isso, eu me voltei a conhecer a maneira como os Wajãpi constroem narrativas sobre o passado utilizando vestígios, os traços materiais que seguem disponíveis hoje na sua terra. Ao pensar a arqueologia como uma prática de sentido, vejo esse processo de construção de relações entre os vestígios materiais e o conhecimento wajãpi como uma versão da arqueologia. Neste artigo, apresento alguns exemplos deste processo para argumentar que as aproximações disciplinares podem ser férteis e produtivas

    DE CACOS, PEDRAS MOLES E OUTRAS MARCAS: PERCURSOS DE UMA ARQUEOLOGIA NÃO-QUALIFICADA

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    Assuming that archeology is a way to construct narratives from the material traces from other times, I follow some propositions - in archeology and anthropology - which suggests that, despite the undeniable burden of modernist science, we can consider (and therefore practice) modes of knowledge building that does not cling to the modernist model. From the modern subject position, however, formed within scientific epistemology, I venture to think about these possibilities based on an experiment in progress with an indigenous group in the northern Amazon. Fleeing the qualitatives customarily employed for locating archaeological practices conducted along the existing populations, I arguethat this qualification is more a way of domesticating other modes of knowledge within archeology (with a capital A, as supposedly universal).Keywords: Ways of knowing, archaeological practices, dialoguesPartindo do princípio de que arqueologia é um modo de construir narrativas a partir dos vestígios materiais que apontam para outros tempos, sigo algumas proposições – na arqueologia e na antropologia – que sugerem, apesar do indiscutível fardo modernista da ciência, que é possível pensar (e, portanto, praticar) modos desta construção de conhecimento que não se atêm ao modelo modernista. A partir da posição de sujeito moderno, formada no seio da epistemologia científica, aventuro-me a refletir sobre estas possibilidades com base em uma experiência em andamento junto a um grupo indígena no norte amazônico. Fugindo dos qualitativos costumeiramente empregados para localizar práticas arqueológicas realizadas com populações atuais, argumento que esta qualificação é mais uma maneira de domesticar outros modos de conhecimentodentro da Arqueologia (com A maiúsculo, já supostamente universal).Palavras-chave: Modos de conhecer, práticas arqueológicas, diálogo

    A longa história indígena na costa norte do Amapá

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    A arqueologia na costa oriental da Guayanas (Estado brasileiro do Amapá) tem uma longa história, como os estudos de pioneiros como Emilio Goeldi, Henri Coudreau, Meggers e Evans, entre outros, nos lembram. Este lugar tem também um valor crítico para o atual debate sobre as evidências da complexidade sócio-político na pré-história da Amazônia, dada a ocorrência de locais impressionantes, como as estruturas megalíticas, e elaborada cerâmica, como as cerâmicas policrômicas Aristé. Desde a criação de uma equipe de arqueólogos no estado Amapá esta imagem ter sido alterada, com o aumento da base de dados arqueológicos disponíveis na área. Até agora, a cronologia foi estendida para o Holoceno médio, com sítios arqueológicos relacionados com grupos de caçadores-coletores; início de produção de cerâmicas locais, datando de, pelo menos, 3000 BP foram encontrados; e a proliferação de culturas cerâmicas arqueológicas foram documentados, com a co-existência de, pelo menos, 5 culturas diferentes na área desde o segundo milênio depois de Cristo. Além disso, a área apresenta estudos de casos instigantes em etno-arqueologia. A costa oriental de Guayana é um dos poucos lugares na Amazônia que mostra evidências de continuidade entre as sociedades ameríndias contemporâneos, como os Palikur e Kalina, e as ocupações pré-coloniais, proporcionando uma boa oportunidade para compreender a mudança que a colonização europeia impôs em padrões ameríndios pré-coloniais de organização sócio-política. Diante de todas as informações que já tenha sido recolhida, é óbvio que o Amapá é uma área-chave na região amazônica. Suas características geográficas singulares, um enclave entre a Amazônia, Guayana e áreas do Caribe, parece estar refletida na alta diversidade cultural na ocupação pré-histórica, onde diferentes tradições culturais convergiram e interagiram em uma região específica. Como tal, sugerimos que, depois de uma ocupação humana gradual desde pelo menos 8000 BP, ele se tornará, por volta de 1000 BP, uma arena altamente contestada, onde as diferenças regionais em estilos de cerâmica e centros cerimoniais\funerários foram usados e exacerbados para marcar fronteiras políticas e\ ou sociais fronteiras. Este artigo tem como objetivo principal apresentar os atuais dados arqueológicos e o esboço de um projeto de pesquisa com foco na paisagem e uma história de longa duração dos contextos sócio-políticos ameríndios na costa oriental de Guayana, através do estabelecimento de um quadro cronológico e cultural da ocupação humana na região, desde os primeiros habitantes até o impacto da invasão europeia em grupos ameríndios

    Um Breve Panorama Sobre a Arte Rupestre no Amapá

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    A arqueologia no Amapá desperta atenção de pesquisadores e curiosos desde o século XIX. No entanto, chama a atenção a pouca relevância que estudos de arte rupestre tiveram no Amapá, especialmente se comparamos com regiões vizinhas, como Pará e Guiana Francesa. O que trazemos neste trabalho é um levantamento atualizado deste tipo de sítio arqueológico, abarcando registros que foram realizados majoritariamente em pesquisas de campo, mas que também compreendem referências já publicadas. Além destes, também incluímos dois relatos breves coletados entre povos indígenas, para os quais ainda não temos registros mais detalhados. A síntese aqui apresentada é uma contribuição para a ampliação do conhecimento sobre um quadro mais amplo da arqueologia desta região

    QUEM SOMOS NÓS? OU PERFIS DA COMUNIDADE PROFISSIONAL ARQUEOLÓGICA NO BRASIL: PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES

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    Nos últimos vinte anos, a formação acadêmico-científica arqueológica cresceu exponencialmente no Brasil, culminando com o reconhecimento da profissão em 2018. No entanto, pouco sabemos sobre os perfis socioeconômico e profissional das pessoas atuantes na área, assim como de estudantes em processo de formação, em nível de graduação e pós-graduação. Para que se tenha uma visão geral do quadro da Arqueologia no país, propomos a realização de um levantamento demográfico, cujos primeiros resultados estão compilados neste manuscrito. Esta iniciativa nos possibilita delinear os desafios da inclusão e da representatividade no exercício da profissão, cujas reflexões nos auxiliarão na concepção de medidas práticas para uma mudança desse quadro, no futuro

    “E se todos fossem arqueólogos?”: experiências na Terra Indígena Wajãpi

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    Partindo de um interesse em pensar a relação entre arqueologia e antropologia, apresento neste artigo a experiência de uma pesquisa em que as fronteiras disciplinares são fluidas e flexíveis. O mote da minha reflexão é a prática de uma pesquisa de arqueologia com um grupo indígena do tronco tupi, os Wajãpi do Amapá. Com o desenrolar da pesquisa, ficou claro que, além dos sítios arqueológicos, havia muito para conhecer sobre o que os Wajãpi pensam a respeito dos sítios. Sem falar no que os Wajãpi conhecem sobre outras coisas que nós arqueólogos não consideramos sítios, mas que podem funcionar como sítios nos seus próprios termos. Com isso, eu me voltei a conhecer a maneira como os Wajãpi constroem narrativas sobre o passado utilizando vestígios, os traços materiais que seguem disponíveis hoje na sua terra. Ao pensar a arqueologia como uma prática de sentido, vejo esse processo de construção de relações entre os vestígios materiais e o conhecimento wajãpi como uma versão da arqueologia. Neste artigo, apresento alguns exemplos deste processo para argumentar que as aproximações disciplinares podem ser férteis e produtivas
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