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The art of cooking in Bahia: a work by Manuel Querino
A presente comunicação visa delinear o contexto sociocultural que deu origem ao conjunto de receitas coligidas por Manuel Querino (1851-1923), publicadas na obra intitulada: A arte culinária na Bahia (1922). Três décadas após a abolição do sistema escravista e a proclamação da República, diversos intelectuais brasileiros, empenhados em valorizar os traços específicos do país, procuraram distanciar-se da herança portuguesa. Ampliaram o conceito de três raças formadoras da nação: indígena, portuguesa e africana, acoplado (na visão de autores como Gilberto Freyre) a uma utópica democracia racial.
Ao apresentar um rol costumeiro de receitas soteropolitanas, Querino, estudioso negro, não limitou seu escopo à divulgação de criações culinárias locais. Comentários acompanhando o detalhamento dos preparos possibilitam ao leitor inferir o intento que orientou o empreendimento: um desejo de afirmar e dignificar o aporte cultural da população negra à modelagem de um cardápio local. Segundo observou Raul Lody (na apresentação de edição recente da obra do autor), Querino “inaugurou um olhar e um estilo em torno de matriz africana, baseado em suas vivências pessoais no Recôncavo baiano...”.
Semelhante contribuição suscita indagações. Em que circunstâncias uma culinária de matriz africana teria surgido na Bahia? Em área rural ou urbana? Nas casas ou nas ruas da cidade (às mãos de vendedoras ambulantes)? E, por conseguinte, quando foi que essas iguarias saborosas e nutritivas, de tempero marcante, elaboradas com ingredientes de custo módico e um uso trabalhoso da pedra de ralar começaram a ser amplamente apreciadas pelo conjunto da população, tornando-se elemento simbólico representativo de uma identidade baiana? Em tempos coloniais? Após a abolição?
Fundamentada na perspectiva da micro-história apresentada por Carlo Ginzburg em Mito, emblemas e sinais (1986; em versão brasileira, publicado pela Companhia das Letras, 1989), pretendo delinear uma reflexão etno-histórica sobre os fenômenos envolvidos e apontar aspectos da história da alimentação baiana que merecem discussão. Comentários rápidos de cronistas, de viajantes ou de autores do período colonial como o poeta Gregório de Matos Guerra e documentos analisados por historiadores como Richard Graham, autor da obra Alimentar a cidade: das vendedoras de rua à reforma liberal (Salvador, 1780 –1860), servirão de indícios para desvendar as peculiaridades do contexto soteropolitano que presidiram à publicação da obra de Manuel Querino
Transformação e persistência: Antropologia da alimentação e nutrição em uma sociedade indígena amazônica
LEITE, Maurício Soares. Transformação e persistência: Antropologia da alimentação e nutrição em uma sociedade indígena amazônica. Rio de Janeiro, Editora Fiocruz, 2007, 239 p.A obra de Maurício Soares Leite: “Trans-formação e persistência: Antropologia da ali-mentação e nutrição em uma sociedade indígenaamazônica”, fruto de um doutorado em SaúdePública, propõe ao leitor um estudo de caso ex-tremamente interessante por seu enfoque quecombina as perspectivas analíticas de várias dis-ciplinas em torno das escolhas de provimentoe de consumo alimentar de uma comunidadeindígena. A preocupação do autor, “nutricio-nista transmutado em antropólogo”, com da-nos à saúde causados pelo empobrecimentodas dietas nativas e com a falta de eficácia dasações programadas pelo SUS no trato de gru-pos indígenas o estimulou a detalhar as solu-ções ideadas por uma sociedade indígena pararesolver problemas de subsistência alimentar.O pesquisador se debruçou, portanto, sobreos procedimentos de um grupo de trezentosíndios Wari’ (pertencentes à família lingüísti-ca Txapakura), que residiam em Santo André,uma aldeia situada no Estado de Rondônia, namargem esquerda do rio Pacáas Novos, juntoa um posto da FUNAI. A decisão de explicaras carências nutricionais da comunidade e asdoenças que a afligiam por meio de uma aná-lise quali-quantitativa dos ingredientes ingeri-dos em maio e em novembro 2003 (durantea estação seca e a estação úmida), de mensura-ções antropométricas da população, da obser-vação de seus hábitos alimentares cotidianos ede comentários dos índios sobre mudanças nadieta subseqüentes ao contato com os brancos,fundamentou o estudo. Especificou-se aindaa participação proporcional de diversas fontesprovedoras de gêneros comestíveis: roças, caça,pesca ou mercado regional (fornecedor de ali-mentos industrializados), na composição dasrefeições. De forma que, tanto o relato dos cul-tivos destinados ao consumo familiar e à vendana cidade de Guajará-Mirim, quanto a obser-vação das expedições de caça, de pesca ou decoleta (escalonadas em diversos momentos dociclo anual) permitiram ao autor analisar umelenco significativo de aspectos fisiológicos,ecológicos e sociais e apontar a complexidadedas motivações envolvidas nos procedimentosde produção e de consumo alimentar
Arte e alimento: expressões históricas e culturais em telas de patchwork
Les manifestations artistiques sur toiles en patchwork occupent un espace de plus en plus remarquable dans les expositions. Il s’agit d’un art textile essentiellement produit par des femmes. Lors du Salon du Patchwork Brésil 2015, le Clube Brasileiro de Patchwork e Quilting de São Paulo a organisé une exposition intitulée: «Passions brésiliennes – Notre terre, notre peuple». Certaines oeuvres représentant des aliments et des boissons caractérisaient quelques aspects des identités culturelles brésiliennes. Nous avons photographié et choisi pour les analyser quatre oeuvres qui faisaient allusion à des évènements historiques brésiliens et des coutumes tels que: les migrations, les groupes ethniques, la religion, les fêtes, les sociabilités. La méthodologie adoptée, de nature qualitative, comporta des analyses tant bibliographiques qu’iconologiques.Manifestações artísticas em telas de patchwork ocupam espaços crescentes. Trata-se de uma arte têxtil essencialmente produzida por mulheres. Na Brazil Patchwork Show de 2015, o Clube Brasileiro de Patchwork e Quilting de São Paulo apresentou uma exposição intitulada: "Paixões Brasileiras – Nossa terra, nossa gente". Algumas das obras retratavam comidas e bebidas representativas das identidades culturais brasileiras. Fotografamos e selecionamos para fins de análise quatro imagens que aludiam a características históricas e culturais do Brasil, tais como: migrações, etnias, religiões, festas e sociabilidades. A metodologia adotada foi qualitativa e incluiu análises bibliográficas e iconológicas