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    Vulnerabilidades compartilhadas: de grupos corporados a espiritual-funcionalismo entre os saamaka do Suriname

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    Os afro-amazônicos saamaka, do Suriname, falam sobre diversos modos de agência dos mortos. Dentre elas, os kunu, espíritos vingativos que operam matrilateralmente; e os neseki, padrinhos espirituais que amiúde operam patrilateralmente. De certo modo, ambos podem aproximar pessoas que compartilham vulnerabilidades: ser vítima potencial dos mesmos kunu é o que faz das pessoas membros de suas matrilinhagens; possuir o mesmo neseki significa ser afetado pelos mesmos tabus alimentares. Estar sujeito aos mesmos perigos ajuda a criar, por contraefetuação, relações de proteção mútua, que podem ou não gerar algo como grupos sociais. Uma teoria saamaka da corporalidade e da corporação, poderia ser, assim, chamada de espiritual-funcionalista. Afinal, suas ideias ressoam ironicamente com conceitos da antropologia clássica (grupos corporados, filiação complementar), mas vão na contramão das teorias funcionalistas, ao dar mais peso à agência dos mortos do que a estruturas sociais.The saamaka Mmroons of Suriname speak of many modes of agency of the dead. Among them, the kunu, avenging spirits which act matrilaterally, and the neseki, spiritual godparents which often act patrilaterally. In a way, both are able to connect people through their shared vulnerabilities – being potential victims of the same kunu makes people belong to their matrilineages; having the same neseki means having the same food taboos. Being exposed to the same dangers helps to counter-actualise relations of mutual protection, which may or may not create something like social groups. A saamaka theory of corporeality and corporation may thus be described as a kind of spiritual-functionalism, as their ideas ironically resonate with concepts central to classic anthropology (such as corporate groups and complementary filiation). However, different from functionalist theories, here spirits are deemed much more relevant than the agency of social structures

    PRICE, Richard. 2013. Fesiten. La Roque-d'Anthéron: Vents d'Ailleurs. 252pp.

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    DINHEIRO, TECIDOS, RUM E A ESTÉTICA DO ECLIPSAMENTO EM SAAMAKA

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    Resumo O artigo trata dos businenge (maroons, quilombolas) saamaka do Alto Suriname. Parto de um tema clássico da antropologia - a separação nem sempre clara entre dádivas e mercadorias - e um aspecto particular da vida econômica nesta localidade - a rejeição do uso de dinheiro em determinadas esferas de circulação de objetos, serviços e palavras - como problemas. A ideia é compreender os motivos pelos quais, mesmo num contexto econômico crescentemente monetizado e integrado à economia capitalista global, há certos tipos de trocas nas quais o papel-moeda não deve circular de forma explícita, e nas quais fazem o papel de “moeda” objetos cuja fabricação é estrangeira. Busco compreender como é traçada, em Saamaka, a exterioridade e a interioridade, e de que forma o dinheiro é marcado como externa, enquanto certas “dádivas”, como rum e tecido, são feitas internas

    Trouillot, o Caribe e a antropologia

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    Neste texto, Michel-Rolph Trouillot (1949-2012) procede a uma revisão bibliográfica crítica da produção caribeanista, focando, sobretudo, em trabalhos publicados em língua inglesa entre meados da década de 1970 e 1992. O ensaio se organiza em torno de três grandes temas e suas ramificações: heterogeneidade, historicidade e articulação, este último relativo à natureza e aos limites das unidades de observação ou de análise. No artigo, Trouillot trata tanto do Caribe, tal como visto pela antropologia, quanto da antropologia, tal como vista a partir do Caribe, e discute, também, a questão do estatuto epistemológico dos discursos nativos na disciplina.Palavras-chave: teoria cultural - sociedades complexas - história - vozes nativas - unidades de análise.A região do Caribe. Uma fronteira aberta na teoria antropológicaMichel-Rolph Trouillo

    Pequena história da ideia de fetiche religioso: de sua emergência a meados do século XX

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    A ideia de fetiche religioso, fruto do encontro afro-europeu na costa da Guiné há cerca de quatro séculos percorreu um longo caminho, desde seu uso por viajantes e comerciantes, passando pela sua apropriação pela filosofia iluminista, sua radicalização e popularização no positivismo e no evolucionismo, até ser criticada, entrar em declínio e ser considerada estéril pela antropologia modernista. O objetivo deste artigo é lançar uma luz sobre tal trajetória, não de maneira desinteressada, mas dentro de um contexto contemporâneo de reavaliação da ideia de fetiche enquanto ferramenta heurística, o que sugere uma paralela reavaliação da história do conceito
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