119 research outputs found

    Comportamentos infantis problemáticos, perturbadores e não conformes: conceitos e demandas de cuidado relacionados à agitação em crianças em Santos e Campinas, Brasil

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    Este artigo se inicia com um questionamento sobre as consequências sociais da impossibilidade de delimitar o conceito de transtorno mental, o qual parece ser um termo “vago”, sem definições satisfatórias, sobretudo quando associado a comportamentos infantis. Argumenta-se que, para pensar os comportamentos infantis problemáticos, perturbadores ou não conformes, é necessário entender quais são os conceitos relacionados às categorias classificatórias dos comportamentos infantis e apresentados como demandas de cuidado, tanto no discurso do senso comum quanto no discurso biomédico. Os dados foram coletados a partir de pesquisas qualitativas desenvolvidas em três diferentes serviços de saúde mental infantil, um em Santos (2012) e dois em Campinas (2009- 2010 e 2017-2018). Baseado no que parece ser uma relação entre disfunção biológico-psicológica e expectativa ou resposta sociocultural, tomase como ponto de partida a agitação como uma categoria multidimensional e vaga, apresentandose uma descrição e reflexão teórica sobre os vários conceitos relativos à agitação. A análise é centrada nos diferentes usos dos conceitos de agitação, os atores sociais e instituições envolvidos nas demandas de cuidado e as formas como eles estão interdependentemente conectados. Porfim,revela, a partir de uma perspectiva sociocultural, as implicaçõesdeclassificar edefinirocomportamento infantil com base em uma categoria vaga.This article discusses the social consequences of the impossibility of specifically defining the boundaries of the concept of mental disorder, which seems to be a “vague” term with no satisfactory definition, especially when referred to children’s behaviors. We argue that when discussing children’s problematic, disturbing or non-conforming behaviors it is necessary to understand how these concepts are related to the classificatory categories of children’s behaviors and presented as care demands, whether in common sense or in biomedical discourses. Data were collected in qualitative research developed in three different child mental health services (CMHS), one in Santos (2012) and two in Campinas (2009-2010; 2017-2018), Brazil. Based on what seems to be a relation between biological-psychological dysfunction and social-cultural expectation or response, our starting point is that agitation is also a multidimensional and vague category, presenting a description and theoretical reflection about the various concepts regarding agitation. The analysis focuses on the different uses of the concepts of agitation; the social actors and institutions involved in care demands and how they are interdependently connected; then revealing, from a sociocultural perspective, the implications of classifying and defining children’s behavior from this vague category

    The daily care in the life of women family members women of children attended in a Santos’ CAPSi of Santos

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    Children’s mental health has gained notorious space in Brazilian and international research. It’s known that childcare, besides requiring certain specificities, requires a consolidated support network, and one of these caregivers is the family. In the care provided by the family, a process of feminization is noticed: mothers, grandmothers, sisters, or other family members are markedly more present in groups for family members offered by the CAPSi (Children’s Psychosocial Attention Center). This article presents some results of a scientific initiation research, whose objectives were to identify and understand which are the daily care practices performed by women family members, caregivers of children assisted in a CAPSi in the municipality of Santos and the support received inside and outside the service. The qualitative research used as technique in-depth interviews, with semi-structured script, carried out by telephone, for listening to these women, identified from the information given by professionals of the service. In the women’s reports, we identified native categories related to care: routine, normal, and support. These categories were mentioned by the women to define the daily care of the children. We noticed that the daily routine of care characterizes it as “normal” for these women, and is not considered a burden in their lives or even problematized.A saúde mental infantil tem ganhado notório espaço em pesquisas brasileiras e internacionais. Sabe-se que o cuidado com crianças, além de requerer certas especificidades, exige uma consolidada rede de apoio, sendo um dos agentes cuidadores a família. Nota-se, no cuidado realizado pela família, um processo de feminização: mães, avós, irmãs ou outras familiares estão marcadamente mais presentes nos grupos para familiares oferecidos pelos CAPSi. Este artigo apresenta alguns resultados de uma pesquisa de iniciação científica, cujos objetivos foram identificar e compreender quais são as práticas cotidianas de cuidado realizadas por mulheres familiares, cuidadoras das crianças atendidas em um CAPSi de Santos e os apoios recebidos dentro e fora do serviço. A pesquisa qualitativa utilizou como técnica entrevistas em profundidade, com roteiro semiestruturado, realizadas por telefone, para a escuta dessas mulheres, escolhidas com base em informações dadas por profissionais do serviço. Identificou-se, nos relatos, categorias nativas em relação ao cuidado: rotina, normal e apoio. Essas categorias foram mencionadas pelas mulheres para definir o cuidado cotidiano com as crianças. Percebeu-se que a cotidianidade do cuidado o caracteriza como “normal” para elas, não sendo considerado como um fardo em suas vidas e sequer problematizado

    Child depression: anthropological approach

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    OBJECTIVE: To understand the sociocultural meanings of childhood depression, from the medical-scientific concept of the disease. METHODS: This was a qualitative study carried out in the metropolitan region of São Paulo, State of São Paulo, Brazil, in 2003. It consisted of ethnographic observation and in-depth interviews with eight psychiatrists from a public health service and nine relatives (parents or guardians) of children who had been diagnosed with and were being treated for childhood depression. The analysis sought to identify categories that would make it possible to isolate different notions of the disease, as expressed in the discourse of these groups. RESULTS: Different notions of the disease were identified, in accordance with the cultural patterns of the discourse. For the psychiatrists, the concept of childhood depression was related to inappropriate child behavior, or bad functioning, which then had to be adjusted by medical intervention. For the relatives, childhood depression meant dissatisfaction and discomfort with life and intolerance of adults to child behavior. It was seen that the discourse of the psychiatrists and relatives interviewed showed great diversity of subjects, concepts and categories, according to the logic of their particular understandings and explanations for childhood depression. CONCLUSIONS: In the light of the results obtained, the phenomenon of childhood depression can be analyzed not as an event determined by medical-scientific knowledge, but as a dynamic process of creative reinvention of categories and concepts that are fundamental to this discourse. It is therefore concluded that childhood depression presents as a differentiated disease, in the form of a broad category that is capable of integrating different connotations and contexts under the same term.OBJETIVO: Apreender significados socioculturais da depressão infantil, a partir da noção médico-científica da doença. MÉTODOS: Pesquisa qualitativa realizada em 2003, na região metropolitana de São Paulo, SP, Brasil. Utilizou-se a observação etnográfica e entrevistas em profundidade com oito médicos psiquiatras de um serviço público de saúde e nove familiares (pais ou responsáveis) de crianças com diagnóstico e em tratamento de depressão infantil. Na análise, buscou-se identificar categorias que permitissem isolar diferentes noções de doença expressas nos discursos desses grupos. RESULTADOS: Foram identificadas diferentes noções da doença, de acordo com padrões culturais dos discursos. Para os psiquiatras, a noção de depressão infantil referiu-se a comportamentos infantis inadequados, ou mau funcionamento, os quais devem ser ajustados pela intervenção médica. Para os familiares, significou insatisfação e incômodo diante da vida e intolerância de adultos frente a certos comportamentos infantis. Observou-se que os discursos dos médicos psiquiatras e dos familiares entrevistados mostraram diversidade quanto aos seus conteúdos, conceitos e categorias, segundo lógicas próprias de compreensão e de explicação da depressão infantil. CONCLUSÕES: Diante dos resultados obtidos, o fenômeno da depressão infantil passa a ser analisado não como evento determinado pelo conhecimento médico-científico, mas como um processo dinâmico de reinvenção criadora de categorias e conceitos fundamentais desse discurso. Concluiu-se, portanto, que a depressão infantil apresentou-se como doença diferenciada, na forma de uma categoria ampla, capaz de integrar diferentes conotações e contextos sob um mesmo termo.Universidade de São Paulo Escola de Enfermagem Departamento de Enfermagem em Saúde ColetivaUniversidade Federal de São Paulo (UNIFESP) Departamento de PsiquiatriaUNIFESP, Depto. de PsiquiatriaSciEL

    Social norms of sexual initiation among adolescents and gender relations

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    Com o objetivo de identificar normas e expectativas sociais que cercam a iniciação sexual, foram estudados quatro grupos focais com adolescentes de 14 a 18 anos de idade, em 2006, na cidade de São Paulo, Brasil. Os dados mostraram que as questões de gênero estão claramente presentes nos discursos dos entrevistados e mostram-se fundamentais nas escolhas sobre o momento, as parcerias e as práticas contraceptivas que circundam a vivência da primeira relação sexual. Os adolescentes tanto estão subordinados aos papéis de gênero tradicionalmente atribuídos aos homens e mulheres, como a concepção de que o sexo é um instinto físico e incontrolável entre os garotos e a intrínseca relação entre amor, desejo e sexo entre as garotas, quanto têm papel preponderante para a manutenção de tais valores no grupo em que vivem.Con el objetivo de identificar las normas y expectativas sociales que se encuentran en la iniciación sexual, fueron estudiados cuatro grupos de adolescentes entre 14 y 18 años de edad, en 2.006, en la ciudad de San Pablo, Brasil. Los datos mostraron que las cuestiones de género están claramente presentes en los discursos de los entrevistados y se mostraron fundamentales en las elecciones sobre: el momento, el compañero y las prácticas contraceptivas que se encuentran en la vivencia de la primera relación sexual. Los adolescentes están subordinados a los papeles de género, tradicionalmente atribuidos a los hombres y a las mujeres, y al concepto de que el sexo es un instinto físico e incontrolable entre los muchachos, y a la intrínseca relación entre el amor, el deseo y el sexo entre las muchachas; estas percepciones tienen también un papel preponderante para mantener estos valores en el grupo en que viven.This study aimed to identify standards and expectations regarding sexual initiation of 14 to 18 year-old adolescents in Sao Paulo, SP, Brazil, using data from four focal groups conducted in 2006. Results revealed that gender issues are clearly present in participants' reports and showed to be essential in their choices about the moment, partners and contraceptive practices in the first sexual relation. Adolescents are subordinated to gender roles, traditionally attributed to male and female genders, i.e. the notion that sex is an uncontrolled instinct for boys, and intrinsically and closely associated to love and desire for girls. Adolescents also play a preponderant role in the perpetuation of these values within the group they live in

    Aspectos sociais na identificação de problemas de saúde mental em crianças em dois serviços de saúde em Paris, França

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    Children's mental health problems were analyzed from a sociological approach addressing two questions: what are the main children's behaviors identified and considered to be mental health problems, and what are the consequences of this classification for the debate on children's problems in contemporary societies. This quantitative and qualitative study analyzed 275 patients' records from two child mental health services (CMHS) in the northeast area of Paris, France. The majority of children were boys from six to 11 years oldrequests were presented mainly by schools and parentsthe main problems were behavioural problems, cognitive difficulties and relational problems (boys), and affective or emotional problems (girls). There is an interdependence of a great number of actors who worry about children's behavior and a system of expectations seems to be collectively woven by them as social classifications.Problemas mentais na infância foram analisados da perspectiva sociológica, abordando duas questões: quais os principais comportamentos infantis identificados e considerados problemas de saúde mental, e quais as consequências dessa classificação para o debate dos problemas infantis nas sociedades contemporâneas. Este estudo quanti e qualitativo analisou 275 prontuários de pacientes de dois serviços de saúde mental da infância na região nordeste de Paris, França. A maioria das crianças eram meninos de seis a 11 anos de idade; as queixas foram apresentadas principalmente pelas escolas e pelos pais; os principais problemas eram de comportamento, dificuldades de aprendizagem e de relacionamento (meninos), e problemas afetivos e emocionais (meninas). Há uma interdependência entre um grande número de atores que se preocupam com os comportamentos infantis e um sistema de expectativas parece ser coletivamente tecido por eles como classificações sociais.National Council of Technological and Scientific Development (CNPq-Brazil)Univ Fed Sao Paulo, Dept Polit Publ & Saude Colet, LICHSS, R Silva Jardim 136,Campus Baixada Santista, BR-11045551 Santos, SP, BrazilUniv Paris 05, Ctr Rech Med Sci Sante Sante Mentale Soc CERMES3, Inst Natl Sante & Rech Med, Paris, FranceUniv Paris 05, CERMES3, Ctr Natl Rech Sci, Inst Sci Homme & Soc, Paris, FranceUniv Fed Sao Paulo, Dept Polit Publ & Saude Colet, LICHSS, R Silva Jardim 136,Campus Baixada Santista, BR-11045551 Santos, SP, BrazilWeb of Scienc

    O método etnográfico em pesquisas na área da saúde: uma reflexão antropológica

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    The article aims to reflect on the possible theoretical and methodological contributions of social science research in health, given the increasing incorporation of qualitative methodologies, particularly ethnography, this research. The starting point for this discussion are three theoretical and conceptual keys to the consolidation of the ethnographic method in its origin, in conjunction with the very assertion of anthropological science, assuming that by understanding what is the ethnographic practice, we also understand the importance of the anthropological explanation of the different socio-cultural phenomena, among them health, illness and strategies for treatment or cure. These assumptions - ethnocentrism, relativism and culture - marked so the research and production of anthropological knowledge, theory and method that have become inseparable. Thinking of repetition and constant replenishment of inseparability in a dialectical movement of concrete experience with learned theories can be a major strength of the social sciences, particularly anthropology, for research in health. The absence of this reflection seems to risk the compromise that can interface with the theoretical and methodological rigor in the production and dissemination of scientific knowledge, the reduction and simplification of the technique. On the other hand, this same inseparability leads us to inquire about possible contributions of the incorporation of ethnographic method in research in the health of anthropological knowledge.O artigo tem como objetivo refletir sobre as possíveis contribuições teórico-metodológicas das ciências sociais para as pesquisas na área da saúde, dada a crescente incorporação de metodologias qualitativas, em especial do método etnográfico, nessas pesquisas. O ponto de partida dessa reflexão são três pressupostos teórico-conceituais fundamentais à consolidação do método etnográfico em sua origem, concomitantemente à própria afirmação da ciência antropológica, entendendo que na compreensão do que seja a prática etnográfica, também se compreenda a importância da análise antropológica na explicação dos diferentes fenômenos socioculturais, dentre eles a saúde, o adoecimento e as estratégias de tratamento ou de cura. Esses pressupostos - etnocentrismo, relativismo e cultura - marcaram de tal forma a pesquisa e a produção de conhecimento antropológicos, que método e teoria se tornaram indissociáveis. Pensar na possibilidade de reiteração e reposição constante dessa indissociabilidade, em um movimento dialético da experiência concreta com as teorias apreendidas, pode ser uma das principais contribuições das ciências sociais, em particular da antropologia, para as pesquisas na área da saúde. A ausência dessa reflexão parece colocar em risco o compromisso dessa possível interface com o rigor teórico-metodológico na produção e divulgação do conhecimento científico, pela redução e simplificação do método à técnica. Por outro lado, essa mesma indissociabilidade leva-nos a indagar sobre as possíveis contribuições da incorporação do método etnográfico em pesquisas na área da saúde ao conhecimento antropológico

    Notion of meaning in health qualitative research: the Anthropology contribution

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    Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) Departamento de PsiquiatriaUniversidade Federal de São Paulo (UNIFESP) Escola de EnfermagemUNIFESP, Depto. de PsiquiatriaUNIFESP, Escola de EnfermagemSciEL

    Editorial

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    Os signifıcados dos encaminhamentos feitos aos CAPS III de Santos: a visão dos profıssionais

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    The objective of this study was to understand the meaning of the referrals to the CAPS III in Santos according to the opinion of health professionals who work in these services. A qualitative research was conducted, prioritizing the ethnographic method. The in depth interviews technique with a semi-structured script was used to collect information from these professionals. The research was carried out with 12 professionals – four psychiatrists and eight professionals from other areas – covering the five CAPS III in the city of Santos. In the professionals' opinion, the meanings of the referrals are related to the mistaken and inappropriate ways they occur, with few data and without any specific criteria. For them, the inadequacy of those referrals, made by professionals from others services, is due to the lack of accurate listening, to the hurry to refer patients and to the lack of knowledge about the CAPS III. These inadequate referrals cause an excessive demand to CAPS III, a service overload and professionals' restraint to care severe ill patients, who are considered priority in these kinds of services. There is a contradiction between the interviewees' discourse and their practice as the new demands, the common disorders cases, are attended. When referring to CAPS III as a welcoming place that offers safety and security, respondents indicate how they deal with this inversion of priorities in their practices. When defining the CAPS, their place of professional experience, with the notion of a welcoming, a “native category”, the interviewees seem to explain the contradiction between discourse and practice.Este trabalho teve como objetivo entender os significados dos encaminhamentos feitos aos CAPS III de Santos na visão dos profissionais de saúde que atuam nesses serviços, por meio de pesquisa de abordagem qualitativa, priorizando-se o método etnográfico. Para a obtenção das informações junto a esses profissionais, utilizou-se a técnica de entrevistas em profundidade, com roteiro semiestruturado. Foram entrevistados 12 profissionais (quatro psiquiatras e oito de outras especialidades) nos cinco CAPS III do município de Santos. Os significados dos encaminhamentos aos CAPS III, segundo os entrevistados, estão vinculados ao modo equivocado e “indevido” como ocorrem, com poucos dados e sem critérios específicos. Para eles, tais encaminhamentos, por profissionais de outros serviços, são decorrentes da falta de escuta; da pressa em encaminhar o paciente; do desconhecimento do que seja o CAPS III; o que acarreta uma demanda excessiva ou “voraz” para os CAPS III, sobrecarregando o serviço e impedindo que os profissionais possam se dedicar aos pacientes graves, prioritários nesses serviços. Observa-se uma contradição entre o discurso dos entrevistados e sua prática, pois as novas demandas, de casos leves, são atendidas. Ao se referirem aos CAPS III como um espaço de acolhimento, que oferece proteção e segurança, os entrevistados indicam de que maneira lidam em suas práticas com essa inversão de prioridades de demanda. Ao definirem o CAPS, seu local de trabalho e de experiência profissional, a partir da noção de acolhimento, uma “categoria nativa”, os entrevistados parecem explicar a contradição entre o discurso e a prática
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