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Civility, distinction, and national identity in the pages of the cookbook Cozinheiro Imperial (1840)
A chegada da Corte lusa ao Rio de Janeiro, em 1808, reforçou a importância da alimentação como critério de diferenciação social. Saber comportar-se em público, sobretudo à mesa, era essencial para os membros da elite local por expressar sua conformidade cultural e social com os pares portugueses. Aliás, tal forma de comportamento, replicada dos modelos de comportamento das cortes europeias, converteu-se em um dos meios que as elites açucareira e cafeicultora encontraram para sustentar sua distinção social, nos termos de Pierre Bourdieu. No decurso do século XIX, o Rio de Janeiro, capital do país, corte da monarquia e maior porto comercial, converteu-se no modelo de comportamento que deveria moldar o novo país. Contudo, mesmo após a independência, a elite local continuou a se europeizar, assinalando mais profundamente a distinção entre os vários grupos que compunham a sociedade brasileira.
O primeiro receituário nacional nasceu nesse cenário, Cozinheiro Imperial, publicado em 1840. Sua principal base foram os livros portugueses Arte de Cozinha, de autoria de Domingos Rodrigues, publicado em 1680, e Cozinheiro Moderno, de Lucas Rigaud, datado de 1780. Soma-se a isso a influência francesa, em menor medida. Todavia, diferentemente de Portugal, no Brasil ainda se estava vivenciando a fixação de um discurso sobre a alimentação, tanto nas relações com a prática culinária, quanto com seu aspecto discursivo. Por isso, muitas novidades ligadas à emergência da gastronomia enquanto campo autônomo aparecem de maneira pálida em Cozinheiro Imperial. De fato, o primeiro livro de cozinha brasileiro não atesta uma “culinária brasileira”, mas suas reedições parecem apontar que a ampliação do público leitor implicou na reinterpretação e inclusão de ingredientes e modos de preparo mais ao gosto local. Acreditamos que o uso crescente de ingredientes locais e de receitas à brasileira pode ser interpretado como indício do lento delineamento da cozinha nacional, que caracterizou a emergência das cozinhas regionais no final do século XIX. Como apontado por Carlos Dória, o Cozinheiro Imperial representou o esforço inicial de nacionalização do saber culinário e, por essa razão, foi um marco na formação do pensamento brasileiro sobre o comer entre a elite agrária e os setores urbanos do país. No entanto, esse esforço esteve associado ao que a elite quis comer como construção de nacionalidade, preservando-se, pari passu, fiel ao modo de vida europeizado. Não obstante, Cozinheiro Imperial, apesar de reunir receitas aos moldes internacionais, já integrava na sua apresentação o apelo para que o livro fosse abrasileirado. Assim como o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro começava a escrever uma história do Brasil, o receituário colaborou para o fortalecimento dessa identidade nacional em construção
A SOCIALIZAÇÃO FEMININA E A IDEALIZAÇÃO DOS RELACIONAMENTOS: GÊNESE DE FRUSTRAÇÕES, CONFLITOS E VIOLÊNCIAS
Violence against women arises from patriarchal culture and involves society and family and intimate relationships. Based on bibliographical research, the article intends to discuss the historical construction of female subordination and the permanence of a culture that, even though it is in the 21st century and, counting on the advances achieved by feminist movements from the 19th century onwards, women are induced to silence and conformity with their secondary roles, in all social spheres of greater recognition. It is verified, through a Brazilian historiographical review and in “invisible” practices, that male domination occurs as naturalized and based on the sexual division of work and care.As violências contra mulheres decorrem da cultura patriarcal e envolvem a sociedade e as relações familiares e de intimidade. Com base em pesquisas bibliográficas, o artigo pretende discutir a construção histórica da subordinação feminina e a permanência de uma cultura que, mesmo estando no século XXI e, contando com os avanços conquistados pelos movimentos feministas a partir do século XIX, as mulheres são induzidas ao silenciamento e ao conformismo com seus papéis secundários, em todas as esferas sociais de maior reconhecimento. Verifica-se, através de revisão historiográfica brasileira e nas práticas “invisíveis” que a dominação masculina ocorre como naturalizada e pautada na divisão sexual de trabalhos e cuidados