281 research outputs found

    Desafios a Moçambique: nação e narrativas pós-coloniais

    Get PDF
    A constituição mútua do Norte e do Sul e a natureza hierárquica das relações Norte-Sul permanecem cativas da persistência das relações capitalistas e imperiais. No Norte global, os ‘outros’ saberes, para além da ciência e da técnica, têm sido produzidos como não existentes e, por isso, radicalmente excluído da racionalidade moderna. Os agentes que produzem estes saberes metamorfosearam-se, pela ação da moderna ciência, em portadores de conhecimentos secundários, em não-seres: objetos subalternos, sem direito à voz (SPIVAK, 1988). Este encontro colonial, no âmago do qual se encontra a racionalidade moderna, gerou não apenas zonas iluminadas; pelo contrário, é produtora permanente de zonas sombrias, assinalando que a racionalidade moderna é geradora não apenas da ciência e da técnica, mas também de uma lógica capitalista impessoal e devastadora, de uma ordem política desigual e monocultural (SANTOS, MENESES e NUNES, 2005, p. 33-34)

    Knowledge dialogues, debates of powers: methodological possibilities to enhance dialogues in the global South

    Get PDF
    Muito do que sabemos sobre o Sul global, espaço de violentos encontros coloniais, reflete ainda representações de matriz eurocêntrica. A persistência destas representações resulta particularmente visível na contínua afirmação de uma hierarquia de saberes, apoiada em instituições, vocabulário, saberes, imagens, doutrinas. Esse posicionamento teórico e metodológico, marcadamente monocultural, é a afirmação de uma única ontologia, de uma epistemologia, de uma ética, de um pensamento único, cujos processos de universalização importa estudar. É possível uma reflexão mais ampla, com base em outros posicionamentos epistêmicos? O Sul global, na sua imensa diversidade, assume-se hoje como um vasto campo de inovação econômica, social, cultural e política, um espaço de diálogo entre os saberes locais e os saberes de natureza universal, como este artigo discute.Much of what is known about the global South, a space of violent colonial encounters, still reflects on the Eurocentric-based representations. The persistence of these representations remains particularly visible in the ongoing affirmation of a hierarchy of knowledge, supported by institutions, vocabulary, knowledge, images, and doctrines. This theoretical and methodological positioning, markedly monocultural, represents the assertion of a single ontology, epistemology, ethic and thought, whose processes of universalization matter studying. Is it possible to have a broader reflection through other epistemic positions? The global South, in its diversity, is assumed today as a vast field of economic, social, cultural and political space for dialogue between local knowledge and knowledge of universal nature, as this article discusses

    Images outside the mirror? Mozambique and Portugal in world history

    Full text link
    "The author, speaking as a Mozambican researcher living and working in Portugal, examines the different types of knowledge about the history of the colonial relationship and the independence movement produced in the two countries. The colonial project entailed the construction of (at least) two divergent narratives on the meanings of the Portuguese presence in Mozambique, narratives that render difficult any possibility of mutual recognition. Colonialism involved much forgetting and silencing; the dominant Eurocentric perspective on colonial history needs to be questioned and problematized. This is not contradictory with a critical questioning of the official post-colonial narrative of the independent Mozambican state, whose nationbuilding function caused it to silence the diversity of memories generated by the interaction between colonizers and colonized and to justify the repression of those who questioned the official version of history. Public narratives, official or otherwise, that construct or reconstruct memories are inevitably in competition with each other and reflect power relations. But the full plurality of memory does not receive public attention; it must be dug out by activist researchers who are able to distinguish subject and object and to produce knowledge in full understanding of the complex relations created by historical legacies." (author's abstract

    Metabolic miscommunication among organs: The missing links

    Get PDF
    Funding Information: The authors were funded by Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), FEDER, Portugal2020, and co-financed by Lisboa2020 and Alentejo2020 (ALT20-03-0247-FEDER-113469 and LISBOA-01-0247-FEDER-113469), iNOVA4Health (UIDB/Multi/04462/2020), and by the Sociedade Portuguesa de Diabetologia, Acknowledgmentspublishersversionpublishe

    As estátuas também se abatem: momentos da descolonização em Moçambique

    Get PDF
    A toponímia e os monumentos públicos constituíram a expressão simbólica da afirmação do poder colonial. A partir de finais do séc. XIX, as memórias e identidades coloniais foram inscritas em Lourenço Marques (atual Maputo) pela administração portuguesa. Com a transição para a independência, as referências coloniais e as estruturas de poder que procuravam afirmar foram desafiadas quando as estátuas foram removidas da cidade e a toponímia sofreu profundas alterações. Partindo do estudo das alterações feitas na atual Praça da Independência, incluindo a mudança de topônimos e a alteração de várias infraestruturas, este artigo procura analisar os projetos políticos que dinamizaram a descolonização da paisagem monumental da praça, sinal da mudança epistêmica que se anunciava

    Domingos Arouca: um percurso de militância nacionalista em Moçambique

    Get PDF
    Neste trabalho apresentamos uma releitura das disputas em torno da história e da memória em Moçambique a partir da análise do percurso de militância de Domingos Arouca. Enfatizando sua condição de nacionalista e preso político até o início dos anos 1970, este texto assenta na análise de documentos reunidos em arquivos moçambicanos e portugueses, em notícias publicadas em jornais e revistas e em entrevistas com outros nacionalistas. Este vasto espólio tornou possível uma leitura mais densa e complexa das memórias e dos processos políticos relacionados com um período menos conhecido da história de Moçambique: o fim do período colonial e a transição para a independência (1962-1975). Esta contribuição visa ampliar as possibilidades de construção de uma perspectiva mais sofisticada sobre os processos de reconstrução identitária no Moçambique contemporâneo.This paper offers a reinterpretation of disputes over history and memory in Mozambique from the analysis of Domingos Arouca's militant path. It emphasizes the political path of Arouca, a nationalist and political prisoner until the early 1970s. the study is based on archival research carried out both in Mozambique and Portugal, analysis of media, as well as on interviews carried out with other nationalists. It proposes a more dense and complex interpretation of the political history and social memories of a lesser known period of Mozambique history the end of colonialism and the transition to independence (1962-1975. This paper aims to be a contribution towards a more sophisticated perspective over the processes of identity reconstruction in contemporary Mozambique

    Mozambique: The Rise of a Micro Dual State

    Get PDF
    The decade from 1990 to 2000 was a period of sustained political activity in Africa, leading towards democratisation. Under this scope, Mozambique is widely seen as one paradigmatic success story. Yet, the country’s multiparty democratic system remains challenged by a strong authoritarianism that hampers open deliberation in political public discourse. This paper discusses some reasons for this democratic hold-up in Mozambique’s political and social transition within the broad and ongoing democratisation process in Sub-Saharan Africa. With an emphasis on the analysis of the political situation in the northern town of Angoche, this article argues that the persistence of central government authoritarianism is a reminder of a political liberalisation without democratising the political systems. Indeed, local municipal officials are now elected and receive revenue transfers, but remain limited by other measures.2 The central state successfully resists attempts to devolve broader decision-making authority to municipalities. Far from the ideal Weberian type of state bureaucracy, public administration is highly politicised in the sense that the building up of the administrative capacities of the state are seen as a way of consolidating the political leverage of the ruling party – Frelimo. The paper defends, however, that indeed, a detailed analysis of the public political actions at local level, between distinct political structures, shows that successive authoritarian regimes have not totally erased the freedom of speech and thought, even if they have relegated opposition to ever more marginal spaces.La décennie 1990/2000 a été caractérisée en Afrique par une activité politique soutenue orientée vers la démocratisation. Dans ce cadre, le Mozambique est plutôt vu comme une réussite paradigmatique. Or, ce système démocratique de multipartisme continue à afficher des velléités d’un fort autoritarisme peu propice au relèvement du niveau de la réflexion dans le discours politique public. Cette étude s’interesse aux raisons de ce blocage démocratique du processus de transition politique et social au Mozambique dans le cadre plus général du processus de démocratisation en cours en Afrique au sud du Sahara. En s’appuyant en particulier sur l’analyse de la situation politique de la ville d’Angoche, située au nord du pays, l’étude estime que le fait que le gouvernement central persiste dans l’autoritarisme est assez révélateur d’une libéralisation politique non suivie de la démocratisation des systèmes politiques. En effet, si les fonctionnaires municipaux locaux sont maintenant élus et reçoivent des fonds de transfert, ils restent, en revanche, limités par d’autres mesures.2 Le gouvernement central résiste avec succès à toute tentative d’élargir le mandat des municipalités en matière de prise de décision. Loin du modèle idéal wébérien de bureaucratie d’Etat, l’administration publique est fortement politicisée, en ce sens que le renforcement des capacités administratives de l’Etat est perçue comme un moyen de renforcer l’influence politique du parti au pouvoir – Frelimo. L’étude défend le fait qu’une analyse exhaustive des actions politiques publiques au niveau local, entre des structures politiques bien distinctes, montre que les régimes autoritaires successifs n’ont pas totalement supprimé la liberté d’expression et de pensée même s’ils ont repoussé l’opposition encore plus loin dans les espaces marginaux

    Mundos locais, mundos globais: a diferença da história

    Get PDF
    Uma das dicotomias ‘clássicas’ da modernidade, especialmente na área das ciências sociais, estabelece uma oposição constante entre as sociedades ‘tradicionais’ – apresentadas como ‘locais’ – e a ‘modernização’ – fonte imediata de progresso e sinónimo de intensa dinâmica social. A modernidade ainda nos dias que corre assume foros de globalidade, de expansão de uma forma mais desenvolvida de ver e explicar o mundo, ou seja, perpetua o mito imperial do ‘Norte’. Neste texto discutimos um dos pilares-base da persistência de relações coloniais de subalternização após os processos de independência. De facto, a diferença colonial é refl exo de uma construção epistémica localizada pela desqualificação do saber do Outro, simbolizados pelo Sul global. A ‘monocultura’ científi ca, associada à racionalidade moderna, traz para o centro das discussões o problema da interculturalidade. Procurando fugir a soluções estereotipadas, este artigo procura discutir criticamente alguns exemplos alternativos de análises que permitem actuar em duas direcções: uma, no sentido de combater a noção dominante de conhecimento, sinónimo de monocultura da ciência moderna; outra, procurando compreender, a partir das bases, como diversos grupos sociais dialogam com estas imposições que lhes são colocadas e as formas de resistências que têm mobilizado contra estes

    Poderes, direitos e cidadania: O ‘retorno’ das autoridades tradicionais em Moçambique

    Get PDF
    A heterogeneidade cultural de Moçambique reflecte‑se nas diferentes formas de regulação social, traduzindo‑se pela presença de instâncias não oficiais de resolução de conflitos. Este artigo procura debater os desafios que Moçambique enfrenta na construção de um sistema de justiça multicultural e democrático. As experiências de justiças comunitárias revelam a criatividade e a vitalidade das outras justiças e a sua decisão de defender a ‘sua’ justiça como projecto político. Ao mesmo tempo, a diversidade de instâncias indicia as disputas e jogos de poder face a um Estado que reconhece, até certa medida, a presença de outras jurisdições, constituindo um complexo jogo de interlegalidades. No seu conjunto, este trabalho revela alguns dos paradoxos das reformas multiculturais em curso, abrindo campo para uma discussão mais ampla sobre as formas de cidadania, com ênfase na inclusão, convivialidade e celebração, e também, da diferença.The cultural heterogeneity of Mozambique is reflected in different forms of social regulation, represented by the presence of non-official conflict resolution bodies. This article aims to discuss the challenges facing Mozambique in constructing a multicultural and democratic justice system. The experiences of forms of community justice reveal the creativity and vitality of alternative forms of justice and their decision to defend ‘their’ justice as a political project. At the same time, the diversity of these bodies is indicative of the disputes and power games faced by a state which, to a certain extent, recognises the presence of other jurisdictions, establishing a complex interplay of interlegalities. As a whole, this work reveals some of the paradoxes of ongoing multicultural reforms, opening up the field to a broader discussion of forms of citizenship with an emphasis on inclusion, conviviality, celebration and difference.L’hétérogénéité culturelle du Mozambique se reflète dans les diverses formes de régulation sociale, se traduisant par la présence d’instances non officielles de résolution de conflits. Cet article cherche à lancer le débat sur les défis auxquels le Mozambique est confronté en termes de construction d’un système de justice multiculturelle et démocratique. Les expériences de justices communautaires révèlent la créativité et la vitalité des autres justices et leur décision de défendre ‘leur’ justice comme projet politique. En même temps, la diversité d’instances démontre les disputes et les jeux de pouvoir face à un État qui reconnaît, jusqu’à un certain point, la présence d’autres juridictions, constituant un jeu complexe d’inter‑légalités. Dans son ensemble, ce travail met à nu quelques‑uns des paradoxes des reformes multiculturelles, ouvrant ainsi l’espace à un débat plus ample sur les reformes multiculturelles en cours, ainsi qu’un espace de discussion plus vaste sur les formes de citoyenneté, en mettant l’accent sur l’inclusion, la convivialité, la célébration et la différence
    • …
    corecore