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Hesitações e pausas como ocorrências articuladas ao movimento de reformulação
Hesitações, pausas e reformulações estão presentes em diferentes etapas da vida dos falantes. Na literatura de aquisição da linguagem, tende-se a relacionar o aparecimento articulado dessas três ocorrências com um momento especial (e final) do desenvolvimento. Essas ocorrências são analisadas como reflexos da liberação da habilidade metalinguística, ou seja, como resultado manifesto da dilatação da capacidade cognitiva de crianças (CLARK, 1978; HICKMAN, 1997 e outros). No campo das patologias da linguagem, por sua vez, a tendência dominante é tomá-las como evidência empírica de “perda” desta habilidade (LIER-DeVITTO & FONSECA, 1997). Neste trabalho, assume-se que tais ocorrências são índices da não coincidência do falante com sua própria fala. As escansões enunciativas são interpretadas como frestas ou fendas impregnadas de carga subjetiva, mas não cognitiva. O foco está voltado, portanto, para a relação sujeito-linguagem, partindo das postulações: fala e sujeito não coincidem, nem tampouco falante e sujeito são instâncias coincidentes. Nessa perspectiva, produz-se um afastamento de visadas cognitivistas seja sobre o “processo de subjetivação” e de suas explicações sobre hesitações, pausas e reformulações, seja sobre a manifestação patológica da linguagem e seus efeitos subjetivos
Elaboração do luto e escritas autobiográficas na Clínica de Linguagem com afásicos
RESUMO Este artigo apresenta uma reflexão subsidiada pela Clínica de Linguagem (Lier-DeVitto, 2002, 2006), proposta teórico-clínica que articula noções e conceitos do Estruturalismo Europeu, com Saussure e Jakobson, e da Psicanálise, com Freud e Lacan. Desde os trabalhos de Fonseca (1995, 2002, 2011) a afasia é entendida como uma alteração linguística que envolve cérebro ferido, fala em sofrimento e drama subjetivo. O objetivo deste artigo é desenvolver o tema de que o drama subjetivo envolve luto - questão incontornável num atendimento a afásicos que priorize o sujeito e sua condição singular. Destaca-se que a afasia deixa o falante frente às ruínas de uma condição linguística abrupta e inesperada, que remete a um forte abalo no enodamento dos registros do real, simbólico e imaginário (Lacan, 1985/1972-3). Freud (1917) abre a discussão sobre o luto na Psicanálise. Seu texto e de outros psicanalistas são abordados neste artigo. A escrita autobiográfica é apresentada como um dos caminhos possíveis no percurso de elaboração do luto numa Clínica de Linguagem
On pathological speech: The history of a symptomatic repetition
This paper discusses the assertion that speech pathologies have been left out of linguistic reflections. The aim of such a discussion is to enlighten some of the reasons for the marginal status of pathological speech in that scientific domain. It is argued that the linguists’ ideal of homogeneity and predictability, which led to the production of grammars, plays a fundamental role. The question concerning how symptomatic speech is addressed in clinical practice is also raised. It could be attested that in the clinical literature neither speech, nor the subject-speaker is dealt with in theoretical terms. The point is: “how can consistent speech-therapy clinical reasoning be promoted if reflection on language is excluded?”. It is argued that a theoretical discourse on language is of capital importance for the building up of consistent clinical approaches to symptomatic speech
Incidências da novidade Saussureana no Interacionismo e na Clínica de Linguagem
Este artigo discute o impacto do pensamento de Saussure na proposta Interacionista, em Aquisição da Linguagem, introduzida por Claudia Lemos, bem como na proposição de uma Clínica de Linguagem, por iniciativa de Lier-deVitto. Empreende-se uma leitura crítica das tentativas dos campos em questão de abordar fala de crianças e falas sintomáticas em termos gramaticais. Destaca-se a produtividade do conceito de la langue, do Curso de Linguística Geral (CLG), enquanto funcionamento perene e universal, no tratamento da fala. Entende-se que Saussure oferece uma via alternativa ao indicar que no particular de uma fala “há língua” – um funcionamento simbólico que é condição de possibilidade da fala e de haver falante
HESITAÇÕES E PAUSAS COMO OCORRÊNCIAS ARTICULADAS AO MOVIMENTO DE REFORMULAÇÃO
Hesitações, pausas e reformulações estão presentes em diferentes etapas da vida dos falantes. Na literatura de aquisição da linguagem, tende-se a relacionar o aparecimento articulado dessas três ocorrências com um momento especial (e final) do desenvolvimento. Essas ocorrências são analisadas como reflexos da liberação da habilidade metalinguística, ou seja, como resultado manifesto da dilatação da capacidade cognitiva de crianças (CLARK, 1978; HICKMAN, 1997 e outros). No campo das patologias da linguagem, por sua vez, a tendência dominante é tomá-las como evidência empírica de “perda” desta habilidade (LIER-DeVITTO & FONSECA, 1997). Neste trabalho, assume-se que tais ocorrências são índices da não coincidência do falante com sua própria fala. As escansões enunciativas são interpretadas como frestas ou fendas impregnadas de carga subjetiva, mas não cognitiva. O foco está voltado, portanto, para a relação sujeito-linguagem, partindo das postulações: fala e sujeito não coincidem, nem tampouco falante e sujeito são instâncias coincidentes. Nessa perspectiva, produz-se um afastamento de visadas cognitivistas seja sobre o “processo de subjetivação” e de suas explicações sobre hesitações, pausas e reformulações, seja sobre a manifestação patológica da linguagem e seus efeitos subjetivos
VEZ E VOZ NA LINGUAGEM: O SUJEITO SOB O EFEITO DE SUA FALA SINTOMÁTICA
“Vez e voz na linguagem” é expressão que refere a condição na qual o sujeito falante supõe poder controlar a própria fala. Este texto procura problematizar a inversão imaginária produzida pela presença de sintoma na fala, numa reflexão que coloca em cena o efeito “social” – de marginalização/isolamento – que se produz na escuta do outro e o efeito de “destituição subjetiva” – de perda de vez e voz – que se produz na escuta do próprio falante. Afasias e demências – quadros clínicos que incidem na velhice – são discutidas de um ponto de vista lingüístico e são traçadas diferenças relativas às manifestações sintomáticas e seus efeitos subjetivos. Nessa perspectiva é que se apresentam, de um lado, a “clínica de linguagem” como espaço de tomar a vez e a voz e, de outro lado, o de “centros de convivência” como espaços privilegiados de inclusão social.
Palavras-chave: afasia; demência; linguagem