16 research outputs found

    As origens da dança do ventre : perspectivas críticas e orientalismo

    Get PDF
    A explicação sobre a "origem" da dança do ventre mais difundida em língua portuguesa é de que seria uma "dança milenar" que surgiu em rituais de fertilidade para deusas do mundo antigo. O presente trabalho busca desmistificar esse discurso, apontando para os diversos problemas desta narrativa: desde a falta de evidências históricas que a corroborem até o orientalismo inerente a ela. Ao atribuir as origens da dança do ventre a um passado mítico e atrelado a uma espiritualidade genérica, joga-se uma sombra tanto sobre a problemática relação dessa modalidade com o colonialismo europeu, como sobre o papel histórico crucial de grupos de dançarinas e dançarinos marginalizados, como as ghawazee, awálim e khawalat. Assim sendo, por meio deste trabalho, busco lançar explicações históricas alternativas, abordando desenvolvimentos mais recentes relacionados à dança e dando enfoque ao espaço geográfico egípcio. Busco analisar tanto a influência da violenta situação colonial no Oriente Médio e Norte da África como um todo e no Egito especificamente, quanto os protagonismos dos diversos grupos sociais egípcios na reelaboração de sua própria cultura. Utilizo para essa análise o conceito de "orientalismo", como postulado por Edward Said em 1978, levando em consideração suas posteriores críticas, a fim de produzir um entendimento prático, profundo e crítico sobre o processo histórico de constituição da dança do ventre. Desta forma, argumento que o conjunto de fatores que englobam estética, musicalidade, repertório de movimentos e princípios relacionados ao que hoje chamamos de “dança do ventre” são dificilmente datados de um período anterior ao do século XIX. Tais desenvolvimentos devem ser analisados levando em consideração tanto a influência estrangeira quanto as reelaborações e processos culturais próprios do Egito, em um contexto de transformações políticas e florescimento de identidades e discursos nacionalistas no país.The most popular and widespread explanation about the "origin" of belly dance in Portuguese language is that it is an "ancient dance" that emerged in fertility rituals for goddesses of the ancient world. The present work seeks to demystify this discourse, pointing to the various problems of this narrative: from the lack of historical evidence to its accordance with orientalist discourses. By attributing the origins of belly dance to a mythical past linked to a generic spirituality, a shadow is cast both on the problematic relationship of this dance with European colonialism, as on the crucial historical role of groups of marginalized dancers, like the ghawazee, awalim and khawalat. Therefore, through this work, I seek to launch alternative historical explanations, addressing more recent developments related to belly dance and focusing on the Egyptian geographic space. I seek to analyze both the influence of the violent colonial situation in the Middle East and North Africa as a whole and in Egypt specifically, as well as the protagonists of the various Egyptian social groups in the re-elaboration of their own culture. For this analysis, I use the concept of "orientalism", as postulated by Edward Said in 1978, taking into account his later criticisms, in order to produce a practical, profound and critical understanding of the historical process of the constitution of belly dance. Thus, I argue that the set of factors that encompass aesthetics, musicality, repertoire of movements and principles related to what we now call “belly dance” are largely dated to the 19th century onwards. Such developments must be analyzed considering both foreign influence and the re-elaborations and cultural processes that were happening in Egypt in the context of political transformations and the flourishing of nationalist identities and discourses in the country

    Pode o subalterno falar e o/a pesquisador/a escutar?

    Get PDF
    O objetivo dessa mesa é pensar os sujeitos históricos e a subalternidade enquanto condição e a interseccionalidade entre as diversas categorias, relações de poder e sistemas de opressão. Assim, qual o papel do(a) pesquisador(a) ao lidar com estes sujeitos nas suas pesquisas, quais as implicações éticas disso? Que debates teóricos e metodológicos se apresentam

    ORIENTALISMOS NA HISTÓRIA DA DANÇA DO VENTRE

    No full text
    A dançarina do ventre foi uma personagem chave do imaginário colonial e orientalista que passou a tomar conta do Ocidente no século XIX. A idealização fantasiosa desta figura ajudou a fomentar a ideia de que o Oriente era uma terra de prazeres ilimitados para os homens europeus, com suas mulheres exóticas e sexualmente disponíveis que dançavam de maneira provocante e misteriosa. Tal imagem segue presente em representações da mulher oriental em nossa cultura, ao mesmo tempo em que a dança do ventre se popularizou ao redor do mundo fazendo com que praticantes buscassem dar sentidos alternativos à prática. O presente artigo tem como objetivo discutir como o discurso orientalista fomentou a construção do que hoje chamamos de dança do ventre e como este conceito pode ser mobilizado para pensar a história da dança. Utilizo para essa análise o conceito de “orientalismo”, como postulado por Edward Said em 1978, a fim de produzir um entendimento prático, profundo e crítico sobre o processo histórico de constituição da dança do ventre

    Entre Ghawázee e Awálim : a dança egípcia a partir da obra de Edward Willian Lane

    Get PDF
    Esta pesquisa procura investigar as origens da Dança do Ventre moderna a partir do estudo da obra An Account of the Manners and Customs of the Modern Egyptians, publicada em 1836 por Edward Willian Lane, famoso orientalista inglês que esteve no Egito na primeira metade do século XIX. Entende-se a presença europeia no Egito neste período como momento-chave na constituição do que hoje é chamado de Dança do Ventre, uma prática com marcas de influência transnacional e carregada de uma série de estereótipos e preconceitos relacionados ao discurso do Orientalismo, tal como defendido pelo autor Edward Said. A partir da análise da obra de Lane, busca-se a gênese deste estilo de dança, ligado diretamente à construção de discursos sobre o Oriente e a mulher oriental, mais especificamente. Constrói-se, a partir daí, um esboço da trajetória de sua difusão para as várias partes do globo onde hoje é praticada, como isto a influenciou e de que forma os discursos orientalistas do século XIX se perpetuam relacionados à dança.This research investigates the origins of modern belly dance based on the study of the piece, An Account of the Manners and Customs of the Modern Egyptians, published in 1836 by Edward William Lane, a famous English Orientalist who was in Egypt in the first half of the nineteenth century. The European presence in Egypt during this period is seen as a key moment in the formation of what is now called belly dance, a practice marked by transnational influences and loaded with stereotypes and prejudices related to the discourse of Orientalism, as advocated by author Edward Said. From the analysis of Lane’s book, I seek the origin of this style of dance, directly linked to the construction of discourses about the Orient and the Oriental woman, more specifically. From there, I build an outline of the history of its spread to various parts of the globe where it is practiced today, how this has influenced it and how the nineteenth century Orientalist discourses are perpetuated with regards to the dance

    Entre Ghawazee, Awalim e Khawals : viajantes inglesas da Era Vitoriana e a “Dança do Ventre”

    Get PDF
    O presente trabalho trata da percepção ocidental em relação à dança oriental a partir de relatos de seis viajantes inglesas que estiveram no Egito entre os anos de 1842 e 1876, período que abrange a dominação imperialista europeia no Oriente Médio. Têm-se como referenciais teóricos o conceito de “Orientalismo”, cunhado por Edward Said, e a crítica posterior realizada por feministas pós-coloniais e decoloniais. Assim, analiso estes relatos a partir de uma perspectiva interseccional, considerando-se os recortes de gênero, raça e classe que influenciaram as representações tecidas por mulheres europeias sobre homens e, sobretudo, mulheres egípcias. Examino de que modo estas representações impactaram tanto nas identidades inglesas quanto egípcias e de que maneira elas transformaram a dança que era praticada no Egito e que, a partir do contato dado no contexto colonial, se transnascionalizou e hoje é percebida como “Dança do Ventre” (em português), “Bellydance” (em inglês), “Danse du Ventre” (em francês) e “Raqs Sharqi” (em árabe).This research investigates the Western perception of Eastern dance based on the study of the accounts of six British women who traveled to Egypt between 1842 and 1876, a period that encompasses European imperialist domination in the Middle East. The theoretical references include the concept of "Orientalism", coined by Edward Said, and the subsequent criticism by postcolonial and decolonial feminists. Thus, I analyze these reports from an intersectional perspective, considering the categories of gender, race and class that influenced the representations made by European women about men and, above all, Egyptian women. I examine how these representations impacted both English and Egyptian identities and how they transformed the dance that was practiced in Egypt, which, from the contact given in the colonial context, became transnational and is now perceived as “Dança do Ventre” (in Portuguese) “Bellydance” (in English), “Danse du Ventre” (in French) and “Raqs Sharqi” (in Arabic)

    Entre Ghawazee, Awalim e Khawals : viajantes inglesas da Era Vitoriana e a “Dança do Ventre”

    Get PDF
    O presente trabalho trata da percepção ocidental em relação à dança oriental a partir de relatos de seis viajantes inglesas que estiveram no Egito entre os anos de 1842 e 1876, período que abrange a dominação imperialista europeia no Oriente Médio. Têm-se como referenciais teóricos o conceito de “Orientalismo”, cunhado por Edward Said, e a crítica posterior realizada por feministas pós-coloniais e decoloniais. Assim, analiso estes relatos a partir de uma perspectiva interseccional, considerando-se os recortes de gênero, raça e classe que influenciaram as representações tecidas por mulheres europeias sobre homens e, sobretudo, mulheres egípcias. Examino de que modo estas representações impactaram tanto nas identidades inglesas quanto egípcias e de que maneira elas transformaram a dança que era praticada no Egito e que, a partir do contato dado no contexto colonial, se transnascionalizou e hoje é percebida como “Dança do Ventre” (em português), “Bellydance” (em inglês), “Danse du Ventre” (em francês) e “Raqs Sharqi” (em árabe).This research investigates the Western perception of Eastern dance based on the study of the accounts of six British women who traveled to Egypt between 1842 and 1876, a period that encompasses European imperialist domination in the Middle East. The theoretical references include the concept of "Orientalism", coined by Edward Said, and the subsequent criticism by postcolonial and decolonial feminists. Thus, I analyze these reports from an intersectional perspective, considering the categories of gender, race and class that influenced the representations made by European women about men and, above all, Egyptian women. I examine how these representations impacted both English and Egyptian identities and how they transformed the dance that was practiced in Egypt, which, from the contact given in the colonial context, became transnational and is now perceived as “Dança do Ventre” (in Portuguese) “Bellydance” (in English), “Danse du Ventre” (in French) and “Raqs Sharqi” (in Arabic)

    Orientalism in motion: representations of “belly dance” in paintings and travel literature (19th century)

    No full text
    This article analyses representations of “belly dance” in paintings and travel literature produced by Europeans in the 19th century. Locating this dance in time and space, describing characteristics and subjects that were important for the development of this practice, it analyses its deep relationship with the colonization process in Egypt. We conclude that the dances practiced by men and, above all, by women in the Egyptian territory in the 19th century underwent European filters and interpretations before consolidating in the West as “belly dancing”. This socio political context left visible marks in the way this body repertoire is performed, represented and reputed today

    Orientalismo em movimento: representações da dança do ventre em pinturas e literatura de viagem (séc XIX)

    No full text
    Este artigo analisa representações da “dança do ventre” em pinturas e literatura de viagem produzidas por europeus(ias) no século XIX. Situando esta manifestação no tempo e no espaço, descrevendo características e sujeitos que foram importantes para o desenvolvimento desta prática, analisa-se sua profunda relação com o processo de colonização do Egito. Conclui-se que a dança praticada por homens e, sobretudo, mulheres no território egípcio passou por filtros e interpretações europeias antes de se consolidar no Ocidente como “dança do ventre”. Tal contexto sociopolítico deixou marcas ainda visíveis na forma como este repertório corporal é executado, representado e reputado na atualidade
    corecore