35 research outputs found

    Anestesia e contato: reprodutibilidade técnica e singularidade na modernidade brasileira

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    Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão, Programa de Pós-Graduação em Literatura, Florianópolis, 2011Este trabalho tem como orientação os conceitos que compõem o título. A anestesia é tomada a partir do ensaio em que Susan Buck-Morss lê o célebre texto de Walter Benjamin A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica, de 1935/36, de modo que a relação entre ambos se estabelece com base nas novas técnicas de reprodução, sobretudo o cinema, e seus efeitos sobre a sensibilidade dos homens, a política e a estética na modernidade. Os outros dois conceitos, contato e singularidade, são sustentados em grande medida pelo pensamento de Jean-Luc Nancy. Trata-se da leitura de um "problema": como a lógica da reprodutibilidade técnica "técnica" entendida, aqui, de maneira ampla, a partir do conceito de dispositivo formulado por Giorgio Agamben (lendo Foucault) pode ser motivadora de uma anestesia da sensibilidade dos homens. Supõe-se que haja essa marca, uma "condição" que, entretanto, é ambivalente: com a anestesia, novas formas de subjetivação e sensibilidade podem surgir, o que aponta para a impossibilidade de massificação dos comportamentos. Para a articulação do trabalho, foram escolhidos os seguintes registros: os poemas "Cinema", de Guilherme de Almeida, publicado em 1925, em Encantamento; "O microscópio", de Bueno de Rivera, publicado no livro Mundo Submerso, de 1944; e "Uma fotografia aérea", de Ferreira Gullar, publicado em Dentro da noite veloz, em 1975. Mas não só de registros em linguagem verbal compõe-se o corpus. O hebdomadário Dom Casmurro, do Rio de Janeiro, por meio das imagens que ilustram suas edições, é também um dispositivo marcado, paradigmático das transformações ligadas à reprodutibilidade técnica e à sua assimilação pela sociedade, sobretudo no que tange à consolidação, no Brasil, da arte cinematográfica. Tal percurso toca o complexo contexto biopolítico da sociedade, em que os limites entre esferas supostamente autônomas e mutuamente excludentes como vida ou cultura, política ou arte, história ou literatura, etc. tornam-se indecidíveis, fazendo caducar as categorias dadas a priori

    DEPOIS, O COMEÇO: A LITERATURA E O VAZIO

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    Este texto, escrito ao modo de cenas de leitura, aborda narrativas que problematizam a questão do começo. O foco analítico está no caráter aporético que articula o começo (da vida, da experiência, do sentido) com a linguagem. Trata-se de um problema temporal, por certo, mas igualmente ontológico e, afinal, político. O que emerge da leitura crítica dessas cenas literárias inaugurais é o fundamento ausente que nos constitui, individual e coletivamente

    ABRIR PROMETEU (OU ANOTAÇÕES DA SOMBRA À LUZ)

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    Images of Prometheus – the mythological figure who led the light of the gods to men, and so was severely punished by Zeus, having his liver incessantly eaten by a vulture – must to be read exactly in this way: as images. This implicates thinking the events in which Prometheus appears by the opening that characterizes images in general, but incisively the Prometheus himself: not only through the appearance, through what gives itself, shinning, in promise, but also by apparition of traces that operates like symptoms of the body image dissolving – by what rips the image in the flesh and exposes it. In this sense, the poems of León Felipe, Castro Alves and Murilo Mendes, working the image of Prometheus, open for reading.As imagens de Prometeu – figura mitológica que conduziu a luz dos deuses aos homens, e que por isso foi severamente punida por Zeus, tendo o seu fígado incessantemente devorado por um abutre – devem ser lidas exatamente desta maneira: enquanto imagens. O que implica pensar os eventos em que Prometeu aparece a partir da abertura que caracteriza as imagens em geral, mas incisivamente a do próprio Prometeu: por meio não apenas da aparência, do que se doa, brilhante, em promessa, mas igualmente por meio da aparição dos vestígios que operam como sintomas do desfazimento do corpo da imagem – por meio do que rasga a imagem na carne e a expõe. Nesse sentido, poemas de León Felipe, de Castro Alves e de Murilo Mendes, trabalhando a imagem de Prometeu, se abrem para a leitura

    Pó, polvo, povo: arqueologias da monstruosidade

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    Este breve ensaio justapõe algumas configurações do que pode ser chamado um povo. Se certas experiências estéticas – visuais e literárias – tendem a homogeneizar o efeito dessa nomeação, cristalizando-o a priori ou como resultado de uma síntese que apaziguaria sua heterogeneidade – seu aspecto monstruoso –, outros fazeres dão potência para sua singularidade irrepresentável. Aqui, a textura dos fragmentos não representa uma totalidade, conquanto eleja uma série de figuras. O sentido de povo se mostra assim sujeito a tensões que, afinal, franqueiam uma ética e posicionam uma crítica à contagem das vozes que é sempre desigual, excludente, mas pretensamente inclusiva e democrática

    The End of Art, the Contemporaneity, the Origin of the Archive

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    Este artigo parte de uma articulação dos debates teóricos a respeito do fim da arte, do contemporâneo e do arquivo para apontar, brevemente, como em algumas experiências da arte a força propositiva dessas questões pode ser lida, ainda que de maneira cifrada. Salientamos a prevalência de tais experiências para uma releitura crítica e criativa da história. Desse modo, a arte se apresenta não como reprodução ou representação da história, mas como sua produção ou apresentação diferida.This article is based on an articulation of the theoretical debates about the end of art, the contemporaneity, and the archive, to briefly point out how, in some experiences of art, the propositional force of these questions can be interpreted, albeit in a ciphered way. We emphasize the prevalence of these experiences for a critical and creative reinterpretation of history. In this way, art presents itself not as a reproduction or representation of history, but as its production or deferred presentation

    Primaveras, transplantes, rizoma (sobre a natureza técnica da cultura)

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    Este artigo explora algumas leituras a respeito da natureza no “Novo Mundo” buscando articulá-las com o motivo do “transplante”, amplamente utilizado por intérpretes modernistas da nossa cultura, e seu pressuposto arborescente. Em contraste com essas leituras, salientamos a força crítica de propostas rizomáticas para o entendimento da história e da cultura, destacando para isso os trabalhos de artistas e escritores

    Diante da ausência (notas para uma poética da origem)

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    Este ensaio parte de uma articulação teórica em torno da ausência para, em seguida, explorar categorias (existência, experiência, exílio) que sustentam a proposição de uma poética da origem, da questão da ausência indissociável. Tal poética da origem – como produção da linguagem que deve sempre ser atualizada – é pensada em relação com uma vida em comum, isto é, com uma política que escapa aos limites positivos da presença, da propriedade e da representação

    Ferreira, Ferrari: ficções do exílio

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    Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão, Programa de Pós-Graduação em Literatura, Florianópolis, 2015.Esta é uma leitura dos exílios de Ferreira Gullar e León Ferrari, durante as últimas ditaduras militares que tomaram conta do Cone Sul, incluindo Brasil e Argentina. Entre 1971 e 1977, Gullar passou por Moscou, Santiago, Lima e Buenos Aires, além de outras cidades, enquanto Ferrari, por sua vez, estabeleceu-se com sua família em São Paulo do final de 1976 até 1984, sendo que após esse período ainda dividiria por alguns anos a sua permanência entre a capital paulista e Buenos Aires. Alguns de seus mais notáveis trabalhos foram realizados no exílio, de modo que a configuração de uma paisagem ou cena exílica torna-se indissociável das experiências conduzidas com a linguagem. Em poucas palavras: embora marcado pela tanatopolítica castrense e pelo nomos gestor do capital global, é possível afirmar que o exílio não está dado de antemão e nem permanece sempre o mesmo, quer seja como dano ou como dádiva; é somente com a linguagem  a imagem, o sensível  que uma experiência exílica, sempre singular e radicalmente contemporânea, pode encontrar a sua superfície de exposição, quer dizer, a sua diferença. Conquanto sejam profundamente dessemelhantes, os exílios de Ferreira Gullar e León Ferrari não deixam de mostrar afinidades, sobretudo nos momentos em que suas experiências tocam um ponto comum: o espaço  um topos  a-tópico da impropriedade, da potência, da in-operatividade que, com a linguagem, resiste indomesticável às tentativas de cristalização da língua, do povo, do poder, da nação. Foucault, Saer, Coccia e outros autores franqueiam um pensamento da ficção enquanto construção contingencial capaz de desnaturalizar os usos do discurso e a teleologia que assedia constantemente a literatura, as artes, a história. De certo modo, a ficção ¬repete, expõe e portanto difere as fábulas, ao mesmo tempo em que expõe e difere a si mesma. É essa operação in-operante, esse trabalho afirmativo da negatividade que suspende a maquinaria imunitária, autonomista, da civilização ocidental e cristã.Abstract : This is a reading of both Ferreira Gullar and León Ferrari s exiles, during the last military dictatorships that took account of the Southern Cone, including Brazil and Argentina. Between 1971 and 1977, Gullar went through Moscow, Santiago, Lima and Buenos Aires, and other cities, while Ferrari settled with his family in São Paulo from late 1976 until 1984, and thereafter still divided for a few years his stay between São Paulo and Buenos Aires. Some of his most notable works were carried out in exile, so that the configuration of an exilic landscape or scene becomes inseparable from experiments conducted with language. In short, although marked by military thanatopolitics and the nomos of global capital manager, it is possible to say that exile is not given in advance and not always remains the same, whether as damage or as a gift; it is only with the language  the image, the sensible  that an exilic experience, always singular and radically contemporary, can find its exposure surface, that is, its difference. While they are profoundly dissimilar, Ferreira Gullar and León Ferrari s exiles show their affinities, particularly at times when their experiences play a common point: the space  a topos  a-topic of the impropriety, potency, of in-operativity that, together with language, resists untamable against all crystallization attempts on the idiom, people, power, and nation. Foucault, Saer, Coccia and other authors frank a thought of fiction as a contingency construction able to denature the uses of speech and the teleology that constantly haunts literature, arts, and history. In a way, fiction repeats, exposes and therefore differs fables, while exposes and differs itself. It is this in-operative operation, this affirmative work of negativity that suspends the immunitary machinery of Christian Western civilization
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