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    Editorial - Manejo do fogo em áreas protegidas

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    O fogo é parte integrante e natural de diversos ecossistemas no mundo; são os ecossistemas pirofíticos, tais como as savanas, entre elas o Cerrado brasileiro. Apesar disto, políticas de exclusão do fogo, ou de "fogo zero”, predominaram no Brasil e inclusive no Cerrado século XX. Em áreas de vegetação pirofítica, a tentativa de exclusão do fogo tende a não ser eficiente nem adequada. Essa abordagem não reconhece e marginaliza práticas de agricultura familiar e gera acúmulo de combustível fino que propicia a ocorrência de incêndios em grandes extensões, especialmente no final da estação seca, que por sua vez causam graves prejuízos ecológicos e geram altos custos, com baixa eficiência de combate. Assim, é antiga a discussão de que se deve manejar e não apenas tentar excluir o fogo em ambientes pirofíticos. O debate sobre o manejo do fogo e suas consequências ambientais, sociais e econômicas, em diversas escalas, está presente hoje em diversas instituições de gestão ambiental. O assunto envolve grande complexidade, desde os conceitos ecológicos envolvidos e a possibilidade de prever efeitos à capacidade de negociar objetivos de manejo entre diferentes atores que atuam em um território. O presente número da revista Biodiversidade Brasileira, com doze artigos, vem contribuir com este objetivo trazendo resultados e argumentos para subsidiar o debate e o processo de aplicação do manejo integrado do fogo em áreas protegidas. Em 2010 foi lançado um número com o mesmo tema (ver Ribeiro et al. 2011) e é importante notar o avanço nas práticas de manejo desde então. O texto completo do editorial apresenta o conjunto de contribuições e o estado da arte do debate sobre o manejo do fogo no país

    Histórico dos incêndios na vegetação do Parque Nacional da Chapada Diamantina, entre 1973 e abril de 2010, com base em imagens Landsat

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    Os incêndios são uma séria ameaça à conservação da biodiversidade e à integridade das Unidades de Conservação (UC). No entanto, a ocorrência de fogo faz parte da dinâmica natural de diversos ecossistemas. Entre as UC federais brasileiras, o Parque Nacional da Chapada Diamantina foi a que registrou o maior número de focos de incêndio entre os anos de 2003 e 2006. Para avaliar o histórico dos incêndios no Parque (1520km²) e em sua área circundante (AC: faixa de 10km ao redor do Parque), imagens de satélites LandSat foram obtidas na internet, georrefenciadas e analisadas para identificação das áreas queimadas, como “cicatrizes” escuras nas imagens de satélite. Estas cicatrizes foram delimitadas e suas áreas calculadas com programas de geoprocessamento. Os dados foram organizados anualmente. No período entre 1973 e 1983, utilizando imagens LandSat 1, 2 e 3, com resolução espacial de 80m, foram identificados (média ± DP) 21,00 ± 20,24 polígonos de incêndios anuais, que afetaram áreas com 589,58 ± 680,79 ha em média, no Parque, e 82,70 ± 89,70 polígonos e 2.244,86 ± 1.272,70 ha na AC. Entre 1984 e abril de 2010, utilizando imagens LandSat 5 com resolução espacial de 30m, a área queimada apurada foi de 6.413,62 ± 4.025,38 ha no PNCD (188,88 ± 194,54 polígonos) e 6.125,49 ± 4.496,98 ha (441,40 ± 430,46) na AC. Há uma grande variabilidade na extensão anual dos incêndios no Parque. Os anos em que se registraram as maiores extensões queimadas foram 1993 e 2008. Ao todo, 61% da área do Parque foi atingida pelo fogo no período avaliado no presente estudo. As áreas não atingidas se concentram em regiões mais úmidas e com formações florestais. A área circundante teve 37,6% de sua extensão atingida por incêndios. Os dados levantados sugerem que fatores climáticos, como a ocorrência do fenômeno El Niño, favorecem a ocorrência de incêndios, embora no período entre 2003 e 2008 não se tenha observado este padrão. É possível que a retirada de 18.000 cabeças de gado bovino do Parque em 2002 e que o relativo controle dos incêndios nos anos subseqüentes tenham favorecido o acúmulo de biomassa, tornando muito difícil o controle dos incêndios em 2008, quando 41% do Parque foram afetados pelo fogo. Palavras-chave: área protegida, Cadeia do Espinhaço; geoprocessamento; incêndios florestais

    Understanding Brazil’s catastrophic fires : causes, consequences and policy needed to prevent future tragedies

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    Brazil has experienced unprecedented wildfires in the last decade. Images ofimmense burnt areas or dead animals that failed to escape the 2020 wildfires have shocked the world. To prevent or minimize further similardisasters wemustunderstandthe factors thathave ledto these catastrophic events. The causes and consequences of wildfires entail complex interactions between the biophysical and sociocultural spheres, and suitable management decisions require a sound scientific base. We present the recent panorama of increasing fire outbreaks in the Brazilian biomes, and discuss the causes that have contributed to such fires, their impacts on the environment and overall consequences for human well-being, based on reviewing the extensive specialist literature, on authors’ expert knowledge and information provided by environmental managers, researchers and politicians during a workshop organized to debate the wildfire issue in Brazil. Our up-to-date review is aimed at the academic public, environmental managers and decision- and policy-makers. First, we present evidence on the contrasting effects of fire on different ecosystems. Second, we outline the historic perceptions and policies related to fire use and management in Brazil since its colonization to the present date. Third, we propose means to advance fire prevention and develop successful management strategies. Finally, we answer frequently asked questions to clarify and/or demystify some fire-related issues not always properly addressed in the media

    Diagnóstico sócio-ambiental do entorno da Estação Ecológica de Águas Emendadas (DF)

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    Tese (doutorado)—Universidade de Brasília, Instituto de Ciências Biológicas, Departamento de Ecologia, Programa de Pós-Graduação em Ecologia, 2008.O crescimento desordenado dos núcleos urbanos e o aumento das áreas destinadas à agropecuária têm provocado a redução e fragmentação dos ambientes naturais no Bioma Cerrado, com conseqüente pressão sobre as Unidades de Conservação da Natureza (UC) e as demais áreas protegidas. Este cenário não é diferente no Distrito Federal e em suas UC, onde destaca-se a Estação Ecológica de Águas Emendadas (ESEC-AE) com seu entorno antropizado, ainda sem Plano de Manejo (PM) e Zona de Amortecimento (ZA), que necessita de um programa de recuperação ambiental para restabelecer sua conexão com as demais áreas naturais. Neste sentido, esta tese objetivou desenvolver uma metodologia de elaboração de diagnóstico sócio-ambiental, pautada em técnicas de geoprocessamento e sensoriamento remoto, visando compatibilizar a proteção de remanescentes de Cerrado com as atividades econômicas, tendo como estudo de caso a ESEC-AE. A partir dos resultados obtidos com a análise da evolução da cobertura e uso da terra entre os anos de 1984 e 2005, constatou-se que existe uma tendência de crescimento desordenado das áreas urbanas de Planaltina (DF) e Planaltina de Goiás (GO) em direção a esta Unidade. Este crescimento, aliado ao aumento das áreas destinadas à agropecuária, são os grandes responsáveis pela transformação de ambientes naturais em antrópicos na área de estudo, além de serem a causa do agravamento do processo de insularização desta UC. Constatou-se também que a transformação de ambientes naturais em antrópicos não respeita nem as APP. No intuito de minimizar a fragmentação ambiental na área de estudo, concomitantemente com o aumento da conexão entre áreas naturais, identificouse áreas para a conservação, divididas em 3 níveis de prioridade, com vistas a direcionar a elaboração de políticas públicas conservacionistas. Posteriormente discutiu-se três delimitações para a ZA: 1) três km definidos pela Carta Consulta para a Elaboração de seu PM; 2) 10 km de raio definido pela Resolução CONAMA 13/1990 e; 3) limites das bacias hidrográficas que direta e indiretamente afetam ou são afetadas. Isto permitiu constatar que delimitar a ZA utilizando os limites de bacia hidrográfica, ajudará a conservar nascentes e corpos d’água a montante além das bacias de contribuição da ESEC-AE, uma vez que esta UC não considerou as bacias hidrográficas no ato de sua criação. Esta delimitação possibilitará também melhores alternativas para promover a conexão da Estação Ecológica com outras UC e áreas com vegetação natural. Por fim, simulou-se três cenários futuros que demonstraram a preocupação com o crescimento, e conseqüente conurbação, das áreas urbanas dos municípios de Planaltina e Planaltina de Goiás, e a possibilidade de transformação das áreas rurais em loteamentos irregulares com características urbanas, o que levará a ocupação de novas áreas com vegetação nativa. A análise realizada permitiu demonstrar o quadro de insularização preocupante desta UC, além de permitir apontar alternativas para reduzir tal processo e traçar estratégias que garantam sua sustentabilidade em longo prazo. _______________________________________________________________________________ ABSTRACTThe disordered growth of the urban nucleus and the increase of the farming areas have caused the reduction and fragmentation of natural environments at the Bioma Cerrado with consequent pressure on the conservation areas and other protected areas. This scenery is not different in the “Distrito Federal” and in its conservation areas where the “Estação Ecológica de Águas Emendadas” (ESEC-AE) is prominent with its tipped covered impacted still without a Management Plan and a Buffer Zone, that commands its administration that needs a recovery ambient program to reestablish its connection with the other natural areas. So, in this thesis it was used an elaboration methodology of social and environmental diagnosis found in geoprocessing and remote sensing techniques, Objetifying to adjust the protection of Cerrado remainders with de economic activities, having as case study the ESEC-AE. From the results gotten with the analysis of the evolution of the land use changes between the years of 1984 and 2005 it was evidenced that there was a trend to a disordered growth of the urban areas of Planaltina (DF) and Planaltina de Goiás (GO) in direction to the ESEC-AE. This growth and the increase of the farming areas are responsible for the transformation of natural environment in impacted area, beyond being the aggravation cause of the isolation process of this conservation area. It was also evidenced that the natural environment transformation does not respect even the Permanent Protect Area. With the intention to minimize the environment fragmentation in the studying area, concomitantly with the connection increase between natural areas, conservation areas were identified divided in 3 levels of priority to direct the elaboration of environmental public politics. After that three delimitations for the ZA were argued: 1) three km defined by the Consultation Letter for the Elaboration of its PM; 2) 10 km of ray defined by the CONAMA Resolution nº 13/1990, and; 3) limits of the basins that direct and indirectly affect or are affected. This allowed to evidence that to delimit the ZA using the limits of the river basins will help to conserve springs and bodies of water and the ESEC-AE basins of contribution once that this UC has not considered the river basins at the time of its creation. This delimitation will also bring better alternatives to promote the connection of the Ecological Station with the other protect areas and areas with natural vegetation. Finally three future scenes were simulated to demonstrate the concern with the growth of the Planaltina and Planaltina de Goiás urban areas. Other than that, it has shown the possibility to transform the agricultural areas into an irregular land division with urban characteristics which means that new areas with native vegetation will be occupied. This analysis has demonstrated the concerning the isolation of this UC and has pointed some alternatives to reduce such process and to trace strategies that guarantee its support in long stated period

    Editorial - Número temático Manejo do fogo em áreas protegidas

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    Neste segundo número de Biodiversidade Brasileira trazemos ampla e variada discussão sobre o manejo do fogo em áreas protegidas. Abrimos assim a segunda linha editorial da revista, que visa à publicação dos resultados técnico-científicos do processo de avaliação do estado de conservação das espécies bem como, na forma de números temáticos, a discussão, entre pesquisadores de diversas áreas e gestores, de temas críticos relacionados à conservação e ao manejo. A dimensão alcançada pelos incêndios em áreas naturais, rurais e urbanas do Brasil no ano de 2010 explicitou à sociedade, mais uma vez, a situação dramática e quase cotidiana em grande parte do país, no que diz respeito ao fogo. É claro que a situação pregressa e a atual não são admissíveis. No entanto, tem-se cada vez maior clareza de que a resposta ao emprego do fogo no Brasil, com sua tamanha complexidade, não pode se pautar apenas na proibição do seu uso e no combate aos focos que ocorrerem. A situação é mais complexa – o fogo é ainda ferramenta importante em muitas áreas rurais, do ponto de vista sócio-econômico, mesmo considerando o investimento em novas tecnologias, além de ser uma expressão de conflitos diversos. Seu uso pode ser, em alguns contextos, eventualmente preferível em comparação com outras opções acessíveis de trato da terra, e há ainda situações em que seu emprego intencional pode ser recomendável como ferramenta de manejo de áreas protegidas. É preciso investir na consolidação da informação, disseminação do conhecimento e discussão para que possamos, como sociedade e governo, ter uma visão mais completa do fenômeno ‘fogo’ no país, considerando a complexidade de ecossistemas, paisagens, e contextos sócio-econômicos, de modo a construir boas estratégias de manejo. Os 18 artigos aqui presentes consolidam histórico de incêndios em unidades de conservação (Parque Nacional do Itatiaia – Tomzhinki et al. 2011, Parque Nacional da Chapada Diamantina – Mesquita et al. 2011 e Parque Nacional da Serra do Cipó – Ribeiro & Figueira 2011), e fazem considerações sobre seu manejo; tratam da relação do fogo com o manejo e respostas populacionais de espécies vegetais de valor econômico (capim dourado e buriti – Schmidt et al. 2011, revisão dos efeitos do fogo sobre sempre vivas – Neves et al. 2011), tratam da relação da vegetação com diferentes regimes de fogo no Parque Nacional de Emas (Silva et al 2011) e Chapada Diamantina (Conceição & Pivello 2011, Gonçalves et al 2011); avaliam a susceptibilidade da fauna ao fogo, incluindo aves nos campos sulinos (Petry et al 2011) e libélulas em veredas da região do Jalapão/TO (Côrtes et al 2011). Fidelis & Pivello (2011) trazem uma revisão sobre a relação evolutiva e histórica dos Campos Sulinos e do Cerrado com o fogo, Brilhante & Fiedler (2011) argumentam sobre a importância de considerarmos desequilíbrio e distúrbio como partes integrantes e explicativas dos sistemas naturais e mostram como esta inclusão altera a forma de ver e lidar com o fogo. Silva et al. (2011), a partir de estudo no Parque Nacional de Emas, mostram como intensidades distintas de fogo afetam diferencialmente a diversidade de forma e diversidade filogenética, o que também deve balizar nossas decisões sobre manejo do fogo. Alves & Silva (2011) trazem reflexões sobre a forma de manejo do fogo e sua relação com espécies exóticas invasoras nos campos rupestres, e Aximoff (2011) apresenta os possíveis efeitos deletérios do fogo sobre a biota endêmica dos campos de altitude do Rio de Janeiro, e consolida dados de ocorrência de incêndios a partir dos relatos das unidades de conservação. Na linha de avaliação das condições de prevenção, combate e manejo do fogo, Bontempo (2011 a) analisa a evolução dos Relatórios de Ocorrência de Incêndios (ROIs). Por ser fundamental o reconhecimento e a compreensão de experiências e contextos diversos, o número trata de áreas protegidas e não apenas de unidades de conservação, permitindo assim a inclusão das práticas indígenas, que orientam o manejo em unidades de conservação em diversos países. Melo & Saito (2011) trazem as formas de manejo propostas e executadas pelos Xavante, Falleiro (2011), por comunidades indígenas de diversas etnias no Mato Grosso, e Mistry & Bizerril (2011) discutem a importância dos estudos de percepção, necessidades e práticas para de fato entender as relações humanas com o fogo e a dinâmica decorrente. Tem-se assim um amplo panorama e também uma atualização das pesquisas com fogo no país, mostrando a diversidade de situações com que nos deparamos – a vegetação de cerrado em terreno plano do Parque Nacional de Emas, com sua alta taxa de ignição por raios; os campos rupestres dos terrenos acidentados da Chapada Diamantina, que apresentam diferentes regimes de queima; os incêndios relacionados ao manejo dos recursos naturais com fins econômicos, e o problema da clandestinidade que dificulta emprego de melhores práticas; os campos de altitude, com suas tantas espécies endêmicas e sensíveis ao fogo; os campos sulinos, em que a paisagem que tantos prezamos é substituída pela floresta, na ausência do fogo, que por sua vez permite a persistência de alta diversidade, e que não tem vez perante o avanço das frentes de monocultura. Em termos de tomada de decisão de manejo, temos orientações vindas da tensão entre diversificação de formas e acúmulo de combustível, e temos os resgates de experiências de comunidades indígenas, que baseiam suas decisões em diferentes estruturas sociais, políticas, mas que sempre partem de um modelo conceitual de funcionamento do sistema, e de um acordo sobre os objetivos de manejo, que claramente facilitam a construção de propostas e deliberação sobre elas. No conjunto de artigos temos muitas ideias fortes sobre manejo e tomada de decisão que buscamos resumir aqui. Para se definir a forma de manejo, é preciso ter objetivos de manejo. Os objetivos de manejo precisam considerar as opiniões e a participação dos diversos atores envolvidos no processo de gestão, inclusive daqueles cuja ação afeta uma dada área ou um dado recurso de forma involuntária ou inconsciente. Existem formas de construir objetivos de manejo, que integram diferentes perspectivas, expectativas e experiências (Maris & Béchet 2009). Muitas destas idéias são consoantes com as propostas do manejo adaptativo, método de tomada e gestão de decisões que leva em consideração, em sua origem, a incerteza científica (Lee 1993). Em cenários complexos e cambiantes, com interações e iterações que não podemos inteiramente modelar, como tomar decisões? Com muita freqüência vemos que há a expectativa de se gerar mais informação, de se ter mais conhecimento, para que as decisões sejam embasadas cientificamente.... mas esta postura não pode ser paralisante, como muitas vezes é. E esta compreensão do todo não pode se dar pelo somatório de numerosos estudos pontuais que, no caso do fogo, devem tratar da resposta dos diferentes componentes a uma combinatória infinita de diferentes regimes de fogo e diferentes condições de queima, das questões sócio econômicas do fogo, que versam sobre a percepção da população e das instituições, etc. Para contrapor esta expectativa de um dia se ter este somatório de experimentos e entendimentos, a compreensão de todas as engrenagens do relógio do grande relojoeiro cego, há o argumento, proposto por Lee (1993), de que todas as tomadas de decisão, todas as políticas públicas, e acrescentamos aqui, todas as decisões de não agir, são grandes experimentos, e precisam ser compreendidos como tais. Por esta perspectiva, se temos uma unidade de conservação de proteção integral atingida de forma recorrente pelo fogo, não podemos entender como verdadeira a proposição de que apenas parte desta UC é destinada à experimentação. Não, por este ponto de vista, toda ela é destinada à experimentação – e temos a obrigação de analisar se o conjunto de decisões e ações (aceiros ou a falta deles, relações com as pessoas no entorno e com as pessoas dentro da área, disponibilidade ou não de recursos nos momentos cruciais, queima prescrita ou não, etc.) afetam o regime do fogo e suas sinergias com a biota e com a sociedade. Temos que agir e monitorar (vide Du Toit et al. 2003, Lindenmeyer & Likens 2009), temos que estar preparados para lidar com a surpresa de uma dada estratégia de controle do fogo ter o efeito oposto ao esperado, porque foi (e sempre será) impossível modelar todo o sistema e as respostas futuras, ou porque há mudanças no uso da terra e na percepção da população. Queremos destacar que parte significativa da riqueza deste número se deve à participação, tanto na autoria de artigos como no processo de revisão, de pesquisadores com ampla experiência com a questão do fogo como de gestores envolvidos diretamente com a prevenção e manejo do fogo, o que fez com que o diálogo entre profissionais com diferentes experiências e expectativas já tenha ocorrido durante o processo editorial, enriquecendo e refletindo-se no resultado final. Claro que se a proposta é suscitar o debate não há necessariamente concordância entre os artigos. Os artigos estão organizados na sequência: revisões, estudos de caso de uso do fogo e manejo, estudos de caso sobre a relação da fauna e da flora com o fogo, consolidação de histórico de incêndios e estudos com foco na prevenção e controle. Trata-se apenas de uma orientação, uma vez que os artigos trazem informações e reflexões variadas a partir de um certo enfoque. Esperamos sinceramente que avancemos na discussão sobre o manejo do fogo nas áreas protegidas, enriquecendo o debate e reconhecendo as diversas experiências e expectativas, bem como os métodos existentes para integrá-los e tomar decisões que possam ser futuramente avaliadas. E que este número contribua com este processo

    Editorial - Manejo do fogo em áreas protegidas

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    O fogo é parte integrante e natural de diversos ecossistemas no mundo; são os ecossistemas pirofíticos, tais como as savanas, entre elas o Cerrado brasileiro. Apesar disto, políticas de exclusão do fogo, ou de "fogo zero”, predominaram no Brasil e inclusive no Cerrado século XX. Em áreas de vegetação pirofítica, a tentativa de exclusão do fogo tende a não ser eficiente nem adequada. Essa abordagem não reconhece e marginaliza práticas de agricultura familiar e gera acúmulo de combustível fino que propicia a ocorrência de incêndios em grandes extensões, especialmente no final da estação seca, que por sua vez causam graves prejuízos ecológicos e geram altos custos, com baixa eficiência de combate. Assim, é antiga a discussão de que se deve manejar e não apenas tentar excluir o fogo em ambientes pirofíticos. O debate sobre o manejo do fogo e suas consequências ambientais, sociais e econômicas, em diversas escalas, está presente hoje em diversas instituições de gestão ambiental. O assunto envolve grande complexidade, desde os conceitos ecológicos envolvidos e a possibilidade de prever efeitos à capacidade de negociar objetivos de manejo entre diferentes atores que atuam em um território. O presente número da revista Biodiversidade Brasileira, com doze artigos, vem contribuir com este objetivo trazendo resultados e argumentos para subsidiar o debate e o processo de aplicação do manejo integrado do fogo em áreas protegidas. Em 2010 foi lançado um número com o mesmo tema (ver Ribeiro et al. 2011) e é importante notar o avanço nas práticas de manejo desde então. O texto completo do editorial apresenta o conjunto de contribuições e o estado da arte do debate sobre o manejo do fogo no país
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