Do intelecto contemplativo ao desequilibrado: Schopenhauer, Nietzsche e Piaget

The discernment between good and evil can be rightfully considered the central concern of Philosophy, but its pursuit requires a complex combination of mature cognitive, linguistic and social skills. In contrast to Religion or Theology, philosophers are expected to overcome confusion by presenting tenable positions in a purely logical form that relinquishes any appeal to authority or emotions. This places high expectations upon the intellect, i.e., our ability to use discursive reason. Schopenhauer argued that Philosophy was primarily theoretical in a contemplative sense, therefore not related to guiding action or building character. While the Will was active, the intellect would be passive and instrumental. Nietzsche subordinated the intellect to the body and proposed a physiological criterion to assess philosophies. Piaget studied the development of intelligence in stages by examining the child’s constructive interaction with things and persons. The intellect is in permanent disequilibrium and must struggle to adapt continually.O discernimento entre o bem e o mal pode ser considerado a preocupação central da Filosofia, mas seu cultivo requer uma combinação complexa de habilidades cognitivas, linguísticas e sociais complexas. Diferentemente da religião ou da Teologia, espera-se que os filósofos superem a confusão ao apresentarem posições sustentáveis forma puramente lógica, sem apelos à autoridade ou às emoções. Isto deposita altas expectativas sobre o intelecto, a nossa habilidade de usar a razão discursiva. Schopenhauer defendia que a Filosofia seria primariamente teórica ou contemplativa, portanto não orientaria a conduta ou o caráter. Enquanto a Vontade seria ativa, o intelecto seria passivo e instrumental. Nietzsche subordinou o intelecto ao corpo e propôs um critério fisiológico para avaliar filosofias. Piaget investigou o desenvolvimento da inteligência em estádios examinando a interação construtiva da criança com coisas e pessoas. O intelecto permanece em desequilíbrio e deve se adaptar continuamente

DA MONTANHA MÁGICA AO MATADOURO 5:: UMA LEITURA PIAGETIANA SOBRE O TRAUMA INFANTIL NA PERDA DO DISCERNIMENTO TEMPORAL EM THOMAS MANN E KURT VONNEGUT, JR.

A desestruturação traumática da vivência espaço temporal explorada literariamente em A Montanha Mágica de Thomas Mann e Matadouro 5 de Kurt Vonnegut, Jr. pode ser investigada a partir do trabalho de P. Zimbardo, L. Terr e da Terapia Cognitivo-Comportamental sobre o trauma infantil e a concepção piagetiana do período pré-operacional, marcado por egocentrismo e assimilação lúdica. Na primeira obra, o protagonista Hans Castorp sofre traumas seguidos na perda da mãe, do pai e do avô, e permite, mais tarde, que sua experiência subjetiva do tempo se desassocie gradualmente da medida intersubjetiva ("objetiva") do tempo. Em Matadouro 5, o protagonista Billy Pilgrim passa por traumas que geram rupturas e saltos (tanto para frente quanto para trás) na sua experiência linear do tempo. Concluímos o estudo comparativo destacando as similaridades entre os romances

PIAGET, BUNGE, AND THE FUTURE OF GENERAL PHILOSOPHY IN LATIN AMERICA

The current state of Philosophy and the Humanities is widely acknowledged to be endangered. This historical essay addresses epistemological reasons and ins-titutional causes of this malaise in light of Piaget’s and Bunge’s scientistic critique of humanistic approaches. As my discussion is sensitive to concrete social reali-ties (or territorialized), I limit myself to the Latin American context, which was highly influenced by Catholicism, Positivism and Marxism. Although Piaget and Bunge are justified in claiming that Philosophy disassociated from Science is too speculative, Bunge’s proposal of reconstructing it as a holistic system is unviable because it goes way beyond a normal research program, as if it were a supersci-ence. However, a closer examination of Piaget’s and Bunge’s practice suggests a second, more modest possibility: Analytical Philosophy can focus on methodo-logical, conceptual and ethical problems within specific scientific disciplines. This prevents the outright extinction of Philosophy, which could in itself be con-ceptually incoherent besides being unwise, and instead proposes its subordina-tion, articulation, fragmentation and diaspora among the Sciences. A third option would be historical-theoretical reconstruction, which Piaget also accepted as an honorable exit. In addition, curricular and institutional changes would be needed in undergraduate education for Philosophy students to acquire at least basic scientific training that would break what Piaget described as the spell of holistic reflection (holology)

Magia externa e interna em A flauta mágica de W. A. Mozart e E. Schikaneder

Uma análise do pensamento mágico em A fl auta má- gica requer a distinção entre uma mágica que realiza proezas no mundo natural, externas ao sujeito, e uma mágica que produz uma transformação psicológica, logo, interior. A função mágica dos instrumentos musicais precisa também ser explicada por meio de suas associações simbólicas e dos contextos narrativos mitológicos nos quais estão inseridos. A ênfase na mágica interior no Singspiel mozarteano é consistente com a valorização da subjetividade e da sua educação pelas artes, que se aprofundará posteriormente no Romantismo alemão

PIAGET, DISNEY E O EDUENTRETENIMENTO: POR UMA PSICOLOGIA TRANSPESSOAL DAS ORGANIZAÇÕES

A Psicologia Transpessoal das Organizações preocupa-se com o desenvolvimento de indivíduos que podem crescer em equilíbrio físico, emocional, intelectual e espiritual ao longo de sua vida. Ela compartilha muitas posições de Piaget sobre equilíbrio dinâmico, sobre adaptação através da assimilação e acomodação, sobre autonomia e sobre a necessidade de respeitar o estágio de desenvolvimento da criança. Também compartilha o interesse de Disney pela literatura infantil e folclore como um caminho para a autodescoberta. Usando teses propostas por R. Steiner, M. P. Hall e os teóricos do Eneagrama, a teoria piagetiana e as suas distinções técnicas são assimiladas para analisar o fenômeno dainfluência global da Disney. É dada especial atenção às questões do adultocentrismo, do etnocentrismo e da apropriação, substituição e banalização comercial multiculturalista das tradições ancestrais. Apesar das melhores intenções de Walt, o eduentretenimento se mostra como uma espada de dois gumes com potencial para fazer mais mal do que bem se os cidadãos forem marginalizados a ponto de não serem mais livres para criticar, boicotar ou de resistir ao conteúdo que lhes for imposto pelos grandes conglomerados midiáticos

From the contemplative to the unbalanced intellect: Schopenhauer, Nietzsche and Piaget

The discernment between good and evil can be rightfully considered the central concern of Philosophy, but its pursuit requires a complex combination of mature cognitive, linguistic and social skills. In contrast to Religion or Theology, philosophers are expected to overcome confusion by presenting tenable positions in a purely logical form that relinquishes any appeal to authority or emotions. This places high expectations upon the intellect, i.e., our ability to use discursive reason. Schopenhauer argued that Philosophy was primarily theoretical in a contemplative sense, therefore not related to guiding action or building character. While the Will was active, the intellect would be passive and instrumental. Nietzsche subordinated the intellect to the body and proposed a physiological criterion to assess philosophies. Piaget studied the development of intelligence in stages by examining the child’s constructive interaction with things and persons. The intellect is in permanent disequilibrium and must struggle to adapt continually

Jean Piaget e a Epistemologia Genética

Nós propomos apresentar aqui quatro documentos de J. Piaget publicados em uma revista pedagógica. Trata-se de um veículo semanal do Sindicado Nacional de Professores e Professoras da França e das colônias: a Eco-le Libératrice. A revista se anuncia como sendo um programa de ação dos profes-sores para defender os interesses de sua profissão e da escola (Lapierre, 1929, p. 1). Assim, ela aparece como uma arma para a liberação da escola, do homem e da criança. Instrumento de cultura geral, a Ecole Libératrice aspira ao desenvolvi-mento dos valores, unindo o bonito ao útil, o conhecimento ao bem, a justiça à verdade. Contra toda ortodoxia, quer seja no plano sindical, político, científico ou pedagógico, esta revista se vê um veículo de ligação entre os professores e um meio de compreensão da alma dos outros povos. Nenhum domínio lhe seria estranho: literatura, ciência, sociologia e pedagogia

Arnold Schoenberg amidst the Struggle between Scientific Materialism and Spiritual Revival

A historiografia do pós-guerra minimizou a dimensão espiritual dos artistas modernistas a fim de apresentar seu trabalho de forma mais favorável em uma cultura ofuscada pelo materialismo científico. Partindo de fontes diversas, este trabalho reconstrói uma interpretação do contexto com o qual Schoenberg, como artista individual, teve que se confrontar. A primeira seção estabelece o cenário para a compreensão da luta entre o materialismo científico e os movimentos de renovação espiritual. A segunda seção trata diretamente do caso de Schoenberg e aborda não apenas as críticas dirigidas contra sua música, mas também tenta esclarecer sua problemática relação com Adorno e Thomas Mann. A seção final argumenta que, embora a percepção pública de Schoenberg seja fortemente técnica, como compositor ele perseguia objetivos que só podem fazer sentido se formos sensíveis ao seu contexto religioso e espiritual.Post-war historiography has downplayed the spiritual dimension of modernist artists in order to present their work more favorably in a culture overshadowed by scientific materialism. Drawing from several sources, this paper reconstructs an interpretation of the context with which Schoenberg as an individual artist had to contend with. The first section sets the stage for understanding the struggle between scientific materialism and movements of spiritual revival. The second section deals directly with Schoenberg's case and addresses not only the criticisms directed against his music, but also tries to shed light on his problematic relation to Adorno and Thomas Mann. The concluding section argues that although Schoenberg’s public perception is strongly technical, as a composer he was pursuing aims that can only be made sense of if one is sensitive to his religious and spiritual context

Humanismo sem biologicismo nem culturalismo: Piaget e os neo-darwinistas contemporâneos

Neste artigo mostro como é conceitualmente possível estender a compreensão biológica do ser humano para processos culturais (incluindo tanto a produção de artefatos quanto a cognição) com base nas teorias de Piaget e Dawkins, e explico as implicações, mas também as limitações disto para a construção e o convívio de concepções diferentes de humanismo. Tanto o reducionismo cultural quanto o reducionismo biológico são rejeitados

Perspectivism and Intersubjective Criteria for Personal Identity: A Defense of Bernard Williams’ Criterion of Bodily Continuity

In this article I revisit earlier stages of the discussion of personal identity, before Neo-Lockean psychological continuity views became prevalent. In particular, I am interested in Bernard Williams’ initial proposal of bodily identity as a necessary, although not sufficient, criterion of personal identity. It was at this point that psychological continuity views came to the fore arguing that bodily identity was not necessary because brain transplants were logically possible, even if physically impossible. Further proposals by Shoemaker of causal relations between mental states in our memory and Parfit’s discussion of branching causal chains created additional complications. My contention in this paper is that psychological continuity views deflected our attention from what should have remained in the spotlight all the time: the intersubjective character (or not) of criteria proposed to decide personal identity in our language game, and ultimately our form of life concerning ourselves as persons. B. Williams’ emphasis on the body was not just common sense. It was also recognition of the importance of giving priority to criteria that could be kept under intersubjective control