Perfil de crianças e adolescentes com incongruência de gênero em uma população de um hospital universitário (HCPA)

O presente estudo explora os dados coletados na avaliação psicológica de jovens com o diagnóstico de Incongruência de Gênero e suas famílias que procuram assistência médica no Programa de Transdisciplinar de Identidade de Gênero. Grandes mudanças psicossociais marcam a transição da infância para a vida adulta, sendo que os jovens com incongruência de gênero e disforia de gênero podem ter esses aspectos de seu estágio de desenvolvimento agravados devido aos estressores sociais. Foi realizado um estudo com 24 jovens com critérios diagnósticos para incongruência de gênero e seus cuidadores. Doze dos jovens foram designados como homens ao nascimento e doze foram designados como mulheres. O protocolo de pesquisa consistiu na sistematização e análise dos dados coletados na avaliação psicológica global, realizada no serviço de saúde, incluindo dados sociodemográficos, teste de inteligência, teste projetivo e vulnerabilidades psiquiátricas. O presente estudo teve como objetivo explorar dados psicossociais e clínicos coletados durante a avaliação psicológica que precede as intervenções em saúde desses jovens. Os resultados indicam três aspectos. Primeiro: 45,8% deles apresentaram alguma comorbidade psiquiátrica ao longo de suas vidas, sendo 21% com duas ou mais comorbidades psiquiátricas. Segundo, evidenciou-se que os estilos parentais positivos ou negativos podem tanto agravar ou reduzir a socialização dos jovens com incongruência de gênero, sem afetar a intensidade de disforia de gênero. E terceiro que pessoas com maior conforto para expressar sua identidade de gênero possuem mais congruência entre a autoimagem projetada e o gênero com o qual se identifica. O perfil geral dos sujeitos avaliados reforça os dados já disponíveis na literatura científica de alto índice de comorbidade de jovens que procuraram serviços especializados em gênero de outros países. A avaliação psicológica que precede as intervenções de saúde se faz um recurso fundamental pelas implicações nas decisões terapêuticas e prognósticas conforme as diferentes trajetórias de gênero, estilos parentais, possível comorbidade psiquiátrica e demais vulnerabilidades. Assim, possibilita a formulação de condutas singulares com foco na promoção da saúde mental e bem-estar emocional geral e não apenas na indicação ou não de intervenções somáticas de afirmação de gênero.The present study explores data collected in the psychological evaluation in young people with Gender Incongruence and their families who seek healthcare at the Gender Identity Program. Great psychosocial changes mark the transition from infancy to adulthood. Youth with gender incongruence and gender dysphoria may have these aspects of their developmental stage potentialized. A study was conducted with 24 youth and their caregivers. Twelve of the youngsters were assigned male at birth, while twelve were assigned female. The research protocol consisted of a survey and systematization of the data collected in the initial global psychological evaluation performed at the healthcare facility, including sociodemographic data, parenting styles, intelligence testing, projective testing and psychiatric vulnerabilities. The present study aimed to explore the data collected during the psychological evaluation of youngsters with gender incongruence. The results indicate that there was no discrepancy in the overall profile of the subjects evaluated in relation to data already available in the scientific literature of young people who sought gender-specialized services from other countries. Specifically, three aspects can be highlighted. First, 45.8% of young people had some psychiatric comorbidity throughout their lives, with 21% having two or more psychiatric comorbidities. Second, it was evidenced that positive or negative parental styles could be either preventive or risk components in maintaining adequate socialization in these young people but not in affecting the level of gender dysphoria. And third, the congruence is introduced in the person's perception of his or her projected self-image and his or her expressed gender as he/she becomes more comfortable in expressing his/her gender identity. The global psychological evaluation that precedes health interventions is a fundamental resource because of the implications for therapeutic and prognostic decisions according to different gender trajectories, parental styles, possible psychiatric comorbidity, and other vulnerabilities. Thus, it allows for the formulation of the unique conducts a focus on promoting mental health and general emotional well-being and not just on the indication or not of somatic gender affirmation interventions

Incongruência de gênero : um estudo comparativo entre os critérios diagnósticos CID-10, CID-11 e DSM-5

A presente dissertação tem o objetivo de discutir a proposta dos critérios diagnósticos da CID-11 para Incongruência de Gênero e comparar as diretrizes dos manuais diagnósticos DSM-5 e CID-10 para Disforia de Gênero e Transtorno de Identidade de Gênero, respectivamente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) está em processo de revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID). Diferentemente do sistema de classificação vigente (CID-10), as modificações propostas pela CID-11 no que diz respeito à condição transexual são norteadas pela compreensão de que esta não é doença mental e que o acesso à saúde desta população necessita ser ampliado. O artigo derivado desta dissertação compara os critérios nos manuais diagnósticos existentes, o DSM-5 e da CID-10, em uma amostra brasileira de pessoas transexuais que procuraram serviços de saúde especificamente para a transição física. Este é um estudo transversal multicêntrico que inclui uma amostra de 103 indivíduos que procuraram os serviços em um dos dois principais centros de referência no Brasil especializados em identidade de gênero. O método da pesquisa consiste na aplicação, por profissionais previamente treinados, de uma entrevista estruturada desenvolvida pelo WHO´s Field Study Coordination Group for ICD-11 Mental and Behavioural Disorders que contempla os critérios diagnósticos. Os resultados revelam que, embora exista desacordo teórico nos critérios há uma sobreposição entre os dois sistemas quanto à confirmação do diagnóstico, com o DSM-5 mais inclusivo. Adicionalmente, a média do tempo de espera para ter acesso a este tipo de serviço é de quase uma década. Nossos achados confirmam a ideia de que há pouco consenso quanto aos critérios diagnósticos dos comportamentos transgêneros, considerando a diversidade de contextos sociais e culturais e que seguem com pouca diferenciação tanto etiológica quanto clínica para fins diagnósticos.The current work aims to discuss the proposed diagnostic criteria of ICD-11 for Gender Incongruence and compare the diagnostic criteria of DSM-5 and ICD-10 Gender Dysphoria and Gender Identity Disorder, respectively. The World Health Organization (WHO) is reviewing the International Classification of Diseases (ICD). Despite the existing classification system (ICD-10), changes proposed by ICD-11 concerning transgender condition are guided by the understanding that it is not a mental illness and that this population needs health service access to be expanded. The study derived from this work aim to compare the criteria in the existing diagnostic manuals, the DSM-5 and the ICD-10, among a Brazilian sample of transgender persons who sought health services specifically for physical transition. This is a multicenter cross-sectional study that includes a sample of 103 subjects who sought services for gender identity disorder in one of two main reference centers in Brazil. The research method consists of applying a structured interview, which is comprised of the diagnostic criteria from the two manuals. The results reveal that although the theoretical disagreement in the criteria, there is an overlap among the two systems as diagnosis confirmation, to the DSM-5 more inclusive. Additionally, the average waiting time to access this type of service is nearly a decade. Although there is not a consensus concerning such on transgenderism in the diversity of social and cultural contexts, the findings confirm previous impression that despite efforts to determine the diagnostic settings, they follow slightly different as to etiology and different clinical presentations of this condition

Incongruência de gênero : um estudo comparativo entre os critérios diagnósticos CID-10, CID-11 e DSM-5

A presente dissertação tem o objetivo de discutir a proposta dos critérios diagnósticos da CID-11 para Incongruência de Gênero e comparar as diretrizes dos manuais diagnósticos DSM-5 e CID-10 para Disforia de Gênero e Transtorno de Identidade de Gênero, respectivamente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) está em processo de revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID). Diferentemente do sistema de classificação vigente (CID-10), as modificações propostas pela CID-11 no que diz respeito à condição transexual são norteadas pela compreensão de que esta não é doença mental e que o acesso à saúde desta população necessita ser ampliado. O artigo derivado desta dissertação compara os critérios nos manuais diagnósticos existentes, o DSM-5 e da CID-10, em uma amostra brasileira de pessoas transexuais que procuraram serviços de saúde especificamente para a transição física. Este é um estudo transversal multicêntrico que inclui uma amostra de 103 indivíduos que procuraram os serviços em um dos dois principais centros de referência no Brasil especializados em identidade de gênero. O método da pesquisa consiste na aplicação, por profissionais previamente treinados, de uma entrevista estruturada desenvolvida pelo WHO´s Field Study Coordination Group for ICD-11 Mental and Behavioural Disorders que contempla os critérios diagnósticos. Os resultados revelam que, embora exista desacordo teórico nos critérios há uma sobreposição entre os dois sistemas quanto à confirmação do diagnóstico, com o DSM-5 mais inclusivo. Adicionalmente, a média do tempo de espera para ter acesso a este tipo de serviço é de quase uma década. Nossos achados confirmam a ideia de que há pouco consenso quanto aos critérios diagnósticos dos comportamentos transgêneros, considerando a diversidade de contextos sociais e culturais e que seguem com pouca diferenciação tanto etiológica quanto clínica para fins diagnósticos.The current work aims to discuss the proposed diagnostic criteria of ICD-11 for Gender Incongruence and compare the diagnostic criteria of DSM-5 and ICD-10 Gender Dysphoria and Gender Identity Disorder, respectively. The World Health Organization (WHO) is reviewing the International Classification of Diseases (ICD). Despite the existing classification system (ICD-10), changes proposed by ICD-11 concerning transgender condition are guided by the understanding that it is not a mental illness and that this population needs health service access to be expanded. The study derived from this work aim to compare the criteria in the existing diagnostic manuals, the DSM-5 and the ICD-10, among a Brazilian sample of transgender persons who sought health services specifically for physical transition. This is a multicenter cross-sectional study that includes a sample of 103 subjects who sought services for gender identity disorder in one of two main reference centers in Brazil. The research method consists of applying a structured interview, which is comprised of the diagnostic criteria from the two manuals. The results reveal that although the theoretical disagreement in the criteria, there is an overlap among the two systems as diagnosis confirmation, to the DSM-5 more inclusive. Additionally, the average waiting time to access this type of service is nearly a decade. Although there is not a consensus concerning such on transgenderism in the diversity of social and cultural contexts, the findings confirm previous impression that despite efforts to determine the diagnostic settings, they follow slightly different as to etiology and different clinical presentations of this condition

Descriptive Study of Transgender Youth Receiving Health Care in the Gender Identity Program in Southern Brazil

Since 2014, the Gender Identity Program (PROTIG) of Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) has been assisting transgender youth seeking gender-affirmative treatment offered at a public health-care service specializing in gender in southern Brazil. This article aims to analyze sociodemographic and clinical data regarding the diagnoses of gender dysphoria and gender incongruence, psychiatric comorbidities, and clinical aspects of a sample of transgender youths seeking health care in the gender identity program. The research protocol consisted of a survey of the data collected in the global psychological evaluation performed at the health-care service for youths diagnosed with gender incongruence and their caretakers. Participating in this research were 24 transgender youths between 8 and 16 years old with diagnostic overlap of gender dysphoria [Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition (DSM-5)] and gender incongruence [International Classification of Diseases, 11th Revision (ICD-11)] and 34 of their caregivers. Of the young people, 45.8% were positive for some psychiatric comorbidity throughout their lives, with almost half (45.4%) having two or more psychiatric comorbidities in addition to gender dysphoria. The mental health professionals comprising affirmation care teams face the challenge of adapting the care protocols to the uniqueness of each demand by developing individualized forms to promote healthy development. This can be done by focusing not only on medical and physical interventions for gender affirmation but also on the promotion of mental health and general emotional well-being. Thus, the gender affirmation model, which advocates for global assessment and personalized guidance, proved to be adequate. Nevertheless, access to multidisciplinary health services specializing in gender is essential for promoting the general well-being of the population of transgender youth