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    A "ingovernabilidade" do Rio de Janeiro: algumas páginas sobre conceitos, fatos e preconceitos

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    Governability is quite ofien used as an "umbrella concept", under which both the capacity of governance (manner in which power is exercised in the management of a territory) and the governability in the strict sense of the word (acceptation of the social and political status quo by the people) are subsumed. The first part of this article underlies the difference between these two concepts The second part examines facts in relation to governance and governability problems in Rio de Janeiro, and discusses some ideologically generated current exaggerations about the governability crisis in this metropolis, as suggested by the experience of the 1980s and 1990s.Governability is quite ofien used as an "umbrella concept", under which both the capacity of governance (manner in which power is exercised in the management of a territory) and the governability in the strict sense of the word (acceptation of the social and political status quo by the people) are subsumed. The first part of this article underlies the difference between these two concepts The second part examines facts in relation to governance and governability problems in Rio de Janeiro, and discusses some ideologically generated current exaggerations about the governability crisis in this metropolis, as suggested by the experience of the 1980s and 1990s

    "Brasilien": Virtudes e limitações de uma tradição de pesquisa

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    Articulando ambiente, território e lugar: A luta por justiça ambiental e suas lições para a epistemologia e a teoria geográficas

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    In the last four decades, the distance between ‘human’ and ‘physical’ geographers has contributed to the prolongation and even worsening of various prejudices: among them, we can mention the lack of appreciation by ‘human’ geographers of the concept of environment (almost always mistakenly reduced to the idea of a ‘natural environment,’ in a clear contradiction with the holistic and integrative potential of the concept), as well as disinterest or skepticism about the construction of ‘hybrid’ epistemic objects that combine knowledge from the social and natural sciences. In addition to this, the ability of geographers to participate in various public debates - from the global climate change and its socio-spatial impacts to the social production of environmental disasters - and to gain recognition and visibility as relevant scientific actors on these issues has been severely restricted. This is because, in the 1970s and 1980s, the overwhelming majority of geographers who influenced the ‘critical’ or ‘radical’ turn of the discipline (which was essentially a Marxist turn, since left-libertarian contributions were largely neglected and marginalised) mistakenly believed that to achieve depth and density in terms of critical analysis of society, it would be convenient or necessary to turn one’s back on knowledge of geoecological processes and factors, as if these were ultimately unimportant. Starting in the United States in the 1980s, and later also present in Latin America and other parts of the world, debates, conflicts, and activism over environmental justice have tacitly challenged geographers to rethink the intradisciplinary fragmentation with which most of them seem to live comfortably (or showing only rhetorical discomfort from time to time, without practical consequences). Within a framework of resistance and emancipatory praxis, the actors committed to the struggle against environmental injustice articulate, in their daily lives, the ideas of environment (the socio-natural context in which they live), territory (the spatial projection of power relations) and place (the fabric of socio-spatial identities); but it is precisely this fundamental articulation that, unfortunately, as it is implied in the preceding paragraph, geographers have generally been unable to appreciate properly. Moreover, those social actors have often been forced by concrete circumstances not only to combine vernacular (so-called ‘local’) knowledge with scientific knowledge, but also, with regard to the latter, to realise the need to gather information on issues related to geochemical, ecotoxicological, geotechnical, etc. processes, in order to be better informed (and therefore politically more effective) about things such as health risks associated with environmental contaminants, landslides and other disasters, and so on. What the struggle for environmental justice strongly exemplifies, in a nutshell, is the need for geographers to understand the importance of building and valuing ‘hybrid’ epistemic objects to deal with complex problems. Unless they understand this point, it is likely that not only their scientific relevance, but especially their social relevance, will remain unnecessarily limited (or will even diminish), especially given the enormous magnitude, broad scope and high political visibility of contemporary environmental challenges.Nas últimas quatro décadas, a distância entre geógrafos “humanos” e “físicos” tem contribuído para o prolongamento e até o agravamento de vários preconceitos: entre eles, podemos citar a desvalo­rização ou insuficiente valorização, por parte dos geógrafos “humanos”, do conceito de ambiente (equi­vocadamente reduzido, quase sempre, à ideia de um “ambiente natural”, quando na verdade se trata de um conceito potencialmente holístico e integrador), e o desinteresse ou ceticismo a propósito da cons­trução de objetos de conhecimento (objetos epistêmicos) “híbridos”, que combinem conhecimentos ori­undos das ciências sociais e naturais. Além disso, a capacidade dos geógrafos de participar de vários de­bates públicos - da mudança climática global e seus impactos sócio-espaciais à produção social de desas­tres ambientais - e de granjear reconhecimento e visibilidade como atores científicos relevantes sobre essas questões tem sido severamente restringida. Tudo isso porque, nas décadas de 1970 e 1980, a esma­gadora maioria dos geógrafos que influenciaram e protagonizaram a “virada crítica” ou “radical” da dis­ciplina (que foi, essencialmente, uma virada marxista, uma vez que as contribuições libertárias foram lar­gamente negligenciadas e marginalizadas) erroneamente acreditou que para alcançar profundidade e densidade em termos de análise crítica da sociedade seria conveniente ou necessário voltar as costas ao conhecimento de processos e fatores geoecológicos, como se estes fossem, em última instância, desim­portantes ou um mero diversionismo. Começando nos Estados Unidos na década de 1980, e depois fazendo-se presentes também na América Latina e em outras partes do mundo, debates, conflitos e ativismos em torno da justiça ambiental têm tacitamente desafiado os geógrafos a repensarem a fragmentação intradisciplinar com a qual a mai­oria parece viver confortavelmente (ou mostrando apenas um desconforto retórico, de tempos em tem­pos e sem consequências práticas). Dentro de um quadro de resistência e práxis emancipatória, os atores comprometidos com a luta contra a injustiça ambiental articulam, em seu cotidiano, as ideias de ambiente (o contexto sócio-natural em que vivem), território (a projeção espacial das relações de poder) e lugar (o tecido das identidades sócio-espaciais); mas é precisamente essa articulação fundamental que, no en­tanto, como está implícito no que foi dito no parágrafo anterior, os geógrafos geralmente não têm con­seguido apreciar adequadamente. Além disso, esses atores têm sido frequentemente forçados pelas cir­cunstâncias não apenas a combinar conhecimento vernacular (dito “local”) com conhecimento científico, mas também, no que diz respeito a este último, a perceber a necessidade de coletar informações sobre questões relacionadas a processos e problemas de ordem geoquímica, ecotoxicológica, geotécnica etc., a fim de ser melhor informados (e, portanto, politicamente mais eficazes) sobre coisas como os riscos à saúde causados por contaminantes ambientais, riscos de deslizamentos, desmoronamentos e outros de­sastres, e assim sucessivamente. O que a luta pela justiça ambiental fortemente exemplifica, em poucas palavras, é a necessidade de os geógrafos entenderem a importância de construir e valorizar objetos de conhecimento “híbridos” para lidar com problemas complexos. A menos que compreendam esse ponto, é provável que não apenas sua relevância científica, mas sobretudo sua relevância social, permaneçam desnecessariamente limita­das (ou até mesmo sofram atrofia), especialmente dada a enorme magnitude, o amplo alcance e a ele­vada visibilidade política dos desafios ambientais contemporâneos

    Redes e sistemas do tráfico de drogas no Rio de Janeiro: uma tentativa de modelagem

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    Undoubtedly, most of the drug trade for local consumption in Rio de Janeiro is organized by quadrilhos (gangs) based in fovelas (shanty-towns), which are linked to different criminal organizations or networks (comandos). The most important criminal network of Rio de Janeiro, the Comando Vermelho (Red Commando) was created in the late 1970s. However, the mass media tend to give a false image of drug traffic and its structure. Although newspapers and television paaa the idea that the leaders of the drug traffic in the favelas are very powerful, they are to a considerable extent only the underlings of the drug trade's real sponsors, who have connection with important politicians, businessmen etc.; the most important traffickers, who operate at the level of the import/export/wholesale trade system, do not live in shanty-towns. Furthermore, the criminal organizations, which operate in the context of local retail trade (retail trade system), are not very centralized: the Comando Vermelho itself, whose founders are dead or in jail, is today essential)' a unstable solidarity network among inmates.Resum

    EM TORNO DE UM HÍFEN

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    Como todos sabemos, a presença ou ausência de uma simples vírgula pode fazer uma grande diferença, alterando o sentido de uma frase. Este pequeno texto almeja demonstrar que, no caso do termo técnico sócio-espacial, sobre cuja grafia persistem dúvidas e confusões, um hífen também pode fazer uma enorme diferença..

    DA “DIFERENCIAÇÃO DE ÁREAS” À “DIFERENCIAÇÃO SOCIOESPACIAL”

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    A Geografia tem, tradicionalmente, cultivado uma espécie de “visão de sobrevôo”, analisando as sociedades e seus espaços quase sempre “do alto” e “de longe”. Essa perspectiva é, de certa forma, aquela que é própria do Estado. E, de fato, o aparelho de Estado sempre foi o principal “locus de construção discursiva” da Geografia. Raramente o “locus de construção discursiva” dos geógrafos de formação foram ou têm sido os movimentos sociais. Isso tem sido, justamente, ao mesmo tempo uma causa e uma conseqüência da “visão de sobrevôo”. Não se sugere, neste trabalho, que “olhar de longe” seja algo em si mesmo reprovável. Afinal, o “olhar distanciado” permite que se ganhe uma perspectiva que é imprescindível e insubstituível: aquela que faculta uma “noção de conjunto” e que permite trabalhar com as escalas da estratégia. O problema reside em adotar com exclusividade esse olhar. A solução, por conseguinte, não consiste em substituir meramente o “olhar de longe” pelo “mergulho no quotidiano”, mas sim em combinar as escalas (de análise e de ação) de modo a não abrir mão de nenhuma, tanto quanto combinar os olhares o de perto e o de longe; aquele que  permite “colocar-se de fora” (e à distância) com aquele que exige “estar dentro”.Geography has been a prisoner of its own epistemological and methodological constraints and especially of a kind of “overview thinking” which prevents it from approaching the Lebenswelten (lifeworlds) of concrete men and women. In fact, geography’s perspective has been usually similar to that which is typical of the state apparatus, which consists precisely in considering individuals and social groups from the standpoint of an external power institution. Unfortunately and curiously, this “overview thinking” is predominant even in the case of many left-wing scholars, who have build their critical approach to capitalist society and capitalist production of space on the basis of an analysis of the role of the state and of the dynamics of capital, without paying much attention to social movements and concrete Lebenswelten from an insider’s perspective

    Geografia: a hora e a vez do pensamento libertário

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    Concedi à revista capixaba GEOGRAFARES, há alguns anos, uma entrevista que saiu publicada, por sugestão minha, sob o título “A hora e a vez do pensamento libertário na Geografia”. Apesar de a referida entrevista padecer de uma excessiva abundância de detalhes, decidi aproveitar, aqui, o seu título, meramente invertendo a ordem das palavras-chave: não apenas por achá-lo apropriado, mas também porque contrabandeei, das minhas respostas na ocasião, uma ou outra ideia que ali foi exposta e que merece ser retomada. O texto que vem a seguir é uma “análise de conjuntura”, referente ao momento atualmente vivido pela Geografia no Brasil e no mundo e às oportunidades por ele oferecidas a todos aqueles que se identificam com o pensamento libertário. Essa “análise de conjuntura”, todavia, demanda uma contextualização histórica. Tentei proceder também a ela, ainda que de forma muito concisa. Por razão de facilidade para o desenvolvimento do raciocínio e, igualmente, de leitura, os argumentos se encontram apresentados sob a forma de parágrafos numerados; estes foram, também visando à conveniência de exposição e leitura, agrupados em seções

    COM O ESTADO, APESAR DO ESTADO, CONTRA O ESTADO

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    Mudanças e crises teóricas têm assinalado, de algumas décadas (e sobretudo de alguns anos) a esta parte, a necessidade de encontrar ou refinar e consolidar novos marcos analíticos para examinar e avaliar as agendas e a práxis nos processos de mudança sócio-espacial. Nenhuma prática humana é totalmente independente do espaço social, mas ocorre que algumas se mostram apenas fraca e indiretamente dependentes da dimensão espacial da sociedade, ao passo que outras se acham forte e diretamente impregnadas dessa dimensão, em aspectos que vão da identidade à organização. São estas últimas que merecem, no entendimento do autor destas linhas, a designação simplificada de práticas espaciais, as quais são “práticas sociais densas de espacialidade”. As práticas espaciais têm servido, obviamente, tanto à dominação, à coerção, à imposição de cima para baixo ou de fora para dentro das leis e normas que regulam a vida de um grupo ou sociedade, quanto à emancipação, à autodeterminação, à autodefesa legítima, ao autogoverno, à instituição livre e lúcida das leis e normas pelo próprio corpo de cidadãos, diretamente. Trata-se, no presente trabalho de examinar as práticas espaciais dos movimentos sociais urbanos emancipatórios. Interessam, portanto, as práticas espaciais que se vinculam a uma perspectiva de transformação emancipatória da realidade sócio-espacial – em uma palavra, à práxis. O artigo apresenta, inicialmente, uma discussão dos conceitos de poder (dialogando-se com Michel Foucault, Hannah Arendt e Cornelius Castoriadis) e prática espacial (partindo-se, sem pretensões de fidelidade, da contribuição de Henri Lefebvre). Na seção subsequente, oferece-se e discute-se uma tipologia das práticas espaciais insurgentes protagonizadas por movimentos sociais. A utilidade de se construir uma tal tipologia não se esgota, evidentemente, na tipologia em si mesma; faz-se mister, complementarmente, discutir os limites (contradições e obstáculos) das práticas espaciais dos movimentos, que é o que traz a última seção do trabalho.The concept of spatial practice is a very important one for the purpose of thinking about the spatial dimension of power. According to neo-Marxist Henri Lefebvre – who, besides Foucault, was one of the philosophers who most profoundly paid attention to the social space – ‘(…) spatial practice consists in a projection onto a spatial field of all aspects, elements and moments of social practice (…).’ Understandably, Lefebvre discussed spatial practices at a very abstract level, as he did also in relation to the production de l’espace as a whole. However, for both the purposes of empirical research and strategic reasoning, it is necessary to specify different types of spatial practice and their particularities. The aim of this paper is to present and analyse some important insurgent spatial practices which have been developed and implemented by emancipatory social movements throughout the world in the framework of globalisation. The text begins with a discussion of the philosophical contributions made by Michel Foucault to the elucidation of the meaning and role of power as heteronomous power; thereafter, I will contrast Foucault’s approach to power to that of Cornelius Castoriadis’ (and secondarily to that of Hannah Arendt’s), in the context of which the possibility of an autonomous power is consistently considered (section 1). The contributions made by Foucault and Lefebvre to the investigation of the connections between power and space, mentioned in several parts of the paper, help in offering a typology and a discussion of insurgent spatial practices (section 2) and an analysis about the limits of these practices (concluding section). I hope this paper can demonstrate the usefulness of both this typology and of a critical discussion of some problems and challenges

    MAURICIO DE ALMEIDA ABREU

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    Convivi com Mauricio de Almeida Abreu por quase trinta anos, sempre no Departamento de Geografia da UFRJ: primeiramente, na qualidade de seu aluno, no início dos anos 80; depois, entre 1986 e 1988, na condição de seu orientando de mestrado; por fim, desde 1994, como seu colega de Departamento. A despeito da amizade que me unia a ele, gostaria de ressaltar, nos parágrafos que seguem, não o Mauricio do convívio privado, mas sim aquele que serviu, para mim, como uma das mais importantes fontes de inspiração profissional para a minha carreira, apesar de termos interesses temáticos distintos
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