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    Conhecimento e prazer na estética de Kant

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    O argumento de que Kant se serve para distinguir de saída, na Crítica da Faculdade do Juízo, o juízo de gosto do juízo de conhecimento teórico é o de que este último não é acompanhado de modo necessário por um sentimento de prazer, ao contrário do primeiro, que tem num sentimento de prazer sua razão determinante. Mas uma certa passagem da Introdução definitiva da obra parece infirmar essa posição clara da terceira Crítica, a de que onde há conhecimento (stricto sensu) não há geração necessária de sentimento de prazer, e de que se há prazer, então não estamos diante de um juízo de conhecimento pura e simplesmente. O que Kant sugere aí é que, se não há, por um lado, prazer na subsunção de dados sob categorias do entendimento, por outro, existiria um certo prazer no processo judicativo pelo qual reconhecemos objetos segundo conceitos empíricosao subsumirmos indivíduos sob conceitos de espécies e de gêneros. O objetivo do presente trabalho é explicitar essa aparente contradição e buscar uma solução para ela. De um lado, a irredutibilidade do gosto ao conhecimento, seja ele puro ou empírico, segundo os critérios do sentimento de prazer e da referência a conceitos. De outro, a aproximação de gosto e conhecimento na estratégia da dedução e, sobretudo, na identificação, sugerida pela Introdução, de uma finalidade formal e de um certo prazer a ela ligado no processo do conhecimento empírico. AbstractThe argument Kant appeals to in order to distinguish, in the Critique of Judgment, the judgment of taste from the cognitive judgment is that the latter is not necessarily followed by a feeling of pleasure. In spite of that, this clear point from the third Critique - namely, that where is cognition (stricto sensu), there is no necessary pleasure, and where is pleasure, we are not confronted to a pure cognitive judgment -- seems to be disenfranchised by a certain passage in the Introduction. Kant suggests that if there isn't, on the one hand, pleasure in the subsumption of data under categories of understanding, on the other, there would be some pleasure in the judging process through which we recognize objects under empirical concepts when subsume individuals under concepts of species and genera. The aim of this essay is to make explicit and find a solution to this apparent paradox: on the one hand, the irreducibility of taste to cognition, be it pure or empirical, according to the criteria of the feeling of pleasure and the reference to concepts. On the other hand, the reconciliation between taste and cognition in the strategy of the Deduction and, especially, in the identification, implied by the Introduction, of a formal purposiveness and a certain pleasure applied to it in the process of empirical cognition

    Verdade e concordância em Aristóteles e Heidegger

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    O artigo pretende apresentar e discutir, a partir das três teses sofísticas sobre a relação palavras/coisas expostas no diálogo platônico Eutidemo, a leitura heideggeriana da teoria aristotélica da linguagem. Pretende-se mostrar que a interpretação heideggeriana não inclui Aristóteles na tradição daquilo que o § 34 de Ser e tempo designa "Filosofia da linguagem" e que se pode chamar de referencialismo ou correspondentismo objetivista. Entende-se que o pensamento aristotélico modula a noção de alétheia fazendo-a conviver com a noção de homóisis, com o que a teoria heideggeriana da linguagem em Ser e tempo concorda. O pensamento aristotélico não rompe a sofística aderência logos/pragma e isso não compromete sua fundamentação da possibilidade do falso, concordando nisso também com a referida teoria heideggeriana da linguagem

    Liberdade e Imputabilidade em Kant: uma Controvérsia

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    ResumoO presente artigo inscreve-se numa pesquisa constituída de duas etapas, das quais apenas a primeiraé aqui contemplada. Essa etapa consiste essencialmente num esforço por chamar a atenção para o queconsidero uma dificuldade conceitual relativa à noção de liberdade prática no pensamento de ImmanuelKant. Proponho que Kant trabalha com duas acepções distintas da liberdade que deve caracterizar oarbítrio humano, que são acepções dificilmente conciliáveis e cuja confusão torna problemático o projetofundamental de sua filosofia prática. Uma delas, conquistada argumentativamente nos seus textosfundacionais de filosofia prática, assimila liberdade a moralidade, dando ocasião ao problema da imputabilidadedas escolhas imorais. A outra, aparentemente pressuposta ao longo de todos os seus escritossobre o tema da liberdade e preferida quase unanimemente pelos intérpretes, equivale a uma concepçãomoralmente neutra de livre arbítrio. Contra ela, há de saída a explícita recusa do próprio filósofo quandochamado a se manifestar ex professo sobre sua legitimidade na Metafísica dos Costumes. Mas tento mostrarque, mais grave que isso, se trata de um conceito de liberdade que, a fim de garantir a imputabilidadede escolhas imorais, acaba tornando qualquer escolha inimputável.Palavras-chave: Liberdade, moralidade, imputabilidade, vontade, arbítrio.AbstractIn this paper, corresponding to the first of two parts of my current research, I endeavor to lay out aconceptual difficulty concerning the notion of practical freedom in Kant`s thought. I argue that the philosopherdeals with two distinct and conflicting meanings of the freedom of human choice, which rendersproblematic the fundamental project of his practical philosophy. The one, conceptually rooted in hisgrounding texts on freedom of the will, assimilates freedom and morality and ends up by making, primafacie, unconceivable free choices against morality, hence, renders impossible the imputation of immoralchoices. The other, apparently presupposed throughout most of Kant`s writings on freedom and almostunanimously cheered by the interpreters, amounts to a morally neutral conception of free choice. Againstit raises Kant`s declared refusal when provoked to express himself about it in the Metaphysics of Morals.Moreover, I argue it`s a concept of freedom that, meant to guarantee the accountability of immoral choices,ends up by making all choices unaccountable

    Fenomenismo, realismo e as "coisas fora de nós": Kant contra o idealista material

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    Neste artigo, dedico-me a uma análise da refutação do idealismo contida no Quarto Paralogismo da primeira edição da Crítica da Razão Pura, comentando cada uma das linhas argumentativas pelas quais Kant procura eliminar a dúvida cética sobre a existência das "coisas fora de nós". Nesse contexto, procuro mostrar, em primeiro lugar, como Kant distingue resolutamente o ceticismo epistemológico de sua versão ontológica, elege o primeiro como único adversário idealista do projeto refutativo e se dá o direito de desqualificar a desconfiança proposta pelo último, que, paradoxalmente, expressa a posição do idealista chamado cartesiano, autor do silogismo da idealidade. Em seguida, defendo que, desqualificando o problema ontológico propriamente dito, a Refutação de 81 acaba se tornando, na melhor das hipóteses, uma explicação de por que um idealista kantiano não pode ser cético em matéria de fenômenos externos, em vez de uma prova de que um idealista cartesiano não pode ser cético em matéria de mundo externo. Finalmente, proponho um argumento interno ao sistema kantiano para tentar justificar a necessidade de uma refutação do idealismo menos "fenomenista" do que parece ter sido a de 1781, mostrando que o idealismo transcendental perde sua consistência se aceitar a possibilidade de que a existência das coisas fora de nós em sentido forte, vale dizer, em sentido extra-representacional, permaneça um mero pressuposto conceitual ou intelectual, em vez de um fato real. AbstractIn this paper I shall survey the refutation of idealism set out in the Fourth Paralogism of the first edition of the Critique of Pure Reason commenting upon each line of argumentation through which Kant attempts to rule out the skeptical doubt regarding the existence of the "things outside us". In this context, I shall firstly argue that Kant clearly distinguishes in this section between epistemological and ontological skepticism, elects the former as his unique opponent in the refuting project and disenfranchises the challenge raised by the latter, which paradoxically characterizes the position of the genuine author of the syllogism of ideality - the Cartesian skeptic. Secondly, I shall defend that by so doing, the refutation of 81 turns out to be, at best, an explanation of why a Kantian idealist cannot be a skeptic regarding external appearances, rather than a demonstration of why a Cartesian idealist cannot be a skeptic regarding external world. Lastly, I shall propose a systematic argument in order to justify the necessity of a less phenomenistic refutation than what turned out to be that of 81, defending that transcendental idealism loses its consistency if it accepts the possibility that the existence of the "things outside us" stricto sensu (i.e., in an ontological sense) remains a mere conceptual or intellectual presupposition, even though a necessary one, instead of a real fact. Recebido em 07/014Aprovado em 08/01

    The involvement of sphingolipids in apoptosis induced by acetic acid in yeast

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    This work was funded by FEDER through the program “Programa Operacional Factores de Competitividade-COMPETE” and by FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia) through the projects Pest-C/BIA/UI4050/2011 and FCOMP-01-0124-FEDER-007047. A.R. was supported by a FCT fellowship (FCOMP-01-0124-FEDER-007047)

    A cidadania territorial e a educação geográfica

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    A questão da cidadania territorial é uma temática incontornável atualmente na educação geográfica, em Portugal. É em torno da relevância desta no-ção e seus desafios que este texto se foca. Para tal, discute-se o conceito de cidadania territorial (conceito mais utilizado na literatura nacional) em relação ao de cidadania espacial (conceito mais utilizado na literatura inter-nacional), identificando-se pontos em comum e divergências, bem como os principais autores associados. Procura-se, deste modo, apresentar um breve estado da arte sobre o conceito. Seguidamente, relaciona-se a noção de ci-dadania territorial com os possíveis desenvolvimentos futuros que o ensino da geografia poderá ter, identificados por Béneker (2018), identificando os principais desafios no nosso país relativamente a esta temática ao nível dos currículos, das universidades, das autarquias, dos centros de formação de professores, das editoras de manuais escolares e das escolas. O presente texto visa, sobretudo, demonstrar como as questões do território e da sua gestão são de grande importância para o ensino da geografia nos níveis de ensino básico e secundário e como, cada vez mais, este ensino terá de partir de problemáticas concretas do território que os alunos habitam

    Paradoxes of organizational change in a merger context

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    PurposeThe reorganization of the Portuguese national healthcare system around networks of hospital centers was advanced for reasons promoted as those of effectiveness and efficiency and initially presented as an opportunity for organizational transcendence through synergy. The purpose of this paper is to study transcendence as felt by the authors’ participants to create knowledge about the process.Design/methodology/approachThe paper consists of an inductive approach aimed at exploring the lived experience of transcendence. The authors collected data via interviews, observations, informal conversations and archival data, in order and followed the logic of grounded theory to build theory on transcendence as process.FindingsTranscendence, however, failed to deliver its promise; consequently, the positive vision inscribed in it was subsequently re-inscribed in the system as another lost opportunity, contributing to an already unfolding vicious circle of mistrust and cynicism. The study contributes to the literature on organizational paradoxes and its effects on the reproduction of vicious circles.Practical implicationsThe search for efficiency and effectiveness through strategies of transcendence often entails managing paradoxical tensions.Social implicationsThe case was researched during the global financial crisis, which as austerity gripped the southern Eurozone gave rise to governmental decisions aimed at improving the efficiency of organizational healthcare resources. There was a sequence of advances and retreats in decision making at the governmental level that gave rise to mistrust and cynicism at operational levels (organizations, teams and individuals). One consequence of increasing cynicism at lower levels was that as further direction for change came from higher levels it became interpreted in practice as just another turn in a vicious circle of failed reform.Originality/valueThe authors contribute to the organizational literature on paradoxes by empirically researching a themes that has been well theorized (Smith and Lewis, 2011) but less researched empirically. The authors followed the processin vivo, as it unfolded in the context of complex strategic change at multiple centers.</jats:sec
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