37 research outputs found
O que é função? Debates na filosofia da biologia contemporânea
In this paper, we examine two very influential approaches to the nature of functional explanations/attributions: Wright's selectionist etiological approach and Cummins' functional analysis. The former seems to adequately grasp the meaning of several explanations in evolutionary biology, even though it is not sufficient to account for each and every evolutionary explanation. The latter, in turn, is more applicable to explanations in physiology and in other scientific areas dealing with complex systems. We see these two theories as distinct enterprises, which should not be combined in a single approach to functions. This leads us to support Godfrey-Smith's rejection of such a unity, in the form of his dualist consensus thesis. This thesis can be grounded on the distinction between evolutionary and functional biology, as sketched by Mayr and Jacob. We also address Cummins' critique of selectionist etiological approaches, which he labels as "neo-teleological". Although we consider that several criticisms raised by Cummins do identify flaws in these approaches, we intend to show that his attempt to reject neo-teleology as a whole is illegitimate. Criticisms from both sides of the debates about functions are contributing to enrich the comprehension of this central concept in Biology. These criticisms reinforce the need of delimiting the scope and limits of each approach, and, thus, point in the direction of a pluralism in the debate about functional explanations/attributions in the Philosophy of Biology.Neste artigo, examinamos duas abordagens bastante influentes sobre a natureza das atribuições/explicações funcionais: a abordagem etiológica selecionista de Wright e a análise funcional de Cummins. A primeira parece capturar de modo adequado o significado de várias explicações na biologia evolutiva, ainda que não dê conta de toda e qualquer explicação evolutiva. A segunda, por sua vez, é mais aplicável a explicações fisiológicas ou de outras áreas científicas que lidam com sistemas complexos. Entendemos as duas teorias como empreitadas distintas, que não devem ser combinadas em uma abordagem única sobre as funções. Isso nos leva a apoiar a rejeição de tal unidade por Godfrey-Smith, na forma de sua tese do consenso dualista. Esta tese pode ser ancorada na distinção entre biologia evolutiva e biologia funcional, esboçada por Mayr e Jacob. Tratamos também da crítica de Cummins às abordagens etiológicas selecionistas, as quais ele denomina "neoteleológicas". Embora consideremos que várias das críticas de Cummins de fato localizam falhas nessas abordagens, buscamos mostrar que sua tentativa de rejeição da neoteleologia como um todo é ilegítima. A partir das críticas de ambos os lados do debate sobre as funções, a compreensão desta noção central da biologia tem sido sobremaneira enriquecida. As críticas reforçam a necessidade de delimitar o escopo e o limite de cada uma das abordagens e, assim, apontam no sentido de um pluralismo no debate sobre atribuições/explicações funcionais na filosofia da biologia
Hierarchy Theory and its epistemological grounds
Hierarchy theory arose in the middle of the 1960s, as a result of a convergence from contributions of different disciplines that shared an interest for complexity, such as economy, chemistry, and biology. From the perspective of hierarchy theory, complexity is not considered either as a property of natural systems in themselves or as an exclusive property of the human mind, but rather as a property of questions posed by ourselves, as agents of knowledge, in the observational process. Complexity emerges, thus, in the relationship between natural systems and knowing subjects. This work carries out an analysis of the epistemological foundations of hierarchy theory, mainly addressing the possibility of grounding it in an anti-realist stance, such as van Fraassen’s constructive empiricism.A teoria das hierarquias emergiu, a partir de meados da década de 1960, como resultado de uma convergência de contribuições advindas de diversas disciplinas que compartilhavam à época um interesse pela complexidade, como economia, química e biologia. Da perspectiva da teoria das hierarquias, a complexidade não é considerada uma propriedade dos sistemas naturais em si mesmos e tampouco é concebida como uma propriedade exclusiva da mente humana, mas sim como uma propriedade das questões colocadas por nós, agentes do conhecimento, no processo de observação. A complexidade emerge, pois, na relação entre os sistemas naturais e os sujeitos cognoscentes. Este trabalho realiza uma análise dos fundamentos epistemológicos da teoria das hierarquias, tratando, sobretudo, da possibilidade de embasá-la numa visão anti-realista, como o empirismo construtivo de van Fraasse
Teleologia, Função e Ensino de Biologia
Neste artigo, investigamos as explicações teleológicas no ensino de Biologia a partir dos debates filosóficos contemporâneos sobre explicação funcional. Um foco maior foi dado para o modo como elas são formuladas em três livros didáticos (LDs) para o ensino médio dessa disciplina no Brasil. Avaliamos também, em menor medida, o papel das noções de adaptação e seleção natural no que concerne às suas relações com a teleologia. A avaliação dos LDs permite indicar que o uso de atribuições e explicações funcionais tem se dado de modo arbitrário no conhecimento escolar de Biologia, sem um embasamento epistemológico consistente. Isto gera problemas importantes, com um possível impacto negativo na aprendizagem dos estudantes. Com vistas a construir um embasamento mais sólido para as explicações funcionais no ensino de Biologia, apresentamos duas abordagens centrais do debate filosófico sobre o assunto, com possíveis contribuições para a educação, a perspectiva histórica ou etiológica, proposta por Larry Wright, e a perspectiva sistêmica, proposta por Robert Cummins. De modo geral, os debates contemporâneos sobre função na Filosofia da Biologia contribuem para uma estruturação mais consistente dos modos de explicar funcionalmente e, no contexto escolar, podem evitar equívocos importantes relacionados ao uso da linguagem teleológica na educação em Biologia. Além disso, conforme destacamos, é fundamental reconhecer uma importante contribuição de Darwin aos fundamentos das ciências biológicas, no século XIX, precisamente: a construção de um espaço legítimo para a aplicação de uma linguagem teleológica que não se compromete com pressupostos teológicos
É legítimo explicar em termos teleológicos na biologia?
In this paper, we advocate the legitimacy of explaining in teleological terms in biology, provided that this explanation is limited to the understanding of phenomena in living beings that are directed towards goals, such as physiological processes and behaviors. It is inadequate to explain teleologically other biological phenomena, such as evolution. Within the domain of validity of teleological explanations, functional explanations have particular importance in biology. We discuss here two approaches that can be followed to account for functional explanations, the etiological and the systemic, which we explain here based on the works of two influential philosophers of science, Wright and Cummins. We finally discuss the importance of an appropriate use of teleological explanations in biological education, both in higher education and in high school.Neste artigo, defendemos a legitimidade de explicar em termos teleológicos na biologia, desde que tal explicação seja limitada à compreensão de fenômenos em seres vivos que são dirigidos para objetivos, como os processos fisiológicos e o comportamento. É inadequado explicar teleologicamente outros fenômenos biológicos, como a evolução. Dentro do domínio de validade das explicações teleológicas, as explicações funcionais têm particular importância na biologia. Discutimos aqui duas abordagens que podem ser seguidas para dar conta das explicações funcionais, a etiológica e a sistêmica, que explicamos aqui a partir dos trabalhos de dois influentes filósofos da ciência, Wright e Cummins. Discutimos, por fim, a importância de um uso apropriado das explicações teleológicas no ensino de biologia, seja superior, seja médio
A Teoria Gaia é um conteúdo legítimo no ensino médio de Ciências?
A teoria Gaia propõe que biosfera, atmosfera, hidrosfera e litosfera são conectadas por alças de retroalimentação num sistema cibernético que mantém o ambiente físico-químico da Terra habitável para os seres vivos. Essa teoria deve ser incluída no conhecimento científico escolar? Neste artigo, analisamos se a inclusão da teoria Gaia no ensino de ciências possui legitimidade social e epistemológica, a partir de uma discussão sobre a construção do conhecimento escolar, da análise de propostas de introdução de Gaia na educação formal e não formal e da análise da cientificidade dessa teoria à luz da metodologia dos programas de pesquisa científica, proposta pelo filósofo da ciência Imre Lakatos. A partir de tais análises, concluímos que a inclusão da teoria Gaia no ensino de ciências é legitimada epistemológica e socialmente, podendo contribuir para a abordagem interdisciplinar de conteúdos geralmente trabalhados no ensino de ecologia, para o tratamento de temas ambientais que conectam diferentes disciplinas e para a compreensão da natureza da ciência.Gaia theory claims that the biosphere, atmosphere, hydrosphere, and lithosphere are connected by feedback loops in a cybernetic system that maintains Earth's physicochemical environment habitable for living beings. Should this theory be introduced into scientific school knowledge? In this paper, we analyze whether the inclusion of Gaia theory in science education is endowed or not with social and epistemological legitimacy, from the perspective of a discussion about the construction of school knowledge, an analysis of proposals for introducing Gaia in formal and non-formal education, and an analysis of its scientific status under the light of the methodology of scientific research programs, proposed by the legitimacy, and can contribute to an interdisciplinary approach to contents generally addressed in ecology teaching, to the treatment of environmental themes that connect different disciplines, and to the understanding of the nature of science