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    Um passado novo para uma história em crise : regionalismo e folcloristas no Rio Grande do Sul (1948 - 1965)

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    Tese (doutorado)—Universidade de Brasília, Instituto de Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em História, 2005.Este trabalho analisa a articulação entre o desenvolvimento de saberes locais e o pertencimento territorial no Rio Grande do Sul, examinando a participação gaucha no autodenominado Movimento Folclórico Brasileiro, entre as décadas de quarenta e sessenta. O grupo de participantes locais e dividido em duas categorias de folcloristas, situados em posições desiguais nas hierarquias nacional e regional de autoridade intelectual, bem como na escala social entendida de uma forma mais ampla. Distribuem-se, no primeiro polo, os folcloristas do tradicionalismo - compostos de jovens agitadores culturais entre vinte e trinta anos, iniciantes em pesquisa folclórica, fundadores ou incorporados ao grupo de oito estudantes que, ao final dos anos quarenta, passou a se dedicar a fabricação sistemática de rituais e tradições criadas para serem encenadas nos Centros de Tradições Gauchas (CTGs). Na outra ponta de interesse estão os folcloristas polígrafos, grupo de intelectuais e artistas já renomados e mais velhos, iniciados nos afazeres culturais nos anos vinte. Consócios das principais academias de eruditos no estado, eles integravam a lista de filiados a Comissão Estadual de Folclore (CEF), organização para-govemamental fundada em Porto Alegre, em 1948 e representante oficial da Comissão Nacional de Folclore (CNFL) no Rio Grande do Sul. A abordagem estrutura-se em dois planos: o primeiro, referente as condições do alistamento desses grupos a campanha folclórica praticada no pais; o segundo, aos embates e alianças firmados entre folcloristas do tradicionalismo e os sócios da Comissão, pela definição de um projeto de memória regional assente com o que julgavam ser os imperativos políticos e corporativos do momento. Ao longo da analise, são retraçados os itinerários percorridos na conversão de estudantes tradicionalistas para estudiosos, e de estudiosos da historia e da literatura em especialistas do folclore, avaliando os lugares e posições que vieram a ocupar no circuito cultural, a adoção de referenciais teóricos e os meios de consagração disponíveis no universo acadêmico da época. O exame dessas trajetórias reporta a variedade de conformações dadas a região, segundo a ênfase repouse no modo de vida da campanha ou na diversidade das paisagens que a compõem. Mas também a significação, para elite cultural de então, do aparecimento de novos concorrentes no aparelho burocrático de gerenciamento da cultura. Desiguais em autoridade e posição social, a assimetria dos dois grupos nas esferas regional e nacional de reconhecimento mutuo e, portanto, a base sobre a qual os atores conceberão distintamente a própria ancestralidade, sua atividade profissional e a finalidade social dos estudos de Folclore. _______________________________________________________________________________________ ABSTRACTTaking the articulation between the local-knowledge development and territorial-belonging as object, this work searches to delineate the "gaucho" participation in the known Brazilian’s Folklore Movement, with the national leadership of the "Comissão Nacional de Folclore" (National Comission on Folkore - CNFL), hosted in "Ministério das Relações Exteriores" (Ministry of International Relations) presided over by Renato Almeida between 1948 and 1965. The group of local participants is divided in two different categories of "folcloristas", placed in different ranks in national and local hierarchies of intellectual authority as well as in the broader social structure. In on side, we found the "folcloristas do tradicionalismo" - a group of young cultural agitators, in theirs twenties or thirties, beginners in the research on folklore, founders or followers of the group of eight students which in the late forties, dedicate themselves to the systematic fabrication of rituals and traditions created to be staged and performed in the Centros de Tradição Gaucha (Centers of Gaucho Traditions - CTG). In the other side, we situated the "folcloristas poligrafos", a group of already famous and elder intellectuals and artists, working in the cultural business since the twenties. Associates of the main academies of scholars of the state, they were members of “Comissão Estadual de Folclore (State Commission on Folklore - CEF)" - a não-govemamental organization established in Porto Alegre in 1948 and official representative of the National Commission on Folkore. Using as reference the recognition network built in this period (198/65), the approach is articulated in two levels: first, the conditions of the enlistment of gauchos to the "campanha folclorica" as was performed in the whole country; second, the struggles and alliances established between "folcloristas do traditionalismo" and the members of the State Comission on Folkore, for the definition of a local memory project that fit what they conceived to be the political and corporative imperatives of that time. We analyze the itineraries of conversion from "folklore students" into scholars; from history and literature scholars into folklore specialists, by delineating and evaluating the places and positions occupied in the cultural circuit, as well as observing the theoretical references and consecration means availables in the academic logics of the time. The analysis of these trajectories indicates to the variety of meanings given to the region, according to the emphasis on the country’s way of life or on the diversity of the landscapes that compose it. But also reveals the meaning - in the cultural elite’s point of view - of new adversaries in the publishing market, in the folklore conferences and in the bureaucratic apparatus of culture management. Unequal in authority and social status, the asymmetry of the two groups in the diverse spheres of mutual recognition is, therefore, the base on which the actors will conceive in many ways their proper ancestry, their professional activity and the social purpose of the Folklore Studies

    Regionalismo, Historiografia e memória: Sepé Tiaraju em dois tempos

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    The paper explores the way as different processes and actors work on collective memories, focusing specifically on relations between regionalism and national identity at Rio Grande do Sul. Retaking opposed positions referring to the “weight” of the Missões in the local memory, it examines official and alternative representations of gaucho traditions. Both are linked to a regional discourse, endorsed by State’s action in its relations with intellectuals on one hand, and on the other hand by citizens identified with popular art and traditionalism. Finally, this text points out the interdependence relations between History and Memory, considering that the knowledge of the struggles for controlling cultural identities allows to place the issue of social identity of historians, and their differents historiographic styles.O artigo explora o modo como diferentes processos e atores laboram a formalização de memórias coletivas, focalizando especificamente as relações entre regionalismo e identidade nacional no Rio Grande do Sul. Retomando posições divergentes quanto ao “peso” das Missões na configuração da memória local, examina formas oficiais e subterrâneas de representação da ancestralidade gaúcha. Ambas se encontram vinculadas a um discurso regionalista patenteado, de um lado, pela ação do Estado em suas relações com os intelectuais e, de outro, por sujeitos identificados com a arte popular e com o tradicionalismo. Finalmente, chama a atenção para as relações de interdependência entre História e memória, observando que o conhecimento acerca das arenas de luta pelo controle da cultura e dos imaginários permite recolocar a questão dos estilos de construção historiográfica, relacionando-as à identidade social do historiador

    Breviário de um museu mutante

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    O artigo aborda a implantação de um aparato burocrático de gestão da cultura no Rio Grande do Sul, privilegiando a trajetória do Museu Julio de Castilhos, primeiro museu criado na capital, em 1903. A análise recai sobre os fatores que condicionaram o afastamento da referência naturalista inicial, inspirada no modelo de funcionamento dos museus etnográficos do início do século passado, em direção à adoção de uma perspectiva regionalista de reconstrução do passado, assumida oficialmente no regimento de 1954. Entre 1952 e 1958, sob a direção do historiador e folclorista Dante de Laytano, o museu torna-se trincheira de sócios dissidentes do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul (IHGRS) e núcleo de arregimentação da Comissão Gaúcha de Folclore, representante oficial da Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro no estado. Nesse momento ele passa a concorrer na partilha institucional do governo com os tradicionalistas, agrupados em torno do Instituto de Tradições e Folclore, criado em 1954.This paper is about the implantation of a bureaucratic management culture in Rio Grande do Sul - favoring the trajectory of Julio de Castilhos Museum, first museum created in the state at 1903. The analysis is centered on the factors that conditioned the removal of the initial naturalistic reference, inspired by etnografic museums from the beginning of the XXth Century, towards a regionalistic perspective of past reconstruction - stated officially in 1954's Regiment. From 1952 to 1958, under the direction of the historian and "folk scientist" Dante de Laytano, the museum becomes a resistent point against the partners of the Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul (IHGRS) and a recruiting nucleus for Comissão Gaúcha de Folclore, official representative of Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro in the state. At this moment it starts to compete for the institucional allotment of the government with tradicionalistas, grouped around Instituto de Tradições e Folclore, created in 1954

    Da tradução de “Uma sociologia em ato dos intelectuais: os combates de Karl Kraus”, de Michael Pollak

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    Nos mais de vinte e cinco anos decorridos desde o prematuro desaparecimento de Michael Pollak, não faltaram ocasiões editoriais em que companheiros de geração, herdeiros e admiradores ilustres reverenciaram a memória do colega e autor, dono de uma produção abundante, caudatária das causas que defendeu em vida. Multiversa como as «feridas» em torno das quais articulava seu interesse de pesquisa pelas dinâmicas identitárias, especialmente pela gestão das identidades sob condições extremas, a produção escrita deixada pelo intelectual austríaco compõe-se de dezenas de textos cujo traço característico unanimemente reconhecido pelos comentadores é o vínculo estrutural, material e afetivo que mantém com a experiência de vida do pesquisador

    A recepção da obra de Gilberto Freyre no Rio Grande do Sul

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    É no contexto do pós-Estado Novo, quando o revisionismo toma conta da produção historiográfica sul-rio-grandense, que os escritos de Gilberto Freyre obtêm maior repercussão entre a intelectualidade sulina. O artigo detém-se sobre as motivações desse alinhamento tardio com as opções analíticas do autor recifense. Em um momento marcado pela ascensão das ciências sociais e pela perda de autoridade das narrativas históricas até então centradas no papel integrador dos heróis militares, historiadores e críticos locais atuam conjuntamente em favor da reversão dos motivos que apartavam a produção textual da "província" dos temas em voga no centro do país. Nesse passo, fez-se mister a aproximação da História com o Folclore, este apreendido não mais como um ramo da filologia ou do regionalismo literário, mas sob um viés "sociológico".The period in the wake of the Novo Estado (New State), when revisionism took hold of historiographic production in Rio Grande do Sul, provided the context for the writings of Gilberto Freyre to acquire a greater influence among the southern intelligentsia. The article investigates the reasons for this delayed alignment with the analytic model of the Recife author. At a time marked by the rise of the social sciences and the loss in authority of historical narratives centred on the integrating role of military heroes, local historians and critics combined forces to reverse the motivating factors that had previously separated the textual production of the ‘province’ from the themes in fashion in the intellectual ‘centre’ of Brazil (Rio de Janeiro and São Paulo). This step required closing the gap between History and Folklore, meaning the latter was no longer apprehended as a branch of philology or literary regionalism, but as an area of study to be approached from a ‘sociological’ angle
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