Memoriais em contextos de formação e pesquisa: abordagens narrativas e (auto)biográficas

O presente texto tem como objetivo refletir sobre a importância dos memoriais de formação como dispositivos teoricometodológicos em abordagens narrativas e (auto)biográficas. Toma, como fonte, os registros autobiográficos da autora e memoriais escritos em um grupo de pesquisa. Em um diálogo hermenêutico, discute os atravessamentos entre tempo e narrativa, a partir das contribuições de Paul Ricoeur. As reflexões reafirmam a importância do memorial na assunção dos docentes como autores de suas práticas e de saberes pedagógicos. Ressalta-se que, em pesquisas narrativas e (auto)biográficas, os memoriais transbordam e dão a ver/sentir modos outros de escrita acadêmica

Narrativa dos itinerários de uma pesquisaformação: a jornada ampliada na Escola Municipal Antinéia Silveira Miranda

A pesquisaformação apresentada toma como referencial teórico-metodológico a abordagem narrativa (auto)biográfica, e, o foco principal são as experiências de vida e a formação dos sujeitos, entrelaçadas às memórias e a histórias da escola. O objetivo do trabalho é compreender, por meio das narrativas das professoras e diretoras lotadas desde o início do processo de municipalização da escola Municipal Antinéia Silveira Miranda, de que maneira foi construído o projeto de jornada ampliada da primeira escola de 3º e 4º ciclos da Rede Municipal de Educação de Niterói. Outras questões de estudo surgiram a partir desse tema inicial: Quais mediações políticas possibilitaram a implantação do projeto? Como se relacionam as histórias de vida das professoras/diretoras com as memórias da escola? E ainda, como a prática docente contribui para a (trans)formação dos mesmos? O trabalho desenvolvido aponta para a pesquisaformação como uma abordagem potente que valoriza a escuta e dá espaço para que novas versões de si mesmo possam ser construídas em um diálogo entre memórias pessoais e institucionais

DOCUMENTAÇÃO NARRATIVA DE EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS NO CURSO DE PEDAGOGIA: A “CARTA DO ABRAÇO”

The article is the result of a research-training, inserted in a network investigation about instituting experiences of teacher training in Latin America, which aimed to theme and develop, through the Narrative Documentation of Pedagogical Experiences (DNEP), reading, writing, editing and publishing strategies of pedagogical narratives in initial teacher training. Since the 2000s, DNEP has been developed predominantly in the continuing education of teachers, with openness to ethical-methodological creations that can adapt it to different pedagogical territories. Our research seeks to adapt it to the territory of the Pedagogy course of a public Brazilian university. This article analyses a strategy developed for students to comment each other’s narratives: the “embrace letter”. Our analysis focuses on the tones of comments that contribute to the pedagogical edition of the accounts, making known the hermeneutic work initiated by the students with the narratives written by their colleagues and discussing how the comments found in them are characterized.El artículo resulta de una investigación-formación, parte de una investigación en red sobre experiencias instituyentes de formación docente en América Latina, cuyo objetivo fue tematizar y desarrollar, por la Documentación Narrativa de Experiencias Pedagógicas (DNEP), estrategias de lectura, escritura, edición y divulgación de narrativas pedagógicas en la formación inicial docente. Desde 2000, la DNEP se ha desarrollado predominantemente en la formación continua de docentes, con apertura a creaciones ético-metodológicas que puedan adaptarla a diferentes territorios pedagógicos. Nuestra investigación busca adaptarla al territorio del curso de Pedagogía en una universidad pública brasileña. Este artículo analiza una estrategia desarrollada para que los estudiantes comenten las narrativas de los demás: la “carta del abrazo”. Analizando los tonos de comentarios que contribuyen a la edición pedagógica de los relatos, damos a conocer el trabajo hermenéutico iniciado por los estudiantes con las narrativas de sus compañeros y discutimos cómo se caracterizan los comentarios encontrados.O artigo resulta de uma pesquisa-formação, inserida em uma investigação em rede sobre experiências instituintes de formação docente na América Latina, que objetivou tematizar e desenvolver, pela Documentação Narrativa de Experiências Pedagógicas (DNEP), estratégias de leitura, escrita, edição e publicização de narrativas pedagógicas na formação inicial docente. Desde os anos 2000 a DNEP desenvolve-se predominantemente na formação continuada de professores, com abertura para criações ético-metodológicas que possam adaptá-la a diferentes territórios pedagógicos. Nossa pesquisa busca adaptá-la ao território do curso de Pedagogia em uma universidade pública brasileira. Este artigo analisa uma estratégia desenvolvida para que os estudantes comentassem as narrativas uns dos outros: a carta do abraço. Nossa análise focaliza os tonos de comentários que contribuem para a edição pedagógica dos relatos, dando a conhecer o trabalho hermenêutico iniciado pelos estudantes com as narrativas escritas por seus colegas e discutindo como se caracterizam os comentários nelas encontradas

Pesquisaformação: uma opção teoricometodológica de abordagem narrativa (auto)biográfica. Artes de dizerfazerdizer os saberes da experiência

Ao longo dos anos, temos acompanhado como a pesquisa no campo da formação de adultos e, em especial, no campo da formação de professoras/es, tem se constituído a partir de um pressuposto de que a formação docente se dá em múltiplas temporalidades, por meio de um esforço consciente e desejante do sujeito pela sua própria formação. Desde modo, temos percebido o crescimento de uma produção fundamentada nos estudos narrativos (auto)biográficos, delineando um campo fundamentado em concepções teórico-metodológicas que se constitui de referências epistêmicas e uma potência instituinte. Neste estudo, objetivamos refletir sobre os modos como o Grupo Interinstitucional de Pesquisa-Formação Polifonia (UNICAMP/FFP-UERJ) tem pensado a pesquisaformação como uma palavra-conceito que traz princípios dialógicos para pensarfazer ciência, na Educação. Retomamos a trajetória epistêmico e teórico-metodológica da pesquisa autobiográfica, no que se refere à sua construção paradigmática complexa; trazemos para o diálogo a contribuição da literatura estrangeira e os movimentos que já se desdobravam nas pesquisas em Educação no Brasil e, em especial, partilhamos a experiência de uma pesquisaformação desenvolvida no contexto do referido grupo

Abordagens teórico-metodológicas da formação de professores em dois tempos: olhares sobre o CIPA I (2004) e o CIPA V (2012)

O presente texto retoma pesquisa que consistiu no estudo da produção dos Congressos Internacionais de Pesquisa (Auto)biográfica (CIPA), tendo em vista o levantamento de indícios sobre os movimentos teórico-metodológicos do campo. Partilhamos, aqui, um recorte do trabalho que focalizou 11 capítulos do livro do I CIPA e 34 da coleção de 9 livros relativos ao V CIPA, tendo como filtro a formação de professores, especificamente os textos voltados para uma abordagem geral/teórica sobre as dinâmicas de formação docente em diálogo com a perspectiva (auto)biográfica e os trabalhos voltados para práticas de formação, incluindo formação inicial, continuada e desenvolvida no contexto escolar. Iniciamos com o olhar dirigido para o I e o V CIPA, tecemos um diálogo entre os referenciais teórico-metodológicos que fundamentam as pesquisas desenvolvidas e finalizamos com reflexões que apontam para a continuidade do estudo.

Memórias, escritas e diários em pesquisaformação

This article aims to share memories from diaries written through contexts and life processes of research and formation, which happened in dialogue with authors who have been accompanying our journey for working with diary writing in various knowledge fields. We emphasize the study of René Lourau's concept of research diary, based on the French institutional analysis, and the study of René Barbier's itinerancy diary, proposed by the existential action research method. Taking the life histories in formation and the studies in/of/with the school routine as standpoints, we have ventured to problematize the work with diaries as movements of (auto)biographical narrative researchformation. We started with fragments of memories by the three authors, intending to compose meanings, so far dormant over the years, in different spaces of living-narrating-researching-formating. We seek to plot paths with these dialogues and reminiscences in order to think about the diaries without a strict boundary, opening their interpretations to a broader context due to the purposes established by the diarist/s. As the memorials, diaries can also be a practice of researchformation. We even dare to say they are a writing territory open to the creation and invention of the self and the other.En este texto compartimos memorias y escritos en diarios, a partir de contextos y procesos de vida, investigación y formación, de autores/as que nos acompañaron en este recorrido y trabajan con escritura de diarios, en variadas composiciones y áreas de conocimiento. Destacamos el estudio de René Lourau con el diario de investigación, fundamentado en el análisis institucional francés, y de René Barbier con el diario de la itinerancia, propuesto por la investigación-acción existencial. Teniendo como perspectiva la corriente de las historias de vida en formación y los estudios en las/de las/con cotidianidades escolares, nos aventuramos pensar y problematizar el trabajo con diarios como movimientos de investigaciónformación narrativa (auto)biográfica, a partir de fragmentos de memorias de las tres autoras, para componer sentidos, hasta entonces adormecidos por el pasar de los años, en distintos espacios del vivirnarrarinvestigarformar. Con estos diálogos y rememoraciones, traemos caminos posibles para pensar los diarios sin fronteras demarcadas, abiertos a las finalidades propuestas por el/las diarista/s, situado en un determinado contexto. Así como los memoriales, los diarios son también prácticas de investigaciónformación, de investigación on las cotidianidades, arriesgamos a decir que es un territorio de escritura abierta a la creación y a la invención de sí y del otro.No texto compartilhamos memórias e escritas em diários, a partir de contextos e processos de vida, pesquisa e formação, em diálogo com autores/as que nos acompanharam nesse percurso e trabalharam com escritas de diários, em variadas composições e áreas do conhecimento. Destacamos o estudo de René Lourau, com o diário de pesquisa, fundamentado na análise institucional francesa, e de René Barbier com o diário da itinerância, proposto pela pesquisa-ação existencial. Tendo, como perspectiva, a corrente das histórias de vida em formação e os estudos nos/dos/com os cotidianos escolares, nos aventuramos pensar e problematizar o trabalho com diários, como movimentos de pesquisaformação narrativa (auto)biográfica, a partir de fragmentos das memórias das três autoras, com intuito de compor sentidos, até então adormecidos pelo passar dos anos, em diferentes espaços do vivernarraspesquisarformar. Com esses diálogos e rememorações, procuramos traçar caminhos possíveis para pensar os diários, sem fronteiras demarcadas, abertos às finalidades propostas pelo/a/s diarista/s, situado em um dado contexto. Assim como os memoriais, os diários são, também, práticas de pesquisaformação, de pesquisa com os cotidianos, arriscamos dizer que é um território de escrita aberta para a criação e a invenção de si e do outro.&nbsp

Sobre pesquisaformação, itinerários e diálogos

O presente texto tematiza a noção de pesquisaformação como modo de viver-pesquisar-narrar-formar que emerge na interface entre as pesquisas narrativas (auto)biográficas em educação, as pesquisas nosdoscom os cotidianos escolares e as concepções-ações de formação humana. Defende a indissociabilidade entre a produção do conhecimento científico e os movimentos de (trans)formação que atravessam os envolvidos na pesquisa. Inicialmente retomamos sentidos da expressão pesquisa-formação, no contexto da corrente das Histórias de Vida em Formação, contextualizamos os desafios da formação e os movimentos vividos no Brasil. A seguir, partilhamos a forma como essa abordagem vem sendo permanentemente reinventada em três grupos de pesquisa apontando para a dimensão instituinte da pesquisaformação, a articulação entre ensino, pesquisa e extensão e a inexistência de protocolos fechados, em uma sempre nova aventura

Narrativas pedagógicas e saberes docentes: movimentos de pesquisaformação

This paper discusses pedagogical narratives written by teachers, as possibilities of construction, sharing, and socialization of teaching knowledge, in movements that involve research and teacher education. It takes as its theoretical and methodological contribution the (auto) biographical narrative approach, in dialogue with Walter Benjamin, Paul Ricoeur and Mikhail Bakhtin. The research was developed in the context of an extension course, as continuing education, in a partnership between university and school, in the state of Rio de Janeiro, Brazil. The movements experienced in sharing with the participating teachers favored reflection by means of what was narrated, in the search for understanding of the practice itself and the conceptions that underlie it, bringing important contributions to the field of teacher training, socialized by means of lessons. One of them concerns the way we work with narrative sources when we opt for the (shared) understanding of the formative meanings which we call cointerpretation. In this process, from the teacher’s first narrative, which according to Ricoeur (2007) is already self-interpreted by the teacher, we produce, through negotiation of meanings, a second text, a metanarrative about the formative learning. Another lesson learned is that this decision presupposes an ethical and responsive posture (Bakhtin, 2012) of epistemic horizontality as we assume the radicality of making interpretative movements in a collaborative way with the co-participants.Este trabajo discute las narrativas pedagógicas escritas por profesoras como posibilidades de construcción, intercambio y socialización del conocimiento pedagógico, en movimientos que involucran la investigación y la formación de los profesores. Toma como aporte teórico y metodológico el enfoque narrativo (auto)biográfico, en diálogo con los estudios de Walter Benjamin, Paul Ricoeur y Mijaíl Bajtín. La investigación se desarrolló en el contexto de un curso de extensión, en la modalidad de educación continua, en una asociación entre universidad y escuela, en el estado de Río de Janeiro-Brasil. Los movimientos experimentados, al compartir con las profesoras participantes, favorecieron la reflexión a través de lo narrado, en la búsqueda de la comprensión de la propia práctica y de las concepciones que subyacen a ella, aportando importantes contribuciones al campo de la formación docente, socializadas a través de lecciones aprendidas. Una de ellas se refiere a la forma de trabajar con las fuentes narrativas cuando se opta por la comprensión (compartida) de los significados formativos que llamamos cointerpretación. En este proceso, a partir de la primera narrativa de la profesora, que, según Ricoeur (2007), ya es autointerpretada por ella, produjimos un segundo texto, una metanarrativa sobre el aprendizaje formativo. Otra lección aprendida es que esta decisión presupone una postura ética y responsiva (Bajtín, 2012) de horizontalidad epistémica al asumir la radicalidad de realizar movimientos interpretativos de manera colaborativa con los coparticipantes.O presente artigo tematiza as narrativas pedagógicas escritas por professoras, como possibili­dades de construção, partilha e socialização de saberes docentes, em movimentos que envolvem pesquisa e formação de professoras e professores. Toma como aporte teórico-metodológico a abordagem narrativa (auto)biográfica, em diálogo com os estudos de Walter Benjamim, Paul Ricoeur e Mikhail Bakhtin. A pesquisa foi desenvolvida no contexto de um curso de extensão, na modalidade de formação continuada, em uma parceria entre universidade e escola, no estado do Rio de Janeiro-Brasil. Os movimentos experienciados em partilha com as professoras participantes favoreceram a reflexão por meio do narrado, na busca de compreensão da própria prática e das concepções que as fundamentam, trazendo importantes contribuições para o cam­po da formação docente, socializadas por meio de lições. Uma delas diz respeito ao modo pelo qual trabalhamos com as fontes narrativas ao optarmos pela compreensão (com)partilhada dos sentidos formativos ao qual chamamos de cointerpretação. Neste processo, a partir da nar­rativa primeira da professora, que de acordo com Ricoeur (2007) já está autointerpretada pela mesma, produzimos, em negociação de sentidos, um segundo texto, uma metanarrativa sobre as aprendizagens formativas. Outra lição aprendida é que essa decisão pressupõe uma postura ética e responsiva (Bakhtin, 2012) de horizontalidade epistêmica ao assumirmos a radicalidade de fazermos os movimentos interpretativos de modo colaborativo com as coparticipantes