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Time, DNA and documents in family reckonings
In this paper, drawing on literature from both STS and the anthropology of kinship, we describe a political movement aimed at legal reparation for human rights violations perpetrated by the Brazilian government against children of the compulsorily institutionalized patients of Hansen’s disease. We conduct our investigation by exploring the action of intertwining technologies – narrated recollections, written documents, and the DNA test – employed by major actors to “reckon” the family connections at the core of this drama. The notion of technologies helps underline not only the materiality of certain processes, but also the complex temporalities at play. Responding to a challenge proposed by Janet Carsten, our ultimate aim is to show how political events as well as collective institutionalized structures – operating through the mediation of these diverse technologies – produce a particular kind of sociality, interwoven with perceptions of family and community.Neste artigo, com inspiração tanto nos estudos da ciĂŞncia quanto na antropologia do parentesco, descrevemos um movimento polĂtico que exige do governo brasileiro reparação legal pela violação dos direitos humanos dos filhos de pessoas compulsoriamente internadas por causa da HansenĂase. Realizamos essa investigação atravĂ©s do exame de trĂŞs tecnologias interconectadas – narrativas orais, documentos escritos e o teste de DNA – usadas pelos atores principais para “calcular” as conexões familiares no cerne desse drama. A noção de tecnologias permite destacar nĂŁo sĂł a materialidade de certos processos, mas tambĂ©m as temporalidades complexas em jogo. Ao responder a um desafio lançado por Janet Carsten, nosso objetivo Ăşltimo Ă© demostrar como eventos polĂticos assim como estruturas institucionalizadas coletivas – mediadas por essas diversas tecnologias – produzem um tipo particular de socialidade, enredada em percepções novas de famĂlia e comunidade
Abandonment, adoption and anonymity : questions of maternal morality embedded in the “safe haven” laws
Propomos neste artigo explorar questões de moralidade materna (abandono, aborto, adoção) suscitadas pelas leis do chamado “parto anĂ´nimo”. Seguimos uma linha teĂłrica que recusa as noções naturalizadas de maternidade (ou paternidade), optando ao invĂ©s por colocar em destaque os processos polĂticos que produzem os variados discursos da moralidade materna. Assim, depois de uma primeira reflexĂŁo sobre a relação entre abandono e anonimato, passaremos a uma breve consideração sobre os debates em diferentes contextos nacionais (Estados Unidos, França, Brasil) que acompanharam as leis de parto anĂ´nimo. Veremos que, em quase todo lugar onde existe, o parto anĂ´nimo se justifica atravĂ©s de anedotas sobre bebĂŞs “abandonados no lixo”. Entretanto, tentaremos demonstrar como esta medida adquire significados diversos em função de contextos nacionais especĂficos, isto Ă©, de configurações em que outras tecnologias de maternidade, tais como aborto e adoção, assumem contornos particulares. Subjacente a todo o debate, corre uma indagação sobre os direitos humanos: a saber, o papel do Estado no controle de informações que dizem respeito Ă filiação e Ă identidade pessoal.Nos proponemos en este artĂculo explorar cuestiones de moralidad materna (abandono, aborto, adopciĂłn) suscitadas por las leyes del llamado “parto anĂłnimo”. Seguimos una lĂnea teĂłrica que rechaza las nociones naturalizadas de maternidad (y paternidad), y hemos optado, en lugar de ello, por poner de relieve los procesos polĂticos que producen los variados discursos de la moralidad materna. AsĂ, luego de una primera reflexiĂłn sobre la relaciĂłn entre abandono y anonimato, pasaremos a una breve consideraciĂłn de los debates en diferentes contextos nacionales (Estados Unidos, Francia, Brasil) que han acompañando las leyes de parto anĂłnimo. Se verá que, en casi todos los lugares donde existe, el parto anĂłnimo se justifica a travĂ©s de anĂ©cdotas sobre bebĂ©s “abandonados en la basura”. Procuraremos, por su parte, demostrar cĂłmo esta medida aquiere significados diversos en funciĂłn de contextos nacionales especĂficos, esto es, de configuraciones en las que otras tecnologĂas de maternidad, tales como el aborto y la adopciĂłn, adquieren contornos particulares. Subyace a todo el debate una indagaciĂłn sobre los derechos humanos, en especial respecto del papel del Estado en el control de informaciones referidas a la filiaciĂłn y a la identidad personal.We propose in this article to explore questions of maternal morality (abandonment, abortion, adoption) embedded in legislation known as “safe haven” laws. We follow a theoretical line that refuses naturalized notions of maternity (or paternity), opting instead for the emphasis on political processes that produce the various discourses of maternal morality. Thus, after a first reflection addressing the connection between abandonment and anonymity, we consider briefly the debates that took place in different national contexts (United States, France, Brazil) endorsing or rejecting laws dealing with anonymous abandonment. We will see that, nearly everywhere, the laws are justified with anecdotes about babies found in the trash bin. However, the laws take on diverse meanings in function of the specific national context, that is to say, of a configuration in which other maternal technologies, such as abortion and adoption, assume particular relevance. Throughout the debate runs a reflection on human rights – especially, on the role of the State in the control of information about filiation and personal identity
Conexões internacionais em famĂlias acolhedoras : considerações sobre tempo e abrigagem
Conforme pesquisas recentes, constata-se no Brasil contemporâneo, a extrema importância de pais na vida de seus filhos adultos -- para apoio moral, o sustento material em momentos de crise, e patrocĂnio na busca de empregos. Com essa realidade em mente, propomos trazer alguns dados comparando a intenção da lei e as atuais polĂticas para a abrigagem de jovens em situação de vulnerabilidade social. Em que sentido as diferentes formas de atendimento -- abrigo e/ou famĂlia substituta -- conseguem ou nĂŁo cumprir essas importantes funções da famĂlia extensa?According to recent research, Brazil is witnessing the increasing importance of parents in the life of their adult children – for moral support, material aid in moments of crisis, and sponsorship in the search for jobs. With this reality in mind, we propose to compare the intention of the law and actual policies for the accompaniment of youngsters who have been removed from their original families. In what way do the different living arrangements – group homes and/or substitute families – manage to accomplish the important functions of the extended family
De afinidades a coalizões : uma reflexão sobre a "transpolinização" entre gênero e parentesco em décadas recentes da antropologia
Durante as dĂ©cadas de 70 e 80, houve, no campo da Antropologia, um surgimento de estudos de gĂŞnero justamente na Ă©poca em que os estudos de famĂlia e parentesco definhavam. O quase desaparecimento do tema parentesco foi devido, em parte, ao questionamento polĂtico e epistemolĂłgico das análises clássicas — um questionamento elaborado por, entre outros, pesquisadores feministas. De forma semelhante, a partir da Ăşltima dĂ©cada, uma nova e dinâmica onda de pesquisas sobre parentesco (agora, redefinido como uma forma de conexĂŁo de grande peso emocional e simbĂłlico) Ă© fruto, em grande medida, do investimento de antropĂłlogos influenciados pela teoria feminista. Historiando esse debate, particularmente nas tradições britânica e norte-americana, proponho, neste artigo, olhar para o vaivĂ©m entre os dois campos de pesquisa — gĂŞnero e parentesco — para pĂ´r em relevo a extrema criatividade de atuais pesquisas que desafiam as fronteiras temáticas e disciplinares.During the 70s and 80s, studies on gender relations fiourished at the same time that interest in kinship waned. The near disappearance of kinship from anthropological forums was basically due to a profound political and epistemological questioning of classical analyses — a questioning inspired, among others, by feminist scholars. In like manner, in the past decade, a new and dynamic wave of research on kinship (redefined now as a particular form of emotionally and symbolically intense connection) is to a large extent fruit of the investment by anthropologists influenced by feminist theory. Tracing the evolution of this debate, particularly in the British and North American traditions, I propose, in this paper, to consider the interaction between these two fields of research — gender and kinship — highlighting the extreme creativity of present-day trends that defy traditional thematic and disciplinary limits
Cultivating feral proliferations : anthropological considerations on child protection policies
Por uma reflexĂŁo voltada para polĂticas de adoção infantil, procuro estabelecer uma ponte entre, por um lado, episĂłdios etnográficos – densos e contextualmente situados – e, por outro, sistemas abrangentes com consequĂŞncias em larga escala e de longo alcance. Operacionalizo essa proposta pela análise das infraestruturas administrativa, estatĂstica e burocrática que conectam as filosofias polĂticas do momento Ă s atitudes e ações dos variados atores (profissionais, servidores e usuários) sob observação. Essa abordagem permite rastrear atravĂ©s das Ăşltimas dĂ©cadas os instrumentos tecnolĂłgicos – em particular, estatĂsticas, cadastros e formulários – cunhados para estabilizar determinadas polĂticas de adoção. Ao mesmo tempo, atento Ă s “proliferações” (Tsing; Mathews; Bubandt, 2019) – produto e produtor de tensões do prĂłprio sistema – que levam acontecimentos em direções inesperadas. Ao apreciar esses eventos que iniciam quase sempre em escala limitada e com consequĂŞncias incertas, minha intenção Ă© restituir o poder desses exemplos a alimentar certa esperança – profundamente pragmática, epistemologicamente ambivalente e subarticulada – em possibilidades futuras ainda sequer imaginadas.In the following reflection on child adoption policies, we seek to establish a bridge between, on the one hand, ethnographic episodes – dense and contextually situated – and, on the other hand, comprehensive systems with large-scale and far-reaching consequences. To carry out this endeavour we analyze the administrative, statistical and bureaucratic infrastructures connecting political philosophies of the moment to the attitudes and actions of the various actors (professionals, servants and users) under observation. This approach allows us to trace throughout the past few decades of technological instruments – in particular, statistics, registries and forms –, designed to stabilize certain adoption policies. At the same time, we pay close attention to “proliferations” (Tsing; Mathews; Bubandt, 2019) – product and producer of tensions in the system itself – that conduct matters in unexpected directions. In appreciating these events that almost always start on a limited scale and with uncertain consequences, our intention is to enhance the power of these examples to nurture a certain hope – deeply pragmatic, epistemologically ambivalent and subarticulated – in yet unfathomed possibilities
O direito às origens : segredo e desigualdade no controle de informações sobre a identidade pessoal
Neste artigo, analiso a interação entre adotados adultos em busca de suas origens biolĂłgicas e as figuras de autoridade que detĂŞm informações sobre essas origens. Retomo brevemente a histĂłria do segredo envolvido na adoção, para desembocar na nova Lei de Adoção brasileira, que garante aos adotados “acesso irrestrito” aos seus dossiĂŞs. Trago a narrativa de adotados contatados por meio de uma associação (em Porto Alegre, Brasil) sobre suas experiĂŞncias frustradas de busca, assim como de funcionários do Juizado local. Partindo do pressuposto que a busca das origens encerra muitos dos problemas encontrados nas discussões sobre outros direitos fundamentais, demonstro ao longo do artigo que os direitos sĂŁo politicamente construĂdos, que envolvem sujeitos vivendo num mundo relacional, e que sua implementação passa pela microfĂsica dos espaços administrativos
Family conceptions and practices of intervention : an anthropological contribution
Falar sobre a famĂlia como foco de intervenção exige aprofundar a discussĂŁo sobre o que Ă© uma famĂlia e como ela pode servir ou nĂŁo de recurso em programas de intervenção; exige tambĂ©m problematizar um elemento básico do processo de intervenção: a comunicação entre tĂ©cnicos que atuam na intervenção e a população- alvo. Assim, neste trabalho, sugere-se, num primeiro momento, algumas pistas analĂticas que podem ajudar o tĂ©cnico a perceber dinâmicas familiares em grupos populares do Brasil. Descobrimos assim que, da perspectiva espacial, redes de parentesco se estendem alĂ©m do grupo consangĂĽĂneo e da unidade domĂ©stica para esferas mais amplas. Da perspectiva temporal, as pessoas se inserem em uma sucessĂŁo de gerações, possibilitando projeções para o futuro ou resgates de elementos do passado. Passa-se entĂŁo a considerar a contribuição especĂfica de uma teoria da prática e as implicações metodolĂłgicas de uma análise centrada em “modos de vida”, arraigados numa situação de classe. Finalmente, comenta-se o olhar reflexivo – um elemento fundamental do processo dialĂłgico que permite a escuta do outro em qualquer situação de intervenção. Propõe-se com essa abordagem descolonizar o olhar do tĂ©cnico, propiciando uma interação dialĂłgica capaz de reforçar, antes de reprimir, recursos tradicionais na situação em que se pretende intervir.To speak of the famliy as focus of intervention not only demands a probing discussion about what constitutes a family and how this social group may or may not be an important ressource in intervention programs, it also demands a close look at a basic element of the intervention process: the communication between intervening professionals and the target population. Thus, in this article, we first consider certain analytical leads that might help professionals perceive family dynamics in Brazilian working-class groups. We discover that, from a spatial perspective, family networks reach beyond the consanguineal or household units to much wider spheres; from a temporal perspective, individuals are embedded in the play of successive generations, allowing for a projection of relations into the future or salvaging of elements from the past. We then consider the specific contribution of an approach involving practice theory, and the methodological implications of centering the analysis on “lifestyles”, involving class-bound specificities. Finally, we outline properties of the “reflexive gaze” – a fundamental element in the dialogical process that permits one to hear what others are saying. We propose, with this approach, to contribute toward the “decolonization” of intervention projects, encountering manners to reinforce rather than repress traditional social and community ressources
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