26 research outputs found
A criança e a prosódia: uma retrospectiva e novos desenvolvimentos
This is a retrospective of my former work on the acquisition of prosody and specifically the role of the double face of prosody in acquisition is revisited. Also revisited are the notions of discontinuity and continuity by Jakobson and their insuing misinterpretations in the literature in further work on aphasia and
phonology acquisition. Finally an approximation of the concepts of continuity/discontinuity and double face of prosody with “double vocation” by Didier-Weill is proposed
Aquisição, afasia e a hierarquia prosódica
Studies on language acquisition have shown that the child exhibits a top-down trajectory in the acquisition of the prosodic hierarchy, starting with the organisation of the upper (intonational) prosodic levels. Rhythmic readjustments and postlexical secondary stress are later acquisitions. Prosodic disturbances of aphasia and dysarthria have been connected to the question of brain-damage lateralisation and linguistic processing. Subjects damaged in their right hemisphere are said to be dysprosodic; they produce few Fo variations, Fo flattenning, slow tempo. Prosody is said to be reasonably preserved in Broca´s subjects and well preserved in fluent (Wernicke) aphasia subjects. A comparative study was carried out with two subjects, one aphasic and one dysarthric. Some prosodic difficulties were observed in the speech of fluent aphasic subjects, related to the prosodic hierarchy, to the metrical grid and to syllable structure, respectively. On the other hand, the correct placement of pauses in the frontiers of upper domains of the dysarthric subject shows preservation of the prosodic hierarchy. Pitch-direction is also preserved, with short pitch-range. In both cases, the upper domains of the prosodic hierarchy are preserved
Singularidade nas manifestações de falas gagas
A heterogeneidade e imprevisibilidade dos sinais linguísticos presentes em uma fala gaga fazem, de cada manifestação de fala, um acontecimento singular, mas são frequentemente desconsideradas em nome da necessidade de um diagnóstico clínico. Da heterogeneidade, depreende-se a singularidade dos sinais linguísticos que caracterizam essa gagueira e, da imprevisibilidade, descarta-se qualquer possibilidade de controle. Cremos que essas premissas devem estar na base do trabalho de compreensão da gagueira e do início de um diagnóstico em clínica: analisando, interpretando e compreendendo o fenômeno linguístico que faz com que aquela fala seja estranha, incomode ao falante e ao interlocutor. Os dados de dois sujeitos gagos, numa situação de conversa espontânea, foram analisados com relação às manifestações linguísticas de repetições, bloqueios, sons como implosiva dental, clique bilabial, que afetam o contínuo/descontínuo e potencialmente abalam as estuturas métricas da língua. Concluímos que há semelhanças nas falas analisadas quanto à presença de sons estranhos ao sistema fonológico da língua, de unidades repetidas, prolongadas, pausas que se inserem em lugares inesperados, e, sobretudo, à coocorrência de episódios gaguejantes e não gaguejantes no mesmo acontecimento de fala, à heterogeneidade e imprevisibilidade dos sinais linguísticos, que dizem da relação não estável do sujeito com a própria língua. São dessemelhantes pelo fato de que, comparando-se os sujeitos, as marcas linguísticas efetivamente realizadas diferem entre os sujeitos
A estrutura prosódica das disfluências em português brasileiro
Este artigo trata de buscar as tendências de ocorrência de disfluências (repetições hesitativas e alongamentos vocálicos não-enfáticos) no interior dos domínios prosódicos do enunciado. Usando modelos de Fonologias Prosódica e Entoacional, aplicado a um corpus de um trecho de fala espontânea, verifica-se: (i) que as repetições e alongamentos hesitativos se dão com maior frequência com clíticos prosódicos; (ii) que repetições hesitativas não envolve cabeça de frase fonológica de frase entoacional e, se a repetição hesitativa envolve a palavra fonológica, esta é sempre não cabeça de frase fonológica ou frase entoacional; (iii) que há abaixamento de tessitura do contorno entoacional dos trechos com repetições hesitativas, fenômeno já notado por Viscardi (2012); e (iv) que depois das repetições hesitativas, é grande a incidência de atribuição de configuração tonal de foco encontrada em português brasileiro (H*+L ou L*+H L-). Trechos hesitativos, considerados na literatura como marcas de “disfluência”, fazem parte da dinâmica da fala e da elaboração do texto oral. Se, por um lado, sua ocorrência é imprevisível no discurso (embora cíclica), quando ocorrem, não são aleatórios prosodicamente
Habla disfluente y adquisición. Los datos de V.
Este artigo propõe analisar dados de difluência de um sujeito, V, entre 2 e 3 anos de idade, para verificar a hipótese de que trechos disfluentes do enunciado não são aleatórios do ponto de vista prosódico, nem avessos à dinâmica própria da fala espontânea. Dados de reanálise morfológica, de pequenas pausas em falsos começos e declinação de F0 também foram observados e comparados com os de amostras da fala adulta. Os resultados mostram os trechos disfluentes tendem a ocorrer fora das sílabas portadoras de acento frasal. A fala da criança não exibe a mesma declinação de F0 em sucessivas repetições e no uso de sons e sílabas preenchedoras. A conclusão é que as disfluências infantis mostram a aquisição da estrutura prosódica do enunciado, numa fase de maior complexidade sintagmática e maior demanda enunciativa-discursiva na fala da criança. Recomendamos que o conceito de gagueira fisiológica seja melhor dimensionado.This article proposes to analyze some disfluence data of a subject, V, between 2 and 3 years of age, to verify the hypothesis that disfluent parts of the statement are not random from the prosodic point of view, nor are they opposed to the speech dynamics. Morphological reanalysis data, short pauses in falso starts and declination of F0 were also observed and compared with those of adult speech samples. The results show that the disfluent stretches of utterances tend to occur outside the syllables with phrasal accent. The child's speech does not exhibit F0 declination in successive repetitions and resorts to the use of filling sounds and syllables. The conclusion is that childhood disfluencies attest to the acquisition of the prosodic structure of the utterance, in a phase of greater syntagmatic complexity and greater enunciative-discursive demand in the child's speech. It is recommended that the concept of physiological stuttering be better understood.Este artículo propone analizar los datos de difluencia de un sujeto, V, entre 2 y 3 años de edad, para verificar la hipótesis de que las partes disfluentes del enunciado no son aleatorias desde el punto de vista prosódico, ni son adversas a la dinámica del habla. También se observaron datos de reanálisis morfológico, pausas breves en los inicios intermitentes y declinación de F0 y se compararon con los de muestras de habla de adultos. Los resultados muestran que las secuencias disfluentes tienden a ocurrir fuera de las sílabas con acento de frase. El habla del niño exhibe varias diferencias en la declinación de F0 en las repeticiones sucesivas y en el uso de los sonidos de relleno y las sílabas. La conclusión es que las disfluencias infantiles muestran la adquisición de la estructura prosódica del enunciado, en una fase de mayor complejidad sintagmática y mayor exigencia enunciativo-discursiva en el habla del niño. Se recomienda dimensionar mejor el concepto de tartamudeo fisiológico
Deslizamento funcional de marcadores discursivos e entoação em narrativas infantis
Este trabalho objetiva estudar a coesão entoacional e o deslocamento funcional do marcador discursivo “então” na fala da criança. Baseia-se em duas hipóteses conexas: (i) as primeiras manifestações de coesão textual nas protonarrativas infantis são de cunho prosódico, notadamente numa fase em que os sujeitos não produzem nem narrativas propriamente ditas, nem marcas formais consideradas na literatura como coesivas; e (ii) no processo de aquisição da linguagem, certos marcadores discursivos têm função diferente daquela usada pelo adulto e deslocam-se funcionalmente. Trata-se do estudo de caso da fala de uma criança, R., cujos dados recobrem a faixa etária de 1;64 a 2;6. Fora selecionados trechos da fala da criança em excertos interpretados como narrativa e a entoação foi analisada através do software PRAAT e com base nos pressupostos teóricos da Fonologia Entoacional (PIERREHUMBERT , 1980; BECKMAN; PIERREHUMBERT, 1986; LADD,1996). Os resultados indicam que marcas prosódicas imprimem coesão em sequências de fragmentos enunciativos, significáveis pelo adulto como marcas de narratividade. Tais marcas revelam a emergência de “paratons” (sequência de frases entoacionais coesivas, dando a impressão gestáltica de um todo coeso). Não há uma “gramática narrativa” propriamente, nem conteúdo lexical reconhecível como tal. As marcas prosódicas, que incidem sobre o marcador “então” e sobre uma sequência de fragmentos de enunciados constituídos por frouxos vínculos sintáticos em instâncias narrativas, imprimem efeito de inteireza textual aos fragmentos. Esses resultados condizem com a hipótese de que a prosódia tem um papel textual aquisicional, e que os marcadores discursivos se deslocam funcionalmente nesse processo